Até você, chef?

Jairo Marques

Meu povo, todo o mundo já está careca de saber que impera no Brasil uma farra em relação ao uso das vagas reservadas por lei a pessoas com deficiências e idosos. O embate entre quem precisa e tem o direito de parar sua charanga nos espaços delimitados com o povo folgado, anticidadão e que “não repara” que está passando os outros para trás é diário.

A gravidade desta questão, ignorada totalmente pelas autoridades de trânsito quando se trata de vagas em estacionamentos de locais privados, como se lá fosse terra de ninguém, é intensificada quando gente que influencia gente, gente com mais conhecimento, gente com status de bom moço também ajuda a passar a mão na bunda dos “malacabados”.

Uma leitora fiel do blog fez o flagrante do carrão importado abaixo, usando sem razão e sem direito uma vaga reservada, no último domingo (14), em um supermercado de bacanas, na avenida Heitor Penteado, na zona oeste de São Paulo.

Carro do chef Atala estacionado irregularmente em uma vaga de pessoa com deficiência

Carro do chef Atala estacionado irregularmente em uma vaga de pessoa com deficiência

O dono do carro é o badalado, estrelado e flambado chef internacional Alex Atala, que justificou aquilo que metade da humanidade justifica quando é pega de calças curtas: “num vi aquela marca ziiiigaaaante e aquele azulão no chão”.

A questão não é fazer nenhuma caça às bruxas, mas personalidades, a meu ver, precisam ter cuidado redobrado em sua relação a ações de cidadania. Grande reconhecimento, grande peso social, afinal, na hora de fazer comercial de margarina dando o aval de seu ‘bom gosto’ aos consumidores e ganhando um belo cachê, ser cidadão bacana conta muitos pontos.

Ou, como diria Stan Lee, o tiozinho que criou o homem-aranha, “com grandes poderes, vem grandes responsabilidades”.

Chef  Atala posando para foto em um de seus restaurantes // Karime Xavier-Folhapress
Chef Atala posando para foto em um de seus restaurantes // Karime Xavier-Folhapress

Atala estava acompanhado de um garoto quando estacionou em um espaço beeeem sinalizado. Mais chato ainda os pequenos tendem a aprender com o comportamento dos adultos… aff…

Bem, abaixo, a nota oficial que o chef divulgou, por meio de sua assessoria de imprensa, ao blog. Já tive a “honra” de ir a um dos restaurantes dele e, pelo menos, quase tudo era acessível (faltava cardápio em braile), agora, “di certeza”, a labuta dos “quebrados” tende a ganhar um grande aliado!

“Lamento muito o ocorrido. No domingo, fui ao mercado para deixar o lixo reciclado e, como o estacionamento estava vazio, me distraí e acabei parando de maneira inadequada na vaga, pois era a mais próxima do depósito de lixo.”

Comentários

  1. Relatar a infração cometida por uma personalidade, apontar para seu significado, citar fontes, fazer considerações, publicar a nota do infrator, ouvir e responder aos leitores. Correto Jairo, corretíssimo.
    (um “Lamento muito o ocorrido. Errei.” teria sido elegante e suficiente)

  2. Alex Atala errou, e se desculpou pelo seu erro,ponto.
    e nem vem ao caso a desculpa dele, se foi para deixar apenas um lixo reciclavel ( aqui ja mostra que ele tem compromisso com a natureza), o que eh um sinal de educacao, apesar de ter errado em estacionar em vaga para deficiente.
    Acho que a gente comete muitos erros diarios em nossas vidas e as vezes nao percebemos…e quando alguem comete um pequeno erro,todos nos estamos ali para criticar(politicos do brasil nao entra nessa regra)…nao estou defendendo o cara, mas pelas reportagens que li sobre ele parece ser um cara 100%, acredito que foi uma bobeira de momento, falta de atencao.
    que sirva de exemplo para todos, sempre respeitar as leis.. ja se desculpou. encerremos o assunto.
    abrco a todos

    1. Se tem uma coisa com a qual me preocupo é: NUNCA estacionar na vaga protegida, e fico furiosa quando vejo alguém utilizando-a indevidamente.

    2. não é legal o cara que vem, dá sua opinião e dá o assunto por encerrado?
      Talvez uma versão mais adequada do seu comentário fosse algo como “alex errou, se desculpou. Por mim está ok”
      Até porque acho estranho essa coisa de lixo reciclado, que foi “casualmente” comentado.

      Acho que o assessor de imprensa dele escreveu algo como “Eu estava indo levar o lixo reciclado para o devido local, após ter passado a manhã toda lavando pés de mendigos. Como a água que uso para lavá-los tem que se reciclada, eu estava com pressa porque ainda tinha que passar na ong onde contribuo para salvar as crianças com câncer pegar mais água para reciclar.
      Enfim, após voltar de uma temporada cavando poços artesanais na África e cuidando de pessoas com ebola, acabo ficando confuso com a sinalização, por isso cometi o erro. Peço desculpas se posso ter causado qualquer problema.”
      Alex achou que ficaria meio forçado e publicou a nota que se lê.
      Não estou dizendo que ele seja um canalha. Mas no caso desse tipo de erro, injustificável, apenas um “desculpa, errei” seria menos apelativo.

