Multa mais cara adianta?

Folha

Desde a semana passada, quem enfiar a charanga sem necessidade e direito em vagas de estacionamento reservadas ao povo quebrado das partes ou idoso está sujeito a tomar multa com valor aproximado de meia leitoa: R$ 127,69.

O custo mais do que dobrou em relação ao antigo, infração de categoria leve; mesmo assim, permanece uma pechincha comparado às 1.000 libras —quase 6.000 dilmas—, aplicadas em Londres ou aos 450 dólares canadenses (cerca de R$ 1.300), praticados em Toronto, que estuda elevar mais a soma neste ano.

Não me surpreendeu, porém, que, durante um passeio de final de semana com a “famiage” no shopping, rodei mais do que bolsinha na rua Augusta para encontrar um lugar que me coubesse para estacionar.

Tenho duas possibilidades para aquela situação: ou aconteceu uma rebelião no Hospital das Clínicas e todos os cadeirantes saíram de lá de uma vez para passear no mesmo centro de compras que eu, ou ninguém ligou de imediato para o incremento da medida.

Mais do que punir com cento e poucos contos no bolso os infratores, é preciso que eles saibam e entendam “difinitivamente”, como diria minha tia Filinha, que serão fiscalizados em qualquer lugar, terão um enrosco burocrático imenso porque os carros poderão ser guinchados e que a vaga reservada ocupada irregularmente afeta de maneira desconcertante a vida de
outras pessoas.

Por enquanto, é tudo um faz de conta. Em repartições privadas, sobretudo, reina o quem chega primeiro à vaga. Morre-se de medo de desagradar a um cliente e nada se faz contra quem atropela um
direito alheio.

Embora deixar um papelinho no para-brisa do carro dizendo “a casa caiu, você foi multado por prejudicar o ir e vir de uma pessoa” possa ter algum efeito na diminuição dos perrengues, é com pressão de fiscalização que a moda do respeito há de pegar.

Na Alemanha e nos Estados Unidos, as multas pelo uso irregular das vagas não chegam a provocar síncope em corações mais fracos, mas a rapidez com que é feita a remoção do veículo e a facilidade de fazer uma denúncia que gere o rebocamento desestimulam correr o risco.

Sou desses que adoram fumar o cachimbo da paz em prol de soluções mais cidadãs para os entraves sociais, mas as pessoas com deficiência no Brasil já queimaram muito o estômago de chateação diante da tosca justificativa “é só por um minutinho” que se usa como argumento para a parada indevida.

A médio e longo prazo, apostar forte na educação de crianças e jovens para um trânsito com cidadania também tem potencial e pode surtir efeito.

O que não dá é deixar que improvisações como a chamada multa moral —papelinho que brinca de multar e alerta sobre a situação irregular de estacionamento— ou vídeos engraçados na internet façam a vez de ações de Estado.

Talvez futuras gerações consigam assimilar de maneira mais decisiva, sem a necessidade de intragáveis punições financeiras, que medidas de promoção de igualdade —como é o caso da demarcação de uma vaga de estacionamento bem localizada e maior— não são regalias, mas maneiras fundamentais de incluir.

Comentários

  1. Eu ainda penso que a conscientização plena de que PcD é pessoa e como tal deve ser respeitado em seus direitos e deveres é que resolverá esse tipo de situação. É trabalhar seriamente adultos e crianças, sim, adultos. Por que os adultos são quem contaminam as crianças com seus preconceitos e assim, a coisa se eterniza. Quem tem esse papel? Acredito que sejam as escolas, com seus psicólogos. Os adultos que não quiserem, terão seus filhos, possivelmente, preconceituosos, devidamente encapados pelo politicamente correto.
    Por isso concordo com a maioria dos comentários acima: é preciso, sim, colocar multas muito severas contra aqueles que estacionam em vagas para PcD ou idosos. Mas é preciso também, fazer um trabalho sério com os seguranças dos shoppings e outros estabelecimentos, além dos guardas do Detran. É utopia aqui no Brasil ou em qualquer outro lugar? Sim, mas é uma utopia realizável, como Habermas (filósofo alemão) diria. Bjs.

  2. Moro numa pequena cidade no interior do RS, sou idoso, não tenho problema de locomoção. Mas o que me impressiona é a falta de educação desse povo. Barulheira, desrespeito e tantas atitudes desrespeitosas. Todos na cidade tem a “obrigação” de estacionar defronte a bancos e estabelecimentos comerciais enquanto eu caminho 2 ou 3 quadras sem prejudicar ninguém.
    Povinho sem educação que reclama do governo.

  3. Acorda, Jairo.
    Só se educa criança. No caso do adulto, a única forma de fazer com que ele respeite a lei, é ‘mexendo’ de verdade no bolso dele, ou seja, multas de altíssimo valor, isso aqui ou em qualquer lugar do mundo, o resto, é conversa pra ‘boi dormir’.

  4. Concordo, são apenas dois fatores que explicam tais atitudes dos infratores, são eles falta de cultura e de vergonha na cara.

  5. Jairo, aqui nos USA a regulamentação de transito é por estado, mas difere pouco de estado para estado. Na Florida a multa para quem estaciona em vaga sem ter permissão para tal é $250, mesmo em lugares ‘privados’ como num shopping ou condominio, basta chamar o guincho. Eles instalam um bloqueador nas rodas, não tem como o esperdinho tentar sair depois enquanto o guincho não chega. Outra coisa: mesmo que o carro tenha permissão, se o motorista não for o próprio usuário para o qual foi concedida a permissão, leva multa e ainda pode pegar até 6 meses de cadeia, por falsidade. E além da multa ainda tem que arcar com as taxas do guincho, com o custo do estacionamento onde o veículo ficará até a liberação, etc. E não tem isso de deixar o carro esquecido lá por 1 ano ou 2 não, em 2 ou 3 meses ele vai à leilão ou vira sucata.
    A parte mais importante da regulamentação começa assim: “dirigir não é um direito, mas um privilégio”. Saia da linha e seu privilégio é revogado, simples assim.

