O “pior” cego

Jairo Marques

Meu povo querido, finalmente, consegui sair das catacumbas frias desse inverno “maledeto” que deixa meus cambitos mais gelados que geladeira desregulada de casa de pobre… 😉

Mas vamos que vamos retomar as postagens desse blog que continua firme no propósito de mostrar aspectos da vida dos “malacabados” das pernocas, nos sentidos ou da caxola! Uhrúúúú

No último domingo (28/07), um ponto me chamou bastante a atenção em uma entrevista que a presidente Dilma deu à colunista da Folha, Mônica Bergamo.

Entre um “bla-bla-bla” e outro, a presidente soltou: “Eu tenho neurose com olho. Já aguentei várias coisas na vida. Não sei se aguentaria a cegueira.” Para ler toda a entrevista, basta clicar no bozo! 

O ponto de vista (uia, trocadilho :mrgreen:) da dona Dilma é quase um senso comum. Grande parte das pessoas avalia a cegueira como o pior dos males. Colocada na perspectiva do nosso país, onde os cegos padecem de uma falta de estrutura e de respeito quase absoluta, não é de se espantar com esse medo crônico.

A discussão sobre qualé a “pior” deficiência (se é que isso seja uma discussão válida, né, não?) já fiz aqui no blog e rendeu um bocado. “Pricurei” o link e não achei, caso alguém consiga, por favor, coloque nos coments?!

Em resumo, o “que é pior” depende muito do foco que se lança, dos valores que se tem, das experiências vividas e desejadas para cada realidade.

A perspectiva de que ser cego é o que “há de mais ó do borogodó” vem da nossa supervalorização do visual em detrimento de outros sentidos.

Claaaaro que, para mim, pensar em cegão dá calafrio, mas, em outra forma de olhar, os cegos são os que mais me impressionam em sua maneira de reinventar a realidade, de surpreender com as habilidades, de reformar conceitos sobre o que temos como limites das capacidades dos sentidos.

Casos já publiquei aos montes aqui no blog, mas sempre cabe mais um, falai?! 😮

Sacam aquele programa que fez sucesso no final do ano passado aqui no Brasil chamado: “The Voice”? Pois bem, ele é uma espécie de “franquia” que rola no mundo todo.

O nosso “Voice”, a meu ver, é bem fraquinho devido a nossa cultura de não estudar com profundidade o canto e suas possibilidades. Algumas pessoas acham que é só pegar no microfone e mandar ver…

Mas, em outros países, a disputa é feroz. Candidatos com profundo conhecimento de canto, de melodia, de entonação, de instrumentos e ‘tudibão’.

E não é que no “The Voice Austrália” uma cegona MARAVIWONDERFUL de linda e de talentosa deu um trabaaaaaalho danado?

Rachal Leahcar, que tem visão perto de zero, detonou, encantou e deixou os jurados e público de boca aberta com seu talento para o canto.

A moça chegou até as finais, mas não ganhou. “Quédizê”, transformou-se naqueles candidatos que não ganham, mas que se viram os mais famosos no país, sacam?

Rachal fez vários vídeos mostrando como faz para se virar, como desenvolveu seu talento e, claro, cantando e encantando com sua beleza, simpatia e capacidade.

Sinceramente, ser uma “cegona” como a Rachal deve ser muuuuuito mais bacana que ser um “serumano” sem valores, corrupto, mau caráter ou sem amor à vida…

Fica a dica para refletirmos bem antes de jogar “desgraceira” na condição de vida alheia. Tudo depende de como encaramos nossa realidade, de como queremos construir uma realidade, de como amamos a oportunidade de estar vivos!

Aqui abaixo, um clipe de Rachal para “ceitudo” babarem de achar bom!!!