    3. Você deveria conhecer melhor o “fofo” do Atala, antes de sair defendendo o indefensável. O cara é conhecido pela arrogância e prepotência, óbvio que longe das câmeras de que ele tanto gosta. Não me surpreendi com esta ocorrência.

    4. Pedir desculpas não apaga o erro cometido, não mesmo! “Parei em vaga de deficiente, desculpas” “Passei em farol vermelho, desculpas” “Roubei, desculpas”… Se essa moda pega, hein? Alias, já pegou?

  3. Sou um brasileiro comum, que tenta, na maior parte do tempo, fazer as coisas corretamente. Não paro em vaga de deficiente, nem de idoso, não furo sinal e dou passagem para pedestres em preferência ao meu carro. No entanto, já furei sinal, já não dei passagem para pedestres e, provavelmente, num dia qualquer, pararei numa vaga de deficiente, dependendo das circunstâncias do momento. Muito difícil ‘ler’ uma pessoa a partir de uma só atitude dela. A minha felicidade é não ser famoso e, pois, não receber um patrulhamento desses, em que o fiscal se regozija em ter flagrado um cidadão de nome fazendo algo que, quiçá, porventura venha realizar uma vez. Não é tão desastroso assim! Desculpe-me: mas desconfio muito de atitudes exacerbadas como esta do sr. Jairo, a qual, para mim, se mostra mais criticável que a do nobre cozinheiro – cujos pratos, num futuro, espero ter a honra de conhecer! Gosto da cara do Atala! Lugar-comum a postura do Jairo!

    1. Marcos, obrigado por seu comentário. Para mim, tb é lugar-comum o seu discurso de que, de vez em quando, não ser cidadão, tá dentro do pacote. Todos os dias, me deparo com “distraídos” ocupando as vagas. Caso houvesse punição, rebocamento do veículo, eu e milhares de pessoas não passaríamos por esse estresse, esse desrespeito, essa humilhação. Dá próxima vez que vc, por distração, passar em sinal vermelho, tente recorrer da multa dizendo ao Detran que vc “cometeu um deslize”, um lugar-comum de comportamento de qualquer pessoa. Quem sabe, as autoridades de trânsito não relevem e até mandem para você um prato de chef, bem gostoso! Abraço

      1. Jairo, nunca passei um sinal vermelho por distração! Mas você está bem acompanhado. Hoje, você e Caetano Veloso são os dois, no Brasil, que nunca passaram!

        1. Eu nunca tomei multa por isso, Marcos, mas já tomei por outras “distrações”. Acontece que não tive a coragem, como te sugeri, de escrever ao Detran pedindo desculpas, para livrarem a minha barra, que nunca mais iria acontecer. Abraço

      2. Jairo, tu é de mais!!! Adoro tua acidez e ironia, própria de grandes pensadores. Tua resposta não poderia ser melhor… poxa, o cara é legal né? Da uma aliviada já que ele até separa o lixo!

    2. Comentário patético! Gosta da cara do Atala? E isso lá é justificativa pra achar que tudo bem o bonitão fazer bobagem? E aí o Jairo é que tá errado? Faça-me o favor! E vai lá ter a “honra” de pagar r$ 400,00 num pratinho chinfrim pra dizer por aí que foi no restaurante do Atala! Afffff

  4. Sou um brasileiro comum, que tenta, na maior parte do tempo, fazer as coisas corretamente. Não paro em vaga de deficiente, nem de idoso, não furo sinal e dou passagem para pedestres em preferência ao meu carro. No entanto, já furei sinal, já não dei passagem para pedestres e, provavelmente, num dia qualquer, pararei numa vaga de deficiente, dependendo das circunstâncias do momento. Muito difícil ‘ler’ uma pessoa a partir de uma só atitude dela. A minha felicidade é não ser famoso e, pois, não receber um patrulhamento desses, em que o fiscal se regozija em ter flagrado um cidadão de nome fazendo algo que, quiçá, porventura venha realizar uma vez. Não é tão desastroso assim! Desculpe-me: mas desconfio muito de atitudes exacerbadas como esta do sr. Jairo, a qual, para mim, se mostra mais criticável que a do nobre cozinheiro – cujos pratos, num futuro, espero ter a honra de conhecer! Gosto da cara do Atala. Não gostei da postura do Jairo!

  5. Quem não respeita idosos e deficientes físico ou mentais, com certeza não respeita e nunca respeitará pessoas normais. E mais, quem não se sensibiliza com as restrições de idosos e deficientes, não tem a menor sensibilidade pelos outros “normais” . acho interessante a folha publicar isso e espero que a noticia se espalhe no facebook e redes sociais para que essas pessoas aprendam a respeitar os idosos e deficientes físicos.
    at rogerio afonso robl

  6. Olá, só passando para avisar sobre um errinho de digitação: “…que está passando os outros para TRÁS é diário…”

  7. Na matéria ” O embate entre quem precisa e tem o direito de parar sua charanga nos espaços delimitados com o povo folgado, anticidadão e que “não repara” que está passando os outros para traz [sic] é diário. ”
    Uai, não seria PASSAR PARA TRÁS ???
    Dá-lhe revisão !!!

