A sonda presidencial
Nas últimas semanas, um tema bem pouco conhecido do público geral veio à tona em razão dos problemas urinários que acometeram o organismo do presidente Michel Temer: a necessidade do uso de sonda e suas possíveis complicações, como o desencadeamento de infecções.
Em pouco tempo, o mandatário já estava zanzando pelo Jaburu, com camiseta coladinha, dizendo aos quatro ventos que estava “recuperadíssimo”, que tinha vencido os bichos e que estava pronto para voltar à rotina.
O que não se equaciona com semelhante rapidez, no entanto, é a situação de outros milhares de brasileiros que também precisam, de maneira bem mais rotineira que o presidente, do uso de canudinhos para aliviar o xixi.
Pessoas que tiveram lesões medulares, com ou sem traumas motivadores, perdem com frequência a capacidade de controlar suas funções fisiológicas _além de toda a repercussão física e sensibilidade tátil_ e vão precisar lançar mão do uso das sondas pelo resto da vida.
Os mais sortudos, aqueles tiverem acesso a adequados processos de reabilitação em bons hospitais, vão se deparar com uma nova rotina de alívio, aprendendo a manusear a sonda e recebendo esclarecimento de riscos de contaminação e da necessidade de muito cuidado com a profilaxia. Ainda assim, é bastante comum que, mesmo com todo o cuidado e atenção, cadeirantes cheguem a emergências médicas ardendo em febre devido a infecções urinárias e passem até meses internados para controlar bactérias nervosas.
Parte maior dos “malacabados”, porém, vai sofrer mais do que camelo estacionado em frente à Sabesp. Com pouca informação e poucos recursos, muitos deles serão submetidos à reutilização de sondas urinárias ou à sua utilização de maneira pouco cuidadosa, o que acarretará infecções de maneira repetitiva ou com consequências ainda mais drásticas, como perda de órgãos e a morte.
Enquanto a Receita Federal sabe até o que cada cidadão comeu na hora do almoço, o sistema de saúde pública faz de conta que não conhece nada do “serumano” e, a cada vez que ele precisa fazer a retirada de um material básico de saúde, como as sondas, e exige laudos, atestados, comprovante de vivente, num processo desgastante e burocrático.
Assim, o gasto com internações, antibióticos de última geração e cuidados médicos acaba sendo muito mais elevado do que o efetivo investimento básico, ou seja, enviar para a casa de pessoas cadastradas, com periodicidade definida e cumprida, o material básico de que precisam para viver humanamente.
E o que você tem a ver com o xixi e a sonda dos outros? A sociedade pode e deve ajudar a entender e respeitar o conceito, por exemplo, dos banheiros acessíveis. Esses locais não são depósitos de material de limpeza, nem algum tipo de casinha maior para dançar baile. Quanto mais limpos e exclusivos, menos quem de fato precisa do espaço fica exposto a contaminações.
O conceito de inclusão passa pelo suporte das necessidades específicas dos indivíduos. Atenuá-las é dar instrumentos para o convívio social adequado e com mais chances de acessar oportunidades, cidadania. Embora uma sonda urinária possa parecer assunto de alcova, os impactos de uma assistência capenga ou ineficiente afetam em famílias, empresas, produção e vidas.
A coisa está cada vez pior para os malcabados. Você disse tudo ai no texto. Quem pode usufruir de hospitais de ponta, de equipamentos, idem, está tudo bem. Mas quem não pode, tem de passar mesmo por uma burocracia tremenda e ainda corre o risco de morrer na fila. A sociedade também precisa ver esse lado do cadeirante por exemplo. Afinal, ele é um ser humano, né? Aliás, faltam muitas coisas para que as PcD em geral, consiga viver uma vida digna, não somente precisamos acabar com os preconceitos, mas ir à luta por coisas básicas de saúde, educação etc.
Texto muito esclarecedor. parabens
Muito obrigado, Gilton
Tendo trabalhado com “serumanos” que convivem com esta realidade e hoje trabalhando em uma Unidade de Emergência vejo com frequência “malacabados” buscando atendimento devido a infecção urinária. Parabéns pelo artigo e colocações tão pertinentes. Que possa servir as nossas autoridades. Com certeza políticas públicas voltadas para a questão reduziria gastos públicos .
Obrigado, Maria
A sorte dele chama-se Sírio Libanês.
Sim! E a dificuldade de encontrar banheiros públicos limpos? Carrego álcool em gel, sondas, lenços e o que for necessário para a “descontaminação” do local para garantir que meu marido possa usar com segurança. Mesmo assim, ficamos alguns dias de olho para ver se aparece alguma alteração… uma grande preocupação constante. Fora que só conseguimos a sonda adequada por meio de ação judicial….
Texto brilhante e oportuno. Com síntese, Jairo Marques trata de um tema delicado e importante para boa parte da população que costuma ser menosprezado pelos agentes da saúde pública e pela mídia. Estaa tem dado mais espaço a artigos sarcásticos e grosseiros sobre o o problema do presidente da república.
Bom Graças a Deus, eu tabem tive muita sorte precisei de usar sonda pelo mesmo motive do Temer e tambem mi livrei dela em quinze dias sem nem um problema
“Ultimamente a coisa se tornou mais complexa porque as instituições tradicionais estão perdendo todo o seu poder de controle e de doutrina. A escola não ensina a igreja não catequiza os partidos não politizam. O que opera é um monstruoso sistema de comunicação de massa, impondo padrões de consumo inatingíveis e desejos inalcançáveis, aprofundando mais a marginalidade dessas populações”. Darcy Ribeiro
Obrigado pelas informações , não tinha noção plena da importância da preservação do banheiro dos portadores de necessidades especiais. 🙂
Dionyzio, muita gente ainda não sabe…. ajude a espalhar! Abraço
Parabéns pelo seu artigo. Convivendo por um período com ” serumanos ” com lesões medulares e trabalhando numa emergência que com frequência recebe os” malacabados ” com problemas de infecçôes fico imaginando o quanto uma política pública de atenção ao problema poderia reduzir os gastos com internações paliativas .
Minha esposa é portadora de bexiga neurogênica e os gastos com fraldas e sondas são elevados. Há uma forma de aliviar esses gastos?
Francisco, o SUS fornece esses insumos, você já buscou informação sobre?
Perfeito e escrito não por um pesquisador e sim por quem conhece o problema. R tem muitissimo mais. Médicos que fizeram estagios em hospitais publicos e privados falam que a questão não eh falta de dinheiro e sim o pessimo uso dele, gerando descaso dos funcionários, virando um circulo pernicioso.
Texto estranho e puramente perseguidor…qualquer político desse país, de qualquer partido de trata do Sirio ou no Einstein…inclusive os ex políticos…
Além do mais o texto apresenta erros grotescos, chega a ser um desrespeito com o leitor.