 

Comentários

  1. Acho que todos se perguntam qual a pior deficiência. Certamente não é a cegueira! O homem que amo é cego e é tudo de bom. Não tem nada de ruim nele. Kkkk

  2. Lindezo, pra todos nós é uma incógnita essa coisa de pior ou melhor deficiência. Somos todos deficientes e perfeitos, questão de ponto de vista. Minha deficiência capilar, por exemplo, me impede de imitar a Joelma do Chimbinha – daí você vê meu prejuízo -, por outro lado não torço para o SPFC, o que me garante a isenção a grandes sofrimentos. Y así la nave va. Interessante a identificação com a Denise e a Sofia: os médicos foram categóricos ao afirmar que minha malacabadinha jamais falaria, andaria ou frequentaria uma escola. Um deles chegou às raias da crueldade, me dizendo que ela seria sempre “um vegetalzinho”. Ainda no tocante à identidade, minha preocupação mesmo era com a felicidade de minha filha, e acabou que ela deu um tapa na cara nos cavaleiros do apocalipse de jaleco, já que só ficou devendo no quesito ‘andar’. Minha expectativa em relação a Ana Paula era renovada diariamente, sem cobranças e com muita comemoração, como deve ter sido a da família dessa cantora australiana. Sempre tive muito orgulho de minha filha, pela capacidade de desafiar e detonar dificuldades.

    1. Negão, esse amor q vc mantém por sua filha é um negócio lindo demais da conta… a gente tinha de contar isso direito, não?!

  3. Certa vez li em algum lugar ( faz muitos anos entao nao lembro) que a “pior” deficiência seria a cegueira já que usamos os olhos pra ver até o que não precisa,é o sentido mais “usado” e seria o equivalente ao que o olfato é pro cachorro..mas não sei..ja pensou ver tudo e não ouvir o que se passa,ver 2 pessoas conversando e ficar angustiado por nao saber “lê-las”?Mas concordo com quem disse aí antes que talvez seja assim pelo fato da cegueira nos remeter ao escuro e que este é algo “ruim”,algo talvez que tenha surgido com nossos ancestrais flintsônicos ( e que,nao me apedrejem,pode ser a causa de males como o racismo,por exemplo,alem da ignorancia dos dias de hoje).Abraço!

  4. Nossa foi lei da atração encontrei uma senhora e disse que não queria deixar de ter deficiência e ela disse que o pior era ser cega. a não acho mesmo.ruim é não se aceitar
    sobre o post da discussão sobre a pior deficiência acho que comentei e foi antes da mudança do blog acho que uma história que vc foi fazer uma palestra com surdos

  5. Tio que saudades !!! Voltou com força no debate, e eu amo quando você coloca a gente pra pensar em coisas que pra quem enxerga, não passaria pela cabeça.
    Obrigada. Bom retorno ao blog e parece que o frio diminuiu um tiquinho essa semana, né? Bjs

  6. Bom dia Jairo, eu acho que a pior deficiência é aquela que não é aceita por nós. Claro que no início dessa nova fase pintam inúmeras inseguranças, mas já que é inevitavel, relaxa e gosa. Um abração

  7. Não sei o que rola na Austrália, mas esses programas musicais lá balançam os mortais normais… Além desse the voice, eles tem um outro chamado the x factor. Teve um ano que foi um rapaz iraquiano adotado que, qdo criança, passou pelos campos de guerra e teve amputações. A música que ele cantou foi Imagine do John Lenon. Perfeito! Emmanuel Kelly! Ele conta um pouco da história dele e e depois canta. Nem os jurados aguentam! Belíssima história de superação!

  8. Oi Jairo sumidão! Tudo bem? Estava com saudades suas. Bom, agora entrando no texto e nos coments, eu vejo muito de minha mãe na Denise. Minha mãe também se preocupou e ainda se preocupa comigo. Hoje estávamos conversando e ela me disse que, quando viajávamos pra algum lugar, ela fazia o possível e quase o impossível para que eu visse tudo o que esta proporcionasse. Ela também é uma tremenda “ativista” pela nossa causa, mas diz que não é. Quanto a cegueira ser a pior deficiência, acho que tem piores, sim. Já conheci pcs que não se alimentavam pela boca, porque não tinham como controlar a glote, além de todas as outras funções físicas, mas com o intelecto intacto. Mas, pensando bem, eles também tem momentos de curtição da vida. Na Espanha, quando fui fazer o curso em Salamanca, um professor disse aos alunos que a pior deficiência para ele era a pc limítrofe, porém ele não definiu a palavra limítrofe. Eu, particularmente estou com você e penso que os piores deficientes são os carinhas sem ética, sem vontade de viver, que faz mau a todos etc. Bjs e bem vindo de volta!

