Cuidados no desespero

Jairo Marques

“Zimininos”, é bem ‘complicoso’ ter de travar essa discussão, uma vez que ela mexe com sensibilidades diversas do povão que não anda, não escuta, não vê e nem nada 😛 , mas vamos lá, vamos tentar informar.

É muito natural que, no começo de qualquer desgraceira na vida que vá gerar uma deficiência -ou no curso dos desdobramentos dela- o povo “malacabado” e seus familiares queiram tomar decisões que vão ter implicações por muuuitos anos.

Essas decisões envolvem procedimentos médicos, maneiras de levar a vida, atitudes financeiras ou de gestão do dia a dia, comprometimentos com instituições de auxílio entre outras medidas.

“Tio, cê bebeu rabo de galo no findi? Tô entendendo é nada”

Suponhamos que uma pessoa seja vítima de um acidente ou enfermidade que comprometa seriamente seu “sistema xixizal”, que a pessoa passe a não contar mais com a habilidade de urinar da forma natural (com o bingolim ou com a perseguida 😯 ) …

Nesse momento, soluções as mais variadas podem surgir como opção para “facilitar o xixo” do brasileiro. Existe, inclusive, um procedimento chamado ‘ vesicostomia’, que consiste na abertura da parede do abdome, chegando até a bexiga. Para aliviar, então, toca mandar brasa num “canudinho” ali nesse canal.

É preciso analisar muito criteriosamente, com os médicos, se o procedimento é mesmo a única saída, afinal, o “furo” ficará na barriga para sempre.

No intuito de facilitar o dia a dia hoje, pode se comprometer algo para o futuro. Evidentemente que deve haver casos em que apenas o tal procedimento vai resolver a situação, mas sei bem que a proposta do “comodismo” é sempre apresentada para quem tem uma deficiência.

cuidado

O choque quando se está em uma situação limite, vulgo, a casa está caindo 😀 , pode cegar a razão, pode encaminhar a gente para decisões que não estamos devidamente seguras para tomá-las.

A publicitária Lak Lobato, conhecida de todas as horas aqui do blog e autora do “Desculpe, não ouvi”, tomou a decisão de fazer uma cirurgia de “implante coclear”, que é bastante invasiva, mas que mudaria a vida auditiva dela positivamente.

Para isso, ela pesquisou, pensou, foi atrás. Apenas a “promessa” de ter mais qualidade de vida não foi suficiente para que ela seguisse em frente com a ideia, que pode servir ou não a uma pessoa.

Deficiência deixa o cidadão muito vulnerável. Todo mundo quer “voltar a”, todo mundo quer a chance de se “igualar à normalidade” dos outros, então, as propostas que seduzem a melhorar o quadro sempre são tentadoras.

Cabe a cada “estropiado” buscar a fundo informações, pesquisar, conversar com outras pessoas antes de tomar decisões, por mais urgentes que elas possam parecer. Toda pessoa com deficiência sabe o quanto os outros teimam em achar que sabem o que é melhor para elas e o quanto os outros querem tomar decisões por elas….

Isso pode ser desastroso, sobretudo quando crianças são os “alvos”. É legítimo que os pais queiram buscar o melhor para seus filhos, mas isso também deve ser analisado com cautela, com profundidade e com noção de tempo. Aquela medida é boa para aquele momento ou para a vida toda? Uma possível dor valerá a pena? É mesmo necessário tomar a atitude agora?!

Por mais absurdo que pareça, até no desespero precisamos tomar cuidado… cuidado para fazer a coisa mais certa possível.

Comentários

  1. Muitas vezes passei por essa dúvida quanto o melhor a ser feito… Tem hora que a gente pira. Numa situacão grave e de urgência, ouvi opinião de cinco urologistas, cada um recomendou um procedimento diferente!
    O próprio nascimento foi difícil escolher onde, com qual equipe médica, qual orientação seguir. A gente fica sabendo que o bebê nascerá com mal formação, sem nem saber o que é tubo neural! O pior é quando você descobre que o médico que está te assistinso, parece saber menos ainda…
    Beijoka!

    1. Monikita, infelizmente, essa realidade é generalizada. Por isso, a boa medicina precisa envolver equipes com multiplas especialidades… beijosss

  2. Concordo com a Lak. Primeiro trata-se do emocional da pessoa e depois, ou concomitantemente, o que deve ser tratado fisicamente, pois o def. que ficou sem poder fazer as necessidades fisiológicas deve ver isto, senão a coisa fica pior do que pior, mas mesmo assim, deve se procurar o melhor caminho e para isso, conversar com o médico e ver qual a melhor solução para aquela emergência e depois procurar o que fazer com mais calma e equilíbrio emocional. Bjs e boa semana.

  3. Antes de buscar a cura, é importante tratar a ferida emocional que foi aberta. Lidar com a dor não é fácil, mas é a primeira e mais importante etapa de todas. Não só da pessoa acometida pela enfermidade/deficiencia, mas a família toda que acompanha o drama.
    Essa deveria ser a prioridade dos médicos. Depois, quando o coração já tiver parado de sangrar, procura-se uma cura… ou pelo menos, o mais próximo dela. Minha dica, de quem passou por isso.
    Beijinhos sonoros

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