Tristeza não tem fim?
Setembro, com a temporada das flores, também é mês de combate às tristezas humanas, às angústias do viver, à desilusão de seguir firme no dia a dia. A ideia é genial: criar um tempo para que se dê atenção aos lamentos do outro, para acender uma luz amarela de alerta para a qualidade da existência do vizinho, do amigo, do filho, do companheiro, de quem está ao lado, de quem está atrás.
Dos famigerados candidatos, não vi, nem li nenhuma demostração de comoção e reação ao sofrimento íntimo de ninguém, muito pelo contrário. Vejo apenas gladiadores suscitando ideias e pensamentos que vão ampliando o isolamento de grupos e a sensação de revolta com o pensamento diverso. Nada de lírios distribuídos nas ruas, muito sangue se esvaindo pelos conceitos do que se quer para o futuro da nação.
É claro que um presidente precisa analisar o país no macro de suas necessidades, ter propostas abrangentes, com resultados coletivos, mas um país forte passa também pela adoção de projetos que fomentem uma juventude que encontre respaldo para seus dilemas de identidade, que deem perspectiva para seus anseios de liberdade, que pavimentem rumos de múltiplas possibilidades de atuar em sociedade, de buscar felicidade.
Por enquanto, o que ecoa é mais tristeza e desgraceira. Um fulano postulante à vice-presidência chegou ao requinte de dizer que “casa só com mãe e avó é fábrica de desajustados”, numa afronta direta ao árduo trabalho de valorização das novas famílias e numa tentativa vil de jogar sobre a mulher as desgraceiras que afligem o mundo.

Pois fui criado numa dessas fábricas movidas a suor feminino, uma vez que meu pai “fez o favor” de morrer muito jovem em consequência dos efeitos do álcool. De fato, alguns desajustes me restaram: é uma inquietação em relação às intolerâncias, uma vontade de inspirar pela igualdade, um desejo de ver rodas girando com pretos, amarelos, cadeirantes, coloridos e caretas. Obrigado, minha mãe, por tanta insanidade que me faz a alma tranquila!
Mas retomando ao mês setembrino da cor de ouro, apenas em páginas de alguns amigos no ambiente virtual encontrei um aconchego gostoso, um chamamento para se celebrar a grandiosidade que é construir a jornada do viver. Dizem mais ou menos assim:
“Minha casa, meu whatsapp e o telefone estão sempre abertos a qualquer um dos meus amigos. Não é bom sofrer em silêncio. Eu tenho café, chocolate quente e até um vinho. Posso preparar algo doce ou salgado se você preferir… Talvez apenas água fresca, um pedaço de pão ou dar a você o meu ombro e meu silêncio, se é isso que você precisa. Eu sempre estarei aqui e você sempre será bem-vindo.”

Foto: Divulgação
A tristeza profunda pode encaminhar para tragédias, para atitudes extremas e para cavar novos poços de desolamento. Não dá para entregar pacotes de felicidades aos aflitos, mas dá para puxar alguém em desespero para cantar o sol do novo dia. No mínimo, que se resista a esgarçar mais as inúmeras violências de convívio que se tem praticado em todos os cantos, compulsivamente.
Uma pausa em nossas belicosas relações em defesa apenas do vermelho de raiva, do azul de ódio, do verde de rancor em benefício do auxílio a quem estampa uma pálida figura de cansaço pelas dores por estar vivo pode ter um potencial imenso para a construção de meios-termos, de menos tristezas sem fim. Dá tempo de salvar e fazer alguém sorrir –ou reagir– no setembro amarelo.