A Escola dos Lindos
“Na nossa escola, só entram os muito bem-nascidos de feição. Apenas a beleza rara, a pele de pêssego, os lábios bem desenhados e carnudos, os cabelos desembaraçados e tratados com manteiga de karité nos interessam. Aqui não aceitamos os encardidos, os de olhos tortos, os perebentos, os com marcas roxas, os que pensam demais e franzem a testa e os gorduchos. Não abrimos mão da lindeza!
A filosofia do nosso antro de saber é a negação das esquisitices –seja ficar falando sozinho na hora do intervalo, seja ficar pulando com uma perna só. Defendemos o ódio às verrugas e às pintas de nascença, bem como cirurgias plásticas imediatas para qualquer marca deixada pela catapora ou pela vacina BCG.
Não ofertamos, em hipótese nenhuma, bolsas de estudos para pobres, para pessoas com olhos muito puxados ou com cabeça cujo diâmetro destoe durante a brincadeira de bambolê. Pretos, somente os caramelizados com traços europeus serão analisados para matrícula.
As práticas desportivas dentro da nossa unidade educacional não envolvem contato físico com outros alunos para evitar qualquer inconveniente para as unhas das meninas e para manter o bom odor dos meninos.
Nossos professores foram selecionados por meio de concursos rigorosos de aptidão para incentivar a vaidade extrema, a competitividade pelas pernas mais torneadas e pelo peitoral mais bem desenhado da turma. Cada um deles sabe como é fundamental incentivar em nossos alunos o espírito da inquietação sobre si mesmos e a busca incessante pela reparação de sobrancelhas desalinhadas.
Aleijados de qualquer espécie não entrarão em nossas dependências com as sujas rodas de suas cadeiras, com seus cães-guia pulguentos, com modos ‘tchuberubes’ ou com baba no canto da boca. Essa gente é um perigo e a queremos longe.
Eles são problema do Estado e já temos gastos importantes com o fomento de inclusão em nossas dependências: inclusão de espaços para descansar a beleza, inclusão de uma área de incentivo ao ‘insemesmamento’ e inclusão de ideias de jerico na cabeça das novas gerações.
Por tudo isso, pela garantia de um futuro vistoso para seus filhos, cobramos o justo: os olhos da cara, mais o valor de suas calças com todas as pregas. Educação é coisa séria e não tem preço! Venha para a Escola dos Lindos”.
Quando escolas particulares fazem um movimento para barrar a entrada de alunos com deficiência em suas dependências, quando se negam a enxergar que apoio e fomento a tudo o que é diverso é princípio básico e sólido para a educação, mais um tijolo é botado na construção da Escola dos Lindos.
É no ambiente múltiplo da sala de aula, do pátio do recreio ou da quadra de esportes que são incentivados, orientados e identificados cidadãos menos preconceituosos e atuantes, gente necessária para um país com menos desigualdades.
Defender que “custa caro” o apoio escolar a uma criança down, com autismo ou com imobilidade extrema e ir à Justiça para fechar a porta do “todos juntos”, embora seja legítimo da democracia, é tão moralmente nocivo como distinguir crianças por seus padrões estéticos. Com a inclusão não se gasta. Investe-se em um ambiente escolar mais plural, exemplar e de vanguarda.
Oii, muito legal seu artigo! Realmente vale a pena seguir suas dicas
beijoos
Camila
Fantástico texto! Parabéns!
Obrigado, Carlos!
Não há nenhuma explicação para cobrar taxas extras dos pais de crianças com deficiência! absolutamente nenhum argumento cabe para tal demonstração de preconceito. Parabéns ao Jairo Marques pela coragem em expor os motivos, tão velados pelos donos de escolas e por pais de “filhos lindos”.
Obrigada!
Já tive essa conversa com a minha sobrinha, sob o olhar dela, aluna da escola: porque não tem alunos cadeirantes no colégio se todas as instalações são adaptadas? Porque não tem alunos com deficiência visual ou auditiva? E porque não tem alunos negros (na vdd, tem um, sim, adotado)?
Ela parou pra pensar e disse que iria conversar com a coordenadora do ensino fundamental, para saber os motivos.
O meu papel de tia é estimular esse tipo de reflexão e fazer a criança pensar. Tem dado bons resultados! Gosto da ideia de influenciar positivamente nossas crianças….
um beijo!
um beijo!
Show!!! Influenciar positivamente os pequenos é gol de placa!
