Ir além, no ano que vem
Amanhã eu quero olhar mais longe. Pode ser esticando o pescoço um pouco mais pela janela, até conseguir ver o que se passa depois da esquina, pode ser mergulhando mais alguns metros no pensamento introspectivo que sempre me pega à tardinha.
O ano velho vai deixando o calendário, mas conseguiu fincar na história uma era de imediatismos de conceitos, de opiniões rasas sobre tudo, de insultos dolorosos ao próximo, de confrontos descabidos fomentados pela intolerância.
A capacidade individual de achar sem nenhuma convicção, de protestar por causas duvidosas, de xingar poesias que não se compreendem, de meter o dedo na cara de quem está calado, de espezinhar corações já dilacerados gerou ressaca jamais imaginada para qualquer festa oferecida pela democracia.
Por essas razões, ter um janeiro novinho à frente pode ser chance preciosa para desfazer as malas daquele pessimismo tão gostoso e moderno que se insiste em distribuir para os outros, mas que é tão pesado e perturbador ao roubar o travesseiro da gente.
Pode ser chance de fazer minguar as revoltas contra inimigos tão imaginários quanto desarmados de intenção de guerra. Pode ser chance de apagar uma ofensa gerada pela vaidade de ter a palavra final na primeira rodada de negociações.
Um ano novo permite que se analise com mais atenção os azedumes que vão se engrossando na alma, germinados pela incompreensão daquilo que se reluta em ler, entender e refletir com alguma destreza. Perde-se tempo demais com a ignorância, doa-se abraço de menos ao conhecimento.
O poder de renovação do ano tem cara de bobagem, mas as experiências de conseguir voltar o grão de areia que se imaginava o derradeiro escoado pela ampulheta da vida mostram sempre o quanto é impactante conseguir realinhar o que se considerava prioritário.
Os arrependimentos têm lá seu valor, mas quando se consegue criar a convicção da necessidade de ir além, amanhã, no ano que vem, cultivam-se ambientes menos conflituosos e mais preocupados com equilíbrio de oportunidades e de respeito com as múltiplas representações de “serumano”.
Ir além naquilo que se é, naquilo que se enxerga ao redor, naquilo que se ouve despretensiosamente, naquilo que se sente sem tocar é promessa para 2015 muito mais simples de ser realizada do que perder a pança, do que guardar dinheiro para visitar Aruba.
Ampliar a capacidade íntima de ser melhor, e ser melhor pode ser tão somente ser menos ácido para o próprio estômago, ser menos feroz com sentimentos desprotegidos e ser mais alegre diante do amor, exige somente parar de franzir a testa para tudo o que é novo e acomodar com mais atenção nas ideias o que aparenta estranheza ao primeiro relance.
Ano novo serve para colocar o esmeril para afinar as grossuras de atitude e de conceitos que ferem aos outros e que machucam o próprio íntimo quase sem perceber, no curto prazo. Fazer tudo igual, agir da mesma maneira é uma opção, mas ir além banha a consciência e refresca a esperança de que a vida pode e deve ser bem melhor.
Finalmente algo que eu gostei de ler para a entrada de mais um ano. Mas isso já é um motivo pra eu deixar de ser chata e tentar seguir a sugestão de ir além, e ser mais aberta para as palavras alheias. Gratidão por tudo que você coloca em seus textos e que me proporcionam tantas reflexões coloridas. Feliz 2015.
Ahhhhhh, Renaaaata! 😉
Perfeito! Você é ótimo; Jairo!
😉
Adorei sua crônica, amigo. Feliz Ano Novo. Com olhos novos para perceber a beleza do mundo. Abraços para a sua família.
Abraços para vc tb, Márcia!
Feliz 2015 com as mudanças todas que você propõe no texto, embora algumas, penso eu, são mais difíceis que poupar dinheiro para viajar para Aruba. Que venha 2015!
Uhruuu… que estejamos ainda mais juntos nesse imenso debate de conquistas, Su!
Ir além na felicidade, na saúde, nas coisas boas. Ir aquém no ciúme, na ganância, nas coisas ruins.
Feliz 2016 para todos.
Um abraço e obrigado, Augusto