Os ausentes da Copa

Jairo Marques

Como já era previsto, choveram reclamações de pessoas com deficiência sobre dificuldades e até impossibilidade de chegarem até os estádios onde rolaram jogos da Copa das Confederações.

Recebi mensagens de leitores que relataram que até no Maracanã, palco da grande final, no próximo domingo (30/06), os acessos estão mais complicados que pentear o cabelo do Neymar.

Não fossem os protestos que sacudiram o país nas últimas semanas, esse descaso todo com pessoas que usam cadeiras de rodas ou que andam de forma meio capenga (além de cegos, surdos, paralisados cerebrais, downs…) seria um escândalo mundial.

Em Londres, no ano passado, quando fui cobrir os jogos Paraolímpicos, o respeito com a diversidade era tremendo, pena que não gerou uma memória eficiente para as centenas de observados enviados pelo governo, pagos com o dinheiro público, só para isso: olhar e captar o que deu muito certo para ser repetido em nossos grandes eventos.

Aqui em nosso país, a falta de dignidade para o público “malacabado” é tão humilhante que muitos sequer conseguiram se aproximar das ostentosas arenas esportivas, haja vista a falta de estrutura urbana, de transporte e também do básico: rampas, sinalização, lugares demarcados, estacionamento.

O que as pessoas “quebradas” querem não é privilégio para ver futebol da janelinha. Querem é condições iguais de poder contemplar os espetáculos esportivos com um mínimo de comodidade.

Houve problemas para comprar os ingressos, para chegar aos lugares reservados (isso quando eles existiam de fato e funcionavam), para usar banheiros acessíveis, para subir rampas, para ser cidadão como outro qualquer.

A falta de acessibilidade adequada aparta não somente cadeirantes e cambaleantes dos estádios, ela afeta idosos (público que tem dinheiro para as entradas e interesse pelas competições), as famílias que levam suas crianças para os centros esportivos.

O bumbo foi batido diversas vezes para que os governos e autoridades responsáveis pelos jogos dedicassem seus olhares para a diversidade na Copa, o que, pelo que tudo indica, foi ignorado em diversos pontos. (Vi manifestações positivas apenas da estrutura do estádio Mané Garrincha, em Brasília)

Há tempo para que, minimamente, um vexame social maior seja protagonizado pelo país, em 2014, basta vontade política (o que, aparentemente, está sobrando ultimamente) e ação efetiva para melhorias.

As regras já existem para a promoção da acessibilidade, mas é preciso ter vergonha na cara para erguê-las e menos ímpeto de corrupção para não deixá-las de lado.

Desta vez, a demanda e o grito  da injustiça passaram em branco, mas entendo que a turma dos “estropiados” não vai ficar de fora do Mundial também.

Imagino que seria bem complicado para a frágil imagem social do Brasil no globo ver espalhadas por aí fotografias de centenas de pessoas com deficiência do lado de fora dos estádios gritando: “Vem pra rua, vem… que é aqui que nos colocaram”.

Comentários

  1. Jairo, estou meio sumido mais vai meu relato, Jogo Brasil x Italia aqui na Bahia. A chegada ate o estacionamento oferecido pela FIFA foi tranquilo e de lá peguei um ônibus ate a porta do estádio, sem problemas. No estádio tinha que pegar um elevador para o nível 1(5º andar), 40 min de espera, pasmem o elevador só cabe um cadeirante por vez, e tinha um monte, fora os idosos, os de muleta e etc, onde fiquei tinha que ficar a todo momento pedindo as pessoas para sentarem pois caso contrário não via nada. Para encerrar na saída o mesmo problema do elevador e mais não tinha ninguém da FIFA para orientar a volta para o estacionamento uma baderna total, quase duas horas para pegar o ônibus de volta para o estacionamento onde deixei o carro. O lado positivo de tudo isso muito malacabado no estádio com direito a engarrafamento de Cadeira de Rodas.

