Jairo Marques https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br Assim como você Tue, 07 Dec 2021 19:25:10 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Sofia e a saga pela vacina https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/07/06/sofia-e-a-saga-pela-vacina-adolescentes-seguem-sem-prioridade-em-sp/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/07/06/sofia-e-a-saga-pela-vacina-adolescentes-seguem-sem-prioridade-em-sp/#respond Wed, 07 Jul 2021 02:15:05 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2021/07/sofia1-320x213.jpg https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=4032 É uma delícia a sensação de ser imunizado contra essa peste do século 21 que revirou nossas vidas e nossas cabeças, não é mesmo? Não por acaso fotografamos, postamos, choramos e agradecemos a Nossa Senhora da Ciência pela dose recebida.

A picada não dói e temos a impressão de conseguir acompanhar a entrada do elixir da vida nova no corpo, que vai percorrendo nossas entranhas e nos afastando de tubos, asfixias e de um adeus final. Tomar vacina contra o coronavírus tornou-se um marco emocional que determina o futuro de nossas felicidades.

Mas foi por bem mais que isso que a mãe de Sofia catou sua menina de 16 anos, cadeirante, que contorna todos os dias os efeitos de uma paralisia cerebral grave, e a botou dentro de um carro para vencer mais de mil quilômetros de distância e ser imunizada, libertada, renascida.

Em São Paulo, a cidade da garota, a cidade da vacina, a cidade do progresso, onde o Brasil acontece, o recanto de “João Vacinador”, não daria, não poderia, ainda não há essa prioridade.

Adolescentes com comorbidades, aqueles com respiradores, com complicações de saúde a perder de vista, aqueles que tomam medicações “complicosas”, aqueles que comem o pão que o diabo não quis para se tornarem adultos com realidades melhores, estão fora da fila.

Sofia, instantes após ser imunizada contra o coronavírus, em Campo Grande (MS) Foto: Arquivo Pessoal

Convenhamos. Pense por 30 segundos e encontre na cabeça um exemplo de um bom bolsonarista selvagem —daqueles que entram sem máscaras em salinhas com a inscrição “festa do corona”—, que já foi imunizado como “prioridade”, com uma reluzente “pifaizer”! Não tem cabimento.

Havia um ano e meio que Sofia estava sem sair do apartamento —você, confesse, deu várias escapadinhas para esticar as pernas e matar a saudade do mundo— e está sem acesso a terapias, que ajudam a progredir sua qualidade de vida ao mesmo tempo que amenizam suas dores.

Ela não teve a menor chance de voltar às aulas presenciais. Não era uma questão de não correr riscos, era uma questão de não poder nem pensar na chance de ser contaminada para, dessa forma, seguir viva.

E Sofia, depois de mais dez horas de estradas, em sua maioria, paulistanas, cheias de pedágios, chega a Campo Grande, em Mato Grosso do Sul —minha terra!— capital que, visionariamente, decidiu vacinar também mães de pessoas com deficiência, a quem, normalmente, recai o trabalho de cuidadora dos filhos.

—A vacina acabou, dona, senhora. Mas vai dar certo, aguenta mais um pouco…

Medo, tensão, gastos, estresse, o Doria não se mexendo, a CPI comendo, os sites inventando cada vez mais modas sobre um raio chamado “cringes” e Sofia não vacinada por mais 24 horas, agora fora de casa, respirando um ar que sabe-se lá quem sorveu, quem bafejou.

Fala com a ouvidora, com a coordenação-geral, com o generalato, com o papa e alguém grita do fundo do seu coração, de sua humanidade, de seu bom senso, de dentro do posto de saúde: “Vacinem a menina!”. E Sofia foi vacinada.

As histórias em busca do imunizante ainda vão render obras literárias incríveis e pouparão famílias de relatos dramáticos de sofrimento e de perdas. Mas falta ainda, nesse processo gigantesco de corrida pela retomada da chance de aprender a fazer algo de bom com a existência, aguçar sensibilidades, ampliar olhares.

Não tenho dúvida de que haja boa e correta estratégia logística em quem traça os planos de imunização, porém nunca, nunca quem está vivo poderá deixar de gritar por nossas Sofias.

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Pessoa com deficiência pode fazer autodeclaração para se vacinar em SP https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/06/10/pessoa-com-deficiencia-pode-fazer-autodeclaracao-para-se-vacinar-em-sp/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/06/10/pessoa-com-deficiencia-pode-fazer-autodeclaracao-para-se-vacinar-em-sp/#respond Thu, 10 Jun 2021 18:56:08 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/autodeclara-320x129.png https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=4017 O início da vacinação de pessoas com deficiência permanente e que não sejam beneficiária do BPC (Benefício de Prestação Continuada) no estado de São Paulo marcou também uma conquista histórica para o grupo: em vez de apresentação de laudos médicos que comprovem a condição física, sensorial ou intelectual diferente, o cidadão pode assinar um termo de autodeclaração antes do ato da imunização contra a Covid-19.

