Quero pagar inteira!

Jairo Marques

O problema é antigo, mas uma solução para ele me parece cada vez mais distante. Catei a mulher e juntos fomos comprar entrada para um espetáculo musical desses famoooosos que rolam aqui na “capitar”.

Mais empolgados que menino na frente de bala, fomos à bilheteria do teatro comprar nossos lugares. O valor era caro, mas mais vale um gosto do que uma Brasília cheia de laranja verde, né, não?! 🙂

Para quebrados como eu, havia apenas duas opções de lugares para estacionar a cadeira. Em nenhuma delas rolaria de deixar meu automóvel e sentar na poltrona gostooosa. Aí, a meu ver, começam as trapalhadas.

Antes de pagar pelas entradas, fui atrevido! Perguntei à bilheteira, que parecia simpática, se “malacabados” não tinham o direito de pagar meia-entrada naquele local.

“Olha, bem, só tem esse direito os idosos e estudante com carteirinha. Você não tem, tá?!”

 Resolvei complicar a situação, uma vez que achei a resposta dela automática e sem a preocupação sequer de me ouvir ou levar adiante a reclamação.

“Então, eu preciso ter o direito de escolher ficar em qualquer lugar que eu quiser. Afinal, eu vou pagar  igual a todo mundo, né?”

 A moça, agora já perdendo toda simpatia e querendo dar fim ao atendimento, rebate: “Mas o senhor tem opção: ou fica aqui em baixo óh, que é um lugar maravilhoso, ou fica lá no alto!”

Gostando do jogo, retruquei: “Ter dois lugares disponíveis é diferente de ter mil, como os outros espectadores comuns….”

Aí a danada resolveu mostrar as garras e me dar um “pito”. Na realidade, o que ela fez foi demonstrar um despreparo e um preconceito implícito “zigante”….

“Graças a Deus que o senhor ainda pode escolher dois lugares….”

Confesso, “zente”, que minha briga nunca é por pagar menos, pagar a metade, o que não é realmente uma lei, o que eu busco, e recomendo a todos os que passam pela mesma situação também busquem, é IGUALDADE.

Por que raios eu vou pagar a “passagem” 100% para entrar no cinema se os lugares oferecidos a mim são sempre naqueles que NINGUÉM quer? Estão lá, grudados na tela, desconfortáveis, humilhantes?

Um bom espaço de entretenimento, a meu ver, vai oferecer dignidade à pessoa com deficiência ou a pessoas com mobilidade reduzida: sempre reservar espaço nos melhores lugares e, ainda assim, oferecer um desconto.

“Uai, tio, cê qué folga?”

É simples, meu povo. Quem não tem o direito de escolha, precisa ser compensado de alguma maneira.

Não sou um estúpido de achar que um cadeirante precisa conseguir acessar todas as poltronas de um teatro, o que poderia ser arquitetônica e financeiramente inviável, mas exigir ser tratado com respeito e que meu ponto de vista seja considerado, vou sempre!

As grandes salas de cinema, até pouco tempo atrás, davam o direito “informal” à meia entrada a cadeirantes, uma vez que sentiam vergonha de cobrar pelos cantinhos escroques que a nós reservam, agora, cada vez mais, estão cortando o “benefício”.

É preciso ficar atento, reclamar, cobrar e mostrar que esse “acesso” é praticamente uma esmola e não contempla verdadeiramente as diversidades.

No final da história do teatro, paguei inteira (adoraria pagar sempre inteira, desde que houvesse conforto e direito de escolha, como qualquer outra pessoa!), e assisti ao espetáculo numa posição muito boa…

Mas isso não diminuiu o meu nó na guela de, mais uma vez, ser um “meio cidadão”, ser incompreendido e, até mesmo, passar por “malandrão” que quer gastar menos.

Como não há civilidade suficiente para resolver isso pelo bom senso de empresas e pessoas com deficiêncial, loguinho, talvez, seja a hora de batalharmos por maaaaais uma lei…

Comentários

  1. Eu adoro sentar grudado na tela de cinema senao nao vejo rss mas sei que nem todos precisam nem gostam.. o correto,a meu ver,seria destinar, em cada “setor” alguns espaços pra malacabados e nao agrega-los num gueto “só pra esgualepados” como se estivessemos na Varsóvia da 2a guerra,nao acha? Qto ao pgto da meia entrada,pagar menos..deveriam manter,mesmo com boa qualidade,afinal ja gastamos em aparelhagens pra nós,remedios q nem sempre o governo dá,gasolina pra vai e vem de médico ( ou passagens de busão e um busao q nao nos atende como deveria)..o mesmo pra idosos.Abraço.

