Brasil brilha de novo nas Paralimpíadas, que deixam legado para a diversidade

O desempenho do time paralímpico brasileiro em Tóquio merece ser reconhecido e elevado a excepcional. Em meio ao trágico cenário pandêmico, que afetou em cheio o preparo de atletas do mundo todo, mas, particularmente do Brasil, onde a situação se alongou de maneira apavorante, trazer para casa tantas premiações, tantos recordes e tantos novos nomes em evidência é uma marca digna de muito confete, novos investimentos e afagos.

Se de um lado o maior atleta nacional em Jogos Paralímpicos, Daniel Dias, foi prejudicado por questões técnicas e despediu-se das piscinas sem medalhas de ouro nesta edição, por outro, a natação mostrou um poderio de renovação contundente, com Carol Santiago sendo laureada por cinco vezes, três como campeã, puxando a fila.

Se a bocha não conseguiu manter o padrão de trazer premiações de primeiro lugar, o inédito feito do goalball masculino, do halterofilismo, da canoagem e as impressionantes marcas no atletismo não deixaram o brilho brasileiro recuar.

Inerente à natureza da pessoa com deficiência, as compensações de forças e capacidades afetadas pelo comprometimento físico, sensorial ou intelectual parecem, coincidentemente, apareceram no conjunto dos feitos do grupo paralímpico brasileiro.

Desde o resultado obtido nas Paralimpíadas do Rio, em 2016, quando a delegação nacional ficou em 8º lugar no quadro de medalhas, ficou evidente que seria necessário apostar, para o ciclo Japão, em talentos que pudessem dar energia adicional ao grupo.

Manter-se na elite de superpotências paralímpicas requer, além de reconhecer e valorizar os feitos de quem construiu essa imagem, ter visão de progresso, de como se sustentar no topo e criar caminhos para avançar.

É preciso ter clareza, por sinal, de que colocar o Brasil em posições ainda melhores no ranking paralímpico é desafio que requer planejamento de décadas, recursos bem aplicados e contínua valorização do paradesporto.

Embora nossos resultados sejam muito bons, o salto para o top quatro, por exemplo, implicaria incremento substancial de premiações.

Fomos muito bem, mas China, Inglaterra, Estados Unidos, Rússia e Ucrânia mantiveram seu poderio na competição e também avançam na mentalidade de que os Jogos Paralímpicos são tão representativos e importantes quanto os Olímpicos e querem continuar ganhando.

Mas, das lições de equilíbrio deixadas por essas Paralimpíadas, nenhuma é maior do que o encontro entre o reconhecimento midiático e de parte da sociedade do valor esportivo dos atletas em harmonia com as histórias pessoais e demandas impostas pela deficiência dos competidores.

Acompanho os Jogos mais atentamente há quatro edições como espectador, como jornalista, como pessoa com deficiência, e, neste momento, como colunista. Minha identificação nunca foi tão grande do momento da abertura, que mesclou uma mensagem de potencialidades humanas com a importância do espírito de colaboração entre os viventes, até as manifestações dos campeões com pedidos de combate ao preconceito.

Tóquio deixa uma indelével marca inclusiva em tempos de abraçar o valor da diversidade. Acho meio brega e clichê a repetida fala de encerramento do evento, mas, neste ano, eu mesmo digo: “Foram os maiores Jogos Paralímpicos de todos os tempos.”