Toda criança ganha com a escola inclusiva
Escuto com muita frequência que um grande perrengue da promoção da escola que inclui a todos é que crianças com deficiência demandariam mais trabalho e tempo para aprender aquilo que aquelas completinhas captariam com mais rapidez.
Esse pensamento reinante e que promove a exclusão e a falta de oportunidade deixa de lado preciosas observações a respeito da diversidade. A primeira delas é que o tempo, a maneira e a disposição de assimilar um conhecimento é diferente para cada “serumano”, independentemente do nível de habilidade física, sensorial e intelectual que possua o indivíduo.
Uma garotinha down não precisa necessariamente completar uma operação matemática de soma ou de subtração com perfeição durante a primeira ou da décima sessão de explicação do conteúdo. Mais importante que isso é que ela leve para casa e para a vida conceitos de agregar algo ou de perder algo, que ela saiba manifestar, a sua maneira, um resultado.
Quando se martela muito a ideia de que o saber tem que estar nivelado entre os alunos de uma mesma turma, está se ignorando, por exemplo, que um menino cego pode expressar de maneira única e com sentido lógico seu entendimento sobre as cores ou sobre uma obra de arte.
A busca pela demonstração de que um conhecimento foi adquirido precisa ser mais ampla e sensível que testes objetivos. Ela precisa, ainda mais nos casos de crianças com deficiências graves, ser alerta ao desenvolvimento de habilidades, de novas criações e de possibilidades dentro de suas realidades.
Mas não somente escolas almejam uniformidade de resultados. Muitos pais de pequenos fora da curva dos padrões também julgam os lares do conhecimento como ruins porque os filhos “não aprendem nada” ou não fazem tudo da mesma forma que os colegas.
Estar no ambiente plural da escola sempre será melhor que a uniformidade de uma casa ou de um local “especial” em que todos comungam de realidades semelhantes. O valor educativo da convivência entre os diversos tipos humanos é incalculável para todos os envolvidos.
Um aluno aprende e colabora sempre com a experiência do outro. Um aluno se capacita a partir do universo do colega. Um aluno se estimula a avançar em seu pensamento, em suas atitudes por meio das ações de outro.
Um abrangente voo em estudos mundiais sobre o valor da educação inclusiva para crianças com e sem deficiência acaba de ser divulgado pelo instituto Alana. Nele é possível avistar com objetividade os aspectos positivos da diversidade. O estudo, comandado por um pesquisador de Harvard, está disponível para download no site da organização.
Restam ainda as questões logísticas: quem cuida da criança com deficiência mais dependente, como se promove a adaptação física do colégio, o que, é preciso convir, é nada diante um bem que vai determinar o futuro das crianças.
“Difinitivamente”, como diria minha tia Filinha, é tempo de entender que a convivência entre os mais variados seres, que tem seu palco maior na escola, será a salvação das intolerâncias, será o elixir mais forte contra o preconceito e será o caminho seguro para uma sociedade com mais amor.
Amei o texto Jairo. Ele instiga.
Sou mãe de menino com deficiência, ele é cego com significativo atraso neuropsicomotor, que justifica-se por alteração cromossômica.
Também sou professora de escola pública.
Em novembro último meu filho fez seis anos e precisaria ir para anos iniciais, mas minha angústia materna é que cognitivamente ele tem 1/2 anos, e a escola pública que se quer inclusa não sabe o que fazer com um menino como meu Rafa.
Também sou profissional da escola pública, e infelizmente o que temos presenciado é uma luta por inclusão que não alcança os profissionais das escolas, o MEC investe em material didático, mas não em material humano. Pra começar minhas colegas professoras, a grande maioria delas, morrem de medo de menino deficiente, não sabem o que fazer nem como fazer.
Precisa haver formação em serviço desses profissionais. Tenho feito algumas palestras para professores, tentando trabalhar a questão da sensibilização da categoria para melhor desempenho com os alunos publico alvo da educação especial.
Minha sincera e humilde opinião: inclusão ainda é ideal a ser buscado.
Sou a favor da inclusão, mas não dessa que está posta nas escolas públicas.
Vou comprar seu livro para usar nas minhas palestras com as professoras.
Att
Elaine
Elaine, quem sou eu para discordar de uma mãe e analisar a sua experiência individual, não é mesmo? O que me deixa perplexo é a frase: profissionais “morrem de medo”, que já ouvi outras diversas vezes. Puxa, medo de uma criança… é algo assustador, não acha? Entendo e concordo contigo que a ideia da educação inclusiva é muito melhor resolvida intelectualmente que na prática, mas penso que a prática vai demorar muito se as evasivas seguirem de todos os lados. Vai ter de chegar o tempo de enfrentar e criar essa realidade, esse ambiente e essa qualificação. Tô sempre na batalha! Um grande e fraterno abraço
No Face eu vi alguns professores que, com vontade própria de ensinar, conseguiram alcançar o objetivo para com a criança malacabada. É claro que a escola tem de ter todas as acessibilidades possíveis para essas crianças: por exemplo: braile para cegos, libras para surdos, notebook ou outra coisa e também cuidadoras para os pcs e outras com sequelas graves etc., além da acessibilidade física da escola como rampas, corrimões, banheiros adaptados etc.
Há, além disso, que se quebrar as barreiras atitudinais ou preconceitos, não só do cuidado com o que se fala, mas com os gestos, os olhares etc., que passam desapercebidas na maioria dos casos, mas não para nós, deficientes. E esta última deve ser trabalhado, não só com as crianças (que a meu ver, não tem preconceitos), que vão adquirindo-os na convivência com a família, o próprio professor e outros adultos ao seu redor. Não sei se fui inconveniente, mas defendo isto a mito tempo. Bjs em você, na Tais e na Elis.
Excelente!!!!