A pensão da Laís

Jairo Marques

Li, durante os últimos dias, diversas críticas sobre a aprovação do projeto que vai conceder, caso a presidente Dilma “curtir” a medida, uma pensão vitalícia de R$ 4.390,24 por mês à atleta Laís Souza.

O povo tá mais bravo do que cachorro de japonês porque considera um privilégio dar o recurso para a garota ao passo que milhares de outras pessoas com tetraplegia, a mesma condição da moça, têm direito a um salário mínimo, isso depois de muito chorar as pitangas na porta da Previdência.

Penso que, nesse caso, uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa. Costumo ser o “do contra”, mas vejo uma comparação descabida e “nelvosa” demais.

Laís acidentou-se quando estava treinando com o objetivo de representar o país. Laís foi da equipe de ginástica olímpica também representando o país, em busca de glórias para o país.

Desde moleca, ela se dedicou ao esporte até conseguir um status que fez dela uma referência. Então, é necessário tomar alguma maracujina para analisar a questão de forma menos rancorosa.

Sou ferrenho defensor das igualdades de direito, da pluralidade do alcance de medidas de inclusão, do fomento de tecnologia e de pesquisas que atinjam a base e não as “zelites” dos “malacabados”, mas uma nação que se preze tem o dever de reconhecer os esforços de seus expoentes.

O valor humano de um pedreiro que se quebrou todo ao cair de um andaime é absolutamente igual ao de Laís, mas os papéis representados em sociedade e seus impactos são diferentes.

Não vejo um privilégio sendo oferecido a Laís, vejo uma ação que o país deixa muitas vezes de tomar diante de ídolos e de batalhadores que, por razões diversas, acabam no abandono.

Precisamos de grandes atletas, precisamos de bons políticos, precisamos de líderes, de expoentes nacionais, assim como precisamos premiar esforços, amparar aqueles que, por um motivo ou outro, enrosca-se pelo caminho.

Muito provavelmente, com o empenho que aparenta ter e com os esforços que aplica, Laís talvez não precise desse dinheiro e abra mão do valor, em algum momento da vida, quando reconstruir sua realidade, quando voltar a ser protagonista em algum setor a que se dedicar, quem sabe, no próprio mundo dos esportes.

A batalha coletiva tem de ser no sentido que mais pessoas conquistem o direito de receber os “quatro barões”, afinal, como publiquei faz pouco tempo, a vida dos estropiados é caaaaaara que só (clica no bozo que eu explico bozo), mas não vejo sentido em chiar pela fato de querer reconhece e premiar quem tem, sim, pleno direito.

Comentários

  1. Cliquei no link esperando um bom argumento e ainda não encontrei. O comentário da leitora Denise é muito mais rico que todo o seu texto.

    1. Jairo o descontentamento das pessoas não é com o fato dela, mas dos políticos quererem aparecer sobre uma fato que não condiz com o setor público, representar o País é louvável, ela merece investimento, sim, tudo bem que eu não concordo com esse esporte, pois seu grau de risco é iminente, assim como MMA e outros,então o tratamento deveria ser outro e não com o INSS. INSS tem regras, contribuições são necessárias. E para ter esse teto máximo, também, deve seguir regras. Agora, perceba, ela é uma atleta, patrocinada pelo pública e privado, não se trata de insensibilidade, mas você acha justo que tratemos isso de forma diferente do que é tratado um cidadão comum contribuinte? Você Jairo, provavelmente tenha uma previdência privada, assim como outros que se manifestam a favor, mas se coloque na “pele” dos que sofrem, se coloque na pele de alguns pais que tem filhos que sofrem de doenças que não são “curáveis” ou “tratadas” neste País cheio de corrupções, se coloque na pele do cidadão comum diferente de Você, o que me parece. Você quer que as pessoas tenham sensibilidade no que? Respeito todos merecem, é uma obrigação, mas este fato é mais um dos que são descabidos em nossa sociedade, e você está apoiando. Mas sua opinião devo respeitar, assim como você a minha e de alguns, sem narração pejorativa por favor pessoal!

  2. Laís merece todo o apoio. Contudo, a verdade é que atletas que praticam esporte de risco em nome do país deveriam ter um seguro de vida privado pago pela Confederação respectiva. Como todos agiram sem a devida previdência, agora a solução encontrada foi dividir o ônus de uma situação lamentável com todo o país, gerando distorção e desigualdade.