  2. Oi, Jairo, tudo bem? Concordo com o que escreveu. No cinema do Reserva Cultural, por exemplo, há só uma opção ao cadeirante, sentar no fundo da sala, isolado dos demais espectadores; se tivermos um acompanhante, ele terá que sentar numa cadeira improvisada, e não numa poltrona. Quando vou ao cinema do clube Hebraica para assistir a um filme de festival, não consigo enxergar a legenda eletrônica no espaço reservado para os cadeirantes. Resolvo ficar numa rampa íngreme, desconfortável (entre as duas arquibancadas), mas mais perto da tela, e volta e meia algum espectador ou funcionário reclama, dizendo que há lugares específicos para cadeirantes, e que eu não posso ficar ali, pois atrapalho a passagem e a visão dos outros (eu explico a situação, brigo se for o caso, mas nunca saio do lugar que escolhi). Quando há apenas uma opção de espaço ao cadeirante, eu pessoalmente não me incomodo, desde que não seja muito no fundo nem muito na frente e que a visão seja boa (o problema é o pouco número de poltronas ou lugares destinados aos cadeirantes… e se quiséssemos organizar um passeio com 15, 20 cadeirantes?). Eu acrescentaria outra reflexão. Se eu for ao cinema sozinho, não tenho como chegar até o local andando pelas ruas ou utilizando o transporte público, pois são inacessíveis para mim; terei que pegar táxi (como é caro, só dá pra sair sozinho de vez em quando…). Se a “sociedade” ou o “governo”, de modo geral, não oferecem condições plenas de acessibilidade aos cadeirantes, eu não acho justo, sequer, que seja cobrado ingresso, afinal muitos de nós já gastamos muito mais grana que as outras pessoas nos nossos deslocamentos urbanos (nosso “ingresso” pode já custar 50, 60 reais). Que tornem a cidade acessível, aí acho justo pagarmos entrada inteira. Um abraço

  3. Devo admitir que, desde que o Lucas veio iluminar minha vida, pouco tenho ido ao teatro para assistir a espetáculos que não coadunam com a idade ou compreensão dele. Já no quesito cinema só vou para ver desenho animado ou filmes infantis em 3D (adogo). Geralmente vamos ao shopping, onde há várias salas da rede Cinemark. As salas são um atentado à dignidade de cadeirantes e acompanhantes. Acho que, enquanto os outros vão comer porcaria nos Bob’s da vida após a sessão, os mamulengos procuram uma drogaria pra jogar um dorflex goela abaixo. O detalhe é que não dá sequer para pleitear um local lá atrás, porque a entrada é pela frente, onde está a tela, e dali pra cima é só degrau. Questionei a gerência e eles me devolveram uma pérola: o local destinado a cadeirantes é o de evasão mais rápida em caso de sinistro. Chorei de emoção.

  4. O que falta mesmo, mesmo, é RESPEITO pelo deficiente. O dia q tivermos isto, estaremos na igualdade. Eu também quero “enforcar” só um pouquinho certas pessoas, mas, o que fazer, né? O negócio é a gente lutar por RESPEITO. Enquanto isto não acontece…

  5. Jairinho, meu querido, espero q se lembre de mim!!!! A Michelli Bertoni compartilhou esse post no face dela e eu naum podia deixar de comentar, e é frustrante saber que é uma luta antiga e que ainda continua, ter que lutar por direitos básicos, aparentemente banais, mas e então conseguiu ver o filme em um bom lugar? Deu pra ver direitinho? Bjos qrido, uma ótima semana e saudadesss!!!!

  6. Ah não! Quando eu pago inteira faço questão de escolher o lugar igaurzinhooooo ao Tio! rss
    Nos cinemas aqui de Recife ainda pagamos meia e eu acho justo, porque o padrão de vida dos deficientes daqui é bem diferente dos de SP. Mas parece que isso vai acabar mesmo como no novo shopping Rio Mar, onde deficiente paga inteira.

