Abaixando as calças

Jairo Marques

Não, meus queridos leitores, esse diário não virou sauna muito menos privê de sacanagem… continua sendo um canto para falar da vida e das agruras do povão quebrado deste país… 🙂

É que, semanas atrás, recebi um pedido de informação que coloco no topo dos mais inusitados de todos os tempos. E olha que recebo mais pedido que santo Antônio em festa junina, heim? Kkkkkkkkkkkkkkkkk Vou preservar os nomes das pessoas porque assunto de calça arraiada não é moleza, né, não?!

“Oi, Jairo, sempre acompanho o seu blog e adoro a forma como você escreve. Eu também sou uma mal-acabada: tenho deficiência auditiva. Trabalho em Recursos Humanos, na área de desenvolvimento, e esses dias uma colega, da área de recrutamento, passou um perrengue com um cadeirante. E antes de julgá-lo, gostaria de saber sua opinião.

Ela o entrevistou. Tudo bem tudo ótimo. Ele pediu para ir ao banheiro. Tudo bem tudo ótimo, temos banheiro adaptado. O banheiro só tinha uma barra. Ele pediu para ela tirar as calças dele. Ela MEGA sem graça tirou. Ele fechou a porta, fez o que tinha que fazer e pediu ajuda para se vestir. E foi embora. Ela ficou ultra mega blaster sem graça e sem saber o que pensar: – ele está me zuando? – foi um teste? – é normal? – não é normal, ele estava apertado e precisava de ajuda naquele momento?”

calça na mão

Acho que fiquei rindo uns quarenta minutos com essa situação e achei que dividir aqui no blog alguns pensamentos pode ajudar a muitas pessoas, uma vez que, cada vez mais, o povão que anda montado em cadeira, que puxa cachorro, que tem o escutador de novela avariado está no mercado de trabalho, na rua, na fazenda… 😉

Penso, sinceramente, que não foi sacanagem do caboclo, que era paraplégico, ou seja, era plenamente capaz de movimentar braços, mãos, tronco… O que acontece é que muuuita gente que vive nesse mundo paralelo de quem tem uma deficiência, a Matrix, cresceu em famílias que o mimavam e o protegiam pra mais de metro, como se diz lá na minha terra. Não é todo cadeirante que desenvolve a independência para fazer tudo. Para isso, é preciso treino, incentivo, condições. É bem possível que esse ‘rapaizim’ tivesse sempre ajuda para descer as calças e falar lá seu xixi.

Quando se fala em reabilitação, também está se falando em condicionamento para a nova vida. Não adianta só montar na cadeira de rodas… é preciso aprender como lidar com ela.

calca2

“O tio, mas se pedir para uma moça arrancar as calças de um marmaaanjo???” É, tem um certo aspecto de sacanagem no ar, mas tendo a achar que foi mesmo ingenuidade. Não vejo nenhum problema em pedir auxílio, mas é preciso ter bom senso para isso. No local não havia nenhum marmanjo? Você explicou direitinho para a pessoa que irá se voluntariar a razão da mãozinha? Existe, sim, a possibilidade de o quebrado ter sido oportunista, ter quisto gerar um constrangimento ou até mesmo uma brincadeira, mas disputando uma vaga de trabalho? Sei não…

Enfim, seria ótimo ter a avaliação de “ceistudo” nesse caso… O que você faria? Você acha que o cidadão era mimado, incapacitado ou malandrão? Caso fosse você o necessitado dessa ajudinha para não molhar as calças, como agiria?! Bom final de semana e beijo nas crianças!

