Jairo Marques https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br Assim como você Tue, 07 Dec 2021 19:25:10 +0000 pt-BR hourly 1 https://wordpress.org/?v=4.7.2 O trem-bala e a sofrência https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/11/09/o-trem-bala-e-a-sofrencia/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/11/09/o-trem-bala-e-a-sofrencia/#respond Tue, 09 Nov 2021 20:14:07 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2021/11/postsofrencia-320x213.jpg https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=4113 Débora, minha ajudante para todas as coisas aqui em casa, acordou cedo naquele dia. Estava ansiosa demais para aproveitar o sábado de descanso apenas dormindo um pouco mais que as minguadas horas de repouso dos dias de semana de trabalho. Ela tinha um sonho a realizar.

Ajeitou o café das quatro crianças, catou o marido e caminhou por cerca de meia hora a pé até chegar à loja de departamentos no centro do Campo Limpo, região periférica de São Paulo. Um calor daqueles, mas, ao menos, o trajeto era em descida.

Chegara enfim o dia de adquirir uma TV nova, moderna, que substituiria a antiga, ainda de tubo, que funcionava à base de algumas pancadas no alto da caixa com a força da mão. “Quando a gente dava uns murros, a imagem aparecia de novo.”

A animação de realizar o desejo era parente do medo de se frustrar, como havia acontecido dias atrás. A compra de um televisor barato, de 32 polegadas, a R$ 600, guardava a surpresa de que o aparelho não continha o controle remoto, não tinha pedestal nem estava embalado em plástico bolha. Era aquilo que estava em uma sacola mesmo.

Deu “sorte” porque foi possível cancelar o compromisso quando viu o estado do produto quase entregue. O custo foi o de uma choradinha humilhante ao ouvir da vendedora: “vender para pobre é assim mesmo”.

Mas a nova investida seria diferente. O encantamento tinha agora 42 polegadas e tecnologia para todo lado. Prestes a se aposentar, a vendedora deu a eles o maior dos descontos possível, talvez, porque soubesse bem de trens-bala, de sofrimento e de sonhos.

O casal rapou o que tinha e que teria em um futuro breve nos bolsos, mas e daí? Tudo por um gosto na vida. Não sobrou dinheiro nem para pagar um mototáxi. Cada um arcou com uma ponta da caixa, dividindo os dez quilos da TV, e rumaram para casa, agora, em subida.

Chegaram cansados, mas ainda juntaram a meninada no principal dos dois cômodos do barraco, fizeram pipoca e foram desfrutar da felicidade. “A vida passa rápido, seu Jairo. A gente precisa fazer essas coisas, mesmo com esforço, para desfrutar um pouco dela.”

Há poucos dias li um depoimento da Ana Vilela, a garota que escreveu aquela letra de música bonita que diz que a vida “é trem-bala parceiro e a gente é só passageiro prestes a partir” externando que está passando por um processo de depressão, que está difícil para ela a pressão do existir.

Ela desabafou dizendo ser muito duro enfrentar críticas severas ao seu modo de ser e a sua música. Declarou que é difícil para ela entender o ódio exalado pelas pessoas pelos esgotos cibernéticos.

Por outro lado, a cantora Marília Mendonça, morta de maneira trágica, fez das dores que foram se apresentando em sua jornada, o que ficou batizado de sofrência, o combustível para seu sucesso estelar, para ser amada por multidões, para embarcar na ideia do tal trem que ensina que é “sobre escalar e sentir que o caminho te fortaleceu”.

Para todos nós, existe a dualidade entre viver bem o agora, tendo consciência da brevidade dessa chance, e enfrentar as consequências da busca de ser feliz, de realizar, de ter, de sonhar, de se expor.

O que pode fazer, de fato, a diferença nesse claro e escuro, nesse partir ou ficar, é a maneira como os interlocutores agem diante da luminosidade.

Mais do que entender que o trem da nossa vida é veloz, é fundamental nos conscientizarmos de que podemos atrasar, tornar sofrida e afetar, com nossas atitudes, preconceitos e mazelas, a viagem dos outros.

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Amplie os horizontes para encontrar sua alma gêmea https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/04/13/amplie-os-horizontes-para-encontrar-sua-alma-gemea/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2021/04/13/amplie-os-horizontes-para-encontrar-sua-alma-gemea/#respond Wed, 14 Apr 2021 02:15:27 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2021/04/colunaalma-320x213.jpg https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=3987 Duas séries recentes, Soulmates (Amazon) e The One (Netflix), abordam temáticas muito semelhantes: os dilemas, delícias e complexidades de poder encontrar, com método científico, sua alma gêmea, aquele “serumano” ideal, que não liga para o seu bafo matutino e lhe desperta desejo até cortando as unhas dos pés.

