Presidente da República cadeirante joga luz a ‘pecados’ abaixo do Equador

Jairo Marques
Presidente eleito do Equador, Lenín Moreno, em meio aos eleitores

 

É preciso muita coragem e muita consciência social e humana para alçar ao cargo político mais importante de um país, a presidência da República, uma pessoa cuja própria figura pode, a contragosto, presumir fragilidade ou incompletude. Pois foi exatamente isso o que o povo equatoriano “lacrou” para o mundo ao eleger Lenín Moreno, a bordo de uma cadeira de rodas, para governar a nação.

Nenhuma condição física ou sensorial avariada é capaz de indicar bom caráter ou capacidade de realização de alguém, mas também não há dúvida de que Moreno irá carregar pelo mundo, junto de suas rodas, uma imagem de atenção à acessibilidade e à inclusão. Gafes não deverão ser poucas em recepções diplomáticas ao equatoriano.

Em Brasília, com Temer, pode ser mais ou menos assim:

– Excelência, lá no Equador criamos uma bolsa para que pessoas com deficiência severa consigam pagar um cuidador e, assim, tenham mais dignidade, mais chances de retomar a vida social. E por aqui?

Temer pigarreia, afinal o tempo seco do Planalto é cada vez mais tenebroso, e solta:

– Aqui nós vamos acabar com o povo “malacabado”, seu Moreno! Mandei desvincular da inflação o reajuste de um benefício miserável que se dá àqueles estropiados mais famélicos. Dentro de uns três anos, devem morrer todos de inanição, se tudo der certo!

Nesse ínterim, entra Michelzinho na sala de recepção às autoridades e vai logo se enturmando:

– Por que ele tá assim doente na cadeirinha, papai? É da cota?

E Marcela, mais do que depressa, entra esbaforida no local para tapar a boca do moleque, afinal “criança feliz” não faz pergunta.

Enquanto o Equador exalta, pelo menos por esses dias, valores relativos à solidariedade, busca por equidade e uma sociedade que enfrenta preconceitos, no Brasil uma das leis protetivas da diversidade, a Lei de Cotas, está diretamente ameaçada com a terceirização desregrada (quanto menos empregos formais ligados diretamente a uma empresa, menor o percentual de pessoas com deficiência a serem contratadas).

A representatividade é, sim, importante para a consolidação de imagens mais empáticas com aqueles que fugiram da escola do senso comum, de padrões. Para ser plural, é preciso ter mulher, ter negros, ter cadeirantes, ter cegos, ter downs, ter quem fale mandarim, ter trans…

Vai ser interessante ver Moreno se engastalhar nos tapetes vermelhos das formalidades ou procurar banheiros acessíveis em palácios históricos que preservam memórias, mas aniquilam possibilidades amplas de serem desfrutados.

Vai ser interessante ver o mundo pensando, mesmo que de relance, que o fundamental para um êxito não é marchar, mas ter coragem para encarar uma batalha, não é se distinguir entre todos, mas conseguir representar com afinco a todos.

O presidente cadeirante pode vir a ser um fracasso administrativo se não tiver talento ou habilidade política, mas, de qualquer maneira, ele já está sendo um sucesso ao lançar luz sobre o nível de “pecados” com a diversidade que os todo completinhos são capazes de cometer do lado de cá da linha do Equador.

jairo.marques@grupofolha.com.br

Comentários

  1. Engracado ver um comentario tao politico de esquerda com criticas ao Temer, e ao mesmo tempo os escritor da material se mostrando altamente preconceituoso ao dizer que um cadeirante implica em fragilidade para muitos. So se for na sua cabeca cheia de hipocrisia e contradicoes….

  2. Parabéns! Afinal, cadeiras de rodas nunca foi problema pra nenhum ser humano, a capacidade e o caráter de um homem, se mede do pescoço para cima.

  3. De péssimo gosto a matéria. Nem consegui finalizar a leitura. Tem gente que mostra a bunda e tem gente que não usa filtro antes de falar a primeira M que vem a cabeça. No fim é show de horrohorrores em qualquer matéria q se lê hj em dia. Inclusive nas com títulos interessantes como foi o caso.

  4. SOU NEUROPEDIATRA E ACHO QUE A ELEIÇÃO DE UM PRESIDENTE CADEIRANTE , SEM DUVIDA NENHUMA, SERÁ POSITIVA PARA ESTABELECER A CAPACIDADE DE UMA PESSOA COM DEFICIÊNCIA FÍSICA, OU MESMO INTELECTUAL, A QUAL PODE ATINGIR QUALQUER POSTO QUE ALMEJA DENTRO DE UMA SOCIEDADE.
    PROVAVELMENTE ACONTECERÃO GAFES DIPLOMÁTICAS , OU NÃO, MAS O COMENTÁRIO EM QUE ENVOLVE O GOVERNO BRASILEIRO E DE UMA INFELICIDADE TOTAL, UM ESPAÇO QUE PODERIA SER MELHOR APROVEITADO EM FAVOR DAS PESSOAS COM DEFICIENCIA, USADO PARA UM DEBOCHE RIDICULO.