Além do preenchimento de dados pessoais, é preciso indicar no termo o tipo de deficiência, sem a necessidade de apontar o CID, o que também é algo inédito e que comunga com a mentalidade mais moderna da inclusão que não faz ligação de ser surdo, cego ou cadeirante, por exemplo, com uma doença.

A não obrigação de apresentar laudos médicos como forma de comprovar a deficiência é uma demanda de décadas do grupo, uma vez que a maioria das pessoas não precisa ter um acompanhamento específico de profissionais de saúde e não guardam documentação médica.

Somente na capital paulista, segundo a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência, o público que não recebe BPC e possui idade entre 18 e 59 anos, um dos alvos da atual fase de imunização, é de 276.510 munícipes. Com a não exigência do laudo, o alcance à vacina também pode passar a ser maior para esse grupo.

Cadeirante sendo vacinado em Unidade Básica de Saúde de SP Foto: Arquivo Pessoal

No estado de SP, o número aproximado do público é de cerca de 1 milhão de pessoas. De acordo com a Secretaria de Estado dos Direitos da Pessoa com Deficiência, 42% do grupo já foi imunizado, uma vez que se enquadraram no quesito de idade, acima de 60 anos.

“A intenção é facilitar ao máximo que as pessoas com deficiência sejam imunizadas. Também é necessário que elas sejam vistas e entendidas dentro de suas realidades. Pode haver problemas pontuais, pois é impossível saber o que acontece em cada ponto de vacinação do estado, mas a regra é não complicar nada”, afirma Célia Leão, secretária de estado da Pessoa com Deficiência de SP.

Segundo ela, fraudar a autodeclaração é ato que poderá gerar complicações legais ao infrator. O setor jurídico da secretaria explica que, após apurada e comprovada uma autodeclaração falsificada, a pessoa fica sujeita a ser processada por falsidade ideológica, crime previsto no Código Penal, com pena que pode chegar a cinco anos de prisão e multa.

Os profissionais de saúde, eventualmente, também poderão pedir algum documento em que conste a condição de deficiência como: o próprio laudo médico, carteira de gratuidade em transporte público, comprovante de atendimento em rede de reabilitação ou algum outro documento oficial que demonstre a deficiência.

Em casos em que a própria pessoa não possa preencher a autodeclaração, também poderá ser necessário apresentar algum tipo de comprovação específica.

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As loucurinhas da vida e o desafio de encontrar competências emocionais https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/06/08/as-loucurinhas-da-vida-e-o-desafio-de-encontrar-competencias-emocionais/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/06/08/as-loucurinhas-da-vida-e-o-desafio-de-encontrar-competencias-emocionais/#respond Wed, 09 Jun 2021 02:15:42 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2021/06/colu1-1-320x213.jpg https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=4009 Sempre achei que fossem as experiências de vida que formassem o alicerce de nosso preparo para encarar os desafios emocionais que vão surgindo na jornada louca que é o acordar todos os dias. Estava enganado!

Embora nossa coleção de histórias constitua bagagem indubitável para os enfrentamentos do existir, é preciso perder a ilusão de que isso irá bastar para conter qualquer crise de sentimentos, pandemias, desgraceiras e loucurinhas ocasionais que fatalmente irão surgir para todos em algum momento.

Se a lógica das vivências anteriores fosse inquestionável, eu estaria imune a tudo, preparadíssimo para encarar o que viesse, uma vez que, em minha trajetória, já cruzei com coisas do tipo: preconceito, exclusão, buraco na calçada, buraco no peito, ausência de recursos, recursos ausentes, amargores, perdas, dores de todos os níveis… e outras coisas para além do que alcança a imaginação de quem apenas assiste a vida de uma pessoa com deficiência nascida em berço de papelão.

Os acontecimentos e fatos a que estamos expostos, em si, podem não ser suficientes para servir de guia na busca de saídas para os dilemas da alma, da mente, podem não formar instrumentos infalíveis para o desatar de encontros com as angústias, com as tristezas, com as perdas, com as decepções, com os dissabores ardidos das surpresas que vão se apresentando.

Personagem Tristeza, do filme “Divertida Mente” (2015), da Pixar Foto: Reprodução

“Gzus, o confinamento fritou o juízo do colunista, coitado!” Com mais tempo para observar questões particulares e com mais demandas de socorro a situações de feridas internas de amigos, fui me dando conta de que muitos de nós negligenciamos as competências emocionais ou não tivemos o devido acesso à sua formação, de que temos certa —ou muuuita— dificuldade no encontro com situações que sacolejam e afligem a paz da cachola, das ideias, do ilusório controle de nossos sentimentos.

