Jairo Marques https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br Assim como você Tue, 07 Dec 2021 19:25:10 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Deficiência e trabalho em casa https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2012/06/25/deficiencia-e-trabalho-em-casa/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2012/06/25/deficiencia-e-trabalho-em-casa/#comments Mon, 25 Jun 2012 03:01:38 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=517 O bom de ser contemplado com meus “cinco ou seis” leitores 😀 é que sempre tenho novidades de gente que abre caminhos de inclusão, de cidadania e de levar a vida com dignidade (e com ‘malacabação’) em minha caixa postal! Aêêêê

E hoje para mim é motivo de muita felicidade essa proza porque é de um leitor que me acompanha há muuuuuitos anos, meio quietinho, mas sempre participativo, sempre apoiador, sempre à disposição para se juntar na construção de um mundo melhor.

O Carlão Araújo tá sempre nos encontros do blog. Leva toda a “famiagem”, mas fica meio quietinho numa mesa mandando ver na ‘manguaça’! 😉

Ele vai explicar um bocadinho “proceis” tudo como é trabalhar em casa!!!!! Pô, isso é uma solução “maraviwonderful” para muita gente com mobilidade reduzida. Bem organizado, o trabalho de um funcionário direto de sua residência é vantajoso tanto para a empresa (que tem menos custos) como para o empregado (isso ele explica direitinho no texto).

Essa modalidade de trabalho ainda é pouquíssimo explorada no Brasil. O texto do Carlão mostra que é uma iniciativa séria, válida e útil. Aí eu pergunto, nem assim, será que o empresariado consegue cumprir a Lei de Cota? #Ficaadica

O Jairão me deu a oportunidade de compartilhar com vocês uma experiência muito legal que aconteceu dentro da empresa que trabalho.

Antes, preciso conto um pouco de como ingressei para a “Matrix”. No diagnóstico médico consta que tive uma encefalite viral, mas, comparando com pessoas com as mesmas características minhas, vejo que posso ter tido um AVC (Acidente Vascular Cerebral).

Nasci e cresci em São Paulo e em fevereiro de 1971 fui para Campina Grande (PB). Uma nova oportunidade de emprego de meu pai. Em 19 de Junho daquele ano, eu com 16 anos, acordei com uma dor violentíssima na cabeça, entrei no banheiro e tranquei a porta.

É a última coisa de que me lembro. Depois me contaram que estive em coma por mais de 30 dias e quando acordei, meio despirocado da cachola, estava de volta à São Paulo, deitado em uma cama de hospital sem poder me mexer ou falar.

Antes de tudo isso acontecer, praticava ginástica olímpica e  demais atividades esportivas do colégio. E, naquele momento, tive que me contentar com os monótonos exercícios de fisioterapia, no dia 14 de Outubro daquele mesmo ano já ensaiava novamente a dar os primeiros passos.

As sequelas deste trem todo culminaram em uma hemiparesia dos membros superior e inferior esquerdo. Meio relutante, mas bravamente estimulado por minha mãe e antigos professores, voltei para terminar o antigo colegial e, depois, me formar em Matemática na FMU.

Nesse meio tempo, para aliviar uma “deprê” que batia , pegava minha “Caloi Dez” e ia muito cedo dar umas voltas pela USP. Muita água rolou por baixo da ponte e até um mochilão pras Europa encarei e, em 19 de julho de 1989, comecei a namorar a Rosely, com quem sou casado até hoje, e temos a nossa filha de 16 anos, Carol, que por sinal, em 19 de junho de 2012, publicou um post no Facebook sobre o quão importante sou para sua vida e que me deixou comovidíssimo.

Agora… “senta que lá vem história”!

Sou funcionário da HP e presto serviço para a Unilever, no bairro de Santo Amaro (18 quilômetrosum ponto a outro).  Para me locomover utilizava ônibus fretado que pegava próximo de casa.

Uma mudança, já anunciada, fez com que todos que lá trabalhavam fossem deslocados para um de seus sites, localizado em São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo. Estava entre a cruz e a caldeirinha, se fosse trabalhar de carro teria um gasto substancial em meu orçamento e se fosse de transporte público, uma verdadeira maratona olímpica: metrô na linha Verde, baldeação para a linha Azul seguindo até a estação Jabaquara e depois uma caminhada de mais de800 metrospara aguardar o circular da HP.

Estando no novo site, enviei um e-mail para meu gestor explicando a dificuldade encontrada para chegar até lá e, para minha surpresa, após dois dias eles me deram uma opção de poder trabalhar remotamente, em casa. Os mesmos Direitos, Deveres e Benefícios dos funcionários que lá trabalham foram mantidos e, também, disponibilizado um notebook que me permite realizar as mesmas tarefas que fazia anteriormente.

