Não tem rampa

Jairo Marques

No final de semana, assisti a um vídeo que mostra o sufoco de um cadeirante no Paraná ao tentar atravessar uma via que não possuía rampas. Ele precisava vencer duas pistas, chegar ao canteiro e atravessar outras duas faixas de rolamento.

Convencido de que seria “complicoso” demais a travessia, após alguns minutos tentando pensar em uma saída, ele resolver apelar e pedir socorro aos motoristas que passavam pelo local para darem a ele uma “mãozinha”.

O vídeo é bem simples, meio rústico, longo, mas tem uma mensagem que fazia tempo não me incomodava tanto: o quanto a ausência de planejamento urbano, visando a acessibilidade, prejudica duramente a vida das pessoas com deficiência. (Para assistir, clique no bozo bozo).

Digo que fazia tempo eu não sentia o “impacto” porque, pelo fato de eu ter hoje uma condução (uma Kombi veia 😎 ), ser privilegiado de ter um bom emprego, poder parar em locais onde sempre tem alguém para me dar um ‘help’, às vezes, foge de mim a situação crua.

A realidade ainda é a que o “Pastelzinho”, o camarada cadeirante do vídeo, exibe e relata: rampas de acesso ainda são “esquecidas”, o direito à inclusão ainda é relegado e o povo “malacabado” ainda é humilhado ao tentar “caminhar” pela rua.

Para quem anda normalmente, talvez, o absurdo da situação não seja sentido com todo o asco que ele tem poder de provocar. Saber que sua vida é paralisada por meio metro de concreto em desacordo com a lei, provoca uma sensação de impotência desconcertante.

Quando o poder público ou um comércio, estabelecimento privado não dão condições amplas de acesso (ou mesmo algo simples, se for o caso, como UMA rampa), está se apartando seres humanos do básico, que é poder desfrutar da LIBERDADE de ir e vir.

Apartar um “serumano” da capacidade mínima de ter autonomia, um dia, ainda vai ser considerado crime grave tamanho o desassossego, a angústia e o abalo que provocam em gente que só busca o que é básico do viver.

Comentários

  1. Simplesmente revoltante. O Pastelzinho era um ‘serumano’ cercado de desumanidade por todos os lados. Na rua, na calçada (pedra portuguesa???), no tal teatro do absurdo, meus amigos paranaenses ficam titica comigo quando digo que a Curitiba modelo é lenda. Mas é.
    Tio, você notou que meu blog voltou de roupa nova, plataforma WordPress e domínio próprio? É, tô metido. Criei uma aba específica para esculachar quem acha que acessibilidade é só uma palavra. Também para indicar os lugares legais. Quando der pinta lá, tá facim de decorar o endereço: http://www.blogdonegao.com.br . Ainda tem algumas paredes pra pintar, mas já tá em pleno funcionamento.

  2. Jairo Querido,

    Como vai?
    É só para te lembrar e insistir num pedido que fiz algum tempo atrás.
    Inclui no seu blog questões relativas às PcD psicossocial (PcDPsi), ok? Se quiser umas dicas, me diz. Trabalho ‘nesta praia’ há vários verões
    Abraço,
    Teresa

  3. Olá Jairo, Como já escrevi outras vezes, sou cego, e por motivos óbvios não pude ver o vídeo.
    Agora vou lhe dar mais um exemplo de como estas travessias são mal planejadas.
    Na ultima Segunda feira fui atravessar a Av. Maria Paula, esta que está nos noticiários hoje, por causa dos protestos na Câmara dos Vereadores. Na faixa de pedestre que existe em frente a Federação Espírita, na passagem pelo canteiro central há um poste de iluminação. Minha BMV (bengala meio velha), não encontrou o dito cujo, mas minha testa, que está ralada, e minha clavícula, que está com hematoma, encontraram…
    Citei isto só como exemplo para lembrar do quanto faz falta a prática do chamado (desenho universal). E neste caso bastava um pouco de bom-senso de quem fez a obra.
    Um abraço e até mais!

    1. Dorival, “bom senso” quando se trata de urbanismo nessa cidade parece que é algo que não existe, viu?! Por isso, temos de bater bumbo… abraço!

  4. Tio, ando cansada disso tudo. No meu bairro, a maioria das novas calçadas estão sendo feitas com rampas íngremes. Quando converso com o proprietário, ele se limita a dizer que o pedreiro disse fez de acordo com as normas da prefeitura. Argumento que é impossível a prefeitura ter como padrão uma rampa em que o cadeirante não tenha a autonomia de subir sozinho. Convido o cidadão a sentar numa cadeira e fazer um teste… É muito comum também fazerem a calçada, sem estar nivelada com as calçadas vizinhas e ficar aquele morrinho para subir. Outro dia Wag tomou um capote numa toda esburacada e machucou bastante o cotovelo. Já fiz muitas reclamações na prefeitura, mas não dá pra ficar toda hora abrindo protocolo e depois cobrando…  A vida é uma correria… Sabe, tio, agora tô deixando um pouco pela consciência das pessoas, sem me stressar tanto. Eu creio, que só passando pelas dificuldades de uma pessoa com deficiência, é que esse tipo de gente vai entender que tudo tem que ser para todos. Seja nesta vida ou em outra. Bjk

    1. Monikita, sofrer um acidente em uma calçada particular é passível de ação por danos materiais e morais. Claro que é desgastante, claro que é humilhante, chato… mas, esse é um caminho para forçar uma mudança de mentalidade.. beijosssss

  5. Comecei a ler teu blog faz pouco tempo, menos de dias, e gostei bastante. É bom ver alguém defender e dissertar sobre as nossas causas.
    E de fato, em termos de estrutura acessível o Brasil, para mim pelo menos, é uma grande frustração.
    Essa falta de acessibilidade só me mostra o quanto somos individualistas, porque já na construção de uma calçada não se é pensado no todo, e sim numa grande maioria.
    Enfim, adorando teus textos, um grande abraço.

    1. Que bom, Paloma!!! Tem muuuita leitura nos arquivos… Espero lê-la mais nos comentários… beijocas

  6. Jairo, isso em Curitiba, considerada cidade modelo para o restante do país. Imagine então nas cidades ‘normais’, ou seja, as demais cidades, ai sim as coisas devem ser muito piores… isso quando temos calçadas, por que em muitos locais nem isso tem. Acho que vai demorar muito para atingirmos um nivel pelo menos razoável de civilidade.

    1. Ronaldo, é é justamente em cidades menores onde o problema pode ser solucionado com mais rapidez e efetividade, não é? Abrasss

  7. Apenas acrescento que não é qualquer rampa, tem que ter inclinação adequada e sinalização podo tátil. Chega de escorregadores nas escadas, beijos.

  8. Assisti um pedacinho do vídeo e a situação é beeeeemmmm ruim. Até pra quem anda. Eu tenho medo de andar numa calçada daquele jeito.
    É, a situação tem de melhorar. Tem de ter leis mais rígidas, mas pra quem? Aquela calçada é do governo! A sociedade tem de tomar consciência de que TODOS tem direito de ir e vir sem necessidade de se humilhar, passar por constrangimentos etc., porque TODOS são como eles (sociedade). É duro, muito duro. Bjs.

    1. Seria muito simples. Mas, ainda estamos no nível de explicar a razão de ter de haver rampa, vaga especial, acesso… abrasss

Comments are closed.