Meu rei, eu tinha mandado um comentário mais cedo, mas parece que foi encaminhado para apreciação do Ministério do Além momentos antes de ser finalizado. Então, vamos ao retrabalho. Dizia eu que mais uma vez você se superou, porque escrever com a sua leveza, conjugando a acidez que o assunto precisa e a deliciosa ironia que os aprendizes de seres humanos responsáveis pelo descaso relatado fazem por merecer, ‘difinitivamente’ exige talento muito acima da média, e eu confesso que não consigo não gostar do que você escreve.
Sua crônica me despertou um impulso que tive antanho, de escrever sobre esse fenômeno bem brasileiro de ocupação, pela bandidagem, dos espaços deixados pelo Estado. Ocorre não só na educação, mas também na saúde, na segurança e onde mais houver meios de fazer dinheiro. Entenda-se por bandidagem essa galera que cultiva uma mania feia de usar de calculada malandragem (não raro com ‘bênçãos’ oficiais) para cristalizarem frente à opinião pública uma aura sacana de necessidade absoluta.
A essência do que pretendo publicar lá no cafofo é a mentira repetida de que escola para deficientes é obrigação do Estado, tratamentos e procedimentos médicos de alto custo são obrigação do Estado. Ora, e os rios de dinheiro que entram todo dia nos seus cofres, por uma estranha e histórica deficiência do Estado, por que não contestam? Só imagino que quem pensa como os empresários do setor talvez não tenha ainda vivido o bastante, já que a alternativa é presumir que na verdade o que falta é amor fraterno e boa dose de generosidade.
Rogério, e sabe o que mais me intriga nessa discussão? Ouvir gente dizendo que uma questão tão série e urgente, envolvendo crianças, precisa de “mais discussão”, “mais aprofundamento”, “mais blablabla”. A prioridade da infância parece virar pó diante de interesses financeiros ou diante do preconceito. Há décadas, no Brasil, a criança com deficiência está à espera que gente burocrata e sem nenhuma noção de cidadania e humanidade resolva que, sim, elas tem o direito de estudar…
Um país desenvolvido, não é aquele que tem somente economia desenvolvida. Precisa fazer a população entender o que é desenvolvimento de todos os pontos de vista, seja ele social, econômico, de relações institucionais, de pluralidade e etc. Vivemos rodeado pela pauta do desenvolvimento econômico, da população em geral preocupada com a próxima compra e o carro do ano seguinte, pouco nos importa a formação da sociedade como um todo e nos preocupar um pouco mais com as discussões de inclusão e de formação de pessoas que pensam e aceitam as diversidades, sejam elas quais forem.
No passado tinamos matérias como moral e ética, sociologia, filosofia entre outras que apesar de precárias eram formas de incentivar de certa forma a pensarmos em uma perspectiva incomum fora do nicho escolar. Hoje temos cada dia mais aula de economia aplicada, como ensinar seu filho a viver com o cartão de crédito e disciplina financeira como que nosso foco tenha de certa forma virado única e exclusivamente para uma pauta dominante. Um mundo de futilidades, fertiliza as escolas de futilidades, as matérias fúteis e a incapacidade de formarmos pessoas capazes de um convívio social harmonioso.
Precisamos de um pauta mais elaborada, com melhor equilíbrio entre o “ser” e o “ter”. O “ser” e aquele que aceita e entendo dos fatores sociais importante que estão em sua volta, luta pela o equilíbrio de forças. O “ter”e este ai muito bem apresentado pelo amigo, aquele que quer “ter” a exclusividade, o diferencial, o premium!!!!
Acordar é preciso, incluir ainda mais!
Abraços
Vibrei e aplaudi!
Coincidencia ou não, assisti um video do Porta dos Fundos tratando com humor (melhor rir do que chorar!) deste tema. A evolução humana se deu na igualdade das possibilidades de sobrevivencia entre membros de grupos de humanos primitivos a época das cavernas. Por um ‘estalo’ entenderam que não largariam a propria sorte, como os animais irracionais, os fragilizados, idosos, mulheres etc. O salto se deu aí. Estamos regredindo?
Excelente reflexão!
Eu realmente não cnsigo gostar da maneira que você escreve…. Fico um tempo sem ler, de vez em quando algum título me chama a atenção, venho ler, e realmente não gosto da maneira que você se refere as ppne….
Luiza, o bom é que vc sempre volta.. O que vc quer dizer com ‘ppne’??
Nossa Jairo! Já tinha ouvido falar muito de escolas seletivas, só que nenhuma com nome tão lindo ahahahahah adorei….. belo tema…..
Imagine eu que estudei no tempo em que os professores eram rigorosos e tinham autoridade até demais…. uniformes que até os sapatos tinham que ser colegial com meia 3/4 e fitas no cabelo igualzinho..