Essa prática já vem sendo adotada por muitas empresas e, se pessoas com limitações físicas na locomoção pudessem acessá-la, teríamos um ganho considerável na qualidade de vida. A empresa, por sua vez, teria um diferencial significativo no processo de inclusão e diversidade.

Em um primeiro momento, trabalhar remotamente nos induz a pensar em algo ruim para o crescimento profissional, uma vez que deixa de existir a convivência corporativa, mas a tecnologia cada vez mais nos fornece ferramentas para que esta interação aconteça.

Como tenho que cumprir o mesmo horário da equipe e para não deixar que a preguiça tome conta, mantive a mesma rotina que fazia para ir de casa ao trabalho, com exceção de um vestuário mais social.

Quanta chuva ou frio já passei esperando por uma condução, quantas vezes cheguei atrasado por causa do trânsito, quantas vezes já me desequilibrei e cai, quantas vezes fui trabalhar indisposto.

Sei que estas desventuras não são somente minhas, mas quem pertence à “Matrix” sabe muito bem que estes pequenos detalhes tornam-se enormes para nós.

Enquanto todas estas adversidades já fazem parte do passado, é importante destacar a necessidade de se ter um ambiente de trabalho adequado e em fazer algum tipo de atividade física, pois trabalhar remotamente também significa não mais se locomover até o trabalho e, para a minha carcaça avariada, é um fator muito importante, e para minimizar esse desgaste, dou belas pedaladas em bicicleta ergométrica aqui de meu condomínio.

Em tempo, quando contei sobre essa possibilidade para minha mãe, ela me pediu o nome do meu gestor para incluí-lo em suas orações diárias.

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O “incluchato” https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2012/06/04/o-incluchato/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2012/06/04/o-incluchato/#comments Mon, 04 Jun 2012 03:01:51 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=466 Como os temas da inclusão e do acesso para todos caíram na boca do povo, é natural que alguns combatentes nessa batalha pela dominação do mundo para ele ser igual para ‘nóistudo’ encham o copo um bocadinho acima do limite…. 😯

E todo mundo que é cascudo demais na defesa de seus princípios, tá na beiradinha, beiradinha mesmo, para virar xarope, para virar chatonildo… 🙄

É “di certeza” que eu mesmo, em alguns ou vários momentos, já dei uma despirocada básica na tentativa de querer jogar luz nos direitos do povão que não vê, não ouve, não anda e nem nada…

Bem, mas eu e minha imensa equipe de apoio logístico, formada por UMA pessoa, minha deusa 😉  , criamos as…

“Dez dicas para saber se você é um ‘incluchato’”

“Tio, mas que diacho é isso de ‘incluchato’ que cê tá falando?”

O ‘incluchato’ é o chato da inclusão…. aquele cidadão que não relaxa nunca, que é mais brabo do que cachorro de japonês na vigilância da inclusão…

É preciso ter cuidado porque o excesso pode acabar espantando as pessoas em vez de atraí-las para a causa!

Abaixo, dez características que indicam a ‘incluchatice’… Se você se identificar com quatro ou mais delas, o caldo tá entornando, heim? 😳

1)      O único assunto do cidadão, seja no velório, no boteco ou na casa da sogra, é sobre gente sem perna, sem braço, que tem o escutador de novela prejudicado, que anda montado em cadeira de rodas, que é ‘malacabado’ geral.

2)      O brasileiro não relaxa jamais e tá sempre reclamando de falta de rampas, de carro parado em vaga reservada, de buraco na calçada. Mobilização é fundamental, mas tem momento que a gente tem de olhar pra namorada. Toda guerra tem trégua, né?

3)      Seus posts nas redes sociais só mostram cadeira de rodas, gente meio tortinha, malfeitos da inclusão, vídeos da dita “superação”.

4)      O ‘incluchato’ cobra sem parar seus amigos para participarem de jogos de basquete de cadeirante, de feiras de produtos de tecnologia assistiva, de grupos de suposto apoio à qualidade de vida dos ‘malacabados’.

5)      Deficiente se relacionar com deficiente é apenas uma casualidade do amor. Não é uma união ‘linda’ e um casal ‘perfeito’ que vai ser símbolo da inclusão… “Menas”, zente, “menas”…. 😛

6)      O ‘incluchato’ acha que tudo é lindo: uma empinadinha da cadeira de rodas, um cão-guia que abana o rabo, um aparelho auditivo pequenininho.

