Por que não unir Olimpíadas e Paralimpíadas num só evento?

Desde o início dos anos 2000, quando os Jogos Paralímpicos foram realizados na Austrália, um burburinho entre atletas e espectadores começou a ganhar eco que sempre fica mais intenso com a realização de um novo evento: por que não juntar os Jogos Olímpicos e Paralimpíadas em uma mesma confraternização esportiva mais plural e representativa?

Por parte dos competidores, o argumento remonta a seus potenciais de alto rendimento e à necessidade de maior reconhecimento de seu desempenho profissional que se descolaria da questão da deficiência física, sensorial ou intelectual.

A separação reforçaria a reunião de um gueto e suas peculiaridades em vez de conclamar um ambiente de manifestações múltiplas de capacidades e maneiras de praticar uma modalidade esportiva.

No público, evoca-se o combate ao chamado capacitismo, que é o preconceito contra a pessoa com deficiência. A ideia é que esse grupo social poderia estar normalmente inserido e incluído dentro do contexto olímpico numa celebração mais diversa.

Embora seja básico entre os princípios inclusivos e de diversidade defender o “todosjuntos”, há uma questão anterior, fundamental, para a busca por mais igualdade: a visibilidade. Quem não é visto demora mais para ser entendido em suas peculiaridades e atendido em suas demandas específicas e legítimas.

O holofote sobre as questões que envolvem o universo das deficiências não poderia ser mais potente que em um evento exclusivo como a Paraolimpíada. É nas arenas e nos pódios que desfilam novas tecnologias, novas possibilidades de ação diante de barreiras de atitude e de mobilidade.

É nas Paralimpíadas que formas não convencionais de estar vivo e atuante no mundo são mais observadas e consideradas para além dos enfadonhos “exemplos” midiáticos, propagandas assistencialistas e ambientes hospitalares ou institucionais de apoio.

Há também pontos mais práticos que atravancam de maneira bastante importante a união dos jogos. A logística paralímpica guarda especificidades diferentes da olímpica.

Algumas modalidades como o goalball, praticado por pessoas com deficiência visual, o futebol de 5, também disputado por esse público, e o vôlei sentado exigem desenhos de quadra específicos, possuem regras próprias e arbitragem especializada.

Um evento unificado implicaria muitos dias a mais de competição, instalações mais agigantadas do que já são e impacto sem precedentes na vida das cidades-sedes.

Cabe reforçar que não há simetria possível, legítima e razoável entre a separação olímpica e paraloímpica e qualquer outra segregação social como a escola, o trabalho, o lazer, a vida cultural, a rua. É inegociável, dentro de qualquer mentalidade inclusiva, apartar quem quer que seja dentro desses campos de cidadania e de direito.

Depois de 71 anos da realização do primeiro evento da Terra sobre esportividade de pessoas com deficiência, o discurso que tanto esse grupo urra para ser adotado e inserido nas mentes de todos, menos estigmatizado, mais integrado e realista, parece estar mais firme e aplicado de maneira mais impactante e repercussiva.

Chegará o momento, sim, de caminhar para uma solução única das festas esportivas, mas, até lá, que se aproveite a hora paralímpica para a tomada de ações tão necessárias –e ainda tão incipientes em países como o Brasil e até o próprio Japão– no acolhimento de todo “serumano”.