Jairo Marques https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br Assim como você Tue, 07 Dec 2021 19:25:10 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Paralimpíadas terminam com show de nosso futebol de cinco estrelas https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/09/05/paralimpiadas-terminam-com-show-de-nosso-futebol-de-cinco-estrelas/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/09/05/paralimpiadas-terminam-com-show-de-nosso-futebol-de-cinco-estrelas/#respond Sun, 05 Sep 2021 22:00:59 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/fute5-320x213.jpg https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=4089 As manobras no skate de Rayssa Leal, a fadinha, foram fantásticas. O salto campeão de Rebeca Andrade, na ginástica artística, foi emocionante, comovente. Agora, o golaço do Nonato, na vitória do Brasil contra a Argentina, na final paralímpica do futebol de 5 –disputado por atletas cegos–, é memória que os amantes do esporte e entusiastas de um Brasil melhor precisam guardar para sempre.

O golaço do Nonato, insisto em meus exageros, teria de passar no intervalo das novelas, teria de ter destaques nos maiores sites das “internetes” do país por vários dias, deveria ser mostrado nas faculdades de educação física e nas escolas como demostração de “honra ao mérito” e de aprendizado para a vida.

Vencemos nosso arquirrival e nos tornamos pentacampeões paralímpicos de maneira arrebatadora. Ganhamos todas as edições desde que a modalidade passou a fazer parte dos Jogos, temos um elenco de jogadores com talentos tão contundentes que a medalha de ouro tem se tornado óbvia.

É impossível não esbarrar nos clichês e até numa maneira meio enfadonha de tratar as pessoas com deficiência, mas, neste caso, ver nosso time brasileiro de cegos jogar é um espanto para nossa extrema dependência da visão.

Os dribles inacreditáveis realizados pelos nossos alas ofensivos Ricardinho e Jefinho e a agilidade defensiva de Jardiel e Cássio hipnotizam nossos olhos ao mesmo tempo que nos coloca a inevitável interrogação: “Como é possível fazer isso sem enxergar nada?”.

De fato, o poder da audição, que guia os passos e os passes ao sentir se aproximar o som dos guizos que se agitam no coração da bola, é invejável, quase um “superpoder” para quem costuma usar os ouvidos apenas para juntar cera, mas só isso não explicaria nem de longe a magia de nosso melhor futebol do mundo.

Nos campos do futebol de 5, roga-se à torcida para manter silêncio, mas quem aguenta ficar calado diante de uma pancada nos nossos craques, um quase gol, uma dividida de bola mais intensa, uma bomba na trave? Em Tóquio, sem torcida, choveu. Barulho de chuva embaralha a concentração. Mesmo assim, Nonato fez um golaço, fomos penta, somos os melhores.

Mas todo o mérito de nosso time não passa nem de perto por serem bons escutadores. Eles são peritos em prever movimentos, em sentir o calor dos adversários em posição de ataque ou de defesa. Eles conhecem a força e o sentido do vento que empurra a bola ao ângulo, para lateral, para o centro do campo, para o gol.

Para os não iniciados, o goleiro, no futebol de 5, enxerga perfeitamente. É profissionalismo, treino, habilidade, técnica, amor ao futebol, mesmo, do que se trata. É dedicação ao esporte, vontade de levar a tradição nacional de “bons de bola”, os melhores do planeta, à frente.

Encerro minha participação na jornada das Paralimpíadas da mesma forma como iniciei, com uma celebração às diferenças humanas, com um a emoção de festejar o “serumano” em suas maneiras diversas de se manifestar e de brilhar. O convite para a reflexão sobre um olhar mais atento, justo e honesto para a multiplicidade de estar vivo e ser campeão –ou ser comum– é permanente.

