Jairo Marques https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br Assim como você Tue, 07 Dec 2021 19:25:10 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 Quando de repente para o coração https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2020/04/29/quando-de-repente-para-o-coracao/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2020/04/29/quando-de-repente-para-o-coracao/#respond Wed, 29 Apr 2020 05:30:42 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2020/04/Leo1.jpg https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=3827 Convivo com muitas pessoas que guardam em si enfermidades que vão levando, devagarinho, mas de forma constante, as possibilidades de saracotear livremente pela vida. A amizade, as trocas de experiência e a labuta por inclusão, muitas vezes, fazem os mais próximos perderem a noção de possíveis breves e repentinas finitudes desses chegados.

Eu o chamava “Leozim”, por carinho, embora ele fosse superlativo em várias de suas características, na personalidade e também na juba, entre o ruivo e o loiro, que deixava criar em alguns tempos.

Chegava com uma voz mansa e baixa perto de mim, na Redação da Folha, onde foi trainee e repórter, a bordo de sua cadeira de rodas motorizada, ajeitava os óculos e disparava com timidez e firmeza:

“Gostei muito daquele texto que você escreveu sobre sexo e os ‘malacabados’. Precisamos pensar mais seriamente na questão do prazer das pessoas com menor mobilidade, das pessoas com deficiência. Ainda bem que você sempre se lembra dessas bandeiras”.

Se eu me lembrava de uma flâmula ou outra relativa ao universo da inclusão e da diversidade, o Leozim era a personificação da ação, era ele quem a levava para as ruas.

Sem soltar um grito, mobilizou a Escola de Comunicação e Artes da USP em torno da discussão de que nenhuma faculdade é tão boa assim se ela não é capaz de atender bem todo “serumano” que nela pisa ou roda. De lá, saiu doutor.

Assim como outras pessoas que vão se esvaindo dia a dia pela força da herança dos genes, o Léo tinha em si um poder que é de poucos: se reclamava, nunca era de sua condição, mas das falhas do mundo; se chorava, era pela emoção gerada pelos outros e não pela força de seus retratos; se inspirava alguém, desviava o olhar para uma causa plural.

Léo e seu bicho de estimação Foto: Arquivo Pessoal

Penso que neste tempo, com todos guardados dentro de casa, estamos experimentando alguma perspectiva mais próxima da vida curta do meu amigo Léo: muitos “assim não pode”, “assim não dá”, “assim é perigoso”, “limite-se a ficar neste quadrado”.

Não que ele se privasse de prazeres; muito pelo contrário, ele sempre se expôs. Mas uma condição diferente impõe ao vivente os sabores e dissabores de ter de olhar e habitar sua aldeia também de maneira diferente, nem sempre em meio a delícias.

Enquanto, cada vez mais, o corpo do Léo ia tendo a musculatura paralisada, mais força ele parecia ter para enfrentar a indiferença para com o respeito às múltiplas formas de poder viver e de ser feliz.

Talvez por isso ele fosse um “arroz de festa”. Não perdia nada, era sempre um dos primeiros a chegar. Talvez a presença tão forte do meu amigo em todo lugar tenha sido prenúncio de sua despedida num lampejo, que, pelos tempos de coronavírus, obrigou a família a dar um adeus restrito.

Mas sou convicto de que meu amigo defenderia, até o fim, o melhor para todos em vez de um agrado a si. Não porque fosse um ensaio de querubim, mas porque era um raro humano.

Leonardo Feder assistiu a um pouco da promessa de uma humanidade mais atenta e solidária. Tinha lá seus ceticismos, mas cria que tínhamos jeito.

De repente, sem alardes, com o silêncio da sabedoria e da resiliência, Leozim foi a um canto da casa e seu coração parou, sem alerta.

Num momento de tantas perdas, sentir no peito um coração pulsante, perceber a mente atada ao que se ama, deveria ser uma obrigação. Rever privilégios deveria ser uma obrigação. Afinal, nem todos teremos a chance de simplesmente ver o batucar cardíaco parar de relance. Ele pode sacudir todos nossos órgãos para nos acordar do que estamos perdendo.