7)       Quando você deixa de fazer algo porque o lugar não é totalmente acessível, pode acreditar, você não está ajudando o mundo a ser mais acessível, está deixando de aproveitar a vida! É muito melhor ir ao motelzinho, se divertir da maneira possível e, no final, cobrar acesso do que deixar de brincar.

8)      As pessoas com deficiência não pertencem todas a uma mesma família, a uma irmandade. O ‘incluchato’ tá sempre falando que “conhece” um cegão maravilhoso que outro cegão precisa conhecer urgentemente!

9)      Tem muita coisa específica no mundo dos ‘malacabados’. Nem todo mundo sabe que existem próteses ultra modernas, que um lesadinho pode perder a sensibilidade, que um ‘paralisado cerebral’ pode atuar perfeitamente em sociedade. O ‘incluchato’ costuma ficar tiririca da vida com o desconhecimento dos outros em relação ao mundo paralelo dos ‘malacabados’, a Matrix!

10)  O ‘incluchato’ pensa que os ‘esgualepados’ são sempre o must e jamais podem estar expostos a críticas. Ora, bolas, algo que é feito por um deficiente não é necessariamente bom, bonito ou ‘maraviwonderful’.

Tem mais alguma ‘chatice’ que vocês se lembram? Botem nos coments!!!!

 

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Rampas para cadeirantes? https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2012/05/28/calcadas-para-cadeirantes/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2012/05/28/calcadas-para-cadeirantes/#comments Mon, 28 May 2012 03:01:49 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=453 O IBGE revelou na última sexta-feira um retrato detalhado sobre condições urbanas brasileiras e houve um item que chamou, a meu ver erroneamente, de “calçadas para cadeirantes”.

Bem, o termo não ajuda em nada na inclusão. Talvez, para fins de pesquisas, era preciso ser bem específico, mas rampa é um aparelho urbano que serve a todos, não só a cadeirantes.

A rampa facilita o acesso do carrinho de bebê, auxilia os mais velhos e mais desequilibradinho na travessia, facilita para quem está puxando carrinhos de compras, evita com que crianças tropecem ao atravessar a rua. Então, como uma rampa é para “cadeirantes”?

Quando se qualifica uma rampa dessa maneira, a meu ver, reforça-se em parte da sociedade que o povo “malacabado” é um peso na lomba do poder público que precisa gastar para fazer o mundo mais fácil para “nóistudo” podermos ser mais cidadãos.

Símbolo de um cadeirante em uma rampa

Não é a primeira vez que o órgão de pesquisa mais importante do país comete uma impropriedade com as pessoas com deficiência. É hora dessa gente ter mais preocupação com seus métodos de abordagem, pois a reprodução das informações é gigantesca e os dados ficam para a história, né, não?

Bem, agora o mérito da pesquisa, mais propriamente. O resultado é que apenas 4,7%, repito SOMENTE 4,7% das ruas do país possuem rampas.

Gente, isso é praticamente uma miséria humana em relação à inclusão. Quer dizer que 95% dos passeios dessa nação não têm mínimas condições de garantir um ir e vir seguro às pessoas. É a massacrante maioria de um país que não cumpre um princípio constitucional.

A ausência de uma rampa humilha as pessoas. Expõe as pessoas ao risco de quedas, de acidentes. Impede as pessoas a chegarem na escola, no hospital, na casa da namorada.

Pelo levantamento, a cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, entre as com mais de 1 milhão de habitantes, é a que está mais avançada em relação a esse aparelho urbano. Fortaleza, vergonhosamente, é a pior.

Charge de Jean Galvão mostrando cadeirante olhando rampa e depois uma enorme escadaria

Conheço as duas capitais. Realmente, em Poa, se vê um esforço importante para tornar a cidade mais amigável no seu ir e vir para TODOS, mas não se compara minimamente, infelizmente, às cidades européias ou mesmo americanas. Se estamos nos tornando um país rico, esse relaxo tinha de ser uma preocupação primordial.

Fortaleza, como uma cidade turística e que vai ser sede da fatídica Copa, era preciso que a administração municipal sentisse dor de cabeça durante uns seis meses e que tomassem uma atitude corajosa para reverter uma situação tão deplorável…

Como sabem, sou um tiozão otimista. Acho, de verdade, que essa realidade está mudando em velocidade importante.

Mas isso vai continuar caso a gente siga mobilizado, siga escolhendo administradores engajados, siga exigindo cumprimento de leis, siga enfrentando, a medida do possível, a rua, do jeito que ela é, até que a pressão a torne do jeito que precisa ser: útil, segura e acessível para todos.

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