    1. Pois é, darling… mas os lugares que eu gosto são sempre impossíveis de chegar com a cadeira… e eu estou muito velho para aceitar colinho de seguranças, né?! kkkkkk.. bjoss

  7. Eu saia sempre com uma amiga cadeirante mas com alguma mobilidade fora da cadeira… Mesmo assim enfrentamos grandes dificuldades: escadas, funcionários despreparados, mas principalmente com o público. Olhares zangados para nos deixar entrar em primeiro lugar eram comuns. A população brasileira precisa aprender que além de direitos temos DEVERES. E nossos direitos terminam aonde começam os dos outros. Descobri que só conseguimos ver o mundo pelos olhos dos outros quando vivemos o dia-a-dia dos mesmos. Se tiverem a oportunidade, recomendo a todos sentar em uma cadeira de rodas e tentar dar uma volta no quarteirão.

  8. Jairo, vc sabe que eu sou meio black bloc com certas situações, né? Então acho que faltou essa “ação direta” textual no relato: o nome do teatro. Se eles se sentirem vulneráveis, talvez repensem o procedimento. Abração, cumpadi, e força na piruca (ui!).

    1. Juca, como não é uma situação isolada, achei melhor não fazer o “black bloc”, embora, em muuuitas situações, tenho a vontade de passar minha cadeira no pé de alguns… kkkkkkk.. abraço!!!

  9. Voce esta certíssimo. Talvez seja por isso que não vou mais ao cinema, somente se o filme valer muito a pena… Acho que to ficando cansado de brigar por nossos direitos, na maior parte somos incompreendidos e tidos como chatos, resmungões e querendo levar vantagem. Enfim é o que vc disse, tb adoraria pagar inteira e ter o mesmo direito dos demais, ou seja, escolher um lugar legal como todos os demais cidadãos! Abraços.

    1. É… cansa mesmo ser o chato, o “oportunista”… Mas a gente vai vencer… um dia, a gente vence.. abração!!!

  10. Dia desse também fiquei pensando,quando comprava a entrada do cinema,porque meu marido ,minha filha e meu genro pagam metade (eles estudam)e eu pago inteira ,sem direito a escolher lugar…As nossas leis tem que ser mudadas!!Foi como vc disse,não é mendigar para pagar a metade,o fato é ter as mesmas opções que os outros…bjss querido

    1. Se houvesse bom senso, se as pessoas pensassem um pouco, só um pouco, na realidade alheia, nem lei era preciso, querida… bjosss

  11. Tem gente que coloca cada comentário “sem noção” não é Jairinho?
    Nessa situação que você apresentou dá vontade de botar o “Jabuca em campo” (expressão daqui de Santos).
    Beijo meu querido.

  12. Pois é…. pois é…
    Não sou a favor de todo e qq deficiente pagar meia entrada. Alias, não sou a favor de ninguém pagar meia entrada, vamos combinar. Mas, nesse caso, achei justo. Realmente, deveria haver algum tipo de compensação pra vocês.
    Eu nunca quis pagar covert artistico quando não usava nem prótese. Ué, eu não usufruia. Por mais que eu respeite os artistas (ai que medo do Dudé me xingando se ler isso), era um caso de impossibilidade. Tal qual a sua de escolher.
    Phoda é não ter meio termo nunca e ter que aguentar calado o tempo todo, mesmo quando a situação é injusta. Ora, o mundo não é justo, então adequemos…
    Beijos

  13. Pois é Jairo, já tive a oportunidade e graça de Deus, ver espetáculos fora de nosso país e lá fora eles reservam para nós os melhores lugares além de podermos levar nossos acompanhantes. Lamento que em nosso país continuam com pensamento retrógrado. Compartilho contigo, pagaria inteira se pudesse escolher o lugar, e o pior é não conseguir chegar a estes melhores lugares separados por uma BELA DE UMA ESCADA.

