O que o novo prefeito da maior cidade do país propõe para inclusão e acessibilidade?
Nenhum grande debate colocando o tema da inclusão no centro da roda aconteceu durante a campanha para a Prefeitura de São Paulo. O assunto surgiu, vez ou outra, em perguntas genéricas, que geraram respostas mais genéricas ainda, em confrontos isolados.
Agora, o prefeito já está eleito –João Doria (PSDB)– e a análise passa a ser diretamente em ações apresentadas, não em promessas. Por enquanto, o que existe é o compromisso firmado no plano de governo.
Ponto positivo é que o tema “pessoa com deficiência” aparece no programa e se estende por diversas áreas básicas: educação, saúde, trabalho, acessibilidade entre outros. Li o texto e avaliei como moderno, bem redigido e dentro de expectativas sem mimimi e mais ligadas a demandas de cidadania atuais. Para consultar o conteúdo sobre pessoa com deficiência no programa de João Doria, é só clicar no bozo…
O documento, porém, é genérico, não havendo nenhum tipo de comprometimento firmado com metas claras de avanço de calçadas inclusivas ou de ampliação da rede de atendimento para crianças com deficiência intelectual em contra-turno escolar, por exemplo.
O item de calçamento digno, uma das dívidas históricas dos administradores da cidade com o povo “malacabado”, é amplo e não diz o que de fato poderá avançar: “Investir na reforma das calçadas, tornando-as acessíveis e garantindo plena mobilidade aos cidadãos com e sem deficiência.”
Vale citar ainda que a gestão de Fernando Haddad praticamente ignorou essa demanda e sugeriu que cadeirantes e demais pessoas com mobilidade reduzida usassem as ciclofaixas e não os passeios assassinos da capital paulista, o que jamais concordei.
O petista sai de cena sem deixar nenhuma marca expressiva no âmbito da inclusão.
Por outro lado, não é certo nem que Doria mantenha a secretaria da Pessoa com Deficiência como uma pasta de sua equipe. No começo da campanha, ele chegou a dizer que acabaria com a estrutura, por achar que era dinheiro jogado fora, mas voltou atrás da “ideia”.
Caso mantenha a palavra, o desafio do prefeito será apresentar um nome representativo do público com deficiência, que tenha noções profundas das demandas dessas pessoas e que saiba lidar com a diversidade de uma maneira moderna, receptiva e propositiva. Normalmente, a pasta é usada apenas para atender interesses políticos e é ocupada por gente que não reforça o poder das diferenças com representatividade legítima.
A médica Marianne Pinotti, que ocupa a cadeira de secretária da Pessoa com Deficiência nos últimos quatro anos, investiu em criatividade, inovação e cultura inclusiva.
Fez, por exemplo, uma central de Libras, para pessoas com deficiência auditiva de variados graus, ampliou e modernizou significativamente o serviço “Atende”, de assistência ao transporte do povo “prejudicado das partes” e apresentou-se às mais diversas discussões em torno dos temas “inclusão” e “acessibilidade”.
Pinotti ficou devendo mais ações de acessibilidade física pela cidade, como piso tátil, passeios seguros, rampas (veja teste realizado pela Folha). Mas, sem orçamento específico e sem ações conjunturais, não era missão das mais simples. A pasta alega que houve avanço também nesta área, o que vejo como apenas simbólico.
E o que esperar nesse sentido do prefeito Doria “gestor”? Não tenho grandes expectativas, pois, afinal, o prefeito eleito quer entregar boa parte da coisa pública à iniciativa privada. A meu ver, tentar fazer com que a população “cuide” da própria calçada é jogo jogado e perdido. Em grandes cidades do mundo, passeios são padronizados e cuidados pelas adminstrações.
Outro ponto que boto em questionamento é que inclusão não se faz de maneira executiva, com medidas na ponta da caneta dizendo o que é “certo e errado” e com ares de patrão açoitando empregado. Como tudo na área social, inclusão precisa de diálogo, de entendimento profundo de demandas, de sensibilidade para adoção de posturas e de mudanças de atitude.
Como nem sentou na cadeira, é fundamental dar um voto de confiança ao tucano e acompanhar suas medidas par e passo, cobrando atitudes e protestando por possíveis desvios e descasos. Importante é frisar que as demandas são de milhares de cidadãos que já não aceitam mais passivamente serem relegados à insignificância!
Olá Jairo querido, boa tarde!
Sou sua fã de carterinha, adoro a sua forma de escrever, você é educado, consegue criticar sem ser grosseiro.
Tenho deficiência auditiva parcial, gosto do trabalho da Dra. Marianne Pinoti, estou na torcida para que ela assuma a secretaria.
Parabéns a você pelo seu trabalho, dedicação e amor ao que faz.
Um beijo.
Anita
Outro beijo para vc, Anita!
Acho que é tarefa nacional – calçadas trafegáveis para TODOS. Vivi cerca de 3 meses com muletas por causa de operações no pé e fiquei imaginando pessoas que vivem assim a vida toda; desde a reação e ajuda (ou não) de transeuntes, funcionários de empresas diversas ou policiais, deveria haver uma forte campanha educativa para estimular a atenção a pessoas com deficiência. Acho que os Jogos Paraolímpicos foram um grande passo neste sentido, e usar paratletas nestas campanhas seria interessante, afinal ganharam a simpatia do público. Há muito o que fazer, não vejo grandes custos, mas sim uma prioridade federal a ser irradiada em todas as esferas públicas e privadas, na educação básica mesmo. Vamos ver.
Por enquanto o que ele disse vai de encontro aos interesses das pessoas com deficiência: vai aumentar os limites de velocidade em certas vias públicas.
A página do Bozzo não abriu…
vou corrigir!
Calçadas minimamente acessíveis.
Sei que São Paulo tem o terreno muito acidentado. Em algumas ruas, as calçadas são degraus, porque não é possível ser de outra forma.
Mas onde for plano, a acessibilidade deve ser obrigatória.
Nas escolas do Ensino Fundamental ou Médio, a inclusão deve ser obrigatória!