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Brasil brilha de novo nas Paralimpíadas, que deixam legado para a diversidade https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/09/04/brasil-brilha-de-novo-nas-paralimpiadas-que-deixam-legado-para-a-diversidade/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/09/04/brasil-brilha-de-novo-nas-paralimpiadas-que-deixam-legado-para-a-diversidade/#respond Sat, 04 Sep 2021 15:00:56 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/carol-320x213.jpg https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=4082 O desempenho do time paralímpico brasileiro em Tóquio merece ser reconhecido e elevado a excepcional. Em meio ao trágico cenário pandêmico, que afetou em cheio o preparo de atletas do mundo todo, mas, particularmente do Brasil, onde a situação se alongou de maneira apavorante, trazer para casa tantas premiações, tantos recordes e tantos novos nomes em evidência é uma marca digna de muito confete, novos investimentos e afagos.

Se de um lado o maior atleta nacional em Jogos Paralímpicos, Daniel Dias, foi prejudicado por questões técnicas e despediu-se das piscinas sem medalhas de ouro nesta edição, por outro, a natação mostrou um poderio de renovação contundente, com Carol Santiago sendo laureada por cinco vezes, três como campeã, puxando a fila.

Se a bocha não conseguiu manter o padrão de trazer premiações de primeiro lugar, o inédito feito do goalball masculino, do halterofilismo, da canoagem e as impressionantes marcas no atletismo não deixaram o brilho brasileiro recuar.

Inerente à natureza da pessoa com deficiência, as compensações de forças e capacidades afetadas pelo comprometimento físico, sensorial ou intelectual parecem, coincidentemente, apareceram no conjunto dos feitos do grupo paralímpico brasileiro.

Desde o resultado obtido nas Paralimpíadas do Rio, em 2016, quando a delegação nacional ficou em 8º lugar no quadro de medalhas, ficou evidente que seria necessário apostar, para o ciclo Japão, em talentos que pudessem dar energia adicional ao grupo.

Manter-se na elite de superpotências paralímpicas requer, além de reconhecer e valorizar os feitos de quem construiu essa imagem, ter visão de progresso, de como se sustentar no topo e criar caminhos para avançar.

É preciso ter clareza, por sinal, de que colocar o Brasil em posições ainda melhores no ranking paralímpico é desafio que requer planejamento de décadas, recursos bem aplicados e contínua valorização do paradesporto.

Embora nossos resultados sejam muito bons, o salto para o top quatro, por exemplo, implicaria incremento substancial de premiações.

Fomos muito bem, mas China, Inglaterra, Estados Unidos, Rússia e Ucrânia mantiveram seu poderio na competição e também avançam na mentalidade de que os Jogos Paralímpicos são tão representativos e importantes quanto os Olímpicos e querem continuar ganhando.

Mas, das lições de equilíbrio deixadas por essas Paralimpíadas, nenhuma é maior do que o encontro entre o reconhecimento midiático e de parte da sociedade do valor esportivo dos atletas em harmonia com as histórias pessoais e demandas impostas pela deficiência dos competidores.

Acompanho os Jogos mais atentamente há quatro edições como espectador, como jornalista, como pessoa com deficiência, e, neste momento, como colunista. Minha identificação nunca foi tão grande do momento da abertura, que mesclou uma mensagem de potencialidades humanas com a importância do espírito de colaboração entre os viventes, até as manifestações dos campeões com pedidos de combate ao preconceito.

Tóquio deixa uma indelével marca inclusiva em tempos de abraçar o valor da diversidade. Acho meio brega e clichê a repetida fala de encerramento do evento, mas, neste ano, eu mesmo digo: “Foram os maiores Jogos Paralímpicos de todos os tempos.”

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Paralimpíadas mostram um Brasil ideal que só do Japão se vê https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/09/01/paralimpiadas-mostra-um-brasil-ideal-que-so-do-japao-se-ve/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/09/01/paralimpiadas-mostra-um-brasil-ideal-que-so-do-japao-se-ve/#respond Wed, 01 Sep 2021 15:00:38 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2021/09/jardenia-320x213.jpg https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=4073 Lá do Japão, vimos uma mulher cadeirante de 56 anos quebrar recordes mundiais e ganhar mais uma medalha de ouro paralímpica para o Brasil. Lá do Japão, descobrimos que uma menina pequena, de 23 anos, foi laureada de forma inédita no halterofilismo depois de levantar 137 kg.

