A morte do gênio da reabilitação
Minha primeira consulta no hospital Sarah de reabilitação, cravado no centro do Brasil, em Brasília-DF, foi no final dos anos 80, mas a memória dos fatos de chegar ali me são presentes como se os acontecidos tivessem sido na semana passada.
Além do impacto que um matuto do interior como eu teria normalmente com um ambiente tão atencioso, preocupado com o bom atendimento e rigorosamente limpo e organizado, senti o choque da boa acolhida.
Logo em meu primeiro encontro com aquele universo de consertar gente quebrada, conheci o doutor “Campos da Paz”, que morreu ontem, aos 80 anos. Ele dirigia a instituição desde 1960 de uma maneira exemplar para o país e para as pessoas.
Todas as vezes que um caso fora da curva surgia, com alguma complexidade nova, com um grau de comprometimento muito severo do paciente, logo o doutor Campos aparecia na sala de atendimento para olhar, analisar e ajudar em diagnósticos e procedimentos.
Eu era menino, mas entendia que aquele médico guardava algo de genial e de admirável. Estava em todos os lugares do hospital, em todos os dias, nas mais diversas situações.
Em um dos raios-x que fiz na coluna, um ponto de desafio surgiu a meu médico, na ocasião. Para decifrar o que fazer, toca chamar o doutor Campos, que chegou e falou com segurança sobre qual procedimento adotar.
O doutor Campos foi um dos primeiros médicos no Brasil a começar a incutir na cabeça do povão “malacabado” a necessidade de construir novas realidades a partir do potencial do novo corpo lesionado, abatido da guerra da vida, de doenças ou do que fosse.
Aprendei com esse médico que deficiência não tem mimimi e não bloqueia a vida das pessoas, mas, sim, exige uma maneira nova de relacionar com o corpo e com os seus potenciais.
O modelo Sarah, tão ferozmente defendido e propagado por doutor Campos da Paz, transformou e realinhou vidas de milhões de pessoas, muitas vezes sem esperanças de dias melhores.
Gênios não podem ser apenas reconhecidos por suas contribuições científicas, seus dotes de conhecimento acima da média, por suas descobertas. Gênios podem e devem ser reconhecidos naqueles que alteraram positivamente a realidade do “serumano”.
Campos da Paz foi e nos deixa como um gênio da reabilitação.
São os famosos anjos de nossas vidas, que surgem no momento certo na hora certa…
Cara, não conheci esse homem que, pelo post e comentários, foi grandioso. Percebo, entre horrorizado e enojado, que a medicina vem gradativamente deixando de ser uma profissão de fé. Por consequência, a perda de figura tão querida e respeitada representa uma enorme lacuna.
Acho muito grave essa desacreditação em torno da prática médica… é debate que ainda precisa avançar em sociedade, né? Abrasss
Quando se entra no hospital da rede Sarah do Rio de Janeiro (neuro-reabilitação) tem-se a impressão de não estar no Brasil. Uma beleza de hospital, coisa pública do primeiro mundo, em todos os sentidos…E tudo isto devemos ao dr. Aloysio Campos da Paz que ontem faleceu, aos 80 anos…Que Papai-do-Céu o conduza aos campos da paz espiritual…
Texto bonito e emotivo.
Lindo e significativo nome: “Campos da paz”. Que ele seja homenageado, no mínimo com seu nome numa instituição de Saúde. Há pessoas que nascem para a profissão que exercem com amor.
Gratidão por tudo que sou depois da lesão é o que sinto por esse senhor. Ele foi “o cara”. Espero do fundo do coração que a Rede Sarah não se perca, que continue focando na potencialidade do ser humano, que atenda os ricos e os pobres igual, como sempre foi. Dr.Campos da Paz, vá em paz, minha admiração e gratidão à você e seu legado!
Depois dele NAA de novo aconteceu com a ortopedia do pais. O Brasil perdeu agora um grande homem.
No Pais que vivemos hoje governado por homens inescrupulosos e com nenhum comprometimento com o bem social perder “Homens” com este quilate gera lacunas abissais.
Uma perda para o Brasil e para o mundo. Este homem com sua perseverança e determinação mudou o destino de mutilidos por acidentes, cirurgias e doenças degenerativas !
Todo gênio é cheio de manias e muitas vezes ele ñ foi compreendido. Fica o legado de um trabalho sério e possível com verba pública. Serei eternamente grata!