O Dia Down

Jairo Marques

 

É de dar orgulho a força que o chamado “movimento down” conseguiu aplicar no país para conseguir o início de um amplo processo de mudança de imagem, aceitação e discussão pública.

Não faz muito tempo, o down era aquele primo distante “mocoronga” super querido, mas incapaz de fazer tudo porque era doentinho, coitado e sorridente demais.

Hoje, só pensa assim quem não tem a coragem de se informar minimante, quem tem lá seus preconceitos ou que acha que não deve “mexer com isso” e prefere ficar coçando o umbigo em tarde de chuva.

Pessoas com a síndrome de down estão na TV, nas ruas, no trabalho, casando, causando, fazendo filme, fazendo arte, batalhando por seus direitos. 

Grupo de pessoas com síndrome de down participa de oficina de cabeleireiro, em São Paulo  Cred. Fábio Braga-Folhapress
Grupo de pessoas com síndrome de down participa de oficina de cabeleireiro, em São Paulo
Cred. Fábio Braga-Folhapress

 

Em um processo intenso de estar presente, de apoiar manifestações, de sair às ruas, de cobrar direitos, de exigir espaço em sociedade, vítimas da síndrome deixam guetos, deixam seus terreninhos para ganhar a dimensão do mundo.

Sempre defendi que as discussões em torno da deficiência intelectual tinham dimensões para andar em paralelo com as das pessoas com deficiência física e sensorial. É preciso conhecimento, vivência e aprofundamento para tratar delas.

Por essa razão, meu atrevimento é sempre breve para colocar esse povo na minha Kombi rumo ao domínio do mundo. Mas, as batalhas por inclusão das duas causas são parceiras de primeira hora, evidentemente.

Porém, aderir positivamente para que se avance mais nessa mudança de mentalidade sobre os ‘zimininos’ com um cromossomo extra está ao alcance de “nóis” tudo.

Edmilson Luiz Lourenço, de chapeu preto) que já estudou dança,  ao lado do amigo Caio De Castro Zanzin, que estudou teatro. Ambos preparados para o trabalho e para pleno convívio social Crédito: Joel Silva/ Folhapress
Edmilson Luiz Lourenço, de chapeu preto) que já estudou dança, ao lado do amigo Caio De Castro Zanzin, que estudou teatro. Ambos preparados para o trabalho e para pleno convívio social
Crédito: Joel Silva/ Folhapress

 

Você ajuda quando não trata uma pessoa com down como um imbecil, mas, sim, entende que ela tem outro ritmo de pensar, agir e se manifestar. Você ajuda quando não faz a pessoa com down de tonta achando que ela é incapaz de tudo.

Você ajuda quando não julga, quando defende o direito às diferenças, quando não equipara o seu modo de ser feliz e viver com o dos outros.

Pedro faz body boarding em praia do Rio. Molequinho manja de onda! Crédito: Luciana Whitaker/ Folhapress
Pedro faz body boarding em praia do Rio. Molequinho manja de onda!
Crédito: Luciana Whitaker/ Folhapress

Falta um queijo e uma rapadura para uma integração plena aconteça e que eu possa escrever sem que ninguém se melindre que o povo “tchuberube” e o povo “malacabado” estão em festa porque, finalmente, o “serumano” entendeu que a diversidade é divina, ensina e agrega.

Mas é importante demais seguir empurrando com força essas ideias para a frente.

Um abraço apertado para todas as pessoas com down e para suas incansáveis famílias, no Dia Internacional da Síndrome de Down… Tamujunto!

Comentários

  1. Não gosto dessa denominação “down”, apesar de saber que se trata de um tributo ao médico que primeiro escreveu sobre a síndrome, John Langdon Down, 99 anos antes do meu nascimento. É que há aquela palavrinha inglesa que muitas vezes é associada à síndrome, como se os zimininos estivessem precisando de preconceito. Mas, vá lá: no colégio onde meu filho estuda há um aluno com síndrome de down, faz o oitavo ano e leva na boa. Luquinha está fazendo o sexto ano e tá cortando um dobrado pra manter as notas, a coisa lá é punk, o que me leva a concluir que o garotinho do oitavo ano não tem nada de diferente ou deficiente. Ainda não cheguei a abordar ninguém a respeito dele, porque tenho medo de ferir suscetibilidades, mas já vi algumas vezes seu pai apanhá-lo na saída e é nítido o carinho entre ambos. Uma boa fórmula, eu acho.

  2. Querido amigo, ninguém melhor que você para redigir um texto autêntico sobre o Down. Não encontramos lamentações enferrujadas em baús de mediocridade. Sabes que sou mãe de Heitor, com síndrome de Down? Embora ele seja batizado que tal sermos “cumpadre” virtual? Detalhe: meu filho é dos anos 80 qd.
    tudo era ocultado menos Heitor. Arregacei as
    mangas e fui à luta. Dentre tantas buscas
    consegui que a Patologia Down fosse matéria nas Faculdades e Universidades de
    Medicina. Deu tão certo que hoje temos PH
    na área Down. Tem lido nosso textos no
    blog? Veja lá: “Policia Federal X Dilma” bjs.

  3. Muito legal essa matéria, a luta deles deveria servir de exemplo pra todos nós, se quisermos mais respeito e melhores condições de acessibilidade.

    Eles são uns amores, tenho dois amigos muito fofos. Aqui em Santos tem um rapaz que já tem 2 cursos universitários.

    O amor não conta cromossomos, essa é que é a verdade, precisam é de estímulo para vencerem os obstáculos.

  4. Há muitos down que já se formaram em faculdades. Tem muitos que estão em escolas comuns, que trabalham e que levam uma vida comum, o que não acontecia a alguns anos antes. Eles, a família e outros conseguiram muitas coisas, avançaram muito, mas precisa de muito mais conquistas, como os defs. físicos, visuais e auditivos.
    Mudando de assunto, eu escrevi um coments no texto anterior, mas não foi. É o seguinte: se metade das leis fossem cumpridas, eu, pelo menos, estaria contente. Mas não. O governo atira migalhas que não refresca em nada a grande maioria dos mal-acabados. Penso que as autoridades deveriam fazer valer as leis já existentes, o que não é feito. Dá uma vontade de manda-los para pqp! Desculpe-me pelo palavrão, mas é o que eles merecem. Bjs.

  5. Na matéria ” Porém, aderir positivamente para que se avence (sic) mais nessa mudança de mentalidade sobre os ‘zimininos’ com um cromossomo extra está ao alcance de “nóis” tudo. ”
    Uai, o que é AVENCE ???

    1. Vou corrigir, “professor”, embora dê claramente para notar que houve um erro de digitação… abraço e obrigado

  6. Jairo, que bom que a humanidade hoje vê os “zimininos” com o cromossomo extra, com outros olhos. Ainda temos um longo caminho a percorrer, mas ver esta meninada aí, atuando, casando, trabalhando, fazendo tudo que querem e são capazes de fazer e motivo de muito orgulho e alegria. Eu também deixo aqui, um abraço para todos os downs e suas famílias!! Tamujunto!

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