Desbravador do Cerrado
Tenho mantras em prol do domínio do mundo pelo povão ‘malacabado’ que os leitores mais cativos deste espaço já sabem reproduzir logo aos primeiros “acordes”: em um país com as dimensões e problemas do Brasil, promover acessibilidade a partir de cidades pequenas pode surtir um resultado “maraviwonderful” e mais rápido.
Um outro é que, sem iniciativa e esperneios das próprias pessoas com deficiência – mesmo com dores, um bocadinho de humilhação (ui) e domínio do que são seus direitos- precisam sair às ruas, mostrar a cara e exigir inclusão.
Por essa razão, quando esbarro com histórias de gente que ostenta essas bandeiras com vigor e praticamente sem apoio, pois estão isoladas em confins do país e lutam praticamente sozinhas com seus cambitos finos, escutador de novela avariado ou não vendo um elefante passando a frente do nariz, vibro e faço questão de trazer aqui para o blog.
“Sou vendedor de kits escolares e percorro o interior do país dirigindo por cidades muito pequenas. Sou de Goiás, mas já devo ter rodado por todos os Estados do país dirigindo. Tenho distrofia muscular de cintura e devo ser o ‘exemplar’ com a doença que mais dirigiu neste pais.” 🙂
Quem faz essas jornadas todas é o cadeirante (que tem uma cadeira nem tão levinha e moderna) Claudio Roberto Cunha, 39, que enfrenta uma realidade que pouquíssimos “malacabados” teriam disposição, coragem e fôlego para enfrentar.
“Minha esposa me acompanha estrada afora. É companheira para tudo. Enfrento todas as dificuldades possíveis. Os hotéis em cidades muito pequenas não estão preparados para deficientes muito menos a estrutura urbana. No interior do Nordeste, já fui a localidades onde as ruas eram totalmente feitas de pedras. Nem eu acredito.”
Não, não vejo o Claudio como um “exemplo”, vejo como um desbravador do Cerrado que vai abrindo caminhos, com seu esforço, para que outras pessoas possam sair de casa, possam ter direito ao espaço público e à cidade.
Alguém pode estar pensando: “Caraca, mas porque o cabra não escolheu algo mais tranquilo para tocar a vida?”
Penso que, muitas vezes, os rumos da gente não é somente uma questão de “escolha”. Outra: se ele tem talento para as vendas, se o que ele precisa fazer para cumprir suas metas exige esses desafios, bora seguir adiante, uai! A vida é mais dura para quem é muito mole, né, não?!
“Trabalho com essas vendas ‘porta em porta’ há três anos. Rodo pelo menos 150 quilômetros por dia. Já percorri todas as cidades de Goiás, parte do Tocantins, do Maranhão, o Pará, a Bahia, São Paulo, Minas.
Penso que, nos grandes centros, a aceitação das pessoas com deficiência é maior, as pessoas estão mais acostumadas com a diversidade. No interior, há muito estranhamento quando veem um cadeirante trabalhando.”
O programa “viver sem limites”, do governo federal, dispõe de recursos para quaisquer administrações apresentem projetos de acessibilidade, bastando apresentar um projeto e cumprir trâmites burocráticos.Ponto importante que já reparei e comentei aqui no “ACV” é que há cidades que pegam a grana, enchem suas regiões centrais de rampas e vagas de estacionamento para deficientes e acham que ficaram grandes avanços. Não, é preciso planejar, discutir prioridade e, principalmente, ouvir o público mais atingido.
“Como trabalho diretamente com escolas, posso dizer que até existem algumas, no interiorzão, com acesso, mas várias ainda não possuem. Como já disse, hotéis são um problema. Já tive de procurar pouso em outra cidade, fora daquela que eu estava trabalhando, para conseguir usar um banheiro, dormir”.
Claudio tem duas filhas, uma de 20 anos e outra de 17 anos, mora em Morrinhos (GO) e já ficou com o carro parado na estrada por várias vezes durante suas jornadas.
“A minha sorte é que o brasileiro é solidário demais. Quando veem um motorista cadeirante com o carro quebrado na estrada, não tem jeito, param, ajudam e dão todo o apoio.
Meu sonho, agora, é ir dirigindo até o Chile, onde existe um grande centro de tratamento para o meu tipo de distrofia. Mas, até lá, sigo minha vida muito feliz ao lado da minha espaço, da minha família e do meu traballho”.
Ahhhhhhh, zente…. falaí se num é uma história gostosa para começar a semana!?!
Forte é aquele que não se dobra ás dificuldades da vida!Não quer ser exemplo, nem modelo o Cláudio. Que seja inspiração e Lembrete às autoridades responsáveis pelas cidades.
poderia ser mais um reclamante de aposentadorias,mas esta ai dando um exemplo de coragem e determinação para seus filhos e para todos nós,parabéns ao vendedor de bons exemplos e ao vendedor de noticias.
Guerreiro com guerreiro fazem zig, zig za.
Bela matéria!
Gostei bastante tb, Ronaldão! Abrasss
Ótima história sim, Jairo Marques! Nosso desbravador não dramatiza sua situação para contar sua vida de luta! E que esposa, hein!!!
O jornalista também está de parabéns, contando a história de forma simples, educando (não sabia do programa federal “viver sem limites”) e fazendo nos sentir próximos de Cláudio Roberto.
Ôh, Leo, muito obrigado! Fraterno abraço!
É verdade Jairão, não temos que ter dó não desse cabra valente e guerreiro e sim orgulho de saber que nos cadeirantes podemos fazer qualquer coisa para ganhar honestamente o pão de cada dia, parabéns Claudio Roberto, você é o cara.
Muito orgulho, Zézim.. muito!
Adorei a historia do Claudio, é um sonho trabalhar viajando mas um pesadelo quando temos que encarar a dura e concreta realidade de um pais defciente!! Parabéns Claudio pela força de vontade e coragem!! Tamu junto nessa jornada!! 😉
😉