O sentimento dos animais

Folha

Mamãe pegou uma mala bem grande, daquelas parecidas às de retirantes da seca, e foi se despedindo de Nero, o nosso labrador preto, queridão e espalhafatoso.

O bicho, que parte do dia é tomado pela leseira e fica esparramado na varanda, transformou-se. Grudou no vestido da minha “santa” e tentava bloquear com seu corpão desajeitado a abertura do portão.

“Tchau, Nero. Vou viajar. Fique comportado aí e cuide da casa”. Que nada. O cachorro já se mostrava como alguém sem eira nem beira e a última atitude que tomaria era a de considerar uma ordem.

Ele não aceitaria que mamãe viajasse, mais uma vez, deixando a ele sem seus chamegos, sem a comidinha dada na boca, sem brincar na rede. Nero deixava claro que não toleraria sentir saudades sem antes demonstrar sua dor e o mimo canino.

Outro dia, fiz a bobagem de entrar em uma dessas lojas que colocam cachorro na vitrine para ser vendido. Nenhum me convenceu a contento, mas o dono do local jogava duro.

“Vá lá no fundo ver uma golden de nove meses que vai te amar profundamente”. Amou.

A danada, de lacinho na cabeça e perfumada, saltou sobre minha cadeira de rodas como se fosse minha mulher pedindo dengo. Lambeu até minha alma.

“Ela só precisa passear três vezes por dias, um bom espaço para correr, comida do Fasano e bastante atenção”. Refuguei, com meu coração em frangalhos.

Todas as pessoas que convivem de forma harmoniosa com animais terão uma coleção de histórias emotivas para “provar” o quanto o cão é merecedor de carinho, de assistência e oxalá direito à previdência social quando machucarem a patinha.

Há linhas de pesquisas sérias demonstrando que o temperamento dos animais é individual e que não é a sedução com um ossinho que fará o seu bulldog gordão e cansado deixar de fazer xixi no tapete da sala.

Diante disso, quando se imagina que beagles fofos estão servindo de cobaia para que remédios sejam testados e evitem que o “serumano” de um piripaque na rua, tudo parece ser justificável, inclusive contar com a fúria “black block” para supostamente salvar os focinhudos das garras dos cientistas malvados.

Já tive de me submeter a inúmeras cirurgias para arrumar a funilaria arruinada. Em parte delas, a minha salvação e o sucesso dos procedimentos foram graças à dedicação de bichos que “doaram” suas estruturas físicas e organismos à pesquisa.

Avanços que melhoram as técnicas para tratamento de deficiências motoras e sensoriais lançam mão de testes que, à primeira vista, “maltratam” bichinhos. São inviáveis e impossíveis voluntários que topem uma lesãozinha medular para o bem da humanidade.

A mistura desses dois fatores: o sentimento dos animais e a necessidade premente de melhorias para as desgraceiras humanas parecem não se bicar, mas o convívio é possível e é legítimo.

Cada vez mais, ouço que prefere-se cachorro ao homem como amigo. Não tenho essa predileção, mas adoro os bichos e suas ajudas são ímpares para tornar vidas melhores e mais autônomas.

Apenas com a evolução do humano é que podemos hoje entender e discutir que um cão não é apenas um hospedeiro de pulgas, mas um caminho profícuo para se buscar ser um pouco melhor.

Comentários

  1. Quanta hipocrisia, nunca ví ninguém invadir estábulo e soltar os pobres cavalos que servem de hospedeiro para o veneno de cobra.

    E tem mais, vamos deixar de usar shampoo, sabonete e a mulherada deixar de usar tintura de cabelo, cosmético …..

  2. Continuando… Ocorre que, até onde eu sei, juntar uma galera com o objetivo previamente traçado de invadir uma propriedade privada e subtrair o que lá havia, configura no mínimo três crimes.
    Ainda não retornamos à idade média no Brasil, temos um ordenamento jurídico e a obrigação cidadã de defendê-lo, atuando de forma a provocar alterações naquilo que consideramos errado. É assim que as coisas funcionam no chamado Estado Democrático de Direito. Então, acho prudente que, na próxima, usem os canais normais que garantem a segurança jurídica, como o MP, por exemplo.