Dá para ir além. Lá do Japão, nós nos emocionamos ao ver um rapaz nordestino, também campeão no evento de Tóquio, reproduzir no ar, com sua única mão, a metade do gesto de um coração.

Deu para ver também, um jovem cego, em sua estreia em Paralimpíadas, atravessar uma piscina em velocidade tão alucinante que não teve para ninguém: venceu e nos encheu de orgulho.

Por fim, que dizer de uma garota, também com deficiência visual, que, ao ganhar ouro inédito no judô, na terra do judô, homenageou a própria namorada em seu breve discurso de agradecimento?

Interessante notar que as cenas vindas do oriente mostram plena harmonia das chamadas interseccionalidade, que é quando uma condição social se sobrepõe ou convive com outra ou outras.

Temos, nos Jogos Paralímpicos, “heróis” com deficiência, que também são negros, que podem ser mais velhos, que podem viver em periferias, que podem ter nascido longe do eixo Rio-São Paulo e que podem pertencer ao universo LGBTQIA+.

O problema, porém, é que quando tiramos os óculos nipônicos, voltamos à terra da exclusão e turva-se a límpida visão sobre as possibilidades de vida da pessoa com deficiência e com todas suas demais características. Tudo passa a ser muito complicado, complexo, quase impossível.

Em solo brasileiro, um cadeirante ainda é tido como alguém “preso em uma cadeira de rodas”, aquele cara que quer conseguir trabalho por meio de cota, que toma muito espaço em ônibus acessíveis, quando esses existem.

Por aqui, atravessamos o cego na esquina sem antes perguntar se ele gostaria mesmo de ir para o outro lado da rua. Por aqui, pessoas com nanismo são alvo de chacotas e preconceitos explícitos em todos os lugares, nas mais diferentes situações.

Se falamos de uma pessoa acima dos 50 anos, a mentalidade é que ela já tem pouca lenha para queimar e, se guardar alguma diferença física ou sensorial, é o fim de linha total, sem chances.

Também na pátria mãe gentil, as questões da sexualidade do povo “malacabado” são praticamente inexistentes, um tabu, um pecado pensar que essa gente ainda quer manifestar seus desejos, suas identidades de gênero.

Atletas paralímpicos, todos com alguma deficiência, são responsáveis por guardar em uma mala da história brasileira a marca de cem premiações de ouro ao longo dos Jogos. São responsáveis por elevar o Brasil à categoria de superpotência paradesportiva. São responsáveis por cenas que nos emocionam, nos fazem refletir, nos fazem ter orgulho. Tudo de lá do Japão.

Só falta, agora, transformar a distância de cerca de 17.000 km que separa os feitos realizados na terra do sol nascente das cenas de exclusão e capacitismo –o preconceito contra a pessoa com deficiência–, que persistem por aqui, em um grande momento de virada de chave, de reconhecimento legítimo do valor das diferenças, quaisquer diferenças.

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As resistentes fábricas brasileiras de campeões das Paralímpiadas https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/08/29/as-resistentes-fabricas-brasileiras-de-campeoes-das-paralimpiadas/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/08/29/as-resistentes-fabricas-brasileiras-de-campeoes-das-paralimpiadas/#respond Sun, 29 Aug 2021 21:53:13 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/colunasegunda-320x213.jpg https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=4069 Chama muito a atenção a quantidade de medalhistas paralímpicos estreantes nos pódios. Da natação ao atletismo brasileiros, nomes que antes não figuravam entre as estrelas dos maiores jogos do mundo voltados à pessoa com deficiência brilham em Tóquio exibindo premiações de toda cor.