São diversas as experiências e histórias da carochinha contadas em prosa, verso e música do Fábio Jr. relatando as maravilhas de esbarrar com aquela pessoa capaz de fazer uma chuva de canivetes se transformar numa brisa de algodão-doce, aquele amado incansável em companheirismo, compreensão e tesão que chega para nunca mais ir embora.

As reflexões contidas nas séries, embora superestimadas e levadas ao extremo das situações —como o de saber que sua alma gêmea é um assassino sanguinário—, ajudam a pensar em como esse tão almejado encontro romântico pode não ser assim tão iluminado e cheio de coraçõezinhos.

Guardamos experiências próprias, laços emocionais únicos, vivências e momentos exclusivos todos os dias e é com essa bagagem nos sentimentos e na cabeça que partimos rumo às nossas buscas e desacertos afetivos.

Muitas vezes, por acreditar demais que a tampa da panela precisa se encaixar perfeitamente em nossas ambições e sonhos, perde-se a oportunidade de aproveitar aromas, sabores e texturas que o curso natural dos dias vai apresentando com caçarolas meio amassadas ou até meio enferrujadas.

Um aparte inclusivo aqui: pessoas com deficiência, como é o meu caso, costumam ter, aos olhos alheios, não almas gêmeas a seu lado, mas almas caridosas, almas elevadas, almas puras, capazes de dividir o fardo de condições físicas, sensoriais ou intelectuais incomuns, o que é uma enorme bobagem, evidentemente.

Encantos, atração, conexões se dão por construções de cumplicidade e dedicação que se aprofundam não por meio das perfeitas manifestações do corpo e de habilidades sensoriais, mas por elementos mais simples —ou, talvez, bem mais complexos— como a maneira de encarar os desafios, a energia que se dá ao acolher alguém ou a forma como você trata uma criança.

Cena da série Soumates, da Amazon, que aborda maneiras científicas de encontrar a alma gêmea Foto: Reprodução

Das dezenas de lições pandêmicas possíveis, compreendo que uma é justamente potencializar os conceitos de almas gêmeas, saindo do campo meramente romântico e olhando mais para ligações de empatia, de acolhimento e de prazeres que podem sustentar a mente, a alma e aplacar angústias, inquietações e medos.

Desse modo, um amigo que consola, que alegra, que liga à noitinha para te fazer companhia e para te adoçar as amarguras —e também para receber de você carinho e consideração—, tem grandes chances de ser uma alma gêmea.

Aquele seu cachorro carentão, que fica embaixo da mesa babando e se coçando enquanto você se desespera porque não ouve nada da reunião online, pode ser uma alma gêmea das mais sintonizadas. O mesmo vale para seu gato que dorme à espreita na porta enquanto você toma banho.

Os maiores parceiros da existência podem ser nossos filhos que falam “eu te amo” após pedirmos umas cem vezes, mas que sempre falam. Podem ser, neste momento, profissionais de saúde que amparam nossas dores e desesperos até o fim.

Quanto mais estendermos as possibilidades de afinidades e acalentos que podem nos completar, nos consolar e nos empurrar para mais um dia e suas esperanças, menos ficaremos na inquieta dependência de achar que apenas um ser iluminado, perfeito e parceiraço, que talvez nem exista fora da imaginação, irá nos realizar.

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Casal com Síndrome de Down é protagonista de filme sobre o amor https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2019/06/10/casal-com-sindrome-de-down-se-torna-protagonista-de-minidocumentario-sobre-o-amor-nas-diferencas/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2019/06/10/casal-com-sindrome-de-down-se-torna-protagonista-de-minidocumentario-sobre-o-amor-nas-diferencas/#respond Mon, 10 Jun 2019 11:00:38 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2019/06/docdown2-320x213.jpg https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=3641 Se há uma fronteira inclusiva ainda distante de ser atravessada é a que aparta as pessoas com deficiência, seja ela qual for, da vida amorosa, romântica, sexual.

Embora já existam reações importantes em relação ao preconceito de quem avalia que esses grupos não tem chances em relacionamentos, os entraves, sobretudo de atitude, ainda existem.