  3. Como disse alhures, nada entendo de protocolos de pesquisa científica na área médica, qualquer que seja o objetivo. Consequentemente, também não sei se tem respaldo científico a afirmação de algumas pessoas no sentido de que é desnecessária a utilização – e, não raro, o sofrimento e até o sacrifício – de animais para se chegar a conclusões que levem à produção de medicamentos e afins. Caso reste comprovada a acusação de maus tratos aos animais ou – pior – a desnecessidade de seu confinamento no âmbito do laboratório (ou instituto de pesquisa), cabe denúncia criminal contra os responsáveis e ações acessórias para liberação dos animais. Ah, e não se esqueçam dos ratinhos, que não são assim tão fofos mas também se enquadram na categoria ‘seres vivos’. (continua…)

  4. Li todos os posts desse blog…percebi que a maior parte dos comentários são sádicose não passam de conversinhas de cumade. Fico muito triste, pois, o assunto tratado aqui é muito sério. Nem vou me prestar a escrever mais aqui.

  5. Olha gente, essa ANVISA que estão superestimando em alguns comentários também permite que no Brasil a Coca cola coloque um percentual de corante (substância cancerígena) que há muito já está proibido nos E,Unidos. Muitas empresas alegam que só um por cento de seus produtos são testados em animais por exigência da Anvisa e contra sua vontade. Está na hora de debater o assunto e imitar países cuja tecnologia já libertou os animais.O problema todo está em mexer no lucro destes gananciosos.

  6. eita Jairão! gosta de mexer no vespeiro, hein? mas viva a liberdade de expressão(estou seriamente pensando em publicar sua biografia não autorizada)

  7. É uma atrocidade fazer testes em animais. O sofrimento de um não pode ser como positivo para ajudar a outro. E, principalmente, isso é um absurdo, pois a cura ou o benefício não será doado, será comercializado.

    A maioria das coisas que são testadas em animais não precisariam. Se o ser humano se informasse mais, saberia que para a maioria das doenças existe uma cura natural. Ou melhor, é só melhorar o estilo de vida que a doença nem vem.

    Infelizmente existem doenças que não vem de estilo de vida errado, acidentes, etc. Mas eu acredito que o sofrimento de um ser para o benefício de outro é uma atrocidade. A vida de ninguém vale mais do que a vida de outro.

  8. Meu querido, TOTALMENTE contra o uso de animais, com certeza devem existir outros métodos, mas prefiro nem me alongar no assunto, ok! Bjão

  9. Acho que vc escreveu isto para ter ibope, mas se falou sério quero lhe dizer que por trás dessa ideia está a hierarquia animal aquela mesma que os nazistas usaram para classificar os humanos em raça superior e inferior, na qual os inferiores da hierarquia estiveram sujeitos a toda sorte de experiências como injeção de anilina nos olhos das crianças para ver se ficavam azuis, provocar dor e morte em irmão gêmeo para saber o que o irmão não torturado sentia e todas as outras barbaridades que sabemos , tudo em nome do progresso da ciência em benefício da raça superior, pura. Sabe senhor jornalista, se eles tivessem ganho a guerra, você não estaria aqui para destilar seu sadismo sobre os inocentes cachorros. Talvez você pudesse servir para a vivisecção, uma vez que teve de se submeter a várias cirurgias não é mesmo?
    Finalizando, se para você a questão é apenas a escolha entre um humano na UTI e um cachorro saudável,francamente desista de escrever sobre o assunto e vá se reciclar porque para chegar à civilização precisamos de pessoas com ideias sustentáveis.