Embora seja importante reconhecer o investimento no alto rendimento, com políticas de bolsas, com a criação de um centro de excelência, em São Paulo, para treinamentos, aperfeiçoamentos e análise tecnológica de desempenhos, o segredo é anterior a tudo isso.

As fábricas de campeões são, em geral, pequenas e médias associações de fomento ao paradesporto espalhadas pelo país, geralmente, funcionando com pouquíssimos recursos e ancoradas no apoio de famílias, parcas doações e gente comprometida com a inclusão.

Em grande parte dos municípios do país, as condições de acessibilidade para o lazer, para vida social e para espaços de cidadania são pouco ou nada presentes. A realidade de quem tem uma deficiência, então, torna-se restrita à família, amigos e à escola.

Com isso, iniciativas que juntam assistência social, esportividade e acolhimento surgem, quase sempre, para atender um grito desesperado por espaços de manifestação de pessoas com alguma deficiência física, sensorial ou intelectual.

Às vezes também, essas associações são a primeira casa de reabilitação motora e dos sentidos –que pode estar bastante próxima à prática de algum esporte adaptado– de milhares de brasileiros sem recursos para pagar clínicas especializadas ou profissionais particulares que os auxiliem a ampliar suas funcionalidades, algo invariavelmente possível.

O público desses ambientes é cada vez maior, infelizmente, não apenas por serem referências positivas e promoverem um trabalho capaz de alterar uma condição muito debilitada, mas também porque as violências multiplicam seus potenciais atendidos.

A conta, porém, tem outro resultado, paradoxalmente muito positivo: com mais gente envolvida, maior o potencial de encontrar talentos e, na ponta de tudo, medalhas e mais medalhas de ouro.

Parte maior dos medalhistas paralímpicos nasceu e se desenvolveu em piscinas, quadras e pistas distantes de grande profissionalismo, clubes de renome ou estafe técnico que os indicassem caminhos de vitórias em competições. A intenção maior era a de dar a eles alternativas para a conquista de uma vida mais digna.

Na última década, principalmente, a busca ativa por talentos com potencial paralímpico, espalhados por essas iniciativas municipais, se ampliou muito dentro das missões do Comitê Paralímpico Brasileiro que promete seguir e ampliar essa toada.

A especialização e formação de professores de educação física para o paradesporto e a descentralização dos centros de treinamento de ponta são ações que, certamente, irão catapultar o Brasil, ainda mais para a frente, como superpotência dos Jogos Paralímpicos.

Mas a manutenção, apoio, reconhecimento e ampliação dos atuais pequenos celeiros de campeões –um tanto estigmatizados e precarizados– são elementos certeiros para mais pódios na França, na Austrália, e, principalmente, para conquistas de toda uma existência.

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Daniel Dias se despede de Paralimpíadas como ídolo que o Brasil pouco reconhece https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/08/28/daniel-dias-se-despede-de-paralimpiadas-como-idolo-que-o-brasil-pouco-reconhece/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/08/28/daniel-dias-se-despede-de-paralimpiadas-como-idolo-que-o-brasil-pouco-reconhece/#respond Sat, 28 Aug 2021 15:00:19 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/daniel-320x213.jpg https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=4057 Não fosse a deficiência que o faz ter um corpo peculiar, com os dois braços e uma das pernas com formas distantes do convencional, o nadador Daniel Dias, 33, que está se despedindo da vida nas piscinas, estaria agora causando uma comoção na nação daquelas gigantescas, com gente andando no bairro do Brás, em São Paulo, atrás de camisetas com o rosto do multimedalhista.

Com uma coleção de quase 30 premiações paralímpicas, sendo perto da metade delas de ouro, o atleta criou uma marca que o coloca como o maior competidor brasileiro da história dos Jogos Paralímpicos e, ainda assim, tranquilamente pode-se afirmar que, até agora, seu adeus causa uma tímida manifestação popular, midiática e governamental.