Era um tal de reguada pra lá, puxão de orelha pra cá, que lascava de cima a baixo, qualquer coisa era motivo para castigo, autoridade virou autoritarismo.. e não era só com professores não, os própios colegas riam de mim pelo valor pago no boletim, pela condição sócio econômica verdadeiro bulling… meu sonho era ter um estojo contendo lápiz de cor tamanho grande e uma caneta tinteiro parker para exibir….. Na boa! vou ser sincera! Se eu pudesse voltar hoje ao passado, daria um pau em todo mundo a começar pelos professores que me fizeram ser burra…..
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk Ana, vc é demais!!! beijosss
Meu caro jornalista, me parece que você não entende o porquê (acho que junto e com acento) que muito se briga e se luta para contra essa chamada “inclusão”. Um aluno que você chama de deficiente na verdade é um aluno especial e que precisa de uma escola especial como muitas boas escolas que temos no Brasil, para aí sim tendo um ensino adequado à sua especialidade poder ser incluído na sociedade. Penso que você deveria primeiramente aprofundar esse estudo para somente depois escrever essa matéria.
Paulo, vou pesquisar mais, sim. Mas vc promete que se atualiza? Escreveu termos e conceitos que ficaram nos anos 1980. Um abraço
Jairo! Excelente. Brilhante. Real e verdadeiro!
Essa construção da Escola dos Lindos me remete à pergunta: “lindos sob o ponto de vista de quem?”.
Dia desses vi muitas pessoas (inclusive eu!) se encantarem com as bonecas com deficiência e uma das justificativas era a de que as crianças aprenderiam a conviver com a diversidade. Oras, mas quem tem em plena crise financeira quase mil reais (a boneca cega sai por US$ 127.00 fora o frete + impostos) para comprar tal artefato que ajude as crianças ricas porque as pobres vão ganhar os brinquedos das campanhas no dia das crianças, a aprender a conviver com o diferente. Como psicóloga compreendo e incentivo o lúdico como forma de aprendizagem e desenvolvimento, porém há de ampliar que é na relação com o outro que aprendemos quem somos. Mais de uma vez ouvi a frase “meu filho lindinho será prejudicado por ter uma criança feinha em sua turma? Afinal a professora precisa retomar várias vezes a mesma lição”.. claro que não nessas palavras, mas essa é a mensagem nas entrelinhas. Até quando? Que venham todas as ferroadas, alfinetadas pra ver se a situação muda porque até agora nos embasamos na expressão dos verbos acolher, amar, respeitar,m cuidar, incluir … mas não está dando muito resultado. Para uma boa parcela sim! Mas e a outra?
Um dia descobrirão que todos juntos e misturados representa “eu me aceito e me respeito e por isso eu te aceito e te respeito”. Há tantos de outros EUS em meu EU. Ainda bem, porque uma dose única do meu EU seria um porre. Um grande abraço
Eliane, seu comentário é brilhante! Fraterno abraço
Essas práticas deveriam ser levadas ao M E C para que fosse instaurado procedimento administrativo. esses colégios deveriam ter penas de multas pesadas e perda de autorização de funcionamento.
Eu tb acho!
Como alguém tem espaço em um jornal importante, como a FOLHA, para escrever tanta besteira? O artigo acima não passa de outro tipo de preconceito, mascarado de “defensor dos fracos e oprimidos”. É o fomento do ódio entre as classes e os diferentes, isso sim!
Sério?
O Sindicato Patronal das escolas particulares de Santa Catarina-SINEPE/SC e a Confederação Nacional dos Estabelecimentos de Ensino-CONFENEN questionam judicialmente a legitimidade da Lei Brasileira de Inclusão. Você entende essa atitude como um convite ao congraçamento?
Mais do que contestar a lei, o sinepe/sc publicou uma carta criminosa! Se fosse apenas a ação na justiça contra a nova lei, como alguém escreveu aqui, seria moralmente questionável, mas dentro do que se espera de uma democracia. Agora, divulgar uma carta que incita o ódio contra os deficientes e seus familiares e defendendo a segregação é algo inaceitável.
Meu caro sr. Jairo, estas crianças tem que ser assistidas pelo estado, não pelo “rateio” que será feito pelos pais dos outros alunos quando os colégios começarem a repassar os custos.
Não se engane, nenhum centavo vai sair dos bolsos dos donos de escola, vai sair do meu bolso!.
Não podemos confundir o público com o privado.
Munir, qual custo vc trata?
Excelente texto. Retrata bem o substrato cultural da elite tupiniquim, herdeira dis trejeitos escravagistas.