Mamãe, eu quero!

Jairo Marques

Meu povo, como faz muito tempo que não sou xingado, que não rola uma ‘fight’ nervosa aqui no blog 😳 , hoje quero tocar num ponto delicado e cheio de mimimis desse universo de gente ‘malacabada’.

Parece meio óbvio, mas noto, de maneira cada vez recorrente, que pessoas com deficiência, muitas vezes, avaliam que suas condições físicas ou sensoriais lhes permitem tudo, inclusive aquilo que não é estabelecido por lei ou que não tenha lógica cidadã nenhuma.

“Tio, como assim cê fala?”

Com algum avanço social de conquistas inclusivas, é até natural que as demandas aumentem cada vez mais e se afunilem, tornem-se mais e mais específicas. Quem tem um pouco hoje, quer mais amanhã.

mamadeira

 

Particularmente, penso que ainda há muito o que fazer e batalhar pelo “todo” e que se cada um puxar a corda para um lado, ela irá se esfacelar sem garantir objetivo nenhum. É cedo para trocar os pneus de um Kombi que mal chegou ao Paraguai…. 😮

Sendo mais claro, é necessário uma dose de ‘cemankol’ para alguns grupos e pessoas. Por exemplo: o governo precisa prover maneiras de garantir o ir e vir, mas querer um veículo zero km de grátis é querer privilégio, não direitos iguais.

Exigir uma escola inclusiva, que acolha as diferenças, é cobrar um direito, mas protestar porque o material didático não atende a solicitações extremamente específicas (que as cores dos cadernos sejam azuis, por exemplo 😯 ), já é demais.

kombi

Ah quem avalie que não bastam as instituições privadas terem condições de acesso, cumprirem a lei de cotas e serem inclusivas, elas também precisariam dar condições especiais de horas de trabalho, condução especial, plano de carreira específico.

Tudo pode até ter uma razão de ser, um sentido para o tipo de deficiência, mas criar condições ideais para cada indivíduo é melzinho que será tomado daqui a mil ou dois séculos, e olha lá!

Tenho acompanhado a organização de um forte grupo de cegos pelas redes sociais. Eles têm se revoltado contra tudo que não esteja de acordo com necessidades pontuais. E sai da frente porque alguns são ásperos no verbo e, qualquer vacilo, da-lhe bengaladas.

Evidentemente que sou da linha de frente pela inclusão das pessoas com deficiência visual, mas entendo que muito desse universo precisa ser entendido pelos ‘videntes’, precisa fazer sentido dentro de um contexto que englobe a todas as pessoas.

folgado

Esbravejar porque não teve privilégio em uma fila onde todos eram doentes, cobrar que um político não deu atenção ao SEU pedido, cobrar colinho em terra de crianças é falta de bom senso, é derrotismo.

Cobra-se dos outros, de setores sociais, de governos demandas de acolhimento, de aceitação e de ajuda que devem ser de responsabilidade da própria pessoa com deficiência e de suas famílias.

Afora os casos em que há total impossibilidade do indivíduo de exercer sua cidadania, suas funções vitais básicas, é preciso se apoderar da própria vida e buscar suas conquistas, batalhar para ter uma condição melhor, equipamentos melhores, como qualquer cidadão.

Se, de fato, queremos abandonar o rótulo do coitadinho, do amparado eterno da assistência social, é necessário avaliar com mais imparcialidade e mais seriedade os direitos que lhe cabem, os deveres que te competem e os mimos que se deseja realizar.

Bom final de semana!

 

 

 

Comentários

  1. e se estão insatisfeitos tem mais, os Monoculares e Monossurdos que querem o direito de serem considerados pessoas com deficiência só para terem direito a comprar um carro zero e entrar nas vagas para pessoas com deficiência. Isto eu ouvi do presidente da associação nacional dos monoculares que não ficou nem um pouco constrangido de admitir a intenção deste grupo. pior que nossas instituições representativas estão quietas com relação a isto. Moção não adianta nada, é preciso valer a convenção e pronto para proteger aqueles que realmente necessitam de políticas públicas.