      1. Jairo, concordo com você. A situação da Laís só vem demonstrar como o esporte, fora futebol, não é tratado com consideração e sim de forma meio amadorística no país. Sempre deveria haver alguma espécie de seguro privado aos atletas, pois acidentes não ocorrem só em treinos, disputas, mas também em deslocamentos. Se houvesse real patrocínio e interesse em outras modalidades esportivas, isso tudo deveria estar previsto e incluso contratualmente (especialmente em esportes de risco). Fora a questão de contribuição previdenciária, para ser ter garantida alguma renda vitalícia, mas aqui a coisa é sempre feita no improviso e depois que há um acidente, vira “favor”. Ela é jovem, talentosa e o que o ocorreu com ela muito injusto. Como país temos que aprender a ser mais responsáveis e profissionais de fato, seja o esporte, seja em outros campos.

        1. Denise, o espantoso para mim é que brasileiro adora ganhar, chora por qualquer segundo lugar e cobra dos atletas os melhores resultados, mesmo sem nenhum apoio de fato.

    1. E o fato de uns poucos privilegiados que, por opção, se tornaram inimigos das forças armadas na época da ditadura? Repito: por opção! Primeira coisa que fizeram ao chegar ao poder e dominar tudo: articularam e aprovaram polpudos rendimentos vitalícios às nossas custas. O que você acha disso?

      1. Já pensou se o Batman, o Super Homem e o Homem Aranha resolvem cobrar por seus atos de heroísmo?
        Por que a Laís não pode?

  3. Só que eu pago a previdência social e quando eu me aposentar, se é que vou chegar lá, eu não vou receber referente ao valor que pago, e esta bonitinha está sendo privilegiada ganhando aposentadoria no topo máximo, pelo que vejo sem ter contribuido, nas minhas (nossas) costas, porém quando chegar minha vez vou entrar na justiça para receber pelo que pagueiiiiiiiiii, tomando como base o que foi dado a ela, ou seja, não vou querer ganhar por uma coisa que não paguei.

  4. qual o beneficio o esporte profissional traz a sociedade??? só o atleta é beneficiado!! no caso do exemplo do pedreiro que cai e fica tetraplegico…pq ele que sempre contribuiu com a previdencia teria o beneficio menor ao de uma pessoa q jamais contrbuiu?? Espero q esse caso abra jurisprudencia aos demais cidadãos!!!

  5. Enquanto isso, a Roseana Sarney receberá R$ 24mil de aposentadoria, assim como já recebem outros ex-governadores do país por “trabalhar” pelo povo. E no caso da distinta ex-governadora, a bolada vai ser acumulada com a outra aposentadoria que já recebe…

  6. Se a Laís não pode receber uma pensão vitalicia de R$ 4. 390,24, será que a Sra. Roseane Sarnei pode receber uma pensão vitalicia de R$ 24.000,00 por mês?

  7. SO ME RESPONDE UMA PERGUNTA….SE VOCE TIVER TEMPO….
    ONDE NA CONSTITUIÇÃO FOI SUPRIMIDO O ARTIGO QUE DIZ…..
    TODOS SAO IGUAIS PERANTE A LEI. PODE TER DOIS PESOS E DUAS MEDIDAS?
    E KD A OAB PARA PEDIR A INCONTITUCIONALIDADE DESTA LEI?

  8. Claro que só seria justo se todas as pessoas que tem o mesmo problema que ela recebessem o mesmo valor que foi proposto de uma pensão vitalícia… mas a maioria não tem esse mesmo direito, recebem apenas um salário minimo, e quando recebe ! pois muitas vezes nem isso conseguem receber…

  9. Um assunto tão sério, que envolve dramas humanos e de profundo interesse coletivo, sobretudo de equilíbrio orçamentário-previdenciário, é tratado de forma tão superficial e brincalhona.
    Certamente ps termos “estropiadas, bozo e zelites” não se coadunam com a dimensão do debate.
    Causa-me espécie a Folha publicar um artigo tão superficial.

    1. Júlio, isso é um blog, meu querido… Causa-me espanto alguém com um email da OAB não ter entendimento das distintas plataformas de comunicação.

    2. O nobre articulista está correto, pois o problema é de semântica.

      “…os estrupiados, nelvosos, que choram as pitangas…devem tomar maracujina…”

      Concordo que o blog tem liberdade para tais palavras. Perdoe o meu equívoco. Cordialmente.

