Cidadãos x buracos
Imagine você, em plena véspera de Natal, espatifar a cara no chão depois de cair em um buraco de rua. Baita chateação e xingamentos mil à administração pública…. um chazinho de erva cidreira para acalmar, um besuntado para cicatrizar as perebas e pronto. Agora coloque catupiry nessa história… a vítima é cadeirante, em consequência de uma síndrome que torna os ossos fraaaacos (alguns chamam de síndrome dos ossos de vidro ou cristal), passeia com a mãe pelo centro da cidade… e as rodinhas dianteiras de seu cavalo cravam em buracos “nascidos para elas”, em plena calçada.
A advogada Ana Carolina, 31, um dia antes da chegada de Papai Noel, sentiu no corpo a violência do descaso urbano em Poços de Caldas, mas que poderia acontecer em qualquer biboca ou capital deste país. Teve as duas pernas (fêmures) quebradas, o coração da mãe, que a conduzia, profundamente ferido, a dignidade em frangalhos, uma cirurgia complexa para arrumar a funilaria e seu direito de cidadão comum, que pode ir e vir, totalmente dilapidado.
“Amigos mais próximos acabaram tão indignados quanto eu. Não só pela queda e a fratura, mas porque eu havia já feito solicitações aos políticos locais e reclamações quanto aos buracos nas calçadas da cidade há mais de seis meses e todos sabiam. Por isso, a Liana Flora, uma das minhas amigas, criou, no Facebook, a página ‘Buracos em Poços de Caldas: não caia nessa’, que em pouquíssimo tempo reuniu mais de 1,8 mil pessoas, que compartilham os buracos que encontram em seus caminhos na cidade, registram com imagens e também mostram que minha queda não foi um fato isolado. Mais pessoas que caíram nas ruas, em razão dos buracos, têm mostrado até seus ferimentos.”
Há tempos que esse blog e diversos meios de comunicação batem o bumbo de que a urbanidade está destruída em várias cidades e as consequências disso é nefasta. E quem manda? Quem manda passa o recado da escrotidão e do descompromisso social total: ‘é culpa do cidadão que não cuida das calçadas.’ E até que essa palhaçada não se resolva de vez, vão se acumulando tragédias pessoas e até mortes, em alguns casos. Mas lá no interior de Minas, o pessoal não deixou barato… está feroz e engajado para mostrar que quem deve cuidar da rua é o administrador público…
“Tivemos a ideia de criar um movimento presencial, que mostrasse que a cidade deve ser cuidada para o bem de todos. Não só os deficientes físicos se esborracham nas ruas sem cuidados, mas idosos, mãe com carrinhos de bebê e até pessoas desavisadas. A ideia era declarar o amor do cidadão de Poços pela cidade. Assim, baseado no exemplo de Paris, onde pessoas apaixonadas demonstram seu amor com um cadeado nas pontes, fazendo juras de amor, nós transformamos essa ideia em fitas coloridas.
Pessoas foram convidadas a levar um pedaço de fita, no dia 04 de janeiro, de qualquer cor, e amarrar na ponte onde aconteceu o meu acidente, com um nó, para demonstrar a indignação, e o seu desejo de ver uma cidade com acessibilidade para todos! Para nossa surpresa, em cerca de três horas, mais de 200 pessoas haviam passado por lá e amarrado suas fitas.”
E é assim que essa gente que manda vai começar a ter alguma consideração com o cidadão: com pressão, com manifestação de insatisfação, com ação coletiva que demonstre insatisfação. No caso da cidade mineira, a prefeitura “entubou” o problema… disse que vai fazer uma ação emergencial para melhorar as ruas mais movimentadas… Beleza, mas nada que é pontual cria solução que vá afastar um problema para o pretérito…
“Nossa ideia é que isso não pare por aí, não caia no esquecimento. O próximo passo é tentar uma reunião com o prefeito e o secretário de serviços urbanos para levar as reivindicações das pessoas que estão aderindo à causa. Minha recuperação é lenta. Demora, pelo menos, um mês e meio para que eu possa tirar a tala da perna direita e as dores são minhas companheiras. Mas se esse acidente for a causa de uma mudança mais séria e profunda, não reclamo.”
Mas eu reclamo… e todos os dias, em todos os lugares que vou, com todas as autoridades que encontro… E convido os leitores para fazerem o mesmo: tornarem-se incansável na defesa do que é básico: poder ir daqui para acolá sem que sua integridade esteja permanentemente ameaçada por… buracos.
Em tempo: espero que tenha rápida e completa recuperação, Carol.
É revoltante constatar que, mesmo nos logradouros públicos, os ditos gestores não menos públicos empurram a questão da conservação para bem longe do que seria sua responsabilidade. Agendar reuniões com secretário disso e daquilo é uma demonstração e um exercício de paciência, eu acho que o caminho mais adequado é uma ação judicial por desídia e prevaricação do administrador público. Com o risco de responder administrativa, civil e criminalmente, as pessoas passam a agir de ofício, ao invés de relegar a segundo plano questões fundamentais com a segurança do cidadão e seu direito de ir e vir. É impressão minha ou a calçada tem inclinações que beiram 30 graus em alguns pontos?
Negão, eles estão planejando uma medida judicial, tb… estou em pleno acordo contigo… pra variar.. As rampas de lá são bem problemáticas.. e olha que a cidade é turística
Jairo, ficou jóia demais seu post! A visibilidade do seu blog é enorme e só podemos agradecer por divulgar a causa que “acidentalmente” fomos compelidos a lutar…rs.
Muito Obrigada 😉
Ana, a sua batalha é inteiramente minha… então! 😉
Materia sensacional!!!!! Participei do manifesto aqui em Pocos, a ponte ficou linda, enfeitada com coragem, garra, amor, indognacao representados em cada fitinha!!!
Aêêêêê!!!
Nem vou dizer nada. Só peço que vejam estes links.
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=854427751250166&set=gm.210596809125660&type=1
https://www.facebook.com/photo.php?fbid=854422431250698&set=gm.210594812459193&type=1&theater
Obrigada por ajudar na divulgação dessa nossa luta! Buscamos acessibilidade para todos e estamos cansadas do descaso de nossas autoridades! #juntossomosmais
Com certeza, somos, Liana!