Mais do que localizar a importância das tais competências emocionais, é fundamental que se abram oportunidades de formação dessas habilidades que não necessariamente estarão ancoradas no apoio profissional direto, mas que também passam pelo reconhecimento de que é preciso submeter-se a uma “intervenção cirúrgica” especializada para estancar as dores de “serumano”.

Escutar desarmado como pessoas próximas interpretam nossos apagões sentimentais e levar realmente em consideração as sugestões feitas de como voltar “à luz” quase não tem custo e pode ter grande eficácia.

Tentar práticas já comprovadamente saudáveis para o reencontro do equilíbrio, como a ioga e a meditação —que eram atividades um tanto escanteadas ou elitizadas, de nicho, por pura desinformação— também pode ser uma maneira de gerar capacidades de autocuidado.

E, para além do eu, cabe a tarefa de atuar para melhorar o estado mental de futuras gerações que, muito provavelmente, terão de encarar desafios de incômodos da consciência em profusão, ou alguém acha que passar dois anos dentro de casa, sob a tutela de adultos entrando em parafuso não será osso duro para os pequenos roerem em algum momento?

Nunca tivemos de lidar com a proximidade de tantas mortes, tantas dores, tantas perdas, tantos remendos, tantas rupturas, tanto acúmulo de pensamentos sem vazão para a rua, para a festa ou para ouvidos alheios.

O custo tem sido alto para muita gente, mas há solução: a busca de competências que muitos de nós nem sabiam que poderiam existir.

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Amplie os horizontes para encontrar sua alma gêmea https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/04/13/amplie-os-horizontes-para-encontrar-sua-alma-gemea/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/04/13/amplie-os-horizontes-para-encontrar-sua-alma-gemea/#respond Wed, 14 Apr 2021 02:15:27 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2021/04/colunaalma-320x213.jpg https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=3987 Duas séries recentes, Soulmates (Amazon) e The One (Netflix), abordam temáticas muito semelhantes: os dilemas, delícias e complexidades de poder encontrar, com método científico, sua alma gêmea, aquele “serumano” ideal, que não liga para o seu bafo matutino e lhe desperta desejo até cortando as unhas dos pés.

São diversas as experiências e histórias da carochinha contadas em prosa, verso e música do Fábio Jr. relatando as maravilhas de esbarrar com aquela pessoa capaz de fazer uma chuva de canivetes se transformar numa brisa de algodão-doce, aquele amado incansável em companheirismo, compreensão e tesão que chega para nunca mais ir embora.

As reflexões contidas nas séries, embora superestimadas e levadas ao extremo das situações —como o de saber que sua alma gêmea é um assassino sanguinário—, ajudam a pensar em como esse tão almejado encontro romântico pode não ser assim tão iluminado e cheio de coraçõezinhos.

Guardamos experiências próprias, laços emocionais únicos, vivências e momentos exclusivos todos os dias e é com essa bagagem nos sentimentos e na cabeça que partimos rumo às nossas buscas e desacertos afetivos.

Muitas vezes, por acreditar demais que a tampa da panela precisa se encaixar perfeitamente em nossas ambições e sonhos, perde-se a oportunidade de aproveitar aromas, sabores e texturas que o curso natural dos dias vai apresentando com caçarolas meio amassadas ou até meio enferrujadas.

Um aparte inclusivo aqui: pessoas com deficiência, como é o meu caso, costumam ter, aos olhos alheios, não almas gêmeas a seu lado, mas almas caridosas, almas elevadas, almas puras, capazes de dividir o fardo de condições físicas, sensoriais ou intelectuais incomuns, o que é uma enorme bobagem, evidentemente.

Encantos, atração, conexões se dão por construções de cumplicidade e dedicação que se aprofundam não por meio das perfeitas manifestações do corpo e de habilidades sensoriais, mas por elementos mais simples —ou, talvez, bem mais complexos— como a maneira de encarar os desafios, a energia que se dá ao acolher alguém ou a forma como você trata uma criança.

Cena da série Soumates, da Amazon, que aborda maneiras científicas de encontrar a alma gêmea Foto: Reprodução

Das dezenas de lições pandêmicas possíveis, compreendo que uma é justamente potencializar os conceitos de almas gêmeas, saindo do campo meramente romântico e olhando mais para ligações de empatia, de acolhimento e de prazeres que podem sustentar a mente, a alma e aplacar angústias, inquietações e medos.