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Rampas para cadeirantes? https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2012/05/28/calcadas-para-cadeirantes/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2012/05/28/calcadas-para-cadeirantes/#comments Mon, 28 May 2012 03:01:49 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=453 O IBGE revelou na última sexta-feira um retrato detalhado sobre condições urbanas brasileiras e houve um item que chamou, a meu ver erroneamente, de “calçadas para cadeirantes”.

Bem, o termo não ajuda em nada na inclusão. Talvez, para fins de pesquisas, era preciso ser bem específico, mas rampa é um aparelho urbano que serve a todos, não só a cadeirantes.

A rampa facilita o acesso do carrinho de bebê, auxilia os mais velhos e mais desequilibradinho na travessia, facilita para quem está puxando carrinhos de compras, evita com que crianças tropecem ao atravessar a rua. Então, como uma rampa é para “cadeirantes”?

Quando se qualifica uma rampa dessa maneira, a meu ver, reforça-se em parte da sociedade que o povo “malacabado” é um peso na lomba do poder público que precisa gastar para fazer o mundo mais fácil para “nóistudo” podermos ser mais cidadãos.

Símbolo de um cadeirante em uma rampa

Não é a primeira vez que o órgão de pesquisa mais importante do país comete uma impropriedade com as pessoas com deficiência. É hora dessa gente ter mais preocupação com seus métodos de abordagem, pois a reprodução das informações é gigantesca e os dados ficam para a história, né, não?

Bem, agora o mérito da pesquisa, mais propriamente. O resultado é que apenas 4,7%, repito SOMENTE 4,7% das ruas do país possuem rampas.

Gente, isso é praticamente uma miséria humana em relação à inclusão. Quer dizer que 95% dos passeios dessa nação não têm mínimas condições de garantir um ir e vir seguro às pessoas. É a massacrante maioria de um país que não cumpre um princípio constitucional.

A ausência de uma rampa humilha as pessoas. Expõe as pessoas ao risco de quedas, de acidentes. Impede as pessoas a chegarem na escola, no hospital, na casa da namorada.

Pelo levantamento, a cidade de Porto Alegre, no Rio Grande do Sul, entre as com mais de 1 milhão de habitantes, é a que está mais avançada em relação a esse aparelho urbano. Fortaleza, vergonhosamente, é a pior.

Charge de Jean Galvão mostrando cadeirante olhando rampa e depois uma enorme escadaria

Conheço as duas capitais. Realmente, em Poa, se vê um esforço importante para tornar a cidade mais amigável no seu ir e vir para TODOS, mas não se compara minimamente, infelizmente, às cidades européias ou mesmo americanas. Se estamos nos tornando um país rico, esse relaxo tinha de ser uma preocupação primordial.

Fortaleza, como uma cidade turística e que vai ser sede da fatídica Copa, era preciso que a administração municipal sentisse dor de cabeça durante uns seis meses e que tomassem uma atitude corajosa para reverter uma situação tão deplorável…

Como sabem, sou um tiozão otimista. Acho, de verdade, que essa realidade está mudando em velocidade importante.

Mas isso vai continuar caso a gente siga mobilizado, siga escolhendo administradores engajados, siga exigindo cumprimento de leis, siga enfrentando, a medida do possível, a rua, do jeito que ela é, até que a pressão a torne do jeito que precisa ser: útil, segura e acessível para todos.

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Quando tudo dá certo https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2012/05/21/quando-tudo-da-certo/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2012/05/21/quando-tudo-da-certo/#comments Mon, 21 May 2012 03:29:03 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=431 Meu povo, o tio tá vivo! 😉 … Semana passada tive de resolver várias questões dentro do meu trabalho fora do blog e a cuca estava muito quente para conseguir vir escrevinhar para ‘ceitudo’.

