O prefeito ‘cadeirante’
Tenho de discordar de muitos que espinafraram e desaprovaram, nas redes sociais e também de forma pouco sociável, o prefeito de São Paulo, João Doria, que zanzou por calçadas esburacadas e criminosas da cidade a bordo de uma cadeira de rodas.
A atitude do mandatário não poderia ser compromisso mais protocolado nos cartórios da opinião pública com a inclusão e com a melhoria da acessibilidade nas vias públicas da metrópole. É assinatura com firma reconhecida em contrato de quatro anos.
Caso contrário, ou seja, que o prefeito pop tenha saracoteado na cadeira apenas para posar para fotografia e passar recibo de bacana com a diversidade, vai ter para o resto de sua vida uma pecha: a de ter usado a imagem de pessoas com deficiência para se promover levianamente.
E eu quero é mais! Quero que Doria use a cadeira de rodas para tentar pegar ônibus coletivo, às 18h de uma sexta-feira, saindo da zona sul rumo à zona leste. Quero que o prefeito procure banheiro público acessível na região central em que caiba sobre rodas. Nesse caso, sugiro levar um penico.
Seria ótimo se o gestor pudesse também, “vestido de malacabado”, tentar ter vida social. Vá ao cinema, veja que reservam para os quebrados sempre os piores lugares. Vá aos bares, prefeito, e perceba que poucos cumprem a lei de oferecer cardápio em braile, banheiro acessível ou mesmo o básico: uma rampa bacana na entrada.
De quebra, é “di certeza”, como diria um amigo meu que já morreu, que o senhor bombaria no “Insta” postando fotos em uma escola inclusiva do município fazendo as vezes de um auxiliar de uma criança com deficiência intelectual. Vai valer para analisar a qualidade da educação oferecida a esses públicos pela prefeitura.
Depois, Doria, vá a um centro público de atenção psicossocial, de preferência se passando por um pai de um pequeno com autismo _sugiro dar uma de doido, caso não consiga vaga. Lá, ele deve ter atendimento multiprofissional para ter a vida que merece e que é obrigação do poder público oferecer. Vai ser um sucesso!
Um excelente presente para a cidade, que completa 463 anos nesta quarta-feira (25), seria ganhar um prefeito que não se passasse por competente, que não se passasse por comprometido com o cidadão, que não se passasse por realizador de mudanças, que não se passasse por engajado com as várias formas de “serumano”.
São Paulo precisa, com urgência, de administradores que assumam suas funções legais de verdade, suas obrigações públicas de verdade, seus votos de verdade e suas próprias vestimentas.
Sentir na pele para conhecer mais de perto o buraco em que está enterrado o outro costuma servir apenas de alívio para quem não vive uma situação de penúria social, mas que quer a aventura, o friozinho na barriga de engolir um pouco de terra, mas, depois, safar-se incólume e com uma memória rasa e nada proativa em relação à realidade alheia.
Mas agora, boto fé, será diferente. A vivência em cadeira de rodas do prefeito da maior cidade da América Latina foi para abrir caminho para passeios “maraviwonderful” em todas as regiões paulistanas. Se assim não for, mais uma cretinice histórica ficará registrada nas calçadas da infâmia deste país.
Em condições normais de tempo e temperatura é provável que a performance do cidadão me provocasse certa euforia, mas o problema é sua figura insossa e os coadjuvantes que o cercam, que bem lembram uma mistura de Cigano Igor com Francisco Cuoco no quesito canastrice.
Não se trata de má vontade, mas pesa bastante a desfaçatez explícita do governo estadual, que manda nessa bagaça há trocentos anos, na formação da minha ausência de confiança de que algo mudará nessa guerra inglória que coloca de um lado cadeirantes, muletantes, bengalantes, tropicantes, a galera das próteses e órteses, os cegos, etc. e, de outro, administradores públicos que simplesmente não estão nem aí para o real significado da palavra acessibilidade.
