Mãe com paralisia cerebral constrói elo com seu bebê pelo carinho e pelo peito
Uma pessoa com paralisia cerebral pena com estigmas desde o nome de sua condição, imaginada como algo terrivelmente debilitante e que anula possibilidades de uma vivência comum.
Então, quando se aborda a história de uma “mãe PC”, o pensamento dá um looping e uma monte de questionamentos, legítimos, bobos e nada a ver, tomam conta da cabeça da gente.
Nem todo paralisado cerebral tem comprometimentos severos na intelectualidade, muito menos são impedidos de construir uma vida como bem entender, passando aí pelo direito a ter filhos, namorar, transar, estudar, pular de paraquedas.
Convidei a Carolina Câmara, que é psicóloga, “mãe fresca” de Alice e convive com a paralisa cerebral, que restringe um tanto sua capacidade motora, um pouco a de fala, mas que jamais a fez frear o tempo de suas conquistas, suas vontades, seus desejos.
O segundo texto da Semana das Mães no blog é um bálsamo de aprendizado, de formas de construir amor e de encarar a vida…
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O meu primeiro Dia das Mães com a minha filha nos meus braços é de muita emoção! Há um ano, eu estava com apenas onze semanas de gestação, eram muitas dúvidas, muitos receios. O maior deles era o de ter outro aborto espontâneo.
Tinha uma série de outros medos, acho que nem eram medos, mas sim, inseguranças. A gente não sabia como ia ser a gestação, não encontramos nenhum material que falasse sobre gravidez em uma mulher com paralisia cerebral.
Então, a minha médica, Danielle Martin –está sim, merece uma reportagem só para falar dela– uma pessoa única, a quem devo a realização do meu maior sonho, desde o início disse que era possível e que a gente tinha que viver cada dia.
Conforme fossem surgindo os possíveis problemas, íamos pensando nas soluções e, assim, chegamos no final da gravidez. Foi um processo sensacional, perfeito, lindo, foi um sonho!
Não tem como negar, que neste dia das mães, eu só tenho que comemorar. A minha filha é uma vitória, um sonho que eu e apenas eu sempre acreditei que seria possível.
Hoje ela está aqui, com cinco meses. Eu a amamento desde o centro cirúrgico. Ela mesma já pega o peito e coloca na boca. Também nunca tivemos dificuldade na amamentação.
Para cuidar da Alice, conto com uma equipa básica: Meus pais estão sempre comigo, principalmente a minha mãe, de dia e à noite. Porém, quando eles não podem, por algum motivo importante, conto com uma pessoa, que eu tenho um carinho imenso, confio 100% nela e o melhor, ela é louca pela Alice, a babá. Inclusive já tive que sair, ela que ficou com a Alice e eu fui tranquila!!
Também conto com o apoio dos meus irmãos, Alice chorou, eles a pegam, quer mamar, eles colocam no meu colo; Eles também trocam fralda. Agradeço a todos pelo carinho e pelo amor comigo e com a minha filha.
A minha grande dificuldade atualmente, que chega a doer, e muito, são as pessoas, que não me reconhecem como mãe. Então qualquer pessoa que quer perguntar alguma coisa sobre a Alice, fala direto com a minha mãe…
Isso é uma situação nova, que eu, com o tempo, vou ter que aprender a lidar, me impor como mãe da Alice, não só por mim, mas pela Alice, ter a segurança que eu sou a sua mãe.
Sabe, eu sempre pensava como eu ia construir o vínculo de mãe e filha, primeiro porque eu não posso pegá-la no colo, dar banho, trocar uma fralda. Mas o vinculo veio de forma natural.
Claro que a amamentação foi fundamental para isso. Ela dorme colada em mim, ela sempre que por algum motivo fica 1 ou 2 horas longe de mim, a mamada é sempre mais longa. Hoje, tenho certeza que a Alice sabe que eu a mãe dela!
A Alice vai com certeza me questionar sobre a deficiência e certas coisas eu não vou poder fazer com ela, como andar de bicicleta, por exemplo, mas eu vou ficar presente na sua primeira pedalada, vou encorajar, orientar e comemorar com ela.
Eu quero transmitir segurança e amor para ela, se eu for capaz disso, o resto vai ser tranquilo, natural e sempre com muito diálogo.
Ser mãe não é fácil. Ser mãe com deficiência é mais complicado ainda. No entanto, cada sorriso que o nosso filho dá para gente, é único, inexplicável. E o amor é incondicional, sublime, acho que não cabe em mim.
Desejo a todas as mães um excelente Dia das Mães!
Carolina Câmara de Oliveira