Jairo Marques https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br Assim como você Tue, 07 Dec 2021 19:25:10 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Bloquinhos de Carnaval para crianças são chance para lição sobre diversidade https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2020/02/19/bloquinhos-de-carnaval-para-criancas-e-chance-para-licao-sobre-diversidade/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2020/02/19/bloquinhos-de-carnaval-para-criancas-e-chance-para-licao-sobre-diversidade/#respond Wed, 19 Feb 2020 05:30:20 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2020/02/carnaval1-320x213.jpg https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=3790 Negra Rosa, 7, pulava e se agitava lindamente, exibindo trancinhas azuis nos cabelos, enquanto acompanhava na praça as marchinhas carnavalescas que sacudiam também um montão de pais e seus filhos em um dos bloquinhos infantis que tomaram conta de São Paulo nos últimos dias.

Não é missão das mais simples levar menino para o Carnaval de rua, afinal, além de uma sacola com itens de primeiríssimos socorros –uma banana para matar a fome após cinco minutos de samba, lencinho umedecido para a lambança e um potão de paciência–, é fundamental ter muita disposição e saber aproveitar a oportunidade para promover uma experiência familiar e de ensino-aprendizagem para os pequenos.

Não é papo furado, não! Ao redor de mim, de minha mulher e de minha filha biscoita, um montão de crianças se enroscava em minha cadeira de rodas para entender como pode um ser todo desajeitado das partes estar em meio à folia. Entre uma admiração e outra, uma pergunta curiosa e outra, a molecada entendia que há formas diferentes de se locomover e sambar e está tudo certo.

Outra maneira de despertar pensamentos inclusivos nos pequenos durante o “Alalaô” de rua é ir curtindo o visual de quem está na brincadeira, ir cantando as marchinhas e explicando que “a cabeleira do Zezé” é do jeito que ele quiser e ninguém tem direito de ficar ofendido por suas orientações de vida.

“Pai, por que aquele rapaz tá de saia e batom, aquele menino vestido de bailarina e aquelas moças, vestidas de piratas, estão beijando na boca?”

“Porque cada um é o que é e faz o que tem vontade, filhota. Você veio de fantasia de abelha por qual razão?”

“Porque eu acho fofo e sou da família das abelhas!” (papai e mamãe também estavam devidamente abelhados).

Biscoita com sua fantasia de abelha e maquiagem que se desfez em segundos
Foto: Arquivo pessoal

O que tem me causado mais admiração nos bloquinhos infantis é que parte maior das pessoas, das famílias, parece mesmo estar ali para confraternizar as liberdades e para mostrar a suas crias, o mais cedo possível, que conviver entre as diferenças faz a gente melhor, faz a gente mais sensível às humanidades, abre a mente para possibilidades de pensar de outras formas.

Mas obviamente a festa também já tem seus apelos nada agregadores e edificantes, mas que na mesma toada dos ritmos encantam a criançada.

A maquiagem que borra bem antes de se chegar perto do deserto do Saara sai por R$ 15 e uma balbúrdia de guloseimas muito atrativas e nada saudáveis para a molecada fica bem perto dos olhos, em banquinhas improvisadas em cada canto que resta dos espaços de folia.

Há também uma harmonia um tanto peculiar nos bloquinhos voltados à diversão das crianças, mas vinda dos que aparentam ser adultos: eles demonstram disposição à tolerância e deixam os pequenos passarem na frente até chegarem perto da banda –os ‘malacabados’ de toda ordem, também–, não fazem muitas feiuras nas filas dos banheiros e, pasme você, não brigam por política nem reclamam de choro de nenê.

Todo o respeito a quem detesta este período brasileiríssimo do ano e está como um maribondão preto de raiva, como diria minha tia Filinha, pela alteração da rotina nas cidades onde a folia acontece.

Mas qualquer oportunidade de fomentar uma infância mais brincante, com mais oportunidade de conhecer distintas realidades e pessoas, será recompensada com avanço humano e habilidades para um bom remelexo para o resto dos dias.