A maior regra, neste caso, é uma antiga: não cuide da vida alheia, não projete suas formas de ter experiências nos outros, não meça a felicidade do seu vizinho da mesma forma que você mede a sua.

Se até pouco tempo atrás não se via pessoas com deficiência namorando, casando, tendo filhos, é porque os impedimentos sociais e estruturais eram quase intransponíveis e sair de casa era missão com poucas glórias.

Hoje, com mais enfrentamentos e alguma melhora nas condições de acesso e de inclusão, além do advento de ferramentas eletrônicas que ampliam a capacidade de encontrar um parceiro ou uma parceira, a cara do amor também está ficando mais plural.

Pessoas com Síndrome de Down tem uma labuta peculiar no quesito romântico, pois a falta de entendimento sobre suas condições ampliam estigmas e impõem barreiras de vida que envolvem até suas liberdades de se relacionarem, de casarem, de planejarem uma família, um lar.

Matheus e Danielle são apaixonados desde a infância Foto: Reprodução

Mas também essa frente tem sido combatida com informação, com ocupação de espaços. Um exemplo é o amor de Danielle e Matheus, que acabou por virar um minidocumentário que ganha as ruas nesta semana dos namorados.

A história do casal é cheia de casualidades, encontros e desencontros e acaba por ser uma peça importante na conquista das liberdades das pessoas com deficiência a terem suas vidas românticas livremente.

O filme, idealizado pelo grupo Grupo Pão de Açúcar e pela agência BETC/Havas, segue abaixo na íntegra. A produção é da Bossa Nova Filmes. Vocês vão amar! ♥

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Os ‘inamoráveis’ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2018/06/13/os-inamoraveis/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2018/06/13/os-inamoraveis/#respond Wed, 13 Jun 2018 05:30:07 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/undate1-channel4-320x213.jpg http://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=3302 Se a terça-feira (12) foi o dia nacional de os pombinhos festejarem o amor, hoje, dia posterior, poderia ser marcado como o tempo de pensar a respeito da ressaca dos “inamoráveis”, pessoas que sentem uma falta danada de viver relacionamentos, mas têm extrema dificuldade de arrumar um sapato velho para acolher o seu pé cascudo.

São diversas as razões para passar a vida toda ou parte dela de braços dados com a solidão amorosa: a timidez extrema que não permite aproximações, o acaso que leva um grande parceiro precocemente, as deformidades que provocam rejeição, as deficiências severas que podem impedir o sair de casa e dificultar a comunicação, as deficiências intelectuais que podem alterar rituais de conquista.

Ah, e tem também os esquisitões de toda ordem, que, às vezes, mal têm a chance de abrir a boca para combater estereótipos, preconceitos e primeiras impressões.

O ponto-chave de toda angústia de não conseguir um parceiro de jornada –mesmo que seja apenas por um pedacinho de tempo– guarda intimidade com a busca de padrões sejam eles relativos à boniteza, sejam eles ligados à forma de interpretar o companheirismo, muitas vezes contaminada com elementos aventureiros, de poses elegantes em porta-retratos, de grandes momentos regados à champanhe.

“Difinitivamente”, como falava minha tia Filinha, que morreu no mês passado, passar a existência sem degustar as doçuras e amargores de compartilhar o dia a dia ao lado de alguém, não é detalhe. Na cesta básica da vida, experimentar a reciprocidade do amor é seguramente produto de necessidade extrema.

No Reino Unido a questão dos “inamoráveis” (achei bonito o neologismo!) é tão séria que agências de namoro especializadas em casos considerados muito difíceis de engatar coraçõezinhos são aptas a receber fomento público.

Série britânica aborda os desafios e os desejos de pessoas com extremas dificuldades de conseguir engatar um relacionamento Crédito: Channel 4

Faz sentido total, uma vez que não namorar, não ter uma amizade colorida –será que ainda se fala isso?– pode afetar o bem-estar, a predisposição para a felicidade de um cidadão. O isolamento faz escorrer infelicidade e, consequentemente, abrir portas para quadros depressivos, doenças oportunistas.

Uma série atualmente disponível em um serviço de filmes online conta um pouco da experiência britânica. “The Undateables” mistura a delicadeza dos sonhos de quem busca uma companhia, com um humor gerado pela inexperiência do compartilhar, amarrando também com situações de angústias diante à espera por um encontro, por um carinho, por um afago na alma, por um beijo.