*Imagens do Google Imagens

Comentários

  1. KK, tio, seria cömico se não fosse trágico. Eu estava me atualizando no blog e dei muita risada ao encontrar este texto, kkk. Sinceramente não sei o que pensar, mas tudo o que posso dizer é que malacabados também tem lá suas malícias. Lembro uma vez que estava dando um exemplo numa palestra de como conduzir e uma moça me perguntou se não tinha outra maneira de conduzir sem ter que a pessoa pegar no braço bem na altura do s seios? Entendi quando ela me mostrou, pois a senhorita se sentia constrangida ao ajudar um marmanjo cego e o mesmo se aproveitava para tocar em seus seios. Sempre indico que devem nos oferecer o braço e nós devemos pegar no cotovelo ou ombro. Claro que se nos sentimos avontade, já damos o braço mais avontade e é nesta hora que sempre tem aquele que tira vantagem. E olha que não foi a primeira a me dizer isto. As meninas do metrö também já haviam me dito. Por isso, dá pano pra manga esta discussão e a gente sabe que tem gente que se aproveita mesmo da situação. E se aproveita em tudo o que pode. Afinal, seres humanos!
    O mais triste muitas vezes é que a entrevistadora pode generalizar e achar que todos os deficientes físicos agem daquela maneira. Infelizmente o comportamento de um muitos pagam. Falo por experiëncia própria.

  2. Situação delicada, penso que pode ter sido muito constrangedor pra ele também. Vejo falta de orientação nesse caso..Existem muitas pessoas com deficiência que são superprotegidas pela família e amigos, caso essa tenha sido uma das primeiras experiencias dele em sair sozinho, poderia estar desorientado, sem saber como agir e precisando de ajuda. Como a informação é importante neh…
    Saudades tiooo…beijoka da Kassinha…rss

  3. Eita que esse causo da vida alheia tá mais enrolado que fumo de corda. Sem conhecer o vivente fica difícil saber se foi ingenuidade ou sacanagem mesmo. Mas que ele é folgado, ou mal acostumado, com certeza. Causo de que Jairim aqui na Camiranga tem uma mocinha que nasceu com os membros (pernas e braços) bem pequenos, é um causo genético, Sinhá num sabe dos detalhes todos. O fato é que a mocinha é totalmente independente, pra tudo. Estudou, trabalha, faz teatro, namora, viaja, mora sozinha, autonomia total até pra ir ao banheiro e se limpar sozinha, trocar absorvente naqueles dias e tudo. E os bracinhos dela não alcançam as partes pudendas delazin, não sei como ela faz, mas a danada se vira e consegue. Já dizia o mestre Rosa que “o sapo num pula por boniteza, mas por precisão”, se esse vivente ainda não aprendeu a abaixar as próprias calças é porque ainda não teve essa precisão, sempre encontrou quem fizesse isso por ele, o que é sempre péssimo. Depender dos outros, seja lá como for, é sempre péssimo, Sinhá acha. Fiquei com pena da mocinha do RH, acho que ela devia ter colocado um limite no rapaz ( ou ter chamado outro homem pra abaixar as calças dele) porque ajudar e depois ficar na dúvida se foi usada é muito ruim também, ninguém merece. Beijim

    1. Tia, na minha resposta à moça, falei exaaaaatamente isso que vc indicou: ela deveria ter passado uma mensagem para o cabra, mostrado pra ele qualé o caminho mais razoável, né? Bão demais te ler mais por aqui.. bjosss

  4. Acredito que o problema não é a necessidade de auxilio, mas a maneira que foi feita essa solicitação. Em uma entrevista estamos em uma situação formal, de contato , de conhecimento de limites, capacidades e competências. Deve-se deixar claro as necessidades que teremos por conta da limitação física. É engraçado, mas pode não ser visto com bom humor pelo empregador.

  5. pô tem gente mesmo sendo para,tem dificuldade de fazer tudo na cadeira ou seja se ele for um T1 ele não tem muita mobilidade e pode ate cair da cadeira, já vi algumas cenas assim, mas é claro que o cara tem que ter o bom senso e pedir pra chamar um homem pra ajudar já que a pessoa não espera se depara com uma situação assim.

  6. Ai Jairo… o Marcos é tetra e ainda não faz nem o cat sozinho.. mas acho que, num caso desses, ele levaria o assistente junto, para eventualidades. E certamente usaria uripen, pra evitar constrangimentos… agora, não acho q o moço agiu de má fé, não. Aliás, acho que se eu fosse cadeirante, agiria do mesmo jeito meio sem noção ahahahahha! beijo!

