A menina e os sinais
Começo a semana com uma história daquelas bonitiiiinhas e inspiradoras. Penso firmemente que quando a criança tem contato e entende o significado das diferenças entre as pessoas, um cidadão muito mais plural está sendo formado.
Muitas vezes, os pequenos são curiosos e até tomam sustos diante de gente meio torta, sem perna, nem braço. Normal… é da natureza humana. Contudo, quando ela entende que aquilo é o mesmo “serumano” que ela, mas com condições e aparência outras, uma porta de conhecimento e tolerância se abre.
Pais bacanas, a meu ver, estimulam o convívio com a diversidade e estão permanentemente criando situações para que os filhos conheçam necessidades e demandas dos outros.
Criar uma geração que olhe para a inclusão, para a acessibilidade como algo natural, é o cheque-mate para quebrar mentalidades preconceituosas e para que a ideia do todo mundo junto em tudo seja um ganho consolidade.
O exemplo que vem abaixo é lááá dos “Estadusunidos”, ainda distante da realidade brasileira, mas é apaixonante a atitude dessa menininha, Helena, e um sucesso a postura da mãe, Simone Duarte.
“Ceitudo” irão curtir….
♣
Eram várias opções, entre elas mestre em artes, super-heróis, miçangas, espanhol, orquestra de ritmos infantis, ciências, jogos de bola, estúdio de artes, mandarim, entre outras, mas de todas, quando eu li “linguagem de sinais”, ela gritou: é esse!!
Esse que eu quero fazer!! Eu adoro! ..E foi assim que ela escolheu o que fazer num dos dias da semana do “after school program” (as duas horas de atividades opcionais para as crianças quando termina o período escolar).
Helena, minha filha, tem 6 anos (quase 7!!) e está cursando a segunda série do ensino fundamental na cidade de Nova York, onde moramos, aqui nos Estados Unidos. Ela sempre teve fascínio por linguagem de sinais. Teve umas aulas quando estava na creche, e foi então que o amor despertou.
Na pré-escola, durante um leilão pra arrecadar fundos para a escola, a professora pediu como “mimo” algumas aulas de linguagem de sinais para ass crianças, e alguns pais (entre eles, eu) doaram o dinheiro, e as crianças tiveram as suas aulas… e assim o amor foi crescendo.
A descrição do curso do “after school” é: “Linguagem de sinais: Falar sem dizer um som! Saiba os sinais de cores, sentimentos, comida, objetos, tempo e perguntas através de jogos, músicas e atividades.” – assim, simples! Sem nenhum julgamento..
E então ela começou as aulas e esta animadíssima! Essa semana ela chegou em casa me contando que o professor, um mocinho de uns 20 e poucos anos que trabalha de assistente de professor na escola, aprendeu a linguagem de sinais porque a mãe dele perdeu a audição quando tinha apenas sete anos, então desde que nasceu é assim que ele se comunica com ela.
Agora, o melhor disso tudo, é que no final do curso, para a “graduação”, a mãe dele vira até a escola pra que as crianças possam conversar com ela e praticar tudo o que aprenderam – e segundo a Helena, isso vai ser demais!! (Ela é uma criança muito entusiasmada).
Preciso ser sincera, fiquei super orgulhosa pela escolha da minha filha, mas o que mais me deixa feliz é ver as pessoas aprendendo a linguagem de sinais assim como elas aprendem espanhol ou francês, apenas como um meio de comunicação, como qualquer outro.
Uma amiga que tem a filha estudando numa escola do subúrbio de NY, também na segunda série, comentou que linguagem de sinais na escola da filha é parte da grade curricular. Uma outra amiga comentou que o seu marido aprendeu a linguagem quando namorou uma deficiente auditiva durante a faculdade.
Eu me lembro também que durante o meu doutorado, em que passei uma temporada na Universidade de Rochester, NY, eles ofereciam para os alunos e funcionários algumas atividades durante a hora do almoço, entre elas aulas de linguagem de sinais, tai-chi, entre outras coisas.. e assim vai! Todos juntos, conversando, sem julgamentos, preconceitos ou prepotência.
Em tempo: A língua de sinais, ao contrário do que se pode pensar, não é universal. Cada país tem a sua, em geral, e existem até sotaques!
As crianças sempre nos surpreendem, com suas “tiradas”, seu raciocínio rápido e soluções espontâneas.
Temos muito a aprender com elas!