Impossível não lembrar que o prefeito joga no mesmo time do governador, que desrespeita a Lei 10.098/2000, a chamada Lei da Acessibilidade, desde que ela foi publicada. Também não dá para esquecer que uma das consequências desse desrespeito se fez sentir com profundidade nas escolas públicas estaduais, que jamais sofreram qualquer intervenção no sentido de eliminar as barreiras arquitetônicas que impossibilitam o livre deslocamento em especial dos alunos cadeirantes ou com qualquer outra dificuldade de locomoção. Banheiro adaptado, livros em braile, piso podotátil, intérprete de LIBRAS ou treinamento para atender a surdos oralizados então, nem pensar. O que se viu foi apenas a omissão do Executivo quando entrava em pauta a discussão sobre a escola inclusiva, seguida do tradicional silêncio obsequioso quando alguém propunha a segregação dos ‘diferentes’ em escolas ditas especializadas.
Um arremedo de solução – ou no máximo uma tentativa de satisfação à sociedade – foi um Termo de Ajustamento de Conduta – TAC, firmado entre o Governo do Estado e o MP/SP. Estranhamente festejado, o documento simplesmente concede ao Executivo mais 15 (isso mesmo, quinze) anos para fazer as adequações. Para quem se interessar, é possível ler o TAC no link http://www.mpsp.mp.br/portal/pls/portal/!PORTAL.wwpob_page.show?_docname=2445266.PDF.
Então, como disse, pelo fato de o prefeito jogar no mesmo time do governador e só usar a acessibilidade como matéria de campanha (ele ainda está em campanha, não se iludam), sou cético acerca do que de fato fará. Espero, com sinceridade, estar redondamente enganado.
Como empresário que é, o Sr. Doria deve saber que enquanto as oportunidades não forem iguais não haverá permissão moral para falar em meritocracia, palavra tão valorizada pelos seus iguais.
Não precisamos ficar falando por aí “a, vamos ver se ele consegue mesmo fazer isso ou aquilo ou talvez ficar desafiando-o. Vamos torcer pra ele conseguir fazer muito além do que prometeu e nao criticar ironicamente.
Jairo, pesquisei seus post de 2016 e não há um que fale do Haddad. O que o Haddad fez de bom aos cadeirantes? O Doria assumiu a menos de um mês e tem feito coisas muito boas. Seu discurso deveria ser de esperança, somada a monitorar e cobrar o prefeito, qualquer prefeito. Esse dirscurso negativo não leva a nada além de discordia. Repense o tom dos seus posts.
Procurou muito pouco, Marco. Tá aqui a minha carta para o Haddad http://assimcomovoce.blogfolha.uol.com.br/2016/03/02/cadeirantinhos-sem-transporte-escolar-e-condenacao-futura-ao-assistencialismo/
Repense o conteúdo dos seus comentários.
Ande ao menos um mês em uma cadeira de rodas, e assim quem sabe poderá saber as verdadeiras condições dos cadeirantes.
Nelson, juro para você, eu ando numa faz 41 anos!
Concordo com o Erwin Maak. Estou pagando para ver alguma melhora. Sinto muito, mas o meu otimismo foi para o brejo! Depois de participar de 03 inaugurações de ônibus adaptado e ver um monte de outras coisas, eu não acredito mais, não.
Eu vejo seriedade no atual prefeito. Que suas alvíssaras, egrégio Jairo, efetivem-se.
Vamos ver se ele cuidará realmente de fechar os buracos da cidade, se ele vai implementar política pública para melhorar o acesso de cadeirantes, se, quando voltar a normalidade, ele vai tornar mais rápido o atendimento médico-hospitalar municipal, se ele criará políticas públicas para a população da cidade, se ele vai parar de interferir na expressão da cultura popular (começou mal com a 23 de maio), se terá coragem de implementar uma política que, ao menos, minimize a situação dos moradores de rua (grades com toalhas tampando-os? Hotéis da região central?) Vamos ver se ele dá conta de acabar com as falcatruas das empresas privadas de onibus, vamos ver se ele tem alguma política para a educação municipal, sem a famigerada escola sem partido que já está fazendo vítimas no país.
Como é possível torcer pelo fracasso de um gestor público de sua própria cidade só pra provar que sua opinião é a certa?
Desde quando pichação eh expressão da cultura popular? Você permitiria pichação no muro da sua casa? Ele plantara plantas no lugar dessas pichacaoes, ruim ne mais verde e ar puro na cidade? sobre moradores de rua, ja foram feitas algumas coisas em apenas 30 dias, tais como: parceria com empresa privada sem custo para a prefeitura para que eles tenham acesso a produtos de higiene pessoal, alterou o horario de saida do abrigo de 06:00 para 08:00 da manha, inclusive com permissao para seus respectivos animais de estimação, projeto modelo de banheiros públicos itinerante… sobre a educacao, ele acabou de transferir 400 milhoes que seriam usados em obras publicas para que fossem destinados aos professores municipais… acho que em 30 dias de trabalho esta otimo, voce nao acha?