Desse modo, um amigo que consola, que alegra, que liga à noitinha para te fazer companhia e para te adoçar as amarguras —e também para receber de você carinho e consideração—, tem grandes chances de ser uma alma gêmea.

Aquele seu cachorro carentão, que fica embaixo da mesa babando e se coçando enquanto você se desespera porque não ouve nada da reunião online, pode ser uma alma gêmea das mais sintonizadas. O mesmo vale para seu gato que dorme à espreita na porta enquanto você toma banho.

Os maiores parceiros da existência podem ser nossos filhos que falam “eu te amo” após pedirmos umas cem vezes, mas que sempre falam. Podem ser, neste momento, profissionais de saúde que amparam nossas dores e desesperos até o fim.

Quanto mais estendermos as possibilidades de afinidades e acalentos que podem nos completar, nos consolar e nos empurrar para mais um dia e suas esperanças, menos ficaremos na inquieta dependência de achar que apenas um ser iluminado, perfeito e parceiraço, que talvez nem exista fora da imaginação, irá nos realizar.

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Por que nos emocionarmos com nossos velhos vacinados? https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/03/30/por-que-nos-emocionarmos-com-nossos-velhos-vacinados/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/03/30/por-que-nos-emocionarmos-com-nossos-velhos-vacinados/#respond Wed, 31 Mar 2021 02:15:02 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2021/03/vacinavelho-320x213.jpg https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=3981 Coisa linda e emocionante tem sido ver fotografias e vídeos de velhos de diversas famílias de amigos, parentes, agregados e conhecidos sendo picados Brasil afora com vacinas que renovam a esperança de vida após tantos estragos pandêmicos.

Com nossos velhos a caminho de mais proteção em meio a essa fatalidade toda, amplia-se a disposição para acreditar que nós mesmos iremos conseguir respirar melhor em um futuro, quem sabe, breve.

Parte das aflições que se tem de encarar nestes tempos é imaginar gente que amamos estirada em leitos hospitalares intubada ou submetida a tratamentos, terapias e medicações que, até então, se pensava ser para casos extremos de enfermidades avançadas.

Quando esse exercício trágico de pensamento é feito na perspectiva de alguém que já viveu sete, oito, nove décadas, com bagagens de possíveis outros momentos espinhosos e um corpo potencialmente mais cansado, parece que o lamento é ainda mais avassalador, para quem é de lamento.

A tormenta que a ronda da morte tem provocado no dia a dia vai colocando poeira no horizonte que se quer finalmente ver mais acolhedor, mais caloroso, menos ancorado na angústia. Quando alguém se vacina, uma chuva fininha parece cair e uma brisa de boas novas ensaia dar um refresco.

Em muitas das imagens que se contemplam de imunização de pessoas mais velhas é possível ver, além de um grande ar de alívio, um semblante de cansaço por tantos meses confinados, de afastamento de gente querida, de promessa de mais liberdade para amassar os netos, bisnetos e sobrinhos em breve.

Minha velha mãe tomou a segunda dose de Coronavac faz poucos dias. Dei uma choradinha vendo o retrato dela, de máscara e óculos embaçados, meio acuada no árido ambiente de vacinação.

Tenho convicção de que se imunizar, na cabeça de dona Marli, foi ato muito mais em razão de seguir para dar suporte aos outros do que soprar mais vida a si mesma. Tendo a achar que essa lógica cabe a muitos outros de nossos velhos, combalidos emocionalmente por tantos meses de tantas dores.

“Agora já estou pronta para ajudar no que precisar, meu filho”, disse mamãe, que ainda não tem muito certo nas ideias que vamos precisar de mais tempo e paciência para pensar em alguma rotina.

Um velho imunizado pode representar uma criança mais feliz, uma vez que ela poderá, se tudo correr bem –sim, a ressalva é sempre necessária neste momento– voltar a seu celeiro de mimos com mais segurança.

Um velho imunizado pode representar a chance de mais finais de semana de casa cheia, de bolo de cenoura à tardinha, de risadas enormes por piadas que remetem ao tempo em que se falava “epa” para tudo.

Há quem dê combustível para discussões cansativas e desumanas, ancoradas no egoísmo e no total desacompasso com a ciência, em torno da inversão da prioridade: que os jovens, que mais se expõem ao vírus, sejam os primeiros a serem vacinados.

A galeria de nossos velhos com os braços ansiosos e apontados para a seringa que carrega a promessa de mais dias melhores é, por si só, argumento que pode abafar um pouco do pensamento restrito de quem ainda não entende o poder da diversidade para a harmonia do mundo.

Em tempo: Perder Contardo Calligaris é ganhar mais um imenso vazio de referências, de inspirações e de reflexões tão necessárias sobre nós mesmos e sobre os outros. Precisamos urgente de mais compaixão, de mais paixão e de mais gente protegida e protegendo.

