Acesso à história universal
Morei um tempinho na Espanha, como parte dos leitores já sabe. Êh, lugar onde fui feliz e me senti com bastante independência.
O país já evoluiu um bocado em questões de acessibilidade e, por todos os cantos, há maneiras de tornar o acesso a tanta belezura histórica democrático. Em alguns pontos, é possível perceber uma grande inteligência de arquitetura para que os prédios veeeeelhos consigam receber a todos.
Mas me lembro que, a visita a uma cidade (a mais emblemática de todas) foi um pouco frustrante. Toledo, famosa demais da conta por suas raízes históricas, tem uma estrutura urbana beeeeem complicada para andar montado em cadeira de rodas pelas ruas.
A cidade é cheia de escadarias, de terreno íngreme e de pontos que, para mim, eram inacessíveis. Não quis avaliar de perto. Eu estava sozinha e imaginei que seria trabalho demais…
Penso que o patrimônio histórico só é completo se não é excludente, embora eu entenda que, às vezes, os desafios para garantir essa condição sejam bastante complexos.
Importante, porém, é firmar posição sempre de que os bens culturais precisam receber também pessoas com deficiência física, sensorial, intelectual.
Pois uma amiga minha viveu uma experiência “histórica” beeeeem bacanuda. Em uma viagem à Itália, ela presenciou uma excursão cheeeia de quebrados e de velhinhos chegando uma cidade repleta de desafios arquitetônicos.
A Maristela Brunetto, que foi minha veterana na faculdade, fez um relato do que presenciou pra gente… ficou “maraviwonderful”!!! Borá ler?!
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Imagino que conhecer uma cidade medieval desperte o interesse em muita gente. Ver como se vivia há 800 anos ou até mais naquele local. E que engenharia para manter casarões, igrejas, torres, intocadas séculos depois.
Foi isso que pretendi ao visitar no final de maio a cidade italiana de San Gimignano, na Toscana. Linda, pequenina. Chega-se a ela subindo muitos morros, em estradas cheias de curvas, um cenário rural, parado no tempo, charmoso.
E como é cheio de gente com o mesmo propósito, de conhecer a chamada Manhattan medieval, dadas suas imensas torres seculares.
Eu e meu marido compramos o passeio de um dia pela Toscana a partir de Florença. Ficamos pouco mais de uma hora em Gimignano. Tempo suficiente para tomar o dito “melhor sorvete do mundo”, ver uma ampla praça central com um poço de pedra bem no meio e percorrer as ruelas medievais.
Já de volta ao ônibus para partir vi a cena que me motiva a escrever este texto, a convite do amigo Jairo. Um ônibus somente com turistas “especiais”. Muitos idosos, com muletas, outros com cadeiras de rodas, outros com uma espécie de mini triciclo que sempre vejo em viagens.
Um elevador para retirá-los do ônibus, vários funcionários e ainda a solidariedade dos demais turistas do grupo para “ajeitar” todos para a viagem no tempo.
Senti-me muitíssimo realizada, emocionada de perceber que as limitações de cada um não lhes retiraram a vontade de viajar, conhecer, descobrir pessoalmente o que se ouve dos livros ou da internet.
Não foi a única cena de integração, acessibilidade que registrei na viagem. Vi rampas em ruínas, elevadores em prédios históricos. No Vaticano, havia todo um aparato para ajudar as pessoas que levam cadeirantes, para abrir um acesso “privilegiado” ao ponto alto da visita: a Capela Sistina, sem precisar percorrer todos os corredores dos museus até chegar à obra prima de Michelângelo.
E vi vários visitantes chegando de cadeira levados por familiares ou funcionários do museu e depois da descoberta encantadora no teto e paredes da Capela saindo por atalhos para evitar o movimento da multidão.
Apreciar a história, a arte, a beleza produzida pelo homem ou pela natureza não pode ser privilégio de uns. Todos deveriam poder ter acesso. Gostaria de ver tais cenas cada vez mais comuns no meu País, onde sabemos que falta até mesmo uma calçada adaptada para se chegar do outro lado da rua.
EM TEMPO: O tio também foi para a Itália. Para ver os detalhes da viagem é só clicar no bozo!
Mto bom este post, mas cadê o especial do dia dos namorados???!!! Estamos esperando algo bem romanticoooo Tio!!rs Abç
Uia!
Um dos pontos de maior interesse para mim em viagens sãos os museus, igrejas e monumentos! Mas como é complicado promover acessibilidade nestes lugares! Aqui em Recife e Olinda há debates e “embates” sem fim entre deficientes e defensores do patrimônio histórico! É muito bom ver exemplos de equilíbrio entre estes dois interesses! Adorei as informações da sua viagem e da Maristela! Abração Tio!!!
Querida, há museus na Alemanha muuuito mais antigos que os nossos pernambucanos e, mesmo assim, há acesso. É preciso cobrar e deixar muito claro o nosso direito… bjo
Vejo essas histórias e fico pensando… Quando vamos ter esse tipo de comportamento e de inclusão por aqui?
O Brasil é um país lindo, mas aqui é praticamente impossível esse tipo de passeio, principalmente no norte e nordeste. Não existe acessibilidade nem nos hotéis, nos pontos turísticos então, nem se fala.
Conheço alguns lugares lindos, mas pra mim que sou andante já é complicadíssimo, preciso de alguém em quem me apoiar, imagina pra um cadeirante.
Não existe nada na legislação que obrigue esses pontos turísticos a serem mais acessíveis?
Existe, Lucia… acontece que, no nosso país, ainda estamos trabalhando em “prioridades”. É importante ter sempre pressão pública para que avancemos.. bjo
Um dos poucos lugares que achei acessível no Brasil, foi em Canelas e Aparados da Serra no Rio Grande do Sul.
Em compensação, os Museus de Porto Alegre não são. Meu amigo é cego e surdo, foi comigo ao museu e levou uma bronca fenomenal porque colocou as mãos numa obra pra ver… Será que não poderiam ter inscrições em braile pra deficientes visuais?
Lucia, há cidades no sul que já evoluíram um bocado, mesmo… sobre os museus, há uma iniciativa em curso aqui em sp para tornar parte dos acervos acessíveis tanto para quem não vê como também para quem não ouve, em caso de recursos de audio…. é um começo e penso que irá se espalhar pelo país… bjos
Eu, à beira dos 75, não sou cadeirante, e também não subo mais ladeiras ou longas escadarias. Então, os passeios ficam pela metade…
E a gente fica com uma sensação de metade, né, vó?! Bjo
Enquanto isso,no Brasil, escuto coisas tipo “ah, mas antes nao tinha a lei de acessibilidade” “ah mas tem o recuo que nao permite” e outros mimimis..estamos mais do que medievais neste sentido..mas chegamos lá!
Em alguns pontos, “pré-históricos”…. abrassss
Que legal ver que as administrações públicas começam a pensar em nós, malacabados.
Fui a Veneza recentemente e foi bem frustrante ficar de castigo no hotel enquanto minha família passeava pela cidade, repