O meu primeiro passinho
Gosto de pensar que ela sabia que aquilo para mim não seria jamais mais uma das tantas novidades de seu crescer, pois a danada, antes de partir para o mundo, agarrada nos braços da mamãe, olhou fixamente para mim e soltou um sorriso de encantar brutamontes. Sou capaz de dizer que uma onda de pensamento reproduzia a mensagem dentro de nossas mentes: “Olha isso, papai, é por mim e é para você”.
Cambaleante, descompromissada e frenética, minha Elis já ensaia o andar há uns três meses. Seguramente, em quase 11 viradas de calendário de vida, minha biscoita já caminhou com as próprias pernas e algum apoio bem mais do que eu, com 41 anos. É, tinha de começar bem cedo para requintar esta história.
Não guardo nenhum azedume por ser cadeirante desde que me entendo por gente, mas ver minha filha “firminha” no chão, em pé, trocando passinhos, me trouxe uma realização íntima cuja explicação satisfatória ainda procuro.
Talvez seja porque, finalmente, uma parte de mim, pelo que tudo indica, será capaz de decidir se quer correr ou não quando tocar o sino da hora do recreio na escola, se quer ir à Bahia e subir de carreira as escadarias do senhor do Bonfim, se quer ir àquele show de rock, ficar no meio da galera, apenas pelo prazer de escutar uma de suas canções favoritas.
Elis não vai andar por mim, é claro. Sou eu quem andarei com ela, guardado dentro de genes, trejeitos e manias que de tão semelhantes aos meus nos fazem inseparáveis mesmo que, em algum momento, ela oportunamente diga “larga do meu pé, pai!”.
Realizar-se completamente e intimamente com uma ação realizada pelo outro me parece sinal de alguma evolução, de algum desprendimento que me foram presenteados com a paternidade e que eu nem imaginava que fosse possível. É um fenômeno que considero orgânico, muito mais que sentimental.
Nem que o Bolshoi russo fizesse um bailado especialmente para mim, com a emoção e perfeição de seus movimentos todos dedicados a mim, eu teria uma sensação tão complexa como a que sinto vendo os pezinhos gordinhos de Elis tateando um rumo em busca de nada além de boas gargalhadas.
Aos poucos, ela já começa a se virar sozinha à procura de estradas para trilhar seu destino. Por enquanto, ele não passa do atendimento ao chamado histérico da Galinha Pintadinha ou de uma outra canção que fala do anjo querubim. Atende também ao convite para passear no parquinho ou para qualquer lugar que se vá assim que alguém aciona a maçaneta da porta. É destemida, atrevida e astuta, do mesmo jeito que suponho serem os grandes andarilhos.
Pise firme por suas convicções de justiça, filha. Aperte o passo em busca de mais igualdade entre as pessoas. Ponha o pé nos protestos que melhor lhe convierem. Bata perna atrás de refresco para os pensamentos ou em busca de leveza para sua alma.
Espero que, por mais alguns anos, quiçá por algumas décadas, você tenha sempre à disposição o colinho do papai, sentado em sua cadeira libertadora que virou asas para conquistar a mamãe, livre para recebê-la para um descanso ou para ouvir um causo de seus inquietos passos.
Sua crônica de hoje me encantou. Me trouxe saudades do filho, e dos netos também. Família é tudo de bom, não é mesmo, Jairo? E os amigos também. Marcam nossas vidas para sempre. E
as boas recordações nos dão força para seguir adiante. Por coincidência estou lendo *O filho de mil homens*, de Valter Hugo Mãe, outro texto muito emocionante. Tão lindo como o seu. Toda a felicidades do mundo para a Elis, que traz alegrias a todos nós através das suas palavras. Obrigado, amigo.
Vou aproveitar sua dica de leitura! Bjos
É um texto para ser degustado. Engraçado que, das minhas crianças só me lembro dos primeiros passos do Lucas. Da Carol a lembrança mais gostosa é de quando ela aprendeu a se virar sozinha na bicicleta e Ana Paula… bem, Ana Paula sempre foi uma conquista diária e não menos deliciosa.
Com base no título da crônica, às vezes eu sei que devo me preparar psicologicamente para a leitura (lá vem Jairetz, penso eu), mas nunca deixo de ser surpreendido. Seja nas questões ‘sangue nos zóio’, seja nesses momentos de extrema doçura, sua pena sempre tem o condão de chacoalhar meu espírito, e ficar sem deixar um comentário é como ir a Roma e não ver o Chicão.
Desde o início venho acompanhando a Elis (desde o barrigão da Thaís, aliás), aqui de longe, até que consegui conhecê-la pessoalmente no nosso último encontro ‘nacional’. Àquela altura ela já tinha dado um jeito na cabeleira espetada (admito que fiquei meio frustrado), mas mantinha e mantém os olhos maravilhosamente amendoados e espertos, típico de quem vai dar trabalho. E como é bom ter criança que dá trabalho! E como é linda sua filha!
Eu me deliciei com o vídeo em que ela detona aquele monte de caquis, ou brinca de esconder o rosto na almofada com a vovó. Talvez o sorriso gostoso da Thaís seja imbatível no quesito beleza, mas sugiro guardar num cofre aquela foto das duas sorrido, rostinho colado.
O lirismo que você consegue imprimir ao texto é privilégio de poucos, parece que ao invés de ler um texto na realidade estamos sentados numa varanda qualquer, tomando um chope e batendo papo. Não tem preço.
Thaís e você (e aqueles que cercam o trio, naturalmente) têm todos os ingredientes morais, intelectuais e culturais para garantir que Elis seja uma pessoa sempre feliz, de sorriso aberto, cabeça feita, de bem e do bem. Alguém duvida?
Cara, eu gosto demais de vc…. caramba… Grande abraço e obrigado, obrigado, obrigado!
Obrigado e parabéns JAIRO e a FSP. Embora há quem não acredite, e eu respeito, ao ler artigos prenhe de beleza como esse, convenço-me cada vez mais fortemente que a vida é lindíssima e merece ser vivida plenamente.
Adorei a expressão “prenhe de beleza”!!!! Um abraço
Jairo,
Nos deliciamos ao ler o texto. Nós, que recebemos nosso filho após 26 anos de casados, e várias tentativas, conhecemos bem o sentimento de que antes dos filhos podemos ser felizes, mas com eles, podemos muito mais.
Que o Senhor cubra de bençãos a Elis e todos vocês.
Grande abraço e um prazer tê-los por aqui!
Ah tio você e seus textos lindos. Emocionante os primeiros passinhos da Elis. Beijos em todos
Uhruuu.. beijos, querida
Que texto lindo, Jairo. Queria ter um pai como você, que demonstra muitooooo carinho e amor pela sua filha, Elis. Que vocês sejam muito fekizes. Bjs.
Dou umas broncas nela tb, Su! kkkkkkkkkkkkkkkkk beijosss
Jairo, que surpresa incrível!
Somos ao contrário, minha filha Raquel cadeirante e eu caminhante !
A luta é enorme mas a cada vitória delas o universo vibra em epifanias!
Agora a Ra é a nais nova blogueira do portal Mobilize, vc.conhece?
Deus os abençoe.E a todos nós.!
Deixa o link aqui pra gente, Silvia! Eu conheço o portal, sim! Abração
Ler seu lindo relato, me faz ter esperança em seres humanos iluminados que nos brindam com sua vivência. Obrigada por compartilhar conosco suas lindas emoções!
Vivo exatamente o oposto com minha Julinha ou Jujuba para mim…ela foi privada de andar por um erro médico e faço das minhas, as suas pernas nas andanças do mundo!
Sigamos!
Andrea, muita força, muito pensamento positivo e um abraço fraterno
Jairo sua sensibilidade e exposicao de seus sentimentos,da qualidade aos nossos dias,tao carentes de bons sentimentos.Parabens!
Obrigado pelo carinho, Candida. Acho que escrevo sobre sentimentos que esbarram no íntimo de muita gente, por isso, a identificação! Um abraço
Emocionante, Jairo. Muita saúde e um longo caminho de felicidade para Elis. A paternidade é realmente tão cheia de sentimentos inéditos, que alguns são difíceis de descrever. Mas você deu o seu belo jeito. Sentimos, pelas suas palavras, a mesma emoção que você. Grande abraço, Fábio Ludwig
Fábio, para quem se atreve a escrever, e a escrever sobre sentimentos, não existe satisfação maior do que ler que sua mensagem chegou com o mesmo impacto que saiu. Grande abraço
Olá Jairo, acompanho você há anos e adoro quando você fala da sua Elis!Felicidades para você e sua família!
