Dez perguntas para (não) fazer a um cego
Continuando a série “dez perguntas”, já que atualmente fazer lista bomba nas “internets”, segue o capítulo dois, que tá melhor de ouro achado kkkkkkk
O mérito do post é todo da minha amiga Jucilene Braga, que é cega e minha copiloto nessa kombi desgovernada rumo ao domínio do mundo pelo povo “malacabado”.
Das pessoas com deficiência em geral, talvez, às que pertence ao universo das impossibilidades visuais devem ser as que mais se criam lendas e obstáculos imaginários.
Cegos nem tem superpoderes como também não são pobres coitado necessitados a toda hora de uma mãozinha. A chave do sucesso para não pagar um mico é sempre a mesma: usar o bom-senso, por-se no lugar do outro!
Divirtam-se, reflitam e espalhem por ai!
1 – Não é perigoso você sair sozinho na rua? Não tem ninguém que te leve para os lugares?
A vontade é retrucar: “se você fosse andar comigo para cima e para baixo, quanto você cobraria?” 😎 Pessoas com deficiência visual aprendem, como qualquer outra, a ter independência, a ter mecanismos de localização e a não precisar de uma babá, um mordomo para tudo.
2 – Depois que se ajuda o cego a atravessar a rua ou livrá-lo de um obstáculo, o ajudante tasca: “Você consegue ir agora?”
Então… pode ter certeza que sim. Um cego não sairia de casa para ficar que nem biruta de aeroporto esperando pelo bater de um vento para levá-lo a algum lugar. Também não é preciso ficar com o coraçãozinho apertado por ter podido “apenas” ajudar a atravessar a rua. A pessoa vai se virar de boa, acredite.
3 – Você sabe para onde está indo?
Essa é de chorar pelado no asfalto quente por uma semana. Dá vontade de responder: “não, hoje sai de casa bem doido, sem rumo, sem bengala e sem o telefone do Samu.”
4 – Quando o cego está com o cão-guia: “Esse cachorrinho é seu?”
– Não, não, estou treinando para trabalhar na carrocinha da prefeitura ou Não. Peguei emprestado do vizinho pra chamar atenção na rua.
5 – Não pode passar a mão no seu cão-guia por que ele morde doído, né?
– Embora diante de um raciocínio desse o cachorro deveria de, fato, dar uma bela lambida no interlocutor, não é bem por aí. Evitar o contato com o cão-guia é uma maneira de deixá-lo concentrado no trabalho.
6 – Uma clássica feita por taxistas: “O cachorro vai também?”
– Não, ele vai correndo atrás, mas procure não ultrapassar os 20 km/h. Por incrível que pareça, ainda há taxistas que se recusam a levar pessoas cegas com seus cães, o que é uma postura ilegal. O cão é um “instrumento” de acessibilidade e tem permissão de entrar em transportes públicos, restaurantes, lojas etc.
7 – Você toca que instrumento musical?
– Não, meu povo, não é porque o Zezinho ou o Joãozinho, que são cegos, são exímios tocadores de piano, que todo cego também tem esse talento. Não tem nada a ver a cegueira com ter habilidade para a música.
8 – É verdade que você consegue ouvir o que acontece a mil metros de distância?
Sim, o Superman me ensinou durante um cursinho de férias. Cegos podem prestar mais atenção em alguns sentidos que os “normais”, como a audição ou o tato, mas ele não tem habilidades especiais, não, tá ligado?!
9 – Quando o cego embarca em um ônibus ou metrô: “Você sabe onde entrou?”
Não. Tô mais perdido do que cego em tiroteio… ops… Não, quem tá perdido não escolhe caminho… Meu povo, ser cego não é ser desorientado. Talvez, uma pessoa cega consiga dar uma informação georreferenciada melhor do que qualquer outra….
10 – Como você faz para mexer no computador?
“Fico apertando todos os botões dele até que ele pie…”. Uma série de tecnologias hoje são capazes de fazer uma pessoa com deficiência visual se virar com a informática. Há desde leitores de tela a ampliadores de letras, passando por softwares que auxiliam em tarefas cotidianas como leitura de valor de cédulas, cores etc.
* Imagens do Google Imagens
Com a do taxista ri alto… muito bom seu texto. Vc faz a leitura ficar divertida. Deus continue abençoando-o sempre!!!
Muito obrigado!
Olá Jairão!
Cara estas perguntas são tão frequentes e irritantes que nestes momentos fico cego e surdo.