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Com Turma da Mônica, shopping de SP inova com programação de férias inclusiva e acessível https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2019/07/12/com-apoio-da-turma-da-monica-shopping-de-sp-promove-atividade-de-ferias-inclusiva-e-acessivel/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2019/07/12/com-apoio-da-turma-da-monica-shopping-de-sp-promove-atividade-de-ferias-inclusiva-e-acessivel/#respond Fri, 12 Jul 2019 11:00:35 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2019/07/shop2-320x213.jpg https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=3671 “Brincar é para todas as crianças”. Levando em conta esta máxima, um shopping da zona sul de São Paulo adotou, de maneira inédita, uma programação de férias que conta com atividades que podem ser desfrutada por crianças típicas e também aquelas com algum tipo de deficiência física ou sensorial.

Durante todo o mês de julho, férias escolares, a praça de eventos do Shopping Metrô Santa Cruz vai oferecer uma série de brincadeiras na Sala de Arte da Justiça, onde a molecada vai poder pintar, pular, participar de eventos lúdicos e também se divertir em um brinquedão de aventuras.

O tom da diversão será dado pelos personagens da Turma da Mônica, que, aos sábados, das 15h às 18h, vão estar pessoalmente nas instalações! A criançada vai poder tirar fotos e brincar com Mônica, Cebolinha, Cascão e Magali.

Outra atração que deve conquistar meninos e meninas é o “morcegomóvel”, que é guiado por meio de jogos de videogame e também poderá ser experimentado por adultos. Os monitores estão preparados para auxiliar na transferência da criança cadeirante para os bancos da atração. Os pais poderão acopmpanhá-los.

Aos que amam leitura, haverá quadrinhos da turminha disponíveis, inclusive unidades em formato Braile, para pequenos com deficiência visual, e um educador especializado em Libras que poderá ensinar um pouco da língua de sinais para quem quiser!

De acordo com o shopping, os recreadores envolvidos nas atividades de férias –uma delas com síndrome de down– estão aptos a incluir crianças com as mais diversas demandas e incluí-las nas brincadeiras.

“A proximidade do shopping Metrô Santa Cruz com algumas instituições, somada a nossa preocupação em receber pessoas com deficiência da melhor forma possível, nos tornou um ponto de referência para estes clientes”, afirma Mayra Rodrigues, gerente de marketing do centro de compras.

Ainda segundo ela, “Queremos, em todas as interações possíveis, atuar junto a este público [com deficiência]. Levar atividades inclusivas para os eventos infantis é uma dessas oportunidades.”

Mais uma iniciativa pela diversidade é que o filme “Turma da Mônica – Laços” terá sessões, dentro do cinema do shopping, com apoio de legendas e libras.

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Unidos da Cama Compartilhada: o samba atravessado de dormir com filhos https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2019/02/20/3507/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2019/02/20/3507/#respond Wed, 20 Feb 2019 05:30:02 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=3507

Não foi por falta de aviso. Vários dos meus amigos fizeram o alerta de forma enfática: “Se deixar dormir na cama uma vez, não tira de lá mais nunca”. Há quase quatro anos, minha filha biscoita não deixa meu quarto nem com reza brava.

Embora eu brinque de responsabilizar minha mulher pela “moleza” que deu à menina, sou eu mesmo o maior culpado dessa derrota por não ter colocado ordem no sagrado repouso familiar.

Por razões logísticas, é a mãe quem atende Elis nas demandas infinitas de uma criança durante as madrugadas.

É tosse, é pesadelo, é sede, é saudade. Caso a missão de atendê-la coubesse a mim, a menina iria se desidratar de chorar tamanha a minha lentidão em levantar, me equilibrar, passar da cama para a cadeira de rodas…

Isso sem falar que, depois dessa maratona toda, iria eu chegar ao quarto, já no raiar do dia, para a menina me dizer: “quero a mamãããe!”

Nos dias de maior cansaço –quase todos para trabalhadores de uma cidade grande como São Paulo–, então, Elis vai ficando mesmo em nossa cama. Ela, uma pelúcia encardida da Minnie e, às vezes, também um boneco de cachorro chamado Lolla.

Não sei como ainda não fiquei tetraplégico tamanho o desconforto de algumas noites em que ela se atravessa na cama repousando a cabeça no peito da mamãe e jogando as pernas sobre o papai.

Isso sem falar no desconforto nas costelas porque a Minie, não sei por que diabos, vai sempre parar onde não deve.

– Filha, e se um dia você se casar, tiver filhos, como será? Vai todo o mundo para a cama do papai e da mamãe?

