Crise e deficiência
Meu povo, é osso ter de trazer para o blog uma discussão que está em todas as outras mídias, mas não posso me furtar de mostrar como a crise financeira que assola o país afeta em cheio a realidade de milhões de pessoas com deficiência no Brasil.
O mais “complicoso” nesse processo é que, com os “malacabados”, os efeitos da convulsão financeira são sentidos em aspectos da vida que são fundamentais: mobilidade, tecnologia de assistência e a própria sobrevivência, no caso daqueles que necessitam de medicação cotada em dólar.
Nos últimos anos, com a estabilidade do dólar, muita gente sem perna, sem braço, quebrada das partes e afins 😯 pode incrementar sua qualidade de vida com equipamentos de facilitação do dia a dia mais modernos, ágeis e funcionais.
Uma cadeira de rodas top, americana, que poderia ser comprada no Brasil por cerca de R$ 12 mil (ainda uma realidade para poucos, é fato), agora, com o dólar a R$ 4, a viabilidade de ter o conforto de um “cavalo de rodas” ultraleve, anatômico e durável se tornou muito, muito restrita.
O mesmo vale para próteses importadas, almofadas que protegem o “popô” de feridas, aparelhos auditivos de última geral e até treinamento de cães-guias. Materiais básicos de uma vida mais plena para quem tem deficiência motora ou dos sentidos se tornam, agora, sonhos muito distantes.
“Ah, tio, para de reclamar e compra um baguio nacional, pô!”
Sem dúvidas, houve algum salto no fomento da indústria nacional de tecnologias assistivas (que dão assistência à pessoa com deficiência), mas o grande voo de apoio prometido pelo programa “Viver sem Limites” não passou de um salto de galinha. 😥
O próprio programa, por sinal, anda escanteado, com nem metade de suas metas cumpridas, sem novas investidas do Executivo, sem repercussão, sem alcance social significativo (afora linhas de crédito, que, agora, também ficam sufocadas).
O comparativo entre os equipamentos brasileiros e gringos ainda nos dá uma desvantagem absurda, o que é natural, uma vez que entramos na brincadeira há pouquíssimo tempo.
A crise econômica também abala a vida das pessoas com deficiência em um aspecto ainda mais profundo e preocupante: Milhares de brasileiros convivem com doenças raras e, com isso, necessitam de medicamentos cotados em dólar. A manutenção desses tratamentos é fundamental, muitas vezes, para a sobrevivência.
Do dia para a noite ver o valor de um remédio quadruplicar é de sentar no asfalto quente e chorar o dia inteiro, né, não?
Também aquelas pessoas que programavam fazer algum tipo de tratamento ou reabilitação no exterior terão de replanejar suas estratégias. Isso para não dizer que terão de desistir, uma vez que o impacto financeiro com a alta da moeda americana é desastroso.
Todos estão embarcados nessa caravela que navega em mar furioso e cujo destino pouco se sabe, mas em um momento de extremo impacto, como estamos vivendo, é necessário tentar proteger os que sentem a sacolejo de maneira mais nauseante e que cuja a própria existência digna está em risco.
Esse fenômeno econômico que afeta a cotação do dólar é velho conhecido. Interessante que quando a moeda americana está em baixa nossos preços em real se mantêm num patamar ‘cômodo’, do ponto de vista de quem está do lado de dentro do balcão. Custei para encontrar um anticonvulsivante eficaz para minha filha, mas um belo dia o laboratório resolveu não mais fabricá-lo, em protesto contra a negativa do governo em autorizar o reajuste de preço. Por sorte naquela época (início dos anos 1990) o marido da professora de minha outra filha era piloto internacional da Varig, e passou a ser meu office-boy de luxo trazendo do exterior o tal medicamento. Claro que para bancar essa empreitada precisei vender a bicicleta e passei a latir no quintal para economizar cachorro, mas o episódio serviu para que eu desconfiasse um tantico das explicações econômicas aparentemente científicas dos CDLs da vida para o que com frequência não passava de canalhices comerciais.
Negão, como sempre, vc traz um elemento novo para a discussão. Perfeito, mesmo qdo a moeda americana “descansa”, os preços costumam ser muito altos por razões “misteriosas”, uma delas, a carga de impostos escorchante e inacreditável do país. Acho incrível como vc guarda com detalhes as histórias de sua filha.. é muito, muito amor!
É isso ai seo Jairo, a deficiência é como a velhice, sujeita à pobreza, doença e solidão, mas com o agravante das limitações da deficiência, eta vida sô…….
Com a crise que estamos vivendo aqui no Brasil, as PcD irão sofrer muito mais do que as compras de equipamentos como órteses, próteses e outras coisas necessárias. Os políticos irão usar a crise para cortar mais subsídios que seriam destinadas à educação, ao empego apoiado por exemplo. Essa crise irá piorar a vida das PcD e de todos os brasileiros, menos os mais ricos e banqueiros, entre outros que irão lucrar com o sofrimento dos brasileiros em geral. Bjs.
Não vão cortar, não, Suely… já cortaram! Beijos
Oi Jairo!
Curativos de carvão ativado que custavam em média R$ 36,00, hoje custam R$ 73,00 a unidade para pessoas com doenças de pele. Essa crise afeta e muito nossa vida, principalmente em relação a medicamentos de alto custo e todos os tipos de próteses e órteses.
Como comprar esses medicamentos com osalário mínimo que nem todos recebem?
E ainda vejo gente dizendo que só afetam os coxinhas, povo sem noção…