Para evitar ser malcriado, mantenho minha boca calada. Faço um gesto com a cabeça e agradeço.
Aaaahhhh! Mais é duro!
Abraços!
Muitas vezes, quando me empurram sem necessidade e contra a minha vontade, eu tb opto pelo silêncio, colega ahahhaha.. abraço
Senhores, é muito válida e importante sim a boa vontade, a disposição em ajudar uma pessoa cega ou com qualquer outra deficiência. Porém, como sabemos se devemos ou não ajudar uma pessoa? Primeiramente, só podemos ajudar quem precisa de ajuda. Então, é preciso certificar-se que ela realmente precisa. Se por si só você não perceber, a primeira pergunta a se fazer é: “Você precisa de ajuda?” nesse caso, também é importante estar de mente aberta e aprender a ouvir um “não, obrigado.” Algumas coisas nós fazemos melhor sozinhos, pois alguma ajuda pode nos tirar de nosso hábito natural e nos atrapalhar mais adiante. Um exemplo bem prático: Certo dia fui atravessar uma rua a qual já estava acostumado e uma pessoa veio me oferecer ajuda. Apesar de já estar acostumado com a rua aceitei a ajuda, porém a pessoa me deixou em outro trecho da calçada cheio de obstáculos e buracos. Depois, para eu sair dali foi bem mais difícil do que se tivesse ido pelo meu caminho habitual. Um outro caso muito comum, no ponto de ônibus, alguém nos pergunta qual ônibus queremos pegar. Crentes de que a pessoa está cuidando para nós, depois de um tempo percebemos que ela pegou o seu ônibus e foi embora, sem se quer dar tchau, e nos deixou ali com a possibilidade de o nosso ônibus ter passado. Outra forma de perceber se a pessoa precisa de ajuda ou não, é se ela estiver se debatendo para lá e para cá, como se estivesse procurando ou buscando algo, tocando e batendo com a bengala no chão, para verificar se existe algo em sua volta. A propósito, a bengala, principal instrumento das pessoas cegas, serve para que elas batam nos obstáculos para perceber sua localização. Só podemos desviar de um obstáculo se sabemos onde ele está, e só sabemos onde ele está se o tocarmos com a bengala. Muitas pessoas se apavoram quando a bengala se aproxima de alguma coisa e acabam nos assustando também, gritando: “Vai bater!” pode ficar tranquilo, a bengala serve para bater mesmo. Agregando mais ainda ao artigo, nunca pergunte a uma pessoa cega: “Adivinha quem é?” mesmo que ela reconheça sua voz, algo natural do ser humano e não exclusividade de pessoas cegas, se ela fosse adivinha estaria milionária com os prêmios da mega sena. Outra pergunta que se pode evitar: “Aonde você quer ir?” Se a pessoa está enfrentando dificuldade de desviar de algum obstáculo, tente ajuda-la simplesmente, pois o destino onde pretende ir ela sabe e às vezes é algo de sua particularidade e intimidade, não cabe dizer. Muitas outras coisas poderiam ser acrescentadas ao artigo, mas aí ficaríamos aqui dias e dias debatendo. Mas a chave de tudo isso é: ajude quem quer ser ajudado, se a pessoa precisa de ajuda ela pedirá, ou aceitará a sua oferta numa boa. E parabéns a todos pela atitude de se sensibilizar com uma pessoa com deficiência enfrentando os mais diversos obstáculos nas grandes cidades. E me coloco a disposição para qualquer esclarecimento! Abraços!!! \o/
Muito legal essa mensagem que, por si só, é um post! Um abraço
Também não é o caso de tratar as pessoas de boa fé como idiotas desinteligentes. Outro dia ajudei um cego a atravessar a rua, perguntei para onde ele ia e quando cheguei na calçada falei o seguinte: “Você está na calçada do prédio que está buscando, consegue ir ou quer que eu continue ajudando? Vou para o mesmo lado”. Ele disse que seguiria sozinho e agradeceu a ajuda. A impressão que tive com o texto é que o ofendi dessa forma, quando a intenção era exatamente oposta.
prá música eu achava que eram os surdos que tinham maior aptidão…vivendo e aprendendo!
Mesmo fazendo algumas dessas perguntas, o importante é demonstrar boa-vontade e ajudar os cegos pelas ruas. Melhor fazer perguntas bestas do que ser indiferente. Perguntar não ofende, como dizem por aí.
Concordo com vc, Jaime. Oferecer ajuda é uma atitude cidadã. Abraço