      1. Jairo, o curso q fiz em Salamanca foi o de III Master Ibero Americano sobre a INCLUSÃO DA PESSOA COM DEFICIENCIA. Falo da minha ida lá no meu último livro “Memórias…” q vc tem. É um de capa azul com uma pintura com várias bolinhas azuis. Foi muito interessante a minha estada lá, mais do q o próprio curso. Sou uma ativista subversiva MESMO! Bjs.

  9. Sabe, quando os médicos me deram a notícia da lesão da Sofia, o que mais me assustou foi quando disseram que ela não leria nem escreveria, pois a área mais afetada do cérebro foi a da linguagem… Eu saí do consultório desnorteada, sem chão. Chorei tanto. Fiquei com medo de estar sendo preconceituosa, de temer mais por mim do que por ela, porque eu estava colocando os meus valores acima de tudo. Na minha vida as palavras tem e tiveram um papel fundamental… Como seria a comunicação com ela, a vida de quem não lê me parecia tão triste…
    Fiz terapia e me perdoei. Não há deficiências piores que outros, há o nosso olhar, a nossa expectativa sobre o outro… Hoje me vejo mais pronta para conviver com uma criança cega, uma criança com deficiência intelectual, enfim, porque vejo que o desafio é sempre educar uma criança para ser feliz, sejam quais forem as características dela… Quem sabe um dia eu ainda adote? Adorei o texto e a volta ao blog! Beijos

    1. Denise, eu tenho tanto orgulho de ter vc entre meus leitores (que acabou virando amiga, né?!). Sua coragem em expor suas próprias situações ao lado de Sofia contribui demais para que os aspectos que levanto no blog ganhem mais importância… show… como sempre.. bjoss

      1. Eu é que tenho orgulho de ser sua amiga! Nesses oito anos de caminhada, conhecê-lo e todo esse grupo maravilhoso foi um momento fundamental…
        Resumindo assim, parece que eu nunca me importei dela não andar, o que não é verdade. Nós, mães, temos sempre uma intenção de fazer tudo, de garantir a saúde (e por mais impossível que isso seja, a perfeição). Mas é que a questão da leitura foi meu calcanhar de Aquiles, o meu pavor maior…
        Ela lê desde os 5 anos, mas hoje eu vejo que esse pavor todo é tolice nossa, né?
        E eu continuo aprendendo tanto por aqui, com você, com seus relatos sobre sua mãe, com as coisas que a Lak escreve, com todo mundo, enfim…
        Sou eternamente grata!
        Beijos e contando os dias para o encontro (se eu não for obrigada a perra justamente nessa semana)

  10. Oi Jairo!!

    Não tenho deficiência, e concordo com você que não existe esse negócio de pior ou melhor deficiência. Acho que cada um de nós teríamos mais dificuldade de lidar com alguma coisa. Eu, por exemplo, teria mais dificuldade de lidar com uma surdez, visto que a música é minha profissão, já pra um desenhista a cegueira seria mais dificil de encarar, e por aí vai.
    O que acho é que não podemos ter aquele olhar de que uma deficiência traz mais sofrimento do que outra. Todos somos deficientes em algum aspecto, portanto, todos somos iguais.

    Beijos e AMO seu blog!!!! Já estava com saudades…..

    1. Priscila, que bom te ler… que bom ter vc opinando por aqui!!! Volte mais vezes, tá bem?! Um beijão

  11. Penso que o temor à cegueira é o reviver do pavor ao escuro, que todos tínhamos quando crianças. É também claustrofóbico e nos coloca na desagradável posição de eternos dependentes de outros.

    1. Artur, acho que faz sentido, e bastante, o que vc diz… mas o tal “temor” tb é experimentado qdo tapamos por muito tempo os ouvidos, qdo pensamos na perspectiva de não andar “nunca mais”… será que não? Abração

Comments are closed.