    1. Barbara, o tempo vai deixar o marcão tinindo! Tetras conseguem fazer quase tudo, com algum treino… Tb custo a pensar que tenha havido má fé do cidadão! Bjosss

  7. Acho que os objetivos tem que estar claros, ele dizer o porque precisa de ajuda, perguntar se tudo bem, dar outras opções e a entrevistadora na hora da entrevista, já deveria até ter falado sobre o assunto, a gente precisa saber se a pessoa precisa de auxílio par banheiro, alimentação, não é impeditivo de contratação, e sim, importante para que no momento do ingresso na empresa a equipe e o gestores estejam cientes e tranquilos com a situação.

    1. Eu tb acho que esse seja o melhor caminho. O problema, porém, é mais uma vez informação, preparado para a vida REAL, o que, por incrível que pareça, não são todos que têm!

  8. Situação delicada! Para o cadeirante e muito mais para a moça.

    Acho que a conduta de menor constrangimento seria o cadeirante explicar antes que precisaria de ajuda e ver quem está disposto a fazê-lo e que também não se importa (não se constrange) em ajudar.

    Nesses casos vale lembrar também que as vezes quem foi “escolhido” para ajudar poder não querer ou não poder (por problema de coluna, indisposição no dia.. em fim). E acho super de direito que a pessoa recuse (com respeito à condição do cadeirante, claro) e que o cadeirante procure outra pessoa.

    A moça também (no caso do cadeirante ter sido homem) poderia ter ido chamar algum outro homem para ajudar, se tratando de um ambiente de trabalho.
    Em locais de descontração, entre amigos, daí é diferente.

    Bom, é apenas uma opinião, não se trata de estar certo ou errado 😉

  9. Juro, não consigo parar de rir e fiquei pensando nas pessoas que eu conheço que trabalham com RH.
    No lugar da moça, você faria o que? Desculpe, mas eu não tiraria as calças de um marmanjo que eu acabei de conhecer hahaha.
    Sério. Eu não sei, mas perguntaria qual o grau de autonomia ele tem e se na atuação profissional ele precisaria desse tipo de assistência.
    Porque, de verdade, conheço pessoas que precisam. Mas aí elas têm seus assistentes pessoais e andam com eles, não é mesmo? Na empresa, ele ia precisar que ela ficasse tirando a calça dele?
    Agora parando de rir: essa é a minha preocupação número 1 com a Sofia. Fiz a inscrição dela no Sarah para ver se consigo trabalhar essa questão da autonomia, já que a AACD não fez isso e é difícil com terapeutas particulares. Esse ano é o meu limite. Ela completa nove anos e está ficando constrangida em precisar do apoio das pessoas para coisas como ir ao banheiro, tomar banho. Isso ficou muito evidente na minha cirurgia, quando eu não pude pegá-la por mais de um mês (teoricamente ainda não poderia, mas…).
    Para me ajudar, ela desce sozinha do sofá, senta na cadeira, tenta andar com apoio, vai para o chão. Mas essa parte do banheiro ainda não consegue, e isso dificulta muito a achar uma escola que a aceite.
    Enfim, o máximo de autonomia possível dentro de cada quadro é o que a gente busca sempre, né? E quando a autonomia total não é possível, o ideal é que a pessoa tenha um assistente para essas situações mais delicadas, ou estou enganada? Como você agiria no lugar da moça do RH?
    Beijos

    1. Dê, a Sofia vai conseguir completa autonomia… tenho certeza disso… desde muito pequena ela é estimulada e está se desenvolvendo.. o Sarah vai ser ótimo!!! Bjosss

  10. Eitaaa caso complicado. Mas olha, acho que tem coisas que a gente PRECISA fazer sozinho. Arruma um jeito de subir as calçolas, poe uma roupa melhor, faz o cat direitinho… E só pede para aquele brother em ultimo caso!!
    Bjs

      1. Fui pensando nisso! Mas não sei, creio que essas coisas pessoais tem que ser resolvida com a gente mesmo! Já vi tetra que sobe calça jeans e eu não consigo!Mas né, eu uso outra calça ué…. enfim, cada caso é um caso e difícil opinar nesse!!

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