Aos pés de Giovanna
Amarre bem firme as duas mãos para trás. Em seguida, sente-se no chão, diante de um prato “maraviwonderful” de macarronada daquelas que as tias gordas fazem aos domingos e, depois, tente equilibrar um garfo entre o dedão e o segundo dedo… dos pés. Não acabou. Finque o objeto na comida e, sem pestanejar, leve uma garfada saborosa à boca.
Parabéns aos contorcionistas, mas a realidade é que a parte maior das pessoas não se atreveriam a exercitar tal manobra ousada. Giovanna, porém, com um ano e dois meses de idade, está causando nas “internets” e derretendo o coração de seus pais por começar a ganhar a independência que será fundamental em sua vida: comer utilizando aparentes complexas manobras de pernas e pés.
Vítima de uma síndrome congênita de nome esquisitão, artrogripose, que causa deformidades e rigidez nas articulações, a garotinha está aprendendo desde cedo como dar jeito na própria vida e como conquistar autonomia, independência.
Um número enorme de circunstâncias, sejam elas ocasionadas por doenças, acidentes ou malformações, acarretam o comprometimento de membros do corpo. Mas, com estímulo, com técnica e com ciência, o cérebro passa a trabalhar numa busca furiosa e inteligente por compensações de habilidades que, embora tenham sucesso mais vistoso na infância, pode acontecer em diversas fases da vida.
E, mais uma vez, surge como empecilho nessa jornada promissora de reconstrução de uma discrepância física o comportamento indiscreto, desrespeitoso e até hostil de uma sociedade que vê com estranheza ou até uma certa repulsa as ações incríveis da evolução e da adaptação das funções corpóreas.
Por não acreditar que um músico pode tocar bateria sem as mãos, pode se negar a ele uma audição; por avaliar que a moça não conseguirá digitar com os pés, ela pode perder a chance de trabalho; por não imaginar que o menino com uma perna só pode chutar a bola, ele corre o risco de ficar fora da brincadeira.
A questão não é reconhecer os heróis ou promover os cansativos “exemplos de superação”, é simplesmente permitir que cada pessoas com suas rearranjadas “imperfeições” físicas possam se manifestar naturalmente, da maneira que melhor lhes convier, sem que isso represente um show de horrores ou um espetáculo para cair em lágrimas.
Uma grande amiga, que não tem os dois braços, botou em seu “Face”, meses atrás, uma imagem que fez de mim pensamento viajante: sentada em uma praça de alimentação de um shopping, ela recebia, naturalmente e com um sorriso gostoso, comida na boca de uma criança, que igualmente se abria em felicidade.
Intrigante é que tal amiga é dessas que faz tudo utilizando apenas os pés e a boca. Dirige, trabalha em frente de um computador, diverte-se, reza, enerva-se com injustiças e, ultimamente, prepare-se para trocar fraldas e ninar bebê, vai ser mamãe.
Nas delícias da existência de qualquer um está fingir-se de ser frágil diante de uma criança e está também todo o mundo sentar-se no chão e dar gargalhadas por não conseguir fazer igual à desenvolta Giovanna. Fundamental é ter leveza tanto no estímulo como na compreensão das manifestações mais aparentemente absurdas e prodigiosas das diferenças.
o que dizer da giovanna? minha neta filha da minha filha, eu amo muito essa criança iluminada, que veio para essa familia transbordar irradiar luz e alegria, sua força, sua garra, perceverança e determinação, tão pequena, sempre sorrindo e cada dia se superando mais e mais, só tenho a agradecer a deus, o anjo especial que ele mandou para minha familia. obrigado senhor.
Há temos essa sua grande amiga aí da foto me deixa orgulhosa! Há conheço pouco mais de 20 anos e sei do que ela é capaz!
Que maravilha, Rebeca!
Li sua crônica na FSP hoje. Precisamos entender que existe naturalidade no fazer das pessoas com deficiência, e ao mesmo tempo devemos olhar com naturalidade essas ações.
É isso í, vó! 😉
Não é por uma questão de aceitação, mas do direito de frequentarmos espaços públicos sem questionamentos bobos que sempre vêm acompanhados de abordagens pra lá de constrangedoras, na maioria das vezes, feitas por gente bem limitadinha de raciocínio.
É o viver e deixar viver. Mais uma vez, Jairo Marques matou a pau.
Grande abraço!