    1. Chico, excelente! Meia hora de um regime desses aqui em SP, é capaz de cair a república ahahahahahha… Um abraço

  6. Concordo plenamente com o articulista, a falta de respeito do nosso povo para com os direitos adquiridos pelos cadeirantes e idosos em estacionamentos, tanto faz se publico ou privado, é apenas o retrato de nossa educação, com leis de primeiro mundo para um povo sem classificação no mundo.
    O desrespeito não é somente em estacionamento, observamos embarque no metro, quando deficientes visuais, cadeirantes, idosos, são atropelados pelos usuários de fina educação cujo o lema é primeiro eu, depois, oras depois é depois o resto, aproveito para lembrar também a utilização dos bancos reservados aos idosos nos ônibus kkkkkkk, os ocupantes irregulares são tão caras de pau, que fingem dormirem para não desocuparem o lugar que é garantido ao idoso por lei (que se dane a lei!!!!).
    O que aqui foi colocado é por mim testemunhado, pois apesar de idoso (69 anos nas portas de 70) trabalho estudo e uso diariamente transporte publico (ônibus e metro) ou quando dá o meu carro, mas é preciso ter coragem para encarar tudo isso.
    Então querido Jairo (me permita a liberdade) leis de primeiro mundo para um povo analfabeto e ignorante só me traz saudades do passado, quando a escola era nosso segundo lar, e nossos professores eram nossos educadores de fato formando adultos educados.
    abraços.
    Edison

  7. Não consigo entender porque uma multa tão ridiculamente baixa.
    Há algum tempo estava no balcão de atendimento de um laboratório médico, na Rua Teodoro Sampaio.
    Fui de metrô. Reparei que a a pequena entrada do local tinha apenas duas vagas, uma comum e outra para cadeirante. Qualquer um sabe que é impossível estacionar na Teodoro Sampaio e imediações, mas uma fina senhora estacionou seu belo carro na tal vaga para cadeirante, entrou no laboratório e veio perguntar pra pobre da atendente que me dava atenção naquele momento se ela podia deixar o carro estacionado lá, pois o que viera fazer era rápido no dizer dela, na tentativa de transferir a responsabilidade pra atendente e como se fosse responsabilidade dela permitir ou não estacionar na vaga de cadeirante.
    A atendente balbuciou algo, me meti na conversa e fui logo dizendo: Minha senhora, a senhora faz idéia de quanta gente doente, deficiente ou cadeirante passou ali pela rua e não pode vir fazer o seu exame, pq o carro da senhora está ocupando a vaga que é deles nesse momento?
    Será que precisa explicar isso??
    Saiu de fininho como entrou e sumiu com seu carro bonito.
    Gente cara de pau assim precisava de uma multa bem mais pesada.

    1. Alexandre, se todos assumissem sua função de cidadão, como vc fez, a situação iria melhorar, com certeza!

  8. Infelizmente, em nosso país, isso demorará muito mais que um século para acontecer.
    Se esperar pelos mais jovens, é nossa salvação, então estamos realmente perdidos.
    Até lá já estarei morto, e não verei esta revolução.

  9. Não sou deficiente nem idoso. Contudo, me indigno quando vejo uma vaga direcionada para pessoas nestas condições ocupadas irregularmente. é fato que em locais privados é praticamente como não existisse tal distinção. Além de um problema cultural, o uso irregular deve ser apenado de maneira mais contundente, de forma doer no bolso, bem como deve haver fiscalização. Que tal um abaixo assinado? Que tal prever-se uma regra para os estabelecimentos privados manterem fiscalização sob pena de multa?

    1. Existe, em SP, um Termo de Ajustamento de Conduta para que os shoppings fiscalizem, Marcos. Durou um mês a disciplina, depois, descambou..

  10. A verdade é que falta vergonha na cara do brasileiro. Aqui o mesmo cara bate panela no discurso da presidente (merecidamente diga-se de passagem), para na vaga de deficiente e de idoso. Ficamos constrangidos quando vemos alguém para na vaga de deficiente, mas que tem que se constranger é o infrator. A população tem que exercer a sua indignação (na hora), vamos boicotar os shoppings que não coíbem esses atos, divulguemos fotos nas redes sociais. Vamos ter vergonha, mas com ação.

    1. Marcelo, eu adorei qdo vc diz, “ficamos constrangidos… mas tem que se constranger é o infrator”…. perfeito!!!

  11. Desde 2012 tenho uma destas credenciais de idoso emitidas pelo DSV que , na época, informava que seria obrigatória para ser colocada no para-brisas do carro em estacionamentos de vagas para idosos incluindo as vagas nos estacionamentos dos shoppings. Cadastra -me e retirar tal credencial me aborreceu bastante pois tive que , a exemplo de outros idosos , fazer algumas viagens para retirá-la no DSV.
    Após anos de inutilidade pois tal credencial jamais foi exigida dos “espertos” que se multiplicam e ocupam as vagas dos idosos e pior ainda dos deficientes sem que haja qualquer punição.
    A multa deveria ser de, pelo menos,10 vezes esse valor inóquo e com rebocamento do carro do infrator que seria obrigado a pagar este valor fora taxa diaria esta sim poderia ser de R$ 127,69 por dia de estadia) e incluir pontos na carteira como falta gravíssima para retirar o veiculo rebocado .
    Abraços

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