Gostaria que o atual Prefeito,me desse uma Prótese para poder voltar ao trabalho visto que meu Beneficio foi cessado embora não seja da sua governança interceder pois sou deficiente e faço uso de cadeira de rodas e não consigo sair de casa para tocar minha vida inclusive terminar minha Graduação em Pedagogia da vaga ganha na UNICEU projeto este do outro governo e que com a promessa do Dória de ser pela UNIFESP……
Não vi nada ainda e o ano letivo começa em Fevereiro……
O tempo dirá se essas performances midiáticas vão gerar algum resultado eficaz ou vão ser só isso mesmo, marketing chulé e populismo vazio e estéril. Confesso que não levo fé. Parafraseando o Saramago, não sou pessimista não, o mundo é que é péssimo.
Que saudades de vc!!!!
Sou cadeirante acessibilidade na praia morou em praia grande,vamos fazer uma reportagem?
Claro, Bruno. Me mande uma mensagem por email com a sua sugestão mais detalhada. Abraço
Dória está no caminho certo.A esquerda está criticando.Quando ela começar a elogiar,mude de rumo imediatamente.
Eu conseguia dar aulas para os Educandos na rua de tanta Diversidade,voltei a ficar na sala de aula por conta dos três eixos básicos da formação de um cidadão critíco e ciente de suas obrigações, e não ter muito espaço na diversidade, o saber, o fazer e viver em torno de um Educando é valorizado para ele quando o mesmo através da Educação consegue fazer tudo e não só pela inclusão social até porque ele sempre esteve ali,portanto presumo que este Governo nos faz sentir que devemos ser inseridos………. ou seja voltamos ao Engessamento…..
Bravo, Jairo!
Enquanto são os primeiros dias no cargo de Prefeito, dá para dizer que a má administração de seus 463 anos causou tudo isso à cidade. Se nos 4 anos nada fizer para pelo menos abrir caminho para as mudanças, Dória vai ser perigosamente incluído naqueles que tiveram oportunidade de provocar mudanças e nada fizeram. A cidade é muito complexa e as melhorias vão além da boa vontade política.
Eu também apoio a atitude do prefeito.
A foto é emblemática da inclusão dos deficientes, tema que a cidade foi pioneira.
Faz somente um ano que me tornei deficiente e uso cadeira de rodas,me desculpem sou Educadora em Inclusão Social……
A verdadeira situação atual de um deficiente seja ela qual for, é que o mesmo terá que passar por todas as outras deficiências que ele não tem, por conta de burocracias da qual nossos Governantes inventaram a medida que não conseguem dar conta.
Simplesmente perfeito suas colocações. E vamos esperar e rezar…
Abraço, amigo!
ACABOU A HORA DO RECREIO, TOCOU O SINAL…VAMOS TRABALHAR SENHOR PREFEITO!
Quero deixar registrado: apesar de muito bem escrito, e bem articulado, não consigo acreditar que, depois de tantos anos, alguma coisa sairá do lugar onde sempre esteve (INDIFERENÇA). Em países do outro hemisfério (não de outro planeta) a coisa (indiferença dos outros) somente andou quando foi considerada como SEGREGAÇÃO. E por isso mesmo, sendo punida com indenizações de valor EFETIVO para todos aqueles que transgrediram a legislação aplicável. Nós todos acreditamos no valor emotivo da lei. Os nossos problemas não são resolvidos quando detectados e descritos por alguma norma legal. São apenas resolvidos quando há punições, quando envolvem valores que “machuquem” o bolso do outro. Creio, sim, que continuaremos como diz o valente artigo acima. “Sentir na pele para conhecer mais de perto o buraco em que está enterrado o outro costuma servir apenas de alívio para quem não vive uma situação de penúria social, mas que quer a aventura, o friozinho na barriga de engolir um pouco de terra, mas, depois, safar-se incólume e com uma memória rasa e nada proativa em relação à realidade alheia.”