  10. bom, se todos os brasileiros, na mesma condição do que a ex-ginasta, tb tivessem esse benefício também não veria problema, mas atualmente o individuo que não tem condições de trabalho tem sua aposentadoria, miseravel diga-se de passagem, indeferida pelos peritos do inss, mas se tratando de brasil não é surpresa esse tipo de coisa acontecer, e o pior, com apoio da imprensa, brasil é um lixo de país

  11. Diante destes acontecimentos eu só tenho a lamentar por Laís e por você Jairo. Eu entendo seus argumentos financeiro e comparativo, nós em que vivemos em um país tão desigual principalmente na política uma coisa é o merecimento e outra coisa estado de direito da sociedade. Você comparou a ginasta com um pedreiro e eu não consigo enxergar o que ela tão quanto mais representativo para o país do que qualquer outra profissão. Pelo que eu sei ela preparou desde pequena e recebia para realizar seu trabalhos de sua profissão de “GINASTA” e desfrutava dos benefícios que a fama o concedia, portanto, ela merece a pensão como todo trabalhador digno e honesto merece, é comovente a situação de vida dela como de todas trabalhadores se acidentaram mas lhe foi concedido privilégio que o trabalhador comum brasileiro anônimo não tem. Meu caro não se confunda merecimento com estado de direito, a luta não tem que começar de baixo para cima e sim ao contrário e ainda principalmente das pessoas de renome nacional que servirá de exemplo para todos.

    1. Cleber, em momento nenhum eu disse que o pedreiro não merece. Disse que os valores envolvidos nos atores sociais são diferentes e quem criou isso não fui eu, foi o próprio sistema em que vivemos desde que o mundo é mundo. Um abraço

    2. Tenho certeza de que Jairo Marques teve boa intenção com sua colocação, mas ela não condiz com o que deve ser de fato e de direito, Cleber está absolutamente certo.

  12. Todos os dias acordo de manha e vou ao trabalho para dar o melhor de mim. De forma indireta a minha contribuição diária é em pró do crescimento do Brasil. A escolha dela foi dedicar-se ao esporte. A minha ao trabalho. Se eu ficasse tetraplégico, por não ser uma figura pública nenhuma pessoa saberia disso exceto a minha família e circulo de amigos. Não pelo fato de ser figura publica deve ter um tratamento diferenciado, pois como ela eu também sou um batalhador. No caso dela o que pesa é a pena de um ser humano estar passando por essa situação, mais muitos brasileiros também passam pelo mesmo e devem mendigar uma pensão e até as vezes morrem sem receber. E agora o que falar da pensão vitalícia da Sra Sarney!!!

  13. Não só é um privilégio como também um absurdo. O q deu errado para ela ficar do jeito q está. Nada é por acaso. Idiotas acreditam em tragédia quando desconhecem o que é responsabilidade. Alguém errou muito para q isto acontecesse. Que ele seja responsabilisado.

  14. Respeito sua opinião, mas sou radicalmente contra. Ela contribuiu para o INSS??

    Se contribuiu, deve receber como os outros.

    Quantas pessoas na mesma situação ganham apenas um salário mínimo.

    Existem planos de previdência para complementar a renda do INSS.

    É preciso parar com a malfadada prática de dois pesos e duas medidas.

    Todos são iguais – ou deveriam ser – perante a lei!!!

  15. Penso que quem deveria pagar esta pensão deveriam ser aqueles que “inventaram ” a moça para competir em algo que ela não estava habilitada e sim despreparada. Atleta de ginástica e não de competições no gelo.

  16. Discordo. A responsabilidade direta de pagar uma pensão ou um seguro deve ser de quem estava patrocinando os treinamentos dela (Confederação? Clube? os pais? alguma emporesa?) e não da Previdência Social. As pessoas tem de ter responsabilidade sobre seus atos, devemos acabar com esta idéia de que a responsabilidade é de todos.

  17. Concordo em partes. Como servidora pública reconheço o direito à Pensão, isso posto por ter sido o acidente em ato de serviço.
    Porém e, para tanto, no mundo dos mortais se por acaso o acidente tiver ocorrido por um um dos pressupostos da culpa: Negligência, imperícia ou imprudência, por parte do servidor, este perde o dito direito.

  18. Sabe, a revolta do povo não é por ela ganhar e pensão e sim ganharem uma pensão de um salario minimo!
    Sinceramente, o processo de conseguir uma pensão é difícil e prolongado! O mérito da Lais é uma coisa, a revolta é outra, contra um governo como nosso.

    1. Flavio, vc chegou em um ponto importante. Já escrevi diversas vezes sobre o martírio que é conseguir garantir esse mísero salário mínimo. Mas, as situações são diferentes. Como escrevi, um fato não anula o outro. Um abraço

  19. Não acho q ela mereça esse pensão pq estava “representando o BR”. Ela estava representando a ela mesma, seu sonho como pessoa e atleta. A representação do país é uma consequência. Ela não estava ali pelo BR, mas por ela mesma.
    Acho q ela mereça uma pensão sim, mas não de 4 mil, mas de 10 mil, como todos os outros tetraplégicos tb merecem.