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Prepare o coração, depois o braço https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/01/19/prepare-o-coracao-depois-o-braco/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/01/19/prepare-o-coracao-depois-o-braco/#respond Wed, 20 Jan 2021 02:15:30 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/vacina1-320x213.jpg https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=3957 Um banho de otimismo e de esperança tem sido dado em parte dos brasileiros nos últimos dias, desde o momento em que agulhadas começaram a ser distribuídas pelo país com o líquido “sino-butantânico” que carrega, além do potencial bloqueio dos estragos da Covid-19, a abertura de um novo tempo que tanto se aguarda.

Sou uma das mais ativas pollyannas deste periódico e sinto também que se avizinha o momento de podermos engatinhar por alguma liberdade fora da enlouquecedora mesmice de nossa casa, mas, antes disso, acho que é preciso pensar que a travessia pandêmica ainda vai exigir muito neurônio frito, muita lágrima, muito aperto e, também, um bocado de coração espremido, inquieto e, infelizmente, dilacerado.

Antes de falar sobre a imunização e seu impacto, será necessário, para parcela significativa das pessoas, saber como se terá o básico diante do desemprego desenfreado, da inflação desperta, da ausência de mãos aparadoras do poder público.

A realidade econômica que já se impõe no despertar de 2021 dará contornos de crueldade às imagens e desaforos pandêmicos que se engolem dia após dia. A solução que amenizará o quadro é, novamente, aquela que invoca os valores mais nobres e engajadores do “serumano”: solidariedade, empatia, compaixão.

Mais pessoas ficarão expostas à fome, à reacomodação de sua tranquilidade de viver, à impossibilidade de escolha, à resignação ante o pouco que houve, se houver.

Em outra vertente, há o tranco emocional para os muito ansiosos —o que é justo— em receber a vacina. O imunizante está sendo aplicado a conta-gotas aqui e ali e a ação vai gerando uma expectativa legítima de que, logo, quem mais precisa estará protegido.

A conta é mais simples e dura do que gostaríamos de anotar no caderninho a esta altura dos acontecimentos. O que existe hoje de vacina é para o básico do básico. Não vai dar para chegar, em curto prazo, para o avô guardado há 11 meses, para a tia velha do Paraná que não aguenta mais ouvir falar em confinamento nem para o amigo sessentão que espera há meses para curtir uma aglomeraçãozinha.

Neste momento, o ideal é que entendamos que, pela incompetência em escalada das autoridades federais, vamos, aqui no Brasil, criar a fila das prioridades entre as prioridades. É preciso dar chances maiores de sobrevivência, primeiramente, àqueles que mais atuam para evitar as mortes. Parece algo como tirar água do oceano com uma colherzinha de café, por enquanto, é o que temos.

Estarmos bem cientes do tamanho de nossos desafios e enroscos ajuda a programar melhor a mente para mais pressão, mais espera, mais doses de angústia. Não ajuda em nada embarcar na propaganda de que entramos na corrida —descansos—, de que temos vacina no quintal —negociada a duras penas e, como penas, voando—, de que começamos a caminhada para o fim. A verdade é que mal chegamos ao começo. Ainda estamos falando de oxigênio.

Enquanto nações já colhem resultados de uma rápida imunização e pensam no impacto do pesadelo das “mutações do vírus”, temos de pegar um copo de água para não nos afogarmos na poeira da história.

O otimismo, a fé, a perseverança e a espiritualidade —não dá para apostarmos apenas na razão a esta altura— são elementos indispensáveis em momento de tantas dores. Não vamos adotar a bandeira da derrota, mas reconhecer que estamos distantes da possibilidade de uma festa só vai fortalecer nossa resignação para não embirutarmos de vez com a verdade das coisas.

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Decisões confinadas https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/01/05/decisoes-confinadas/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/01/05/decisoes-confinadas/#respond Wed, 06 Jan 2021 02:15:11 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2021/01/confina-320x213.jpg https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=3951 A pandemia tem feito muita gente botar a viola no saco e tomar novos rumos de vida. Por opção ou por força dos acontecimentos, há transformações da maneira de como levar a carcaça à frente por todos os lados.

Por onde se atenta, tem gente abandonando a “cidade grande” rumo à tranquilidade promissora do interior, casais decidindo se separar porque descobriram que a vida a dois não tem nada a ver, pais tirando as rodinhas das bicicletas das crianças porque elas precisam se virar mais rapidamente no dia a dia.

Há também os donos de restaurante que enveredam para o setor de flores para ver se embelezam um pouco a feiura desses tempos e os velhos que desistem de olhar para fora, para o futuro, por pânico de se defrontarem com um vírus.