Meu sobrinho cadeirante Luiz Carlos Lopes, pediu aos pais dos priminhos que deixassem que ele explica porque ficou assim.
É o que se faz. Então, as crianças o tratam com a maior naturalidade e adoram “passear” de carona na sua cadeira!
Vó, esse é o caminho! A criança deixa de achar aquilo coisa de outro mundo, deixa de ter medo e entende as diferenças… bjoss
mais uma coisinha sobre o texto.. a minha irmã, que é formada em letras, me deu uma bronca e me explicou o seguinte:
Linguagem é o mecanismo que se usa para repassar uma mensagem. A linguagem pode ser verbal, escrita e não verbal (linguagem corporal, musical, visual e até mesmo animal). A linguagem é o que facilita a comunicação.
Já Língua, conforme o dicionário Aurélio, é “o conjunto de palavras e expressões usados por um povo, nação e o conjunto de regras de sua gramática, idioma”.
A língua tem regras, estrutura e sistema, é muito mais completa que a linguagem.
LIBRAS é a língua de sinais (não linguagem) e possui, assim como as linguas orais, estrutura própria. A língua de sinais é muito rica.
Enfim, linguagem é apenas o ato, enquanto língua é o fato.
🙂
Uuuuia… informação de qualidade é sempre “maraviwonderful”!!!
Oi Jairo, me identifiquei com a menina de 7 anos kkk. O meu interesse pela língua de sinais também começou desde pequena e somente quando morei na Suiça e que não podia trabalhar na minha área, descobri que existia curso para aprender a lingua de sinais. Ainda muitas pessoas consideram uma linguagem, mas na verdade é uma língua oficial de comunicação compessoas surdas. Eu poderia ter escolhido entre varios outros cursos maravilhosos e escolhi a lingua de sinais. E concordo com vc, quanto aos pais bacanas, acho que eu tive o privilégio de ter experiências com pessoas diferentes desde cedo, isso fez toda a diferença na minha formação e é isso que tento passar para os meu filhos. Gostei do texto!! bj
Dona “dotora”…. uma profissional de saúde como vc dá esperanças para as pessoas. Vc procura entender as demandas alheias… ouve, sinaliza e procura entender cada indivíduo como suas pontualidades… isso é demais…. é humano! 😉
Essa é a menina que conheci e amei.Que tenha aproteção do SENHOR.Também com a mãe que tem!É uma “girl” maravilhosa e especial.Bom seria se fosse uma de muitas!Beijos ,mãe e filha.Saudades
Que boniiiito
As diferenças podem ser em vários sentidos: aspectos físicos, culturas, dificuldades, alimentos, idioma, muiiitos.. Meus netos moram em Redmond. Uma verdadeira Torre de Babel, com gente do mundo todo trabalhando na Microsoft. Quando o mais velho começou a estudar, em uma escola relativamente nova, não havia na sala duas crianças da mesma nacionalidade e algumas ainda nem falavam. Os pais fizeram dicionários nos seus respectivos idiomas, para que os professores se comunicassem com as crianças. A escola optou pela linguagem dos sinais. As crianças começaram a se comunicar, antes mesmo de começarem a falar. Naquele ano, quando vieram para o Brasil, trouxeram o DVD para eu aprender também. Fantástico.
Ameeeeeei!!!!!
obrigada Jairo! 🙂
Sou eu quem tem de agradecer demais por um texto tão querido!! Bjos
Lindo, lindo, lindo!!!!! Que pequerrucha iluminada!!!! Aprender LIBRAS ou no caso dela ASL não é somente um aprendizado e sim uma quebra de barreiras! Onde há comunicação, há troca de experiência… Todos deveriam aprender essa Língua incrível!!!!
Di, eu num sei naaaaada… vc sabe??!?! Puxa… um dia eu chego lá…. ahahhaah.. bjosss
Caro Jairo,
Meu filho autista também é deficiente auditivo e falante em LIBRAS. Sabia que ele “fala” com a nossa gatinha Nina em LIBRAS? Hahaha! Será que tem outra gatinha no mundo que é falante em LIBRAS? Viu só, até gato se esforça para compreender LIBRAS, por que outras pessoas não podem fazer o mesmo? Abraços.
Marta, eu sempre digo o seguinte: dar pelo menos a nossa disposição para entender o outro e sua forma de se comunicar, é um começo bem importante. Acontece que, normalmente, procura-se ignorar as diferenças…. é mais fácil, né?! Parabéns por seu gatinho e pela gatinha ahhahahahha.. bjossss