Um dos pontos altos da produção é mostrar que não necessariamente juntar “iguais” vai produzir o mapa que faz chegar a tesouros sentimentais. Pode rolar amor entre casais de cadeirantes, de cegos, de paralisados cerebrais, mas em nada a condição de alguém vai determinar sucesso em relacionamentos.

Talvez padecer de perrengues semelhantes faça ampliar a compreensão a respeito das carências e necessidades do outro, mas amor, companheirismo, têm a ver com rir da piada do “pavê e pacumê”, de gostar de vídeos de gatinho, de permitir-se encantar pelos formatos das nuvens.

Na real, ninguém no mundo pode ser considerado “inamorável” e jamais deve aceitar esse rótulo. Brotar sentimento e engatar namoro tem a ver com desembarcar a mente e o coração de expectativas de cinema e exaltar o desejo de construção de bons momentos a dois e isso não se compromete com o quão torto se é, mas, sim, alcança-se com o quão disposto se está para amar.

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Ela é cadeirante, ele cego: juntos, só amor! https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2018/06/11/ela-e-cadeirante-ele-cego-juntos-so-amor/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2018/06/11/ela-e-cadeirante-ele-cego-juntos-so-amor/#respond Mon, 11 Jun 2018 11:00:33 +0000 https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/files/2018/06/dianavini1-320x213.jpg http://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=3293 Não existe nenhuma propensão natural para que pessoas com deficiência se atraiam por parceiros “malacabados” também.

O que pode acontecer é que, às vezes, as trupes podem juntar gente com interesses, demandas e batalhas conjuntas e daí, naturalmente, pode rolar um casalzinho ou outro.

O que é bem verdadeiro é que o amor entre duas pessoas com deficiência é cheio de pequenos desafios a começar da curiosidade dos outros sobre o “como é possível?”

Ninguém está isento de não compreender exatamente as demandas e o jeito do outro, assim como não está isento de estranhar a forma como alguém que não exalta os seus próprios padrões de vida faz para tocar o dia a dia.

Mas o antídoto que faz tudo isso virar bobagem e detalhe é o sentimento. É a atração por aquilo que o parceiro ou parceira representa, seja ela do jeito que for!

Diante de todos esses aspectos, convidei minha amiga Diana Sabbag, que é cadeirante, a dividir um pouco com os leitores como se constrói, se viabiliza, se mantém um relacionamento com outra pessoa também com deficiência.

Vinicius, o namorado, é cego… juntos eles se amam, passam perrengues e também dão boas gargalhadas! E feliz dia dos namorados a todos!

OLHA POR ONDE ANDA

Nos conhecemo-nos há três anos na Oficina dos Menestréis onde fazíamos parte do elenco de teatro [são várias trupes inclusivas]. Quando ele entrou, eu já fazia parte. Não dei muita atenção, não por antipatia, mas porque o Vini sempre foi muito quietinho e eu uma tagarela que conversa até com o poste se bobear…

Ele lembra até hoje do fato dele se apresentar para mim, o que foi muito engraçado. Ele perguntou meu nome, eu respondi, ele não entendeu (estava muito barulho no local), ele perguntou de novo e eu respondi meio brava… 😛 . Confesso que paciência é algo muito limitado em mim!

Fizemos uma peça – “Aldeia dos Ventos”, do Oswaldo Montenegro -, mas não trocamos mais do que poucas palavras naquela temporada. Ele namorou uma pessoa do elenco e eu também estava namorando.

O casal Diana e Vinicius, que se conheceram em ensaios teatrais Imagem: Arquivo Pessoal

Em 2016, ao fazermos outra peça do Oswaldo – “Noturno-, ensaiávamos no Centro Cultural, em São Paulo, nos aproximamos mais e acabamos por nos tornar namorados.

O que me atraiu no Vini foi o carisma, a doçura e a maturidade de um rapaz de apenas 26 anos, na época, mas com cabeça de um homem mais velho.

Sempre falava que jamais me relacionaria com um homem mais novo, mas sabe aquele ditado “Não cospe para cima que cai na testa?!”, então, aconteceu! Além do bom humor e do sorriso mais cativante do mundo que ele tem!

Papeando durante uma semana, comecei a sentir um calorzinho diferente dentro de mim a cada papo! Uma vontade de sempre ter contato, de saber como ele estava, de ouvir a voz…
Ele diz que o papo diariamente fez com que o bichinho do amor o picasse também. Que nossas conversas, nossas risadas, o dia após dia foi a plantinha sendo regada para que o amor nascesse.