Ser o melhor, na realidade da pessoa com deficiência, em qualquer área, não apenas nos esportes, ainda causa uma estranheza e uma carência de reconhecimento que vai da incredulidade –algo deve estar errado, deve estar recebendo alguma mãozinha, facilitaram pra ele– ao preconceito direto.

Daniel, que avançou nas também conquistas consagradas de Clodoaldo Silva, tornou-se um espelho com reflexos de contundente beleza em suas diferenças para uma geração de esportistas. Ele também se tornou fonte de inspiração contínua para, especialmente, milhares de crianças com deficiência no Brasil que, muitas vezes, mal conseguem ser vistas e ter espaço em aulas básicas de educação física nas escolas.

Acostumado a ser o senhor do pódio de ouro, Daniel emplacou premiações de bronze em Tóquio, até agora. Preparado como gente e como competidor, ele repete o sorriso largo de sempre, agradece a oportunidade, vibra e mostra ao mundo que vencer tem diversos significados.

Tudo isso, o nadador protagoniza após ter sido prejudicado por mudanças técnicas em regras de classificação na natação, no meio do ciclo paralímpico, que o deixou em condições menos favoráveis para dar o adeus “por cima”, no auge, como dizem ser o mais interessante em carreiras brilhantes.

Certa vez, durante os Jogos Paralímpicos de Londres, em 2012, tive uma experiência que me inclinou particularmente a ter simpatia pelo nadador.

Durante uma muvuca de jornalistas desesperados por uma mensagem do multicampeão, que brilhava mais uma vez na terra da rainha ganhando seis medalhas de ouro, Daniel percebeu que eu estava espremido pelos colegas e em uma altura bem desigual por estar na cadeira de rodas.

Ele se aproximou, pediu para me darem mais espaço, abaixou-se e impôs outra perspectiva ao chamado “quebra-queixo”, quando repórteres investem seus gravadores, microfones, câmeras, telefones e afins contra o rosto de entrevistados atrás de alguma boa declaração.

Ainda falta um queijo e uma rapadura, como se diz na minha terra, para que o reconhecimento de fato de uma pessoa com deficiência, em suas mais diversas formas de atuação, seja coroado dentro de seus esforços empregados e feitos entregues à sociedade.

O nadador é um ponto que puxa essa reflexão e, sim, já avança em algum nível em ser visto pela publicidade, apoio financeiro e afago social. Mas é pouco, bem pouco, diante das imensas glórias e emoções trazidas por ele. Valeu, Daniel! O povo “malacabado”, com certeza, te reverencia.

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Por que não unir Olimpíadas e Paralimpíadas num só evento? https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/08/25/por-que-nao-unir-olimpiadas-e-paralimpiadas-num-so-evento/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/08/25/por-que-nao-unir-olimpiadas-e-paralimpiadas-num-so-evento/#respond Wed, 25 Aug 2021 15:00:22 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/paracol-320x213.jpg https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=4052 Desde o início dos anos 2000, quando os Jogos Paralímpicos foram realizados na Austrália, um burburinho entre atletas e espectadores começou a ganhar eco que sempre fica mais intenso com a realização de um novo evento: por que não juntar os Jogos Olímpicos e Paralimpíadas em uma mesma confraternização esportiva mais plural e representativa?

Por parte dos competidores, o argumento remonta a seus potenciais de alto rendimento e à necessidade de maior reconhecimento de seu desempenho profissional que se descolaria da questão da deficiência física, sensorial ou intelectual.

A separação reforçaria a reunião de um gueto e suas peculiaridades em vez de conclamar um ambiente de manifestações múltiplas de capacidades e maneiras de praticar uma modalidade esportiva.

No público, evoca-se o combate ao chamado capacitismo, que é o preconceito contra a pessoa com deficiência. A ideia é que esse grupo social poderia estar normalmente inserido e incluído dentro do contexto olímpico numa celebração mais diversa.

Embora seja básico entre os princípios inclusivos e de diversidade defender o “todosjuntos”, há uma questão anterior, fundamental, para a busca por mais igualdade: a visibilidade. Quem não é visto demora mais para ser entendido em suas peculiaridades e atendido em suas demandas específicas e legítimas.

