Acendimento da pira paraolímpica surpreende, inclui e cria marco histórico
Três atletas com deficiência, todos em cadeiras de rodas, foram os responsáveis por acender a pira paraolímpica durante a abertura dos jogos de Tóquio na manhã desta terça-feira (24), noite no Japão, num ato histórico e inédito para o evento.
Em uma cerimônia cujo mote foi a construção de capacidades de “voar” sob qualquer condição, o que foi ilustrado por uma garota japonesa de 13 anos que tinha sua cadeira de rodas ornamentada com uma asa apenas, as paraolimpíadas foram abertas com a maior adesão já vista do discurso empregado pelas próprias pessoas com deficiência e não pela perspetiva de quem é “certinho” das partes.
A expectativa de que os japoneses fariam do espetáculo uma demonstração de sua potência tecnológica ficou frustrada, o que se justifica em partes pela situação pandêmica. Por outro lado, em uma nação que ainda engatinha no abraçar o diverso, a mensagem de entendimento das diferenças para o mundo foi de impacto.
A tradição paraolímpica de fazer do ato do acendimento da pira um momento de impacto foi mantida e elevada pelos japoneses. Os três atletas cadeirantes que levaram a tocha até a pira tinham também a missão de mostrar ao planeta que, sozinho, ninguém é capaz de feitos extraordinários, que, juntos, o “serumano” se faz mais forte e mais completo.
O momento auge da cerimônia contou também com um discreto ajudante, todo vestido de preto, ao lado de um dos atletas que usava cadeira de rodas motorizada. Atenta, mas sem ser invasiva, a pessoa simbolizou ali que a independência, às vezes, carece de uma condição diferente, como uma “mãozinha” se, eventualmente, a tocha se desequilibrar, se um movimento não sair com perfeição.
Tudo indica que teremos a paraolimpíada com o maior enfrentamento de estereótipos, capacitismos –o preconceito contra a pessoa com deficiência– e palcos para demandas legítimas e fundamentais para esse grupo social.
Os jogos começaram bem. Que todos comecem também a pensar e a vibrar pelas diferenças.