As resistentes fábricas brasileiras de campeões das Paralímpiadas

Chama muito a atenção a quantidade de medalhistas paralímpicos estreantes nos pódios. Da natação ao atletismo brasileiros, nomes que antes não figuravam entre as estrelas dos maiores jogos do mundo voltados à pessoa com deficiência brilham em Tóquio exibindo premiações de toda cor.

Embora seja importante reconhecer o investimento no alto rendimento, com políticas de bolsas, com a criação de um centro de excelência, em São Paulo, para treinamentos, aperfeiçoamentos e análise tecnológica de desempenhos, o segredo é anterior a tudo isso.

As fábricas de campeões são, em geral, pequenas e médias associações de fomento ao paradesporto espalhadas pelo país, geralmente, funcionando com pouquíssimos recursos e ancoradas no apoio de famílias, parcas doações e gente comprometida com a inclusão.

Em grande parte dos municípios do país, as condições de acessibilidade para o lazer, para vida social e para espaços de cidadania são pouco ou nada presentes. A realidade de quem tem uma deficiência, então, torna-se restrita à família, amigos e à escola.

Com isso, iniciativas que juntam assistência social, esportividade e acolhimento surgem, quase sempre, para atender um grito desesperado por espaços de manifestação de pessoas com alguma deficiência física, sensorial ou intelectual.

Às vezes também, essas associações são a primeira casa de reabilitação motora e dos sentidos –que pode estar bastante próxima à prática de algum esporte adaptado– de milhares de brasileiros sem recursos para pagar clínicas especializadas ou profissionais particulares que os auxiliem a ampliar suas funcionalidades, algo invariavelmente possível.

O público desses ambientes é cada vez maior, infelizmente, não apenas por serem referências positivas e promoverem um trabalho capaz de alterar uma condição muito debilitada, mas também porque as violências multiplicam seus potenciais atendidos.

A conta, porém, tem outro resultado, paradoxalmente muito positivo: com mais gente envolvida, maior o potencial de encontrar talentos e, na ponta de tudo, medalhas e mais medalhas de ouro.

Parte maior dos medalhistas paralímpicos nasceu e se desenvolveu em piscinas, quadras e pistas distantes de grande profissionalismo, clubes de renome ou estafe técnico que os indicassem caminhos de vitórias em competições. A intenção maior era a de dar a eles alternativas para a conquista de uma vida mais digna.

Na última década, principalmente, a busca ativa por talentos com potencial paralímpico, espalhados por essas iniciativas municipais, se ampliou muito dentro das missões do Comitê Paralímpico Brasileiro que promete seguir e ampliar essa toada.

A especialização e formação de professores de educação física para o paradesporto e a descentralização dos centros de treinamento de ponta são ações que, certamente, irão catapultar o Brasil, ainda mais para a frente, como superpotência dos Jogos Paralímpicos.

Mas a manutenção, apoio, reconhecimento e ampliação dos atuais pequenos celeiros de campeões –um tanto estigmatizados e precarizados– são elementos certeiros para mais pódios na França, na Austrália, e, principalmente, para conquistas de toda uma existência.