  5. Aqui abaixo da linha do equador as estações do metro, como por exemplo ITAQUERA não tem nem aonde para o carro para desembarcar um cadeirante. Como também numa avenida (Caititu) na C A E carvalho tem um ponto de ônibus que tem um simbolo que diz ser para um cadeirante esperá o ônibus e o que tem é mato. Caso ele queira passar os 30:00 min determinado pela SPTRANS tem que fica na rua dividindo-a com os carros que por ali passam. Caso uma mulher queria espera o ônibus com uma criança de colo e uma bolsa num dia chuva, ela terá que escolher entre não abrir o guarda-chuva e toma chuva ou abri-lo e deixa a bolsa no chão molhado. Somos um país de inclusão.!?

  6. Que notícia preconceituosa. Deixa de ser fraco autor.
    Roosevelt liderou os EUA e o mundo em guerra contra o Eixo em cima de uma cadeira de rodas.

  7. Como você é ridículo. Não deve ser jornalista , mas um dos muitos desqualificados que a Folha abriga. Só li esta porcaria de artigo por curiosidade do novo governante do Equador e nem sabia que era cadeirante. Você critica o Presidente Temer como se ele fosse um da sua laia. Lembro de um professor no meu primeiro ano na Faculdade de Odontologia da USP(curso noturno,pois trabalhava)e ele dizia que demorava 30 anos para chegar a Titular da cadeira de Histologia e um calouro assistindo sua aula era capaz de comentar com o outro que ele não sabia nada. Você é ridículo por escrever tanta bobagem. Mais um lixo da Folha, ao lados dos jucas, duvivie etc

  8. Texto bonito e comovente
    Meio de esquerda…e patético
    Vale lembrar que o ministro das finanças alemão também e cadeirante e não tem nada de frágil kkkk nem nunca passou qualquer constragimento por sua situação!!!

  9. Texto ácido na medida e que nos leva a refletir sobre como há uma legião de pessoas subjugadas pela nossa sociedade. Parabéns pela acidez cirúrgica. Eu, profunda crítica da terceirização sem limites, ainda não tinha me atinado para mais este lado negativo desse descalabro.

  10. Diga-se de passagens: Em meio aos eleitores com cara de indo americanos.
    Que faça valer a democracia.

  11. Lamentavelmente, o senhor põe a condição de deficiente físico do presidente eleito do Equador acima de todas as suas possíveis qualidades, preferindo torná-lo objeto de uma campanha pela “diversidade”…

    O engraçado é que o povo dos Estados Unidos já deu uma lição ao mundo elegendo para presidente alguém com deficiência física…em 1932…O nome desse presidente é Franklin Roosevelt, que é respeitado pelas suas virtudes ou criticado por seus defeitos, mas jamais lembrado por ter sido cadeirante.

    O seu texto é mais que leva a marca do Grupo Folha.

  12. Basta ser honesto que saberá governar com dignidade e competência , pois analfabeto ele não é!!!!!!

  13. Meu Deus tem que ter paciência com esses articulistas!!!! Como seria o Papo com o Lula senhor articulista????

    1. O Lula deu várias gafes com pessoas com deficiência tb… mas como ele não é o atual mandatário, perde força jornalística. Abraço

  14. O Franklin Roosvelt era cadeirante. A vice-presidente da Argentina é cadeirante. A mudança só ocorre quando o cadeirante é bolivariano?

    1. Eu não era nascido qdo Rossevelt foi presidente. O Moreno tb era vice. A força noticiosa e analítica está em ser o principal mandatário. Obrigado.

  15. Seria no mínimo infeliz este “exercício imaginativo” ser publicado em um editorial de universidade, porém estamos falando do grupo Foice. It’s ok.

  16. Sensacional Jairo! Adorei seu texto.
    Agora vamos aguardar o que ele fará em prol dos “malacabados” vizinhos, pq afinal de contas não é só pq ele é cadeirante que é bonzinho, mas sem dúvida é um avanço da visibilidade de todos os “malacabados” do mundo!

  17. Gostei da abordagem, estive no Equador há três semanas e a maioria da população estava atenta as pesquisas que apontava uma pequena diferença entre os dois candidatos, mas era visível a opção pela continuidade dos socialistas no poder. .

    Espero que o novo presidente seja um diferencial para o mundo nas questões politicas do seu pais como também nas do mundo na acessibilidade e inclusão das Pessoa com Deficiências

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