– Pai, que ótima ideia!!!

– Filha, olha que quarto fofinho você tem, que cama gostosa, que lençol macio. Por que não dorme aqui a noite inteira? Vamos tentar hoje?

– Pai, eu não tenho habilidades para dormir sozinha.

O Kazuo, 7, filho da minha amiga Fabiana, que também tem juízo fraco e cedeu espaço na cama, deu uma resposta mais animadora ao pleito de dormir sozinho em seu próprio leito: “Quando eu tiver 90 anos!”.

Sei que eu e minha mulher estamos indo contra a corrente que acha que a rigidez e disciplina militar salvam a família e estão na moda, que estamos abrindo mão da nossa privacidade e deixando de trabalhar a independência de uma criança de três anos –há quem defenda isso.

Mas, preciso confessar, quando ela, meio sonolenta, aperta o lóbulo da minha orelha, quando damos bom-dia, os três, entrelaçados em um beijo, quando um monstro atrapalha seu sono e rapidamente a acalmamos com a mão em seu peito, nada mais nos aflige e o peso da consciência se torna pluma.

Pessoas são diferentes, famílias são diferentes, a forma de viver é diferente. Regras, conselhos, manuais ajudam, mas não se comportam com as especificidades necessárias não só para educar e preparar para o mundo, mas para acalentar angústias, adornar personalidades.

Sensação de culpa por inabilidades, frouxidões, ausências ou muito afeto já se tem várias com as crianças acordadas, na hora do sono, pelo menos, que haja descanso.

Neste Carnaval, o plano meu e da mulher é nos jogarmos com tudo no bloco da folia conjugal, com muito alalalô e algum confete, mas temos coração mole e não vamos querer ver nossa jardineira triste, sem samba e sem a sensação de aconchego.

Por isso também já estamos nos preparando para desfilar, com pouco juízo e muito amor, na gloriosa e animada Unidos da Cama Compartilhada.

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Minha ‘cadeirantinha’ cresceu https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2014/10/09/minha-cadeirantinha-cresceu/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2014/10/09/minha-cadeirantinha-cresceu/#comments Thu, 09 Oct 2014 12:00:11 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=2038  

Rita faz um relato comovente sobre a despedida da infância da filha, Julia, que é cadeirante
Rita faz um relato comovente sobre a despedida da infância da filha, Julia, que é cadeirante

De repente, tudo aquilo que era extremo cuidado, um bocado de medo e uma pitada de dúvidas sobre o seu filho que nasceu com uma deficiência e milhões de ‘não-me-toques’ começa a se esvair porque ele está crescendo, resistiu às tormentas mais ‘sacolejantes’ e, agora, se prepara para tomar mais e mais posse da própria vida, do próprio caminho.

Júlia veio ainda bem menininha para esse blog, dançando balé e encantando corações. Agora, está se despedindo da infância. E, em todos os lados dessa história, Rita, a mãe, que amparou, que chorou, que brigou, que comeu o pão que o diabo não quis vê novos desafios para a filha.

Mais um texto do jeitinho que a “Semana da Criança” pede, lotado de sensações agudas, como uma montanha russa, delicado, como um carrossel, surpreendente, como uma casa de monstros e cheio de florzinhas, ensinamentos e carinhos, como a galinha pintadinha, a Peppa pig e por aí vai…

Aproveitem!!!

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Pelos meus cálculos ela foi concebida por esta época, primavera, período propício para renovações, descobertas, desabrochares de vida… O ano era 2000, prenunciado pelas profecias como o “fim do mundo” e, no entanto, o mundo dela estava apenas começando, o mundo dela ainda era o meu ventre, abrigada, protegida, sem medos… Sem dores… Sem cadeira de rodas…

 “Seu bebe é uma menina mas não será como as outras, precisará de cuidados especiais por toda a vida…” Não doutor, ela será como as outras, frágil e forte como as outras, meiga e firme como as outras, insegura e valente como as outras, muito amada como as outras. E terá pais, família e amigos ao seu lado mais ainda que todas as outras.

 E assim foi, e assim tem sido… Na primeira vez que a tive em meus braços sua vida já contava nove dias e na frieza daquela UTI eu tive medo de não ser capaz de cuidar daquela “frágil” criaturinha com todas as necessidades que ela viria a ter.