Quem me acompanha pelos Facebook já sabe que, a partir de hoje passo a exercer outra função dentro do jornal. Deixo o meu cargo de muuuuitos anos (chefia de reportagem) e volto a minhas origens, de repórter.

Jairo na últims reunião como Chefe de Reportagem

“Aí, tio, mas o que acontece agora, heim? A gente vai ficar sem o blog?!”

Nada, meu povo. Eu sempre quis deixar minhas responsabilidades vaaaaarias na chefia para, justamente, poder ter mais liberdade para blogar, para desenvolver minhas colunas impressas (amanhã teeeem!!!), para participar de dezenas de eventos sobre ‘malacabados’ que sou convidado.

Como repórter, vou poder também, entre outras coisas, atuar em assuntos de acessibilidade, urbanismo, cidadania e outros assuntos que envolvam o povo ‘dificiente’ seja fisicamente, sensorialmente ou da cachola!

Tô mais animado do que vigem em noite de núpcias… conto com vocês nessa nova fase!

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Ontem (domingo, 20), fui comer umas pelancas com a minha deusa em uma churras. Como eu tô economizando calorias durante a semana, aproveito o final de semana para dar uma equilibrada… 😀

Acho que já contei isso, mas vá lá… como o povo cadeirante labuta muito, ainda, em encontrar lugares plenamente acessíveis, a gente se acostuma a ir seeeempre aos meus picos que nos recebam bem ou que tenham condições “oqueis” de ir e vir.

No meu caso, gostava de ir sempre a uma ‘xurras’ chamada South Place, no bairro do Brooklin, que tinha condições bacaninhas para receber um ser do mundo paralelo… 😉

Pois eles mudaram de endereço (para bem próximo ao antigo) e fui lá ver o que rolava…

E qual não foi a minha surpresa ao notar que, dessa vez, eles capricharam na acessibilidade fizeram um restaurante quuuuaaaase perfeitão! (faltou sinalização em braile, infelizmente).

Rampa de entrada da "xurras" com declive suave

Mas, avançaram um bocado: Logo que chegamos, apesar da fila graaande, nos deram, como é de direito, a prioridade de atendimento e ganhamos uma mesa bacanuda. Nos corredores, nada de aperto!

A mesa, por sinal, vejam nessa fota abaixo, permite que a cadeira se disponha bem em baixo dela, sem apertos, com ótimo posicionamento.

O que mais curti na nova xurras, contudo, foi a parte do bufê. Zente, isso é beeeem raro de acontecer: a disposição do rango estava baixa, em uma altura super possível para quem é anão ou cadeirante possa se servir de boa!

Jairo "mandando ver" no bufê

Geralmente, os restaurantes que tem lá o seu “self service” colocam a comida bem no altão. Aí a gente vai pegando sem nem saber o que é…. 🙂

E ele não para de comer...

Depois de me empanturrar de bifão, toca ir pro banheiro pra desenroscar o boi dos dentes, né? Então, toca o Jairão pro banheiro.

Tudo quaaaase nota dez, novamente! Porta largona, barra de apoio removível, espaço razoável de namobra! A falha? Um erro bastante comum: a válvula de descarga não é a ideal. Um tetrão com menos força teria dificuldades em acionar o trem.

Erro comum: válvula de descarga

A pia achei bacana, assim como a disposição do trem que solta fio dental, o ‘detergente’ de boca, a altura da torneira…

Enfim, ‘zimininos’, fico bem feliz quando isso acontece: um lugar muda para melhor, tenta atender a diversidade de maneira mais completa, evolui!

Acho que os órgãos de fiscalização também estão mais em cima de resultados, mas nada, nada aconteceria de fato, se a gente não mostrasse o que tem mostrado: força de mobilização!

Em tempo: Zente, o blog agora tem uma grande novidade nos comentários. Quando vocês palpitam no post que coloco no Facebook, com referência ao post do blog, os coments também vão aparecer aqui na janelinha de baixo! Legal, né?!

Beijos nas crianças!!! Amanhã tem coluna na Folha!!!     

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