Às vezes, a única opção de sobrevivência, de fato, é buscar uma maneira de tirar o pescoço para fora da água à procura de ar fresco, dar um solavanco para animar a mente, o corpo e a disposição para que se esmerem em encontrar fios de esperança.

Mas é certo que também há casos em que a pressão de nossas ansiedades, das dores internas, das nossas instabilidades sentimentais, dos medos trancafiados é o que acaba por nos empurrar para encruzilhadas sem que nos preocupemos ao menos em olhar para os lados, todos os lados.

Se antes a gente ia ao boteco com grandes amigos para purgar as emoções, ia respirar na montanha para elaborar ideias, recebia a ação de várias interferências antes de nossas escolhas, agora, com a realidade pandêmica, as referências para pensar em qualquer mudança estão completamente diferentes, restritas.

Confinados, o deparar-se com as mesmas paredes, os mesmos porta-retratos faz com que tenhamos menos chances de nos inspirar, menos possibilidades de espantar as nuvens carregadas com cores e vibrações do mundo lá fora, das diversidades inovadora de lá fora.

A cantora Lia de Itamaracá, 76, em quarentena em Ilha de Itamaracá (PE) Foto: Arquivo pessoal

Confinados, os nossos problemas são sempre os maiores —é difícil nossos amigos quererem desabafar pelo Zoom—, nossos conflitos são insuportáveis, nossas urgências podem ser irremediáveis.

Até nos adaptarmos a esse mundo e suas impostas dimensões e restrições, será natural —e, talvez, perigoso— nos perdermos dentro de nós mesmos, de nossas dúvidas, de nossas demandas, de nossos desafios.

Evidentemente não podemos, muitas vezes, conter o ritmo dos fatos, assim como não há reza que pareça abreviar as consequências da devastação do vírus que vão chegando à nossa realidade e aumentando a pressão por atitudes.

Dessa forma, somos levados a agir do jeito que dá.

O que dá é para recalibrar a forma e a frequência de buscar o ar, dá para ficar atento ao nível de nossa resiliência, dá para esgarçar tradicionais limites de tolerância, de insatisfações e de pressões suportadas.

A não atenção a isso, o ignorar o fato de que estamos num tempo muito particular da humanidade pode pôr a perder valores, amores, sabores, histórias, heranças que careciam de mais parcimônia em suas alterações de curso, de mais delicadeza em seus rearranjos.

Mudar, fazer acontecer, realizar, tomar atitudes são, sim, maneiras de trazer novos ares e abrir-se para perspectivas mais frescas, irrigando a mente de força e dando espaço para que se pense de forma diferente as mesmas questões e dilemas.

Tudo isso, porém, passa pelo cuidado em redimensionar a realidade, hoje mais restrita, mais obtusa e envolta num clima de inconsistências que levará tempos para ser devidamente compreendido.

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Não tome vacina https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2020/11/10/nao-tome-vacina/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2020/11/10/nao-tome-vacina/#respond Tue, 10 Nov 2020 03:00:53 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2020/11/vacina-320x213.jpg https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=3945 Todos os dias, em ocasiões distintas, as consequências de não ter recebido uma das doses da vacina que evitaria minha contaminação pelo vírus da poliomielite têm um papo com minha consciência, com meu futuro e com minhas emoções.

Não tome você uma vacina, qualquer, não dê a seus filhos a proteção descoberta e trabalhada pela ciência e ganhe para sempre a ausência de um sossego, às vezes, atormentador, chamado refletir a respeito do “e se”.

E se eu pudesse correr, como seriam meus cabelos e como andaria a minha pressa? E se eu pudesse jogar minha filha para o alto, como seria a risada de nós dois? E se eu pudesse ter amado alguém num canto, num encanto de ondas, numa cabana lá longe, no teto ao luar, meu coração teria outra batida, minhas inquietações seriam mais bem assistidas?

Ter contraído paralisia infantil de maneira severa e bastante incapacitante, a ponto de me limitar o andar por toda a existência, fez de mim uma pessoa que, também para sempre, cultivaria a prática de pensar a respeito de como seria uma outra vida possível.

Idosos recebem vacina contra a gripe no carro por conta do coronavírus Foto: Prefeitura de Presidente Prudente / Divulgação

Não tome vacinas e flerte com o risco de ter um corpo desencontrado, por dentro e por fora, daquilo que é a referência de quase todos ao seu redor. Não há pecado nem nada de muito errado nisso, mas prepare-se para ter muita energia e muita companhia para praticar o “eu me amo, eu me gosto, eu sou feliz assim”.