        1. Amauri, primeiro, vá aprender língua portuguesa. Segundo, os teste em animais não são seguros, ou seja, mesmo fazendo os testes, o ser humano pode apresentar reações indesejadas, outras formas de manejo são mais precisas como o uso de células tronco. Terceiro, você ama muito mais o ser humano até que um deles aponte um revolver na sua cara e te dê um tiro, aliás, é o que você merece pela sua mediocridade de cérebro.

          1. Vivian, vou liberar seu comentário, apesar de ser extremamente deselegante. Vi que vc é professora da rede estadual, causa a mim preocupação saber que alunos de escolas públicas vão receber orientação de uma pessoa que me parece desequilibrada ao trocar argumentos…

      1. Vivian, eu li e reli o texto do Jairo, mas não consegui identificar o trecho em que ele, segundo sua crítica, ‘destila seu sadismo sobre os inocentes cachorros’. Percebe-se que você é nova por aqui, daí minha inferência de que não leu o post que fala sobre as experiências nazistas que eram feitas com pessoas com deficiência. Jairo jamais concordou com isto, não adianta você tentar forçar a barra e rotulá-lo sem sequer conhece-lo, o que, aliás, é muito feio. Dou-me o direito de passar ao largo sobre a vivissecção, nesse ponto você extrapolou no quesito bom senso.

      2. dentro da “hierarquia animal” os ratinhos de laboratório, as vaquinhas que nos fornecem deliciosos shoulders, os cavalinhos que puxam carroças devem estar abaixo dos lindos cães.

  10. Perfeição de texto! Não há o que substitua um organismo vivo num procedimento cirúrgico, por exemplo.
    Respeito aos animais nas pesquisas. Sem radicalismo de proteção.
    Já pensou um médico chegar pra você num pronto socorro e dizer: é a primeira vez que faço uma sutura num corpo humano vivo?

      1. Por acaso sua definição de países desenvolvidos seria “aqueles que espionam os outros e jogam bombas sobre as cabeças de crianças”? O Jaime simplesmente disponibilizou um link de responsabilidade de uma entidade de saúde pública, vinculada ao Ministério da Saúde. Chamá-lo toscamente de ignorante foi desnecessário e deselegante de sua parte. Se houver algum erro nas afirmações do site da Anvisa, mande um e-mail para seus gestores, simples assim.

  11. Bom, até onde tenho lido e assitido entrevistas (e mto!), já existe outros métodos para se fazer esses procedimentos. Sou colaboradora de uma ong aqui na minha cidade, tenho mtos amigos q são protetores, inclusive uma vereadora q cuida dessa causa animal, q mantem contato com o Ricardo Tripoli (deputado aí em SP), portanto não estou aqui dizendo “bobagens” (talvez um pouquinho rs). O Brasil é q anda “atrasado” (por envolver mtas empresas q lucram com isso). Não consigo imaginar a dor q esses animais sentem ao injetarem neles ou pingarem em seus olhos periodicamente, produtos tóxicos. Bom, me desculpem , mas eu tbém sou apaixonada pelos peludos, como disse a Diana, aqui pra cima… Tenho postado algumas coisas no meu facebook e quem se interessar, dê uma chegadinha lá. Abraço a todos. Bjo Jairo.

  12. Então, eu sou super contra radicalismos. Invadir e quebrar tudo, fala sério, né?
    Mas sou leiga demais para opinar… Pelo que eu li, há outras maneiras de pesquisar sem ser os beagles, né? Já é possível até prever a cor do olho de um bebê ao gerar um embrião – em laboratório, será que não dá para testar remédios de outra maneira?
    Covenhamos: a guerra e seus métodos nada convencionais fizeram a medicina evoluir muito. Nem por isso a gente vai concordar com esses métodos né ou querer repeti-los até hoje, né?
    Qual a medida certa?
    Para mim não pode ser sacrificar beagles. Nem destrituir um instituto, que se praticava mesmo maus-tratos, era papel dos governos (federal, estadual e municipal) apurar.
    Agora se existem marcas de cosmético que não precisam testar em animais, porque as outras precisam?
    Há muito ainda a ser esclarecido.
    Bjs