O holofote sobre as questões que envolvem o universo das deficiências não poderia ser mais potente que em um evento exclusivo como a Paraolimpíada. É nas arenas e nos pódios que desfilam novas tecnologias, novas possibilidades de ação diante de barreiras de atitude e de mobilidade.

É nas Paralimpíadas que formas não convencionais de estar vivo e atuante no mundo são mais observadas e consideradas para além dos enfadonhos “exemplos” midiáticos, propagandas assistencialistas e ambientes hospitalares ou institucionais de apoio.

Há também pontos mais práticos que atravancam de maneira bastante importante a união dos jogos. A logística paralímpica guarda especificidades diferentes da olímpica.

Algumas modalidades como o goalball, praticado por pessoas com deficiência visual, o futebol de 5, também disputado por esse público, e o vôlei sentado exigem desenhos de quadra específicos, possuem regras próprias e arbitragem especializada.

Um evento unificado implicaria muitos dias a mais de competição, instalações mais agigantadas do que já são e impacto sem precedentes na vida das cidades-sedes.

Cabe reforçar que não há simetria possível, legítima e razoável entre a separação olímpica e paraloímpica e qualquer outra segregação social como a escola, o trabalho, o lazer, a vida cultural, a rua. É inegociável, dentro de qualquer mentalidade inclusiva, apartar quem quer que seja dentro desses campos de cidadania e de direito.

Depois de 71 anos da realização do primeiro evento da Terra sobre esportividade de pessoas com deficiência, o discurso que tanto esse grupo urra para ser adotado e inserido nas mentes de todos, menos estigmatizado, mais integrado e realista, parece estar mais firme e aplicado de maneira mais impactante e repercussiva.

Chegará o momento, sim, de caminhar para uma solução única das festas esportivas, mas, até lá, que se aproveite a hora paralímpica para a tomada de ações tão necessárias –e ainda tão incipientes em países como o Brasil e até o próprio Japão– no acolhimento de todo “serumano”.

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Acendimento da pira paraolímpica surpreende, inclui e cria marco histórico https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/08/24/acendimento-da-pira-paraolimpica-surpreende-inclui-e-cria-marco-historico/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/08/24/acendimento-da-pira-paraolimpica-surpreende-inclui-e-cria-marco-historico/#respond Tue, 24 Aug 2021 14:47:21 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/abertura-320x213.jpg https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=4046 Três atletas com deficiência, todos em cadeiras de rodas, foram os responsáveis por acender a pira paraolímpica durante a abertura dos jogos de Tóquio na manhã desta terça-feira (24), noite no Japão, num ato histórico e inédito para o evento.

Em uma cerimônia cujo mote foi a construção de capacidades de “voar” sob qualquer condição, o que foi ilustrado por uma garota japonesa de 13 anos que tinha sua cadeira de rodas ornamentada com uma asa apenas, as paraolimpíadas foram abertas com a maior adesão já vista do discurso empregado pelas próprias pessoas com deficiência e não pela perspetiva de quem é “certinho” das partes.

A expectativa de que os japoneses fariam do espetáculo uma demonstração de sua potência tecnológica ficou frustrada, o que se justifica em partes pela situação pandêmica. Por outro lado, em uma nação que ainda engatinha no abraçar o diverso, a mensagem de entendimento das diferenças para o mundo foi de impacto.

A tradição paraolímpica de fazer do ato do acendimento da pira um momento de impacto foi mantida e elevada pelos japoneses. Os três atletas cadeirantes que levaram a tocha até a pira tinham também a missão de mostrar ao planeta que, sozinho, ninguém é capaz de feitos extraordinários, que, juntos, o “serumano” se faz mais forte e mais completo.

