Dez dicas de um pai (fresco) cadeirante
Meu povo, resolvi escrever este texto como serviço para futuros pais “malacabados” como eu e que vão viver a aventura de rodar por maternidades da vida. Embora seja uma experiência particular, penso que alguns pontos relatados aqui podem servir para todos:
1 – Mulheres grávidas podem continuar dando suas mãozinhas para maridos cadeirantes normalmente. Afora em uma gravidez de risco, ajudar a botar a cadeira no porta-malas da charanga, uma empurradinha em terrenos íngremes, ajudar a vencer meio-fio não pega naaaaada. O corpo da mulher foi preparado para carregar um menino no bucho e outro pendurado no pescoço, logo, uma cadeira é bico!
2 – As salas de ultrassonografia costumam ser pequenas e dificilmente é possível chegar até a maca onde a mamãe irá se posicionar para o exame, mas sempre há um “cantinho” para acompanhar o procedimento. Hoje, os laboratórios grandes possuem TVs que projetam as imagens enquanto o médico faz o passeio pela barriga da mulher, então, dá para acompanhar tudo de boa.
3 – Programe-se para o “grand finale”. Deixe as ‘malaiadas’ da mulher e do bebê preparadas, tenha à mão o telefone de algum parente ou amigo que possa auxiliá-lo no momento em que a mulher estiver “nelvosa” com as dores e pedir para ir à maternidade.
4 – Geralmente, os bebês dão “sinais” vários antes de nascer (em caso de partos não programados). Observe e converse muuuito com sua mulher. Então, o lance é deixar o máximo de preparação adiantada: gasosa no carro, parentes em alerta, amigos do trabalho avisados.
5 – Visite a maternidade antes. Observe se há acessibilidade pelos caminhos que sua mulher e o seu bebê irão ser levados. Cheque se há “casinha” preparada para o xixo, pergunte se há apartamentos de internação próprios para pessoas com deficiência. A minha experiência foi na Maternidade Santa Joana, de São Paulo. Embora haja condições de acesso, o quarto tinha adaptações sofríveis. Como minha bebê ficou na UTI, também encontrei uma dificuldade básica: lavar as mãos, pois as pias eram bem altas. Reclamei e prometerem melhorar.
6 – Cadeirante entra na sala de parto, sim. Não aceitem frescuras de “higienização” como impeditivo. Converse com a equipe médica sobre o melhor lugar para que você possa ficar sem prejudicar a movimentação do galerê. Avise ao obstetra sobre a sua condição. Não tive nenhuma dificuldade de acessar também a UTI, mas é preciso ter vigilância com as mãos: tocou no aro da cadeira é preciso mandar ver no álcool para garantir a segurança do bebê internado.
7 – Cuidado com o estacionamento do hospital. Na hora da chegada da mulher barriguda já quase dando a luz a seu pimpolho, poucos pensam que podem deixar a alma para pagar a tarifa de horas e horas para que guardem o seu carro no próprio hospital. Para pessoas com dificuldade de locomoção, deixar a charanga o mais perto possível do local é condição básica, mas, prepare-se. No meu caso, que tive de usar o estacionamento por vários dias e várias horas, quase perdi a minha dignidade. O ideal é que um familiar ou amigo deixe você na portaria e procure um lugar de parada mais em conta (embora essa dependência seja terrível).
8 – Observe bem as redondezas da maternidade. Você vai precisar se deslocar por ali em algum momento para comer, ir ao cartório “resistrar” a cria, comprar “maracujina” para a mulher etc. Eu me ferrei de verde e amarelo, pois os arredores do hospital onde ficaram minhas deusas (na Vila Mariana) tinham calçadas pobres, além de a ruas serem terrivelmente íngremes.
9 – Não tirem sarro do tio com essa dica, mas ela é porreta. A mesma almofada de amamentação que a mulher usa para ajudar a dar comida pro bebê, ajuda demaaaais o “estropiado” a ajeitar o filho no colo. Ela dá sustentação ao recém-nascido ao mesmo tempo que dá conforto ao braço do cadeirante. É meio ridículo, mas ajuda, com certeza!
10 – Respire fundo porque vão achar que você não é o pai do bebê, claro. Para isso, é preciso se impor. Ainda vivemos num país que avalia pessoas com deficiência como “menos gente”, então, tome a frente da situação e procure tolerar pequenas gafes. É um momento em que a prioridade é o seu bebê e sua mulher, não a dominação do mundo!
Jairo!Dicas maravilhosas! Tenho certeza absoluta que suas dicas ajudarão muitas pessoas.Enfim, você conseguiu, superou todas as barreiras, algumas com dificuldades,outras nem tanto, mas conseguiu!Que venham muitos outros, filho único é chato…rsrsrsrsrsrsrsrsrsrs
Só um tá ótemoooooo … kkkkk.. beijos
Sensacional, Jairo! Informativo, crítico e divertido. Adorei! Vida longa à pequena Elis… que brinque, um dia, com meu pequeno Raul. Olhaí… vão fazer música! rs rs rs
Nooooosssa, Raul com Elis tá uma bossa icrível ahahhahaha.. beijosss
Tio vc sempre ótimo com seus textos. Estacionamento de hospital é realmente pra chorar pelado.
Ainda vivemos num país que avalia pessoas com deficiência como “menos gente”, então, tome a frente da situação. Essa frase foi mais que um chute na canela.
Tio ótimo final de semana pra vcs 3. Bjss
Mas é isso, mesmo, querida. Se a gente se faz de invísível, aí é que nos escontem e nos escanteiam, mesmo! beijosss
Parabéns, isto sim é atidude!
Abraço!
Suas dicas não servem apenas aos malacabados, até porque o sufoco é o mesmo na hora do vamuvê. Por exemplo: tive que parar no posto de gasolina antes de sair alucinado em direção à maternidade quando o Lucas cismou de nascer antes do combinado. Você notou que está ganhando novos leitores, né? Sua maneira de escrever cativa. Agora, aqui pra nós: dá vontade de pular na jugular de quem acha que cadeirante não pode ser pai ou mãe, né não?
Cada vez mais, negão! É um Kombi supersônica ahahahha… O fato de duvidarem do potencial de parternidade eu, sinceramente, já nem ligo. Penso que estamos vivendo o fim de uma cultura antiga… vai mudar! Abrassss
Elis…. Nome Lindo….
Parabens pela paternidade, suas noites de sono nunca mais serão as mesmas, serão melhores que as anteriores…..
Aêêêêê!!!!!
Essa sua coluna é demais!
Parabéns por explicar para os outros as dificuldades que os cadeirantes têm. E sempre com bom humor!
Obrigado, Roberto!
Adorei!
Jairo, vc já dominou o mundo.
Beijos nos 3
😉 Tamujunto!
Sempre ágil e objetivo além de divertido…morri de rir com essa de acharem que o cadeirante não é o pai kkkk engraçado mar irritante dependendo da situação…uma linda vida nova de você com a Elis…
Um beijo imenso para você, Sô!