  2. Oii tiooo…concordo com vc…mas axu que em alguns casos a responsabilidade e função de incluir, por exemplo numa cidade fica na mão de pessoas totalmente desentendidas do assunto, é aí que fazem merda! Acabam nos excluindo pra incluir, tomando atitudes que não funcionam e ainda dificultam. Que constrangem a pessoa com deficiência. Não queremos separação ou privilégios, queremos igualdade de acesso, de saúde, de educação. Infelizmente o mundo ainda não entendeu o significado da palavra incluir. bjs

    1. Karol, infelizmente, ainda, as pessoas escolhidas para fazer por “nós”, às vezes, não sabem naaaaada do nosso universo… Então, vc está certa… é preciso protestar, brigar e cobrar

  3. por essas coisas é que eu gosto muito de você, amado Jairo. Informacao, clareza e coerencia…cuidado com as bengaladas kkkkk

  4. Jairão!!! Senta a vara, o que tem de cego folgado não tá no gibi.
    Como você já sabe, sou cego.
    Estou de saco cheio dos cegos que só sabem dizer… É meu direito!
    Mas cumprir com seus deveres… Não, isto não posso. Como vou fazer isso sem ver?
    Bando de folgado!
    Se aparecer algum para lhe atacar, conte com meu apoio para o grupo de defesa!
    Abração!

  5. Pois é Jairo, eu como idoso tenho alguns ‘direitos’ a mais que os mais jovens, mas não privilégios, ainda assim algumas vezes abdico desses ‘direitos’ por achar que naquele momento eu posso me virar perfeitamente sem precisar deles. Mas de fato há pessoas bem ou malacabadas que se acham com mais ‘direitos’ que os demais, ou acham que podem ter privilégios…
    abração e BFS.

    1. Com certeza, Ronaldo, direito não é privilégio! Direito é para igualar, direito é para que vivamos de forma mais equânime em sociedade! Grande abraço

  6. Muito bem! “minino bão” falou e disse. Tudo questão de bom senso. Eu que não acordo 5:30 da madruga e vou pra guerra não, do céu só cai chuva e às vezes ácida. Eu só quero ser feliz , andar tranquilamente na favela onde eu nasci… kkkkkk
    Bora para o mundo, estando do jeito que tiver.
    Beijos mineiros nocê e na lindeza da Thais.

    1. Rita, vc escreveu algo que vai “na veia”: temos de madrugar, ir atrás, igual a qquer outro trabalhador, num é? Bjos

  7. Mandou bem Jairo, já presenciei isso algumas vezes, pessoas usando a deficiência como justificativa para tudo.
    Acho triste pois acredito que isso só faz crescer ainda mais o estigma que mtos de nós deficientes detestamos…o “coitadismo”.

  8. Tocou na ferida, Jairo. Não sei se aparecerá alguém pra lembrar a turba de só atirar a primeira pedra aquele que nunca errou, mas prometo ficar do teu lado dividindo as dores das pedradas. Nunca vi qualquer sentido no fato de o carteiro, o gari, o motorista, a faxineira do meu prédio ou o pedreiro que veio consertar minha parede pagarem impostos para que eu possa ter um carro novinho, sem impostos, só porque meu filho é autista. Mas o que tem de gente que acha justo, daria pra eleger o Romário ao Senado (que, aliás, também pode usar do mesmo privilégio que eu, vejam só). Tô contigo nessa, e nas demais também.
    Abraços

  9. Fantástico, Jairo. Equilíbrio é necessário em todas as esferas da vida, principalmente nas reivindicações. Sou cego e, numa boa, o tal grupo que você menciona está queimando nosso filme.

  10. Esse é o ponto que eu tenho mais comentado nos últimos meses da minha dominação do mundo!!!

    Outro dia, pipocou um vídeo de um ser quebrado super arrogante e sua labuta para sentar no avião e ele dizia entre outras coisas que ele não pede ” ele exige” … ahhhh vá te catar e ler a lei cara! hahaha

    Bjs tio na muié e nas crianças

    1. Fafá, tava com xodades dos seus comentários… vc tocou num ponto delicado… tenho dúvidas sobre aquele precedimento tb… kkkkkkk bjos

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