O Oscar dos velhos
Velho é teimoso, velho reclama de tudo, velho é ultrapassado, velho dá trabalho, velho quer aquilo que já não pode mais devido ao avanço da idade. Neste ano, três filmes que concorreram a estatuetas do Oscar colocaram em evidência, de maneira marcante, conceitos atribuídos à maturidade.
Embora não tenham ganhado nada, merecem aplausos, audiência e repercussão os temas envolvidos em “Nebraska”, “Philomena” e “Álbum de Família”. Os filmes, todos ainda em exibição pelo país, botaram na roda valores e conflitos da velhice.
As tramas incomodam mais que martelada na casa do vizinho na hora da novela. Catucam relações entre filhos e pais idosos, questionam aquilo que se considera certo ao se analisar o mais velho.
Cinema americano é mesmo enlatado, feito para encher bolsos de dólares e criar ilusões, mas, comparando suas temáticas com as brasileiras, brota um desgosto sem fim em quem vive na terra da alegria e só tem a opção de ver na tela gigante produções de humor enfadonho, bobo e pequeno.
Em “Álbum de Família”, uma mãe enlouquecida pelo câncer e pelo vício em remédios —a fantástica Meryl Streep— rege a desconstrução e a balbúrdia no ninho onde pariu suas crias.
Ácida, chorosa e impiedosa, a velha azucrina ao máximo as três filhas ausentes que retornam ao lar para tentar cuidar da mãe após a morte do pai. Mas como consertar um azedume robustecido ao longo de anos de solidão?
Filhos crescem e dão independência às avessas aos pais, que terão de se virar com suas carências e as consequências da maturidade. Voltar a casa na tentativa de reparar uma doença ou situação crônica de nada adianta sem que pesem a gratidão, o amor.
Já “Philomena” dá vazão a uma certa ingenuidade do velho diante da modernidade, da maldade alheia e do improvável da vida. A personagem que dá título ao filme —interpretada por Judi Denchi— faz rir e chorar com suas considerações a respeito dos acontecimentos que passam ao seu redor.
A lógica empregada pelos mais velhos em suas interpretações da vida, muitas vezes, é simplesmente estranhada e motivo de galhofa, pouco é considerada e analisada em perspectiva de tempo, em profundidade. Mas é “Nebraska” a película que mais provoca tormentas na cabeça do espectador ao mostrar um velho teimoso e já meio atarantado pelo alzheimer —brilhantemente interpretado por Bruce Dern— que insiste em perseguir um sonho tosco, irreal.
É perturbador imaginar que desejos —mesmo absurdos— de velhos podem ser passaporte para o asilo e para o desencadear de desavenças. Até que ponto filhos não compreendem os pais e não sabem lidar com eles, acarinhá-los e ajudá-los em suas felicidades e anseios?
Ainda que todos estejam cada vez mais cercados de idosos, a incompreensão sobre seus universos, algumas vezes cambaleantes, é assustadora no mesmo nível de suas motivações: distanciamento, ignorância, impaciência.
Como diria minha tia Bolsinha, “ispiciar” é ter a arte do cinema atravessando a realidade por séculos na tentativa de despertar e provocar valores humanos que se cansam e se ocultam atrás de prazeres de ficção.
Os 3 filmes são muito bons, mas eu achei Nebraska fenomenal. Bruce Dern merecia aquele Oscar, mas infelizmente, sacomé.. Aids vence velho.
:/
Cara, eu amei Nebraska, mas achei o Oscar justo… talvez o lance do emagrecimento tenha me iludido na atuação… talvez… mas gostei pra caramba…. abrasss
Assustador é tentar imaginar como será na nossa velhice, medonho!!!
Vivo numa família com muitos idosos, alguns centenários. Tios, pais, avós e bisavós, alguns tem muitas limitações e crises de mau humor, mas no geral convivemos todos muito bem.
Acho que tem a ver com a maneira com que os mais jovens foram educados. Penso que o problema com os idosos é muito maior em países ocidentais que pouco ou nada valorizam os idosos.