    1. Edson, que bom que vc ratifica o que eu estou relatando! Na Brodway, por exemplo, os lugares reservados são ótimos e, assim mesmo, TEM DESCONTO!!! abrasss

  14. Concordo, plenamente … Também pago de bom grado uma entrada inteira, desde que tenhamos disponíveis mais opções e confortáveis e não ficar como engasgados na frente , olhando pro alto e no fim do espetáculo, ganhamos de brinde um torcicolo!!! Bjssss

  15. Sinceramente nao serao os balconistas e atendentes que resolverao o problema citado. Fica a dica para enviar sua indignacao diretamente para o SAC, ouvidoria ou ombudsman da prestadora do servico… O ato de reclamar no balcao so causa stress para o funcionario e possivel repudia dele com outros clientes que tentam fazer o mesmo. Logico que ha empresas que tem programa de captar insatisfacao do cliente neste atendimento, mas acredito que teatros e cinemas ainda nao o fazem…

    1. Obrigado, Lucas! Fiz o que vc sugere, tenha certeza… De qualquer forma, a meu ver, atendente é para ATENDER… e isso envolver ouvir o cliente.. abraço

  16. A questão é bem interessante. Não sei se todos os lugares de um teatro poderiam ter acesso a cadeirantes, mas a disponibilidade, e a variedade em diferentes partes do teatro, realmente deveria ser bem maior.

    Agora, se o diálogo é verdadeiro, não vejo muito sentido em fazer essa discussão com quem é funcionária de uma bilheteria, e não tem nada a ver com esse tipo de decisão.

    1. Ricardo, a pessoa que me atende tem de ser a minha interlecutora nas demandas. Caso não sirva para isso, podemos trocar tudo por máquinas, não?!

      1. Desculpa, Jairo, mas você sabe que a funcionária da bilheteria não vai “levar suas demandas” aos responsáveis, que duvido muito ela saiba quem são. E não imagino qual a base para acreditar que ela deva ser interlocutora de suas (ou de qualquer outro) demandas. Imagina reclamar com o faxineiro de uma casa noturna o fato dela não ter plano de prevenção de incêndio.

        Mas o ponto não é esse. Como já disse, acredito que esse tema é bem importante.

        1. Ricardo, houve erro da funcionária.. o próprio teatro admitiu em resposta enviada a mim… ela não é um abajur, é uma pessoa que atende ao público, logo, não pode ter esse perfil que vc traça… abraço

  17. Mas não existe uma Lei falando que locais públicos e casa de espetáculos devem ser acessíveis? Acessibilidade não significa apenas reservar 2 ou 3 lugares, implica muito mais que isso. Certos cinemas para aplacar a fúria de deficientes inconformados oferecem 50% ou gratuidade na entrada, acho isso indecente. Não estamos à venda!

  18. Cidadão é cidadão, não podem existir “categorias” de cidadania.
    Penso que é vergonhoso que fatos como esse aconteçam e, pior ainda, que algumas pessoas não dêem a mínima para isso.
    Precisamos evoluir e merecer o rótulo de “civilizados”, e isso passa pelo respeito a todos.

  19. “Graças a Deus que o senhor ainda pode escolher dois lugares….”
    E a vontade de encher a cara dela de bolacha depois dessa?

    1. Você aparentemente joga no time dos que aceitam tudo goela abaixo. Agradeça aos céus pelo fato de a população brasileira não ter sido historicamente constituída por quem não questiona. Afinal, se não fossem os “barraqueiros”, não haveria Lei Maria da Penha, não haveria lei da acessibilidade, não teria havido impeachment ou cassações, e provavelmente ainda estaríamos enviando ouro para Portugal.

  20. Jairo, aqui na Bahia ainda pagamos meia nos cinemas, claro que ficamos próximos a tela, quem não gosta muito é meu filho Matheus de 05 anos. Mais pelo menos dá para a família ficar juntinha. Mais bem que gostaria de pagar inteira e ficar melhor localizado.

  21. Como aposentado uso meu direito sim! E exijo ele!
    Mas acredito que se o preço baixasse, todos poderiam pagar menos, um benefício geral.
    R$ 260,00 para ver um musical é demais, mesmo sabendo do alto custo da montagem.
    No cinema a mesma coisa, pagar R$30,00 para ver O Concurso, é jogar dinheiro no lixo… não dá nem pagamento meia.
    Talvez esperar sair em DVD e comprar pirata, R$ 2,00, mas existem casos de alguns filmes que nem isso, pirata, dois reais é caro!

  22. O direito de pagar inteira

    Concordo com o autor, pois se pagou tem o direito de escolher o local mais apropriado, como qualquer outro cidadão. O que não compreendemos é que quem paga inteira está pagando também a metade de quem paga meia. Não existe nada de graça, nenhum empreendedor irá montar um negócio para que ele tenha prejuízo, nem que receba apenas metade do que ele poderia receber. Assim, o justo seria todos pagarem inteira e pagar o preço justo.

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