Eliana, saiba que para mim é uma honra ter sua companhia! Acho que Elis ainda me renderá muitos e muitos textos! Um beijão
Fui sua aluna na Metodista, sempre li seus textos, mas com a troca de área de atuação, fez com que meus interesses mudassem também.
Hoje uma colega de classe compartilhou, e eu tive a felicidade de ler.
Suas histórias ainda conseguem me tocar, exatamente como naquele primeiro semestre de 2010!
Parabéns pela filha!
Abs.
Que gostooooso, Núbia! Caramba, e já faz tempo!!! Um beijo e felicidades para vc
Caro Jairo,
Primeira vez que leio um texto seu…emocionante. Tenho um pequenino que passou a pouco por essa experiência. E suas palavras me fizeram reviver esse momento único.
Obrigado!
Volte sempre, Edson! Abraço
Jairo,
Acompanho sempre seus escritos na Folha. E gosto sempre.
Mas quando o assunto é a Elis, não tem jeito… acabo chorando.
A Elis tem muita sorte por ser sua filha e tudo o que já escreveu sobre ela é um presente para nós, os seus leitores.
Lídia, essa menina pisa no meu coração, viu?! 😉 Um abraço!
Jairo,
Este eu tive que compartilhar. Maravilhoso texto. Grande abraço. Mauro
Mauro, uma honra ter vc entre os leitores que me acompanham! Grande abraço
Caro Jairo
Continuo sua leitora e uma vez mais me emociona sua sensibilidade diante de um fato que poderia ser corriqueiro, mas você transforma em poema de amor paterno.
Obrigada por momentos tão suaves: uma pausa no panorama jornalístico terrificante que agora nos cerca.
Aproveite bastante a beleza da Elis iniciando o seu caminhar rumo a um futuro melhor para todos, pelo menos é o que espero.
Saudações
Muito obrigado, Magdala… Os passos de Elis me são muito valiosos, de fato. Um abraço
De emocionar. E é como você escreveu, está claro que a realização pessoal, completa e sincera, através da conquista do outro, é ato nobre, que apenas um ser evoluído consegue sentir e assumir.
Ana, obrigado pelo carinho
Muito bonito, Jairo. Parabéns.
Obrigado, Samitos! Saudades!
Tô chorando aqui, aquelas lágrimas boas de limpar a alma…você tão generoso dividindo com a gente o sorriso da Elis, os primeiros passinhos….Essa menina trouxe muita alegria e amor até pra quem não a conhece pessoalmente. Jairo você que sabe escrever tão bravo e tão suave…
Querida, obrigado pela generosidade. Beijos
Jairo, adoro suas crônicas! Fico feliz por você ter dois céus à sua disposição – o dos Altos e o presenteado pelos primeiros passinhos da pequenina Elis . Se me permitir, gostaria de enviar a ela um exemplar de A Família Rolinha e o Gato – para ler e colorir. Loguinho Elis poderá curtir esse conto infantil que rabisquei, garças à minha vivência com os netos versus a paixão pela natureza.
Forte abraço.
Vou responder pelo email, querida!
Emocionei, lembrei da Bruna dando seus primeiros passos. Que Elis seja sempre uma andarilha feliz.
Oxalá, Tina! bjosss
Que lindo tio…. É cada dia uma nova descoberta…. Um dia melhor que o outro. Deus abençoe essa princesa que veio trazer vida para vcs. Saudades
Todos os dias… é incrível, não é, Maysoka?!
Adoro teu blog desde que o conheci há uns bons anos… Mas ultimamente os teus textos sobre Elis e a delicia de ser Pai simplesmente me encantam!!! Parabéns, Jairo!! Toda saúde para a sua pequena florzinha e mil felicidades pra vocês!!! 🙂
Que coisa boa de se ler, Malu! Um grande abraço