Quando a mãe se vai, vida da pessoa com deficiência passa por mudança extrema

Neste semana, como é tradicional, o blog traz uma série de postagens que celebram as mães. Embora, cada vez mais, os pais estejam assumindo posturas mais acolhedoras na criação dos filhos, quando se trata da pessoa com deficiência, ainda é a mulher, disparadamente, quem “segura o rojão”.

Várias e várias mães deixam de buscar sentido para suas próprias vidas para encontrar mais conforto, dignidade, inclusão e saúde para os filhos “fora da curva”. Dedicam tempo, dedicam forças, dedicam coração.

Para o filho, a interdependência também pode ser parte da própria jornada, sobretudo em casos de deficiências mais severas. Sendo assim, por mais conflituoso que possa parecer, cabe à família sempre buscar caminhos de independência e de criação de meios sobrevivência fora do ninho.

Meu amigo Alan Mazzoleni, que ficou tetraplégico após um acidente, faz um relato comovente, duro e real sobre a reconstrução de sua realidade depois da partida de sua mãe, sua fortaleza, seu segurança, seu amparo.

De um dia para o outro, a vida surpreende e a presença física vira saudades. A única certeza da vida é a morte, mas nunca vamos aceitar perder quem amamos, ainda mais quando é a mãe, uma dor que dói na alma. Agradeço sempre a Deus por ter me dado a melhor mãe que eu podia ter Mariza Mazzoleni.

Claro que tem horas que a saudades dói aperta, mas o que cultivo em mim são as boas recordações, o vazio é preenchido por tudo que fez por mim e ensinou.

Todos que conheceram sabem como ela era falante, vivia sorrindo independente dos problemas, ficava feliz com as pequenas coisas da vida, tenho o mesmo d.n.a. Mas ela era serena na fala, tinha boas palavras, viciada em ler, muito apaziguadora e carinhosa.

Mariza, que cuidou do filho, Alan, até seus últimos dias Foto: Arquivo Pessoal

Lembro de tudo que vivemos, minha mãe sempre trabalhou foi decoradora na infância e na maior parte do tempo vendedora de móveis, nunca tive pai, cumpriu bem os dois papéis.

Quando pequeno, minha mãe desenhava muito bem, ela pintava tecidos, camisetas, blusas eu ficava desenhando ao lado. Recordo bem a primeira vez no Mc Donalds da Av. Paulista, a ida ao circo, ir a praia, pescar, diversos passeios, colecionávamos álbuns de figurinhas, gibis, de as vezes ficar com ela no trabalho, me deu muito carinho.

Foi firme na adolescência, quando dei trabalho, e deixei de fazer coisas que me prejudicavam por reconhecer o quanto se dedicava por mim e sendo único filho estava fazendo mal a ela.

Quando em 2004 sofri um acidente e fiquei tetraplégico, ela que não fumava havia três anos, voltou. Por seis meses, ela rezou para que eu morresse, o filho que tinha autonomia, que não morávamos mais juntos, de repente dependia de todo mundo pra tudo.

Só quando ela ficou comigo na reabilitação no Sarah Kubitschek (em Brasília) e teve suporte psicológico entendeu que seu filho podia viver com qualidade, mesmo com a lesão medular. Daí voltou a ser a incentivadora, me apoiou em tudo.

Montei uma Ong, aprendi a jogar rúgbi adaptado, voltei à faculdade, fiz programa na rádio, tudo com o apoio dela.

Minha mãe cuidou de mim praticamente todos os dias, me dava banho, fazia sonda (eliminação da urina por meio de um processo manual), ajudava ir pra a cama, acordava na madrugada quando eu precisava.

Minha mãe era a minha base financeira. Nos dias ruins me dava colo, vibrava com minhas conquistas. Foram nove anos cuidando de mim depois da minha lesão. Hoje, sinto que cuida de mim lá do céu. É minha anja da guarda, minha estrela guia.

Sem ela na presença física, tenho ajuda da minha vó durante o dia, tenho cuidadora na parte da noite, e um super apoio de meus amigos desde o início de tudo, de todas as formas possíveis.

Tive que entrar na Justiça para conseguir uma pensão. Devido ao alto custo que tenho no dia a dia, ainda faço uns bicos possíveis e tenho alguns amigos que me ajudam financeiramente também.

Como já disse, sigo forte, igual ela era, acreditando e buscando sempre o melhor, sentindo que ela está comigo além da minha mente e coração.

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