    1. Andrezito, o relato que vc faz aponta um problema GRAVE. A entrada e a saída do estádio devem ser rápidas… Ficar 40 min esperando um elevador é de chorar… abrass

  2. falou e disse!!disse tudo!!até barranco de terra tinha em Brasília,ja depois de passar pela revista,pra eu chegar no meu portão dd entrada!!! E pergunta se algum funcionário ou voluntário me ajudou…Tive que contar com a ajuda de estranhos…isso é Brasil!!!

  3. Fala meu grande amigo e colega Jairo , mais uma vez estou aqui para prestigiar o seu trabalho e como vc fico muito decepcionado pois como sabe sou apaixonado por futebol , com certeza quero estar nos estádios na copa do mundo se não for trabalhando, quero pelo menos assistir algum dos jogos,temos que lutar para melhorar a infra dos estádios melhorar principalmente a acessibilidade , pra vc ver no Pacaembu, existem duas vagas próximas ao portão de entrada dos “malacabados “as restantes ficam na frente do estadio e somos obrigados a transitar na rua para chegar a entrada,vamos colocar a boca no trombone, Abraços Marcão, ha ia me esquecendo dê uma olhadinha no meu blog o endereço é http://completandoajogada.blogspot.com.br/

  4. Realmente o atendimento em Brasília foi perfeito. Vi algumas pessoas reclamarem no dia pois apresentaram dificuldades no acesso ao local, porém isso ocorreu mais por falta de prestar um pouco de atenção e procurar o melhor caminho, já que tinham poucas pessoas informando os portões e acessos adequados. Só que isso era necessário para todas as pessoas, andantes ou cadeirantes.
    Achei super inclusivo e o Brasil devia aprender com esse padrão da Fifa!
    Uma pena que em outros locais não foi assim, eu já tava querendo ver os jogos da Copa em várias cidades!!!
    Um abraço

  5. É, Jairo. Eu fui assistir o jogo entre Brasil x Itália em Salvador e o grande problema que encontrei foi a localização do banheiro. Os cadeirantes, em sua maioria, estavam no primeiro nível, lá em baixo, quase rente ao campo, mas alguma inteligência superior teve a brilhante ideia de colocar o ÚNICO banheiro adaptado no quinto nível do estádio, o que causou fila e congestionamento no elevador. Existiam outros problemas, mais contornáveis, mas essa do banheiro foi demais.

    1. Ronald, o correto é: lugares em vários pontos do estádio… banheiros acessíveis em todos os níveis… tudo fora disso é remendo… abraço e valeu o relato!

  6. Grande Jairo, fui ao jogo de abertura Brasil X Japão em Brasília e o que posso dizer é que foi quase tudo certo.
    Comprei os ingressos na pré-venda do site da Fifa, para cadeirante, paguei super barato, com direito a levar mais uma pessoa, fomos eu e meu pai, além disso eles me ligaram para oferecer gratuitamente uma credencial de estacionamento. Fui pegar os ingressos e sem fila, tudo organizado, peguei a credencial e no dia fui pro Estádio Nacional Mané Garrincha.
    Estacionamento excelente, bem perto da entrada, a reclamação é que faltou informação, diga-se pessoas em informadas para nos orientar, pois subi uma rampa que cheguei a pensar que iria ara o céu, de tão grande que era o que me cansou os braços, se houvesse informação, teriam avisado que poderíamos entrar por qualquer portão lá embaixo e pega o elevador e nos dirigirmos ao local marcado nos ingressos…
    Chegando ao local designado tudo certo, local para estacionar a cadeira e a cadeira do acompanhante ao lado, banheiros ok também.
    Pelo o menos em Brasília, e comigo, não tenho orquestra reclamar e já estoure olho nos ingressos da Copa!
    Grande abraço!

    1. Rafael, muito obrigado pelo relato. Outras pessoas me fizeram elogios de BSB. O fato que vc aponta como negativo é geral: falta gente bem informada para dar fluxo… Grande abraço

Comments are closed.