O momento auge da cerimônia contou também com um discreto ajudante, todo vestido de preto, ao lado de um dos atletas que usava cadeira de rodas motorizada. Atenta, mas sem ser invasiva, a pessoa simbolizou ali que a independência, às vezes, carece de uma condição diferente, como uma “mãozinha” se, eventualmente, a tocha se desequilibrar, se um movimento não sair com perfeição.

Tudo indica que teremos a paraolimpíada com o maior enfrentamento de estereótipos, capacitismos –o preconceito contra a pessoa com deficiência– e palcos para demandas legítimas e fundamentais para esse grupo social.

Os jogos começaram bem. Que todos comecem também a pensar e a vibrar pelas diferenças.

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O espetáculo das diferenças https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/08/22/o-espetaculo-das-diferencas/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/08/22/o-espetaculo-das-diferencas/#respond Sun, 22 Aug 2021 15:00:31 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2021/08/parario-320x213.jpg https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=4043 O mundo todo passa a ter, a partir de terça-feira (24), uma de suas maiores oportunidades de contemplar, entender e analisar as diferenças humanas por meio da celebração dos Jogos Paraolímpicos.

As competições, que envolvem desde pessoas com deficiências consideradas leves até as que possuem condições tidas como as mais desafiadoras para um vivente, escancaram, além das potencialidades esportivas, um universo de manifestações corporais, comportamentais e de interação que, raramente, é possível ver reunidas de maneira tão evidente.

Do acendimento da pira, tradicionalmente realizado com uma demonstração que visa elevar o que se entende como limite de um corpo, à forma como os atletas comemoram seus feitos nos pódios acessíveis, o evento paraolímpico firma-se como um espetáculo das maravilhas das potências de ser humano.

Quando um nadador chinês, recordista mundial, sem os braços, se joga em uma piscina para nadar cem metros em poucos segundos e desliza velozmente pela água usando a força do tronco, é imediata a autorreflexão sobre a nossa incrível dificuldade de sair do sofá e o medo de encarar nossos pequenos brejos.

Acompanhar jogadores que, em cadeiras de rodas, se movimentando freneticamente em uma quadra, arremessando e acertando bolas em um cesto tão alto que parecia estar em uma altura inatingível, isso empurra o pensamento também para o alto e motiva a revistar sonhos guardados como impossíveis.

O som do guizo que fica dentro da bola e orienta os cegos no futebol de 5 –nome da modalidade paraolímpica exclusiva para quem tem deficiência visual, na qual o Brasil é hegemônico– faz acordar na mente a consciência do nosso limitado uso dos sentidos, ao mesmo tempo que gera um encanto de ver, sim, de ver, como os nossos olhos podem encarcerar.

É também no espetáculo paraolímpico que um movimento sutil do lançamento de uma bocha comove a alma e instiga a refletir sobre a paralisia de nossos desejos de ir além do umbigo. Nos jogos, apenas atletas com deficiências severas e que implicam grandes restrições de mobilidade podem entrar nessa prática, o que faz com que, às vezes, os arremessos sejam feitos com instrumentos acondicionados na cabeça. Um desbunde.

Não se trata aqui de entender esses esportistas como heróis por suas práticas e resistências ou como exemplos da famigerada e batida “superação” diante das desgraceiras da vida, mas de tentar entender a multiplicidade de caminhos de reinvenção de uma existência, de botar uma lente sobre nossos comodismos limitantes que nos tolhem os sentidos, as inspirações e as possibilidades.

O fascinante do evento que começa (ou recomeça) em Tóquio é poder ter as sensações de vibração e emoção de vitórias, medalhas e quebras de marcas históricas ao lado de uma celebração da diversidade em seu ápice, com a mistura de raças, origens, gerações, sexualidades e, evidentemente, capacidades físicas, sensoriais e intelectuais.

A festa paraolímpica é um convite gratuito e empolgante para a contemplação do poder de transformação do esporte e dos feitos de grandes atletas com seus notáveis rendimentos, mas, mais que isso, é também é chance de encontrarmos em nós o ouro da motivação para sermos melhores.

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