Onde estará Michelle, a primeira-dama que parecia acenar para a diversidade?
E ela sumiu, escafedeu-se. A primeira-dama, que começou sua aparição na função com uma mensagem inclusiva, usando a língua de sinais, fez gesto de banana para pessoas com deficiência que tinham nela expectativa de se dedicar por avanços de direitos e por ser um expoente para novas conquistas sociais para esse público. Não fez nada, mal acenou ao lado do capitão.
Dona Michelle, porém, é só um expoente de um fracasso retumbante e vergonhoso de o governo Bolsonaro ter alguma relevância histórica no sentido de fomento à inclusão no Brasil. Até agora, o que foi demonstrado e praticado foi um desencontro total entre as ações presidenciais, com a primeira-dama a reboque, e os anseios do povo que não anda, não vê, não escuta, baba um pouquinho pelo canto da boca, é meio diferenciado das ideias, mas, certeza, é gente.
Na educação, a sumidona deixou que uma política que flertava com o apartar de crianças com deficiência do convívio com as demais entrasse em vigor. Foi preciso força judicial para que o flagrante desajuste não botasse a perder décadas de construção de uma escola para todos.
Mais recentemente, o governo federal foi pra cima de uma “benesse” que tentava dar mais qualidade de vida —ou alguma possibilidade de alguma vida— para o povo “malacabado”, a isenção de um pesado imposto para a compra de veículos novos.
Agora, uma canetada limitou a R$ 70 mil o valor máximo para que a compra permita o recuo tributário. Carros que atendem bem e com segurança pessoas com deficiência custam mais que isso. Então, vamos de transporte público, tranquilão Michelle tem carro oficial, não se manifestou sobre isso também.
Mas foi a pandemia o que isolou mesmo a primeira-dama da realidade de demandas do público com comprometimentos físicos, sensoriais e intelectuais, que não teve nenhum olhar atento para suas agonias ainda mais graves que as da população em geral diante da fatalidade em curso.
Como pessoas que precisam de suporte de profissionais como cuidadores, terapeutas ocupacionais, intérpretes de Libras, assistente educacionais devem se proteger? Se virando. Como crianças que demandam muita proximidade com outras pessoas para seus cuidados podem evitar contágio? Entregando nas mãos de nossa senhora da bicicletinha.
Não há orientação nacional para dezenas de questões que soterram famílias em um drama que vai além das angústias das pirações e ansiedades que estão acometendo pequenos confinados em casa. São pais e mães assistindo a involução de seus filhos com autismo, com síndrome de Down, com atrofias, com paralisias.
Michelle poderia agitar uma equipe de estudiosos para fazer lives diárias com dicas de como fazer, em casa, algo que atenue a falta dos recursos do mundo lá fora para tantas pessoas. Em vez disso, o que se assiste são desumanas apresentações de negar a tragédia.
Não há recortes confiáveis ainda a respeito de acometimento de pessoas com deficiência com Covid-19, assim como não se sabe o tamanho dessa população que foi enterrada pelo vírus até agora.
O que é fato é que, muitas vezes, um“serumano” que teve a sorte de vir ao mundo com alguma diferença pode também ser premiado com incapacidades respiratórias, renais, cardíacos, tudo o que o coronavírus adora para fazer ainda mais a festa com aglomeração.
Mesmo assim, prioridade para vacinação para algum subgrupo dessa gente é conversa que não se tem —exceção para institucionalizados. A primeira-dama só pode estar dormindo com o inimigo.