Preciso concordar com o presidente Bolsonaro quando ele diz que ninguém pode ser obrigado a jogar para dentro do próprio organismo um avanço humano que tente garantir-lhe que não sofra dores lancinantes, não passe grande tempo de sua existência tentando amenizar sequelas, não conviva com um tormento mental por seu corpo não responder adequadamente à sua mente.

Preciso concordar que ninguém é obrigado a se vacinar por ser isso também um ato fraterno, um ato de compaixão com os mais vulneráveis, mais expostos, mais dispostos à ação dos organismos desestabilizantes.

Não vacinar, no caso do coronavírus, pode ser atentar contra a própria vida, mas e daí? Se a gente não obrigar as pessoas a se vacinarem, também ninguém vai ter de se preocupar em saber como os pobres irão se imunizar, como a vacina irá chegar aos ermos —foi em um ermo que fui abatido—, como proteger os velhos, os indefesos, os ingênuos, os desprotegidos…

Cada um tem de ter o poder de saber o que é melhor para si, mesmo aqueles cujo “si” se harmoniza, se protege e se resguarda com o “nós”. Tudo tão reluzente, tudo tão livre, tudo tão triste.

Não tome vacina para colaborar com o recrudescimento do climinha egoísta, arrogante e intolerante do mundo.
Esse climinha que faz a quem guarda algum tipo de diferença– física, sensorial, intelectual, de gênero, de tonalidade– penar um pouquinho mais para ser gente.

Direitos individuais não podem jamais se sobrepor ao princípio nato do “serumano” de agir diante da fatalidade alheia, de tentar estender a mão a quem se afoga, de acalorar aquele que treme.

O que a gente faz pelo outro, a ciência já demonstrou, catapulta o cérebro, faz apaziguar a alma e as angústias, engrandece o caminho.

O planeta está em uma situação de desespero extremo, em via de enfrentar novos cenários de um desastre humano em todos os cantos.

Elixires com o potencial de evitar novas ondas de tristeza profunda e devastação mental estão em curso e são promissores. Tomar vacina é opção. Eu não tive. Use bem a sua.

Entro em férias! Inté!

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Evolua! https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2020/09/29/evolua/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2020/09/29/evolua/#respond Wed, 30 Sep 2020 02:15:01 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/evolua-320x213.jpg https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=3923 Se haverá algum saldo positivo neste ano, é bem provável que venha a ser o aparecimento de um tempo, antes escamoteado pela rotina, de olhar para si e de refletir sobre as tantas demandas do mundo lá fora e do papel de cada um diante delas. Espaços para praticar o autoconhecimento estão abundantes, assim como não faltam canais para ajudar a abrir o pensamento para maneiras menos individualistas de praticar o viver.

O planeta somou 1 milhão de histórias perdidas por um vírus e as dores disso oprimem o planeta. O Magazine Luiza foi enxovalhado por abrir a mente e uma turma de talentos só para pessoas negras e fincou o pé na ideia de transformação.

O humorista Léo Lins virou o mais novo alvo da fúria da comunidade de pessoas com autismo. Devido a mais uma “piada”, está sendo engolido vivo nas redes e luta gloriosamente para ser entendido, quiçá desculpado.

Uma mulher que rebolava em um carro conversível, de biquíni, no Leblon levou uma garrafada de outra mulher que, aparentemente, se incomodou com tamanho frescor de ser. Tenho visto mais sororidade que deboche nesse caso.

Em todas as áreas, com as mais diversas motivações, nos mais distintos aspectos sociais, novas maneiras de pensar e de querer mudanças não param de aparecer, sobretudo em um tempo que nos faz agonizar com suas incertezas, que impõe urgências de aperfeiçoarmos nossas relações e espaços.

Ninguém é obrigado a sair rasgando as roupas pela rua em defesa das liberdades —de respeito, de entendimento, de ampliação da forma de ver as mesmas coisas— nem precisa acender uma vela pedindo proteção contra o que considera libertinagem alheia, mas evoluir é preservar-se. Tentar compreender, mesmo que em partes, para onde a humanidade se encaminha igualmente ajuda na autopreservação.

O autoconhecimento, a autocompaixão, a autoanálise, o autocontrole, a automotivação, com ou sem auxílios literários, de gurus e de dores íntimas, foram amplamente estimulados em todos durante os meses de confinamento.

E vai ser preciso que se botem em prática muitos desses “autos” para que consigamos compreender, respeitar e aprender com esse prometido novo momento que se avizinha. As pessoas estão voltando às ruas —ou ao menos espiando, aos poucos— depois de mergulhos internos transformadores, reveladores, e vão querer manifestar-se de outras formas, querer novos espaços e defender como nunca que se avance no pluralismo de ser feliz.

