Quem não tem colírio…

Jairo Marques

Meu povo, tô vivo! Na semana passada fiquei muito envolvido com grandes reportagens para o jornal e tive de deixar o blog de molho…

“Hummmm… mas o que cê fez assim de tão trabalhoso, heim, tio?!

Fiz uma segunda grande entrevista com o tetracampeão de paracanoagem Fernando Fernandes, em que ele conta sobre as conquistas dos últimos três anos! Para ler, clica no bozo 

E também tive uma longa conversa com a Mara Gabrilli, que está lançando uma reveladora e emocionante biografia… Para saber mais, clica na florzinha…. 

Mas o assunto de hoje é papo reto, ‘zente’.

Tenho uma grande amiga que é cega e leitora cativa aqui do blog, a Jucilene Braga. A danada teve um bebê há poucos meses, seu segundo filho, o serelepe Fernando.

Pois bem, a mulher não é de  fazer “nove horas”, como se diz lá na minha terra….  😉 Na última quarta-feira, sem ter alternativas mais “fáceis” de levar seu pequeno a uma consulta ao pediatra, ela embrulhou o menino em um monte de cobertor, amarrou ele na lomba e foi fazer o que era preciso: encarou a rua.

Detalhe, o dia estava chuvoso, friiiio… e a Ju está sem seu companheiro cão-guia… foi na raça, com a bengala que também tem amplo treinamento para se virar.

Na imagem, Jucilene, com o filho Fernando embrulhado em um cobertor e preso a seu corpo, carrega um guarda-chuva e se guia com uma bengala. Ela estava em uma estação de metro de São Paulo

Deu tudo certo, mesmo aos olhos de algumas pessoas, a mãe cega ter “exposto” seu molequinho desafiando a estrutura urbana caótica de uma grande cidade: metrô, trânsito, falta de educação e de cidadania etc.

O que a Jucilene fez, a meu ver, nada tem de aventureiro, de exibicionismo ou de maluquice. O que ela fez foi dar curso a sua vida e de sua família com os instrumentos que dispõe.

Por mais que haja solidariedade, boa vontade, amizade e família, há ‘zilhões’ de situações em que a pessoa com deficiência terá de encarar a vida SO ZI NHO. É só pegar na mão de “gzuis” e ir…

São raras as pessoas que vão conseguir ter uma estrutura de apoio permanente, então, é necessário pegar os “óculos escuros” e seguir adiante. Caso contrário, o filho não irá ao médico, o menino não chegará à escola, a menina não chegará ao trabalho e assim por diante.

Os olhares de compaixão ou de crítica dos outros por cegos, surdos, cadeirantes, paralisados cerebrais estarem em situações “pouco seguras” não resolve nada as necessidades pontuais do dia a dia.

Melhor, nessas situações, é oferecer ajuda, apoio ou incentivar. Pode estar certo, quem é todo inteirinho, que ninguém sai tocando uma cadeira de rodas pelas ruas porque acha bacana. É a maneira que a pessoa tem de se locomover, de ir adiante.

Pessoas com deficiência não se “expõe” à agressividade urbana, elas apenas estão conduzindo os rumos de sua vida da maneira que dispõem, da maneira que lhes é conveniente, da maneira que lhes é possível!

Ω

Hoje, a partir das 11h, vou estar contando mentira na rádio Sulamerica Trânsito, de São Paulo, que vai debater inclusão e demandas do universo dos quebrados….

Que tal escutarem minha voz de taquara rachada? Kkkkkkk… Dá para ouvir pelas “internets”. O link tá aqui, oh, só clicar na radiola!  

Quem for mesmo ouvir pela radia, é 92.1 FM

Beijo nas crianças ♥♥♥

Comentários

  1. O tio que delícia!
    Só agora consegui ver, rsrsrs, consegui ver viu, kk, o post que escreveu!
    É exatamente isto, as pessoas dão pitacos aqui e ali e na hora do vamo ver cadë para ajudar em alguma coisa?
    Sem contar que tem aqueles que pensam que estamos saindo somente para passear. Claro que temos o nosso direito de ir e vir, mas sempre acham que só passeamos e não temos compromissos como qualquer pessoa.
    E não acredito que perdi essa de vocë contar umas lorotas na radia, será que tem em algum lugar para ouvir?
    Beijins e sardade do cë menino piradinho, kkk.

  2. Ela tem o tal do “fator xis”, que faz toda a diferença.

    Mas acho que como mãe, as outras coisas se tornam muito pequenas perto da necessidade de cuidar do filhinho.

    Está certíssima, não tem que dar bola para o que outros pensam ou falam. Tem que ir à luta mesmo fazer o que é preciso, ser feliz e pronto.

    Parabéns mamãe guerreira!

  3. Nossa esse post tá me incentivando a seguir estava pensando exatamente isso neste fim de semana
    obrigada por tudo nesse anos de assim como você tenho tido mais coragem

  4. Jairo, o “Assim Como Você” inspira por ser um espaço corajoso, desafiador, leve e engraçado. Aqui não tem gente olhando de rabo de olho e falando pelos cantos “tadinho(a), gente!”. Sou leitora assídua, embora não comente, hehehe!
    Inspirou tanto, que criei o meu próprio espaço virtual! Acho muito importante que pessoas que não possuem qualquer restrição física ou não têm contato com alguém que tenha, passaram a ficar atentas à falta de acessibilidade e ao “mundo matrix” que, no fundo, é igual ao de todo mundo.
    Vida longa ao Assim Como Você! 🙂

    1. Larissaaaaaaaa, que coisa mais linda…. o tio fica até emocionado, viu?! Please, divulga o endereço do seu cafofo pra gente!!! Bjosss

  5. Sabe, Jairo…você está é muito certo!! Muito legal a coluna de hoje. Quem sabe faz a hora, não é mesmo?? Grande abraço.

    1. Tem que fazer, Mônica… tem momentos em que somos nós e nós mesmos… a vida é assim como todo mundo, não é? Beijosss

  6. Emocianante, a Luciene é mais uma grande guerreira!!!!! Gostei especialmente deste paragráfo: “Os olhares de compaixão ou de crítica dos outros por cegos, surdos, cadeirantes, paralisados cerebrais estarem em situações “pouco seguras” não resolve nada as necessidades pontuais do dia a dia.” Se algumas pessoas olhassem menos, comentassem menos, e ajudassem mais,
    seria muito melhor! Beijos e boa semana!!!

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