Com traje princesa, Julia posa ao lado da mãe, Rita, que teve de aprender parte do mundo médico para lidar com a filha
Com traje princesa, Julia posa ao lado da mãe, Rita, que teve de aprender parte do mundo médico para lidar com a filha

Eu nunca tinha ouvido falar em sonda uretral, cateter de derivação ou o que seria uma órtese soropodálica? Tutor, parapódium, muletas, curativos, cirurgias, tratamentos, sofrimento… Eu não sabia como seria lidar com a sua dor, afinal nem sabia ao certo como lidar com a minha. Mas tive que aprender na marra!

Até meu vocabulário mudou, palavras do universo médico que eu nem sonhava existir passaram a fazer parte do nosso dia a dia e então descobri que possuía forças que nem supunha e em quantidade suficiente para dividir com ela, que precisaria ainda mais do que eu.

Eu sempre disse que a carregaria em meus braços enquanto meus braços tivessem forças, mas minha cadeirantinha teimou em crescer rápido demais e meus braços enfraqueceram na mesma proporção. Hoje quase é ela quem me carrega e sua cadeira a leva onde eu não consigo mais.

Mãe e filha enfrentaram desafios vários para vencer a etapa inicial da vida de Julia
Mãe e filha enfrentaram desafios vários para vencer a etapa inicial da vida de Julia

Sua infância foi vivida entre parques e hospitais, festas e cirurgias, alegrias e incertezas… mas tudo passou e posso dizer que vencemos, alias, estamos vencendo pois ainda não acabou. Hoje vejo suas bonecas quase abandonadas em meio a diários, segredos e sonhos.

Muitos dias Da Criança foram planejados, esperados e comemorados (um deles até no hospital, pós-cirurgia) e agora, quando mais um se aproxima, me dou conta de que estão prestes a nem serem mais lembrados.

Dou-me conta de que a criança que eu tinha está dando lugar a uma linda adolescente. Que a vergonha de sorrir faltando um dentinho não é nada comparada à “tragédia” de uma testa cheia de espinhas. Que aturar as manhas no supermercado era mais fácil do que as atuais alternâncias da TPM (aliás, descobri que TPM significa Tenha Pena da Mãe!).

Que voltar das festas com minha roupa carimbada por suas mãozinhas sujas de brigadeiro era menos angustiante do que voltar sozinha depois de deixa-la no “níver” da colega de classe e aguardar que me ligue para ir buscá-la no final (não antes disso! Já aprendi).

E a adolescência chegou para Julia. Novos desafios para ela e para a mãe, Rita
E a adolescência chegou para Julia. Novos desafios para ela e para a mãe, Rita

Medos? Muitos! Primeiro de que nem nascesse; nasceu… Cirurgia com três horas de vida; sobreviveu… Outra com seis dias; superou… E mais outras vinte e tantas até hoje, para mostrar que medos existem, mas confiança, empenho e esperança são capazes de derrotá-los…

E baseada nesta mesma trilogia, “confiança, empenho e esperança”, é que procuro prepará-la para a vida, vencendo cada obstáculo e renascendo a cada primavera, a cada reinicio de ciclo. A cada vez que nos despedimos de uma fase encantadora de sua vida e nos deparamos com um novo e belo ser, com novos desafios, novos medos, novas alegrias. E também frustrações, já que sem contrapontos não se faz uma bela melodia. Isso ela também precisa aprender.

O novo momento de vida de Julia desperta na mãe, Rita, o alerta para novos desafios
O novo momento de vida de Julia desperta na mãe, Rita, o alerta para novos desafios

Hoje meus medos e anseios são outros, tenho medo de que ela não possa ir a todos os lugares que quiser, ser quem quiser, fazer tudo o que quiser, estar com quem quiser. Apenas porque sua cadeira de rodas não é bem vinda, não passa pela porta, não sobe a escadaria, não transita pelas calçadas tomadas por obstáculos e buracos.

Tenho medo de que a ignorância do preconceito ainda continue e que ela venha a sofrer com isso. Tenho medo de que o despreparo e desrespeito pelas diferenças ainda vigore no futuro.

Nada sei sobre seu futuro, mas é para ele que a preparo, para que não pareça tão assustador quando não mais puder contar comigo na retaguarda, empurrando sua cadeira e sua vida rumo a outras primaveras. 

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