Coletivo de mulheres com deficiência completa um ano e quer fim de silêncio sobre seus direitos sexuais e violência

Assunto que abordei menos do que deveria aqui no blog –embora eu tenha sido pioneiro a tratar de diversidade sexual da pessoa com deficiência num grande meio de comunicação–, mas que considero de profunda importância e que tenho consciência de seus desafios e perrengues é a discussão de gênero entre o povo “malacabado”.

Indiscutivelmente a mulher com deficiência está ainda mais exposta que o homem ao preconceito, às barreiras atitudinais e à falta de compreensão de suas demandas. Tá bonito ver uma maior emancipação desse grupo, com cadeirantes nas ruas amando, carregando seus filhos ou simplesmente exercendo sua cidadania de “estar”, mas a sociedade ainda tem de refletir um bocado a respeito de olhares enviesados, de exposição à violência e de abertura de oportunidades ao feminino que não anda, não vê, não escuta, mas que vive e pulsa!

Para abordar mais sobre isso, coletivos têm surgido em várias partes do país, um deles é o Coletivo Feminista Hellen Keller que tem entre suas cabeças a incrível Fatine Oliveira, que é publicitária e mergulhada no entendimento da diversidade dentro da diversidade!

O trabalho de conscientização do coletivo tá completando um ano e a Fatine escreveu para este diário sobre a importância desse debate! Boa leitura

Quem acompanha o Assim como você já deve saber bem os percalços que nós, pessoas com deficiência, costumamos encontrar pelo caminho. É calçada esburacada, é cadeira que estraga, é gente que não sabe se comunicar por sinais. Enfim, uma série de situações, infelizmente, rotineiras. Talvez, o que vocês ainda não sabem é como todos estes obstáculos adquirem um peso maior quando falamos de gênero. Sendo mais direta, quando falamos sobre ser mulher com deficiência.

De acordo com o IBGE (2010),¼ das mulheres brasileiras possuem alguma deficiência. Entretanto, este número parece não ser suficiente para muitos movimentos sociais, inclusive o feminista, reconhecerem em suas demandas as barreiras impostas às mulheres com deficiência.

Para ilustrar, ainda de acordo com os dados levantados pelo IBGE (2010), 30,9% do total de mulheres negras no país tem deficiência, ponto que reforça a necessidade de relacionarmos a deficiência com outros marcadores como raça, classe e sexualidade, por exemplo.

Essas inquietações são comuns em diversas mulheres, mas foi o elemento principal para reunir um pequeno grupo feminista e criar um coletivo que representasse seus sentimentos. Assim nasceu o Coletivo Feminista Helen Keller de Mulheres com Deficiência.

Coletivo completa um ano e lança manifesto

Criado em 21 de setembro de 2018, Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, o Coletivo traz em si a defesa da democracia e o enfrentamento ao silenciamento imposto às mulheres com deficiência, onde pautas importantes, como garantia de direitos sexuais, direitos reprodutivos e uma vida livre de violências, sempre foram deixados para depois.

Nesse um ano de existência passamos a ocupar espaços importantes em nível nacional, como a Rede-In (Rede Brasileira de Inclusão de Pessoas com Deficiência) e a 1ª Frente Parlamentar Feminista e Antirracista com Participação Popular da América Latina.

Além disso, já participamos da celebração da Visibilidade Lésbica na Casa ONU, do I Seminário Internacional de Saúde Sexual Reprodutiva, HIV e Pessoas com Deficiência, organizado pela UNFPA, 16ª Conferência Nacional de Saúde e do 8º Encontro Nacional das Cidadãs Posithivas.

Falamos ao plenário do Conselho Nacional de Saúde sobre a Saúde da Mulher com Deficiência e falamos aos Estudantes NINJA sobre nossa presença nas universidades. Somos mais de 30 mulheres com deficiência espalhadas pelas cinco regiões do país. Estamos nos fortalecendo, mas muito ainda precisa ser dito e, principalmente, compreendido!

Entre nossas pautas, entendendo que a acessibilidade é transversal a todas elas, está a participação política das mulheres com deficiência, acesso a saúde, educação, segurança pública, trabalho e autonomia econômica.

Para comemorar esse 1º ano de existência, entendemos que a representatividade sem consciência e uma agenda política não é suficiente ao combate da estrutura capacitista [que são as atitudes de preconceito contra a pessoa com deficiência], lançaremos neste dia 21/09 o Manifesto do Coletivo Feminista Helen Keller em que apresentaremos nossas pautas e apontaremos caminhos para o acolhimento destas ideias em diferentes espaços de construção.

Pontuar e reconhecer nossos corpos como políticos nos fortalece ao enfrentamento de discriminações.

Assim, enquanto coletivo, entendemos que todas as formas de opressão existentes precisam ser evidenciadas e combatidas, pois acreditarmos na solidariedade política como o caminho possível à justiça social. E aí, vamos juntas?