O preconceito é algo inexistente para nós. Nunca passamos por essa questão, pelo menos abertamente. Acredito que o meu jeito comunicativa que já fala na cara as coisas (sempre digo que um completa o outro no que precisamos) faz com que as pessoas quebrem esse tabu de que o diferente não pode se completar.

Eu, cadeirante, ele, deficiente visual (baixa visão), o que para os desconhecidos parece ser algo impossível de acontecer, mas juro que é como qualquer outro casal. O que importa é o respeito, a compreensão e o amor!

Eu o ajudo em tudo que ele precisa referente às questões visuais e ele me ajuda em tudo que eu preciso na minha limitação física.

Leio o que o leitor de tela não consegue captar, por exemplo, alguns documentos, leio placa na rua, faço descrição dos locais onde vamos e isso me fez amadurecer muito, pois passei a captar coisas que antes não dava bola.

Diana e Vini curtem um passeio na praia; eles são abordados por um cão golden Imagem: Arquivo Pessoal

Passei a ver os detalhes e até perdi aquele problema feminino de direção (esquerda e direita), pois fiz meu amor, no começo do namoro bater tanto a cabeça, que agora sei direitinho os lados… 😎

Tinha muito medo da rejeição em aspectos íntimos do relacionamento devido a certos tabus referentes à minha limitação e no começo conversamos muito sobre isso.

O Vini me surpreendeu muito ao dizer que não ligava para nada disso, que gostava de verdade de mim e que nada nos atrapalharia. Hoje tudo flui como com flui em qualquer outro casal.

De fato, nada nos atrapalha e somos felizes em todos os sentidos na nossa relação, nos completamos em absolutamente tudo!

Temos uma página no Facebook que retrata com muito bom humor o nosso relacionamento. Lá, mostramos as pérolas que saem devido às nossas deficiências e como o diferente pode se completar e ser tão bonito. Afinal de contas, ninguém é igual ninguém.

Independentemente de ter uma deficiência ou não, o que faz a relação interpessoal fluir é você entender que o outro tem a dificuldade dele e que se não for a mesma que a sua, dá para conviver, viver e até nascer algo muito bonito. E foi isso que nos permitimos, através do carinho e do respeito.

Um percebeu que completaria o outro, sendo um a perna e o outro os olhos e assim, conseguimos olhar e caminhar rumo ao mesmo horizonte.

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O amor nas diferenças https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2013/06/12/o-amor-nas-diferencas/ https://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2013/06/12/o-amor-nas-diferencas/#comments Wed, 12 Jun 2013 15:35:52 +0000 //f.i.uol.com.br/hunting/folha/1/common/logo-folha-facebook-share.jpg http://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/?p=1134 Foi em uma noite dessas que fez um frio da Lapônia aqui em São Paulo…  ;). Quando isso acontece, meus cambitos gelam e parece que toneladas de cobertores não são suficientes para aquecê-los.

“Amô, quenta minhas pernas?”… e lá foi a mulher fazer fricção com as pernas dela nas minhas até que eu ficasse bem confortável…. coisinha de casal.

Quando alguém encara suas diferenças com carinho, com gracejos e sem frescuras, pode investir que deve sair amor.

Caso suas “tortices”, sua voz meio acochambrada, sua gagueira, sua babinha no canto sejam sempre um incomodo, uma chateação, dê um jeito de arrumar as trouxas e tire seu bode, os coraçõezinhos e o seu sentimento dessa sala.

Não acho que amar alguém “diferente”, “todo quebrado”, seja um exercício de tolerância e um plano para garantir um cantinho no céu. Acho que é simplesmente ter disposição e coragem para atender a um chamado íntimo que fica dizendo: “Vai que esse te fará feliz”…

Também não dou ombros para chorar a aqueles que valorizam suas ditas “imperfeições” tão profundamente que elas passam a ser causa de qualquer fracasso, de qualquer chute na bunda, de qualquer carta de amor não lida.

Eu e Thaís em uma dessas ruas da vida

É preciso dar mais propaganda ao recheio morno, delicioso, que sai do bolinho aparentemente sem graça. O sorvete que irá provocar a explosão de sabores nessa combinação exige conquista!

E também tem outra: nas tais noites geladas, enquanto meu bem me aquece com todo carinho, ela leva de mim, em contrapartida, um caminhão de carinho.

Sem falar que, o calor de nossas pernocas juntas não fica só para mim… ele é dividido entre os corpos, chegando até o peito e deslumbrando o nosso amor…. o amor em nossas diferenças.

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