  20. Totalmente contraditório seu texto. Não dá nem pra saber por onde começo a criticar. E nem estou falando dos pontos que discordo; estou falando dos pontos que você entra em contradição consigo mesmo.
    Já estou cansado dessa conversa fiada de que atletas representam o nosso país e merecem reconhecimento. O reconhecimento que eles merecem é o mesmo que qualquer trabalhador merece: ser remunerado de acordo com os resultados que obtém.
    Depois você diz que é a favor da igualdade, mas defende que somente a base seja beneficiada. Você certamente seria incluído nas “zelites”. Você se acha realmente rico, elite? Você acha que por ter um salário bem acima da média é suficiente pra dizer que você é rico? Eu estimo que esteja mais ou menos no seu patamar de rendimentos e não acho que seja rico. O problema é que, com definição patética do governo de R$2000 é classe média alta, distorce completamente a percepção das pessoas, que passam a achar que R$5000 deve ser milionário. Valor esse que é o corte para todos os programas de governo para deficientes. Pela lei, eu poderia ter requerido a pensão e acredito que seria beneficiado pelo teto, mas implicaria reduzir meus rendimentos e aumentar meus gastos. sim, aumentar, pois eu não poderia continuar trabalhando (é proibido pra quem se aposenta por invalidez), o que me levaria a precisar de mais uma pessoa pra me ajudar – gasto que já me onera bastante hoje em dia. Eu me preocupo, sim, com pessoas com ainda menos condições que eu. Mas não acho justo, por exemplo, que, tendo gastos permanentes obrigatórios com remédios, tratamentos, equipamentos e ajudante, eu não possa levar um nível de vida compatível com as pessoas normais que têm o mesmo padrão de rendimentos que eu. E isso acontece com todos os deficientes, independentemente da classe social. Todos eles vivem abaixo do que seus rendimentos possibilitariam, caso não tivessem os gastos permanentes que temos. Não estou falando de nenhuma utopia, não. Esse espírito de que os deficientes precisam de um alívio nos impostos para equipararem o padrão de vida à classe de pessoas normais com rendimento similar está previsto na legislação alemã, por exemplo. E tem que parar com essa conversa de pobre x rico. Se, por um lado, os pobres precisam com mais urgência, por outro, são os trabalhadores com maior rendimento que pagam a conta. Por isso, o justo é mesmo dar direitos iguais.
    Você defende ferrenhamente os mais necessitados mesmo quando isso não é o mais justo, mas pega bem. Mas abre exceção e defende uma da “zelite” também quando não é justo, mas pega bem.
    A Lais não tem direito a 1 centavo a mais que qualquer outro deficiente teria. Lei criada especificamente para beneficiá-la, quando temos vários problemas a serem resolvidos, é uma afronta à dignidade do deficiente.
    Não, ela não vai abrir mão quando não precisar mais. Talvez ela abra agora, com toda essa enxurrada de críticas. Se passar e as coisas se assentarem, ela vai ficar bem quietinha recebendo. Dia desses li que ela ainda demoraria um mês pra ir ver o pai em casa devido a compromissos com patrocinadores. Não me parece uma pobrezinha necessitada. Na verdade, pelo INSS, ela nem poderia ter outros rendimentos. Mas deve estar recebendo via pessoa jurídica em nome de algum familiar para não configurar que ela trabalhe. Aliás, o ministério público deveria checar isso aí. Fiz comentário semelhante no facebook da Mara Gabrilli, autora dessa excrecência. Podem ver lá outros pontos que listei complementares a esses aqui.

  21. Concordo plenamente com você! devemos ” brigar ” para melhorar a situação geral da população, tirar o exagero que os polícos se auto atribuíram.
    Não é perseguindo pessoas do “bem” que vamos chegar lá!

    1. A que me espanta, Augusto, é que a comoção de parte das pessoas em torno do caso Laís só valeu enquanto era drama. Mexeu em $, a revolta aparece!

  22. As mesmas necessidades que a Laís tem, um pedreiro também tem…igualdade;
    Mas deveriamos ter essa furia toda em relação ao aumento de salários dos politicos, que pouca a midia fala… sem comentário….

  23. Garanto que Ela não queria esse dinheiro,não assim, que ela queria é estar lá na disputa, fazendo o que ela faz de melhor e sempre fez, mas que por hora ainda não pode fazer. Torcemos muito pela recuperação plena dela. E povo como sempre, não todos, claro, mas uma maioria, sem sensibilidade mesmo, sem entendimento, sem empatia, para com o outro, infelizmente.

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