  8. Uma das grandes diferenças entre as elites brasileiras e de países desenvolvidos é o senso cívico. Desde o valor de doações, ainda em vida, para o bem da sociedade até o caso que vemos aqui: apenas, veja, APENAS, um profissional bem-sucedido ROUBANDO o direito do próximo.

    Tente colocar da forma que quiser: parar em vaga de deficiente é ROUBO !

    Mensagem para o Alex: nunca mais vou levar clientes nos seus restaurantes. Quando me perguntarem o porquê, vou responder: o dono não é honesto.

    Parabéns pela reportagem.

    1. ACHO INCOMPLETO A LEI, TEM QUE FAZER UM COMPLEMENTO E ADICIONAR A LEI O ADITIVO ABAIXO :

      VAGAS PARA DEFICIENTES FISÍCOS E EVENTUAIS PARAPLÉGICOS MENTAIS!

      SÓ ASSIM SE VAI DAR RAZÃO A QUEM COMETE ESSES DESLISZES.

  9. Tempestade em copo d’agua……se o estacionamento estava quase vazio, nao tinha porque ele parar ali de proposito, claro que foi uma distraçao.
    Esse policiamento constante das pessoas, tentando flagrar passo em falso de gente famosa, jà està ficando chato.

    1. Silvana, o estacionamento poderia estar completamente vazio que, mesmo assim, seria um direito sendo corrompido. É a mesma coisa de roubar um real de um milionário, você acha correto? Tenho certeza que não.

      1. Boa, Jairo!
        Chato é este povo tentando menosprezar o erro.
        É o brasileiro procurando o “jeitinho”, aquele que nos envergonha tanto no cenário mundial.
        Tenho certeza que dificilmente um chef na França, Alemanha, etc, mesmo estando vazio o mercado, pararia numa vaga especial.
        Acorda, Silvana. Acorda, Brasil!

        1. Antonio, confesso a vc que fiquei atônito com essa de acharem “normal”. É que o direito do outro, no Brasil, é sempre menor e menos importante do que o MEU… Cidadania, ainda temos de batalhar muito para que vire rotina.

      2. Nao acho correto, mas eu acredito que foi uma distraçao do Sr. Atala estacionar naquele local, até porque nao faltavam vagas.
        Nao acho que merecia matéria em primeira pagina, serà falta de assunto?

    2. Está na hora de parar com esta infantilizacao brasileira do “eu não vi”, “eu me distraí”, “eu não sabia”. É malandragem e mau exemplo mesmo.

    3. Silvana, queria ver se você fosse deficiente e tivesse que parar seu carro distante da entrada do mercado porque tinha uma pessoa “normal” usando a vaga se sua opinião seria a mesma.
      é obrigação de todos nós seguirmos a lei!

    4. dizer que o estacionamento estava vazio é mais um motivo para não necessitar parar na vaga.
      “só um minutinho”.
      só quem necessita da vaga sabe a eternidade que dura “esse minutinho”. ele errou. todos erram. foi feio ? foi péssimo. mas seria mais sensato, curto e reto assumir essa culpa, se desculpar e bola pra frente.
      o remendo saiu pior do que o soneto.

  10. Desculpe, mas qual “supermercado de bacanas” tem na Heitor Penteado? Moro na região e só conheço o Pão de Açucar, que é uma boa rede, mas dificilmente pode ser considerada “de bacanas”

  11. Boa Jairo. Realmente não devemos descarregar nossas metralhadoras nessas horas antes de saber as razões do ‘forgado’, mas dá uma vontade danada! e o pior é a desculpa. Alguém acredita que o Chef Atala foi em pessoa ao mercado para deixar o lixo reciclado? nesse carrão, ora, ora seu Atala! simplesmente diga: errei, me desculpem.

  12. Desculpe não entendi “:Já tive a “honra” de ir a um dos restaurantes dele e, pelo menos, quase tudo era acessível (faltava cardápio em braile), agora, “di certeza”, a labuta dos “quebrados” tende a ganhar um grande aliado! “

  13. O fato dele ter emitido uma nota oficial desculpando-se já deveria bastar.
    Não vamos demoniza-lo por esse lapso. Certamente ele não fará isso novamente. O pior são os anônimos e políticos constantemente flagrados que além de não terem a decência de de desculparem-se reagem quase sempre com truculência quando interpelados.
    Ah sim! Sou cadeirante e motorista.

    1. Concordo. Foi feio mesmo parar na vaga. Que bom que ele teve a decência de admitir o erro e pedir desculpas. Também acho que, no caso dele, o “lapso” não irá se repetir.

    2. Também avaliei dessa maneira. Acho que a desculpa dada decorre do desconforto do flagrante, mas não podemos nem devemos demonizá-lo por uma falha que, parece, não vai se repetir. Eu quase já apanhei por ter interpelado pessoas cometendo esse acinte, e vejo com bons olhos a atitude desse senhor, ao se desculpar publicamente. Oremos.

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