  13. Eu pensei, eu disse, eu prometi, que ia ficar com minha boca fechada mas aí vem o Tio e provoca….então, azar…..kkkkk. Porque esse BANDO de imbecis, ANTES de resgatarem os cachorros (gozado que eles deixaram os outros bichos (ratos, coelhos,camundongos) lá…..porque será?????) não se ofereceram espontâneamente para servir de cobaias?
    NÃO existe comprovação científica que os testes realizados em animais possam ser feitos de outra forma. Estes testes são supervisionados até internacionalmente dependo de quem os solicita, senão são regulamentados nacionalmente e este instituto em particular passou o último ano sob supervisão da promotoria pública e do órgão regulador sem que se atestasse nenhum problema. Os testes em animais são feitos no mundo todo e são essenciais para o desenvolvimento de remédios e vacinas, principalmente. Os testes são feitos primeiro em camundongos, depois em ratos, posteriormente em coelhos, depois em cachorros e ainda em seres humanos. Esta sequência ameniza e/ou exclui problemas posteriores que podem ser catastróficos se não forem obedecidas todas as etapas de pesquisa, INCLUINDO os animais. Não vou entrar no mérito da invasão de propriedade privada sem a devida atuação da Polícia de São Paulo porque me parece que a Polícia já se condirera idiota o suficiente pra apanhar sem se fazer respeitar, afinal o tal Instituto é quem deve se tomar de dores e exigir reparação do BANDO por danos materiais. A pergunta que faço, de novo é: Quem, do BANDO vai lá se candidatar a ser cobaia????? quem sabe assim melhoraremos consideravelmente o nível dos testes, ou pelo menos, acabamos mais rápido com mais uma QUADRILHA. Obs: Eu AMO animais, principalmente cachorros, mas amo ainda mais o ser humano.

    1. Amauri, no Wikipédia cobaia=”Cavia porcellus”= porquinho-da-índia. Meu animalzinho predileto. Tadinhos, ninguém se lembrou deles por todos estes tempos. A tempo: depois da dura que vc me deu passei a aplicar pomada cicatrizante em todos os peixinhos que devolvo ao rio qdo pratico pesca esportiva.

      1. Japaguai, vc tem CERTEZA que a pomada que vc anda passando nos coitadinhos dos peixes não foi testada em animais???? heim???? heim????
        kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk

      2. Japa, depois dessa sua confissão, bota as barbas de molho: a galera vai invadir sua chácara, seu pesqueiro e carregar o freezer cheio de tucunarés para adoção pelos restaurantes da região.

  14. minha dúvida(como leiga total do assunto), tenho até evitado postar sobre isso, porque sou totalmente leiga, mas, minha dúvida é, será que não existem outros métodos para se fazer essa pesquisa. Com todo esse burburinho, ouvi dizer que na Inglaterra e vários outros paíeses não se usa mais…fique na dúvida.

  15. Acredito que os brasileiros estão perdendo parâmetros de valores… Hj tudo é motivo de reivindicações, até aí, tudo bem, apoio plenamente, esse acordar do nosso povo, porém, precisamos, avaliar essas causas, pois tudo tem os dois lados nessa vida! Amo os animais, tenho uma fox paulistinha linda, já velhinha que o nosso amor maior, no entanto, destruir pesquisas, que levam anos de estudo, depredar e destruir um laboratório para justificar uma causa, não tem cabimento, pois a violência que eles são contrários, está sendo combatida por outr maior ??? Gandhi atingiu seus objetivos de paz, perpetuando a própria paz e acredito que só dessa maneira chegaremos a uma mudança verdadeira e real … É isso… Bjos pessoal

  16. Eu preciso dizer que deu nó na garganta, aperto no coração, lágrimas nos olhos e etc?! Sou uma apaixonada pelos peludos, amo essas crianças de pelos incondicionalmente!!!! Acho q testes deveriam ser feitos de outras formas e não em vidas!

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