Todos os isolados, em alguma dimensão e em algum momento durante a pandemia, pensaram a respeito de suas escolhas, suas dores, suas infelicidades, suas brutalidades, seus freios, suas ignorâncias e seus anseios. e vão externar, no convívio, uma hora ou outra, essas demandas, vão querer manifestar mudanças e clamar por mudanças.

Evoluir é tanto conseguir dar a si novas oportunidades de pensar de outra maneira como também ter tolerância e empatia para os desejos e inspirações dos outros.

O represamento e o sufocamento históricos de aspirações de mais igualdade, de menos preconceito, de mais aceitação, de menos intolerância, de mais colorido, de menos sofreres solitários tendem a virar uma onda gigante de exteriorizações.

Reabrir-se exatamente como se era antes —nas relações, nas interações e na defesa de pontos de vista— parece manobra que, embora legítima, será combatida com a mais aguardada vacina: a que vai imunizar a humanidade contra o conservadorismo acrítico, que obscurece a possibilidade de rever os próprios valores.

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A volta às aulas e as cores de setembro https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2020/09/15/a-volta-as-aulas-e-as-cores-de-setembro/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2020/09/15/a-volta-as-aulas-e-as-cores-de-setembro/#respond Wed, 16 Sep 2020 02:15:51 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2020/09/aulas-320x213.jpg https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=3919 “Os professores estão instruídos para, delicadamente, evitarem que as crianças se abracem ou fiquem muito próximas umas das outras. As turmas, que serão menores, não se encontrarão, e cada um trará o lanche de casa. Mas o que é preciso que todos tenham consciência é que tudo isso é para diminuir riscos e não para eliminá-los. Caso haja suspeita de contaminação, todos serão alertados.”

Setembro é o mês da passarinhada tomar conta da escolinha da minha filha biscoita. É quando os jardins ficam mais bonitos e brincar de pega-pega é mais gostoso porque dá aquela quentura que, depois, é amainada com um belo banho de mangueira com água bailando para todo lado enquanto faz gargalhar a criançada.

Agora, é preciso decidir se ela —e tantos outros milhares de crianças— deve ir lá para fora, deve se apresentar a esse novo mundo adornado com máscaras e lambuzado em álcool em gel ou se permanece em casa, supostamente mais protegida, emocionalmente mais vulnerável pela mesmice das cores das paredes e dos vídeos da TV.

É muito estranho, confuso e incômodo ter de pensar em “assumir riscos” quando se trata da saúde dos filhos e, em consequência, a da família toda e da própria comunidade escolar.

A gente é pai com a missão primeira de tentar proteger a cria até que ela seja relativamente apta a enfrentar o mundão, a decidir as próprias cores que pretende dar à vida.

Pelas “internets” e nas palavras de “especialistas”, não há dúvida de que voltar às salas de aula é urgente e “de boa”, ainda mais porque já podemos ir à praia, ao samba e ao boteco do Zé.

O problema dessa constatação é que, na escola, a responsabilidade pelo cuidado com a salubridade dos pequenos é repassada a outras mãos, que os olhos para tentar evitar a festa com o ranho dos amiguinhos não serão os dos pais, que, por horas, será o anjo da guarda quem assoprará no ouvido dos pequenos que precisam ter muito cuidado com esse danado de coronavírus

Em outros países, tudo também parece estar rolando bem na retomada das aulas, embora 4,3 milhões de infectados e 132 mil mortes sejam índices muito peculiares a nós, assim como serão os seus impactos, os seus desdobramentos e suas consequências.

Setembro é amarelo como alerta do valor da existência humana e do apoio que é preciso dar àqueles em sofrimento de viver. Setembro é verde pela ampliação da consciência de que podemos salvar pessoas doando órgãos. Setembro é azul pela visibilidade das pessoas surdas.

É certo, que, estando em casa, essa aquarela não pinte como deveria a formação e o coração de crianças, de adolescentes e de jovens. É na escola que matizes da diversidade, das demandas humanas, podem ser mais explorados, entendidos, pesquisados e discutidos.

Nessa encruzilhada multicolorida, vai ser necessário espírito de coletividade, mais do que nunca, pele segurança e pela integridade da gente.

Diferentemente de tempos “normais”, mandar o menino catarrento para a aula poderá implicar prejuízos sérios e ate mesmo devastadores na realidade de dezenas, talvez, centenas, de pessoas.

A escola é o melhor lugar em que imaginamos que nossos filhos possam estar quando não estão sob a guarda da própria família. Essa expectativa, neste momento tenso e de tantas cores a serem assimiladas, redescobertas e entendidas, só vai aumentar.

Professor, feliz primavera, e toda sorte na mais nova missão: a de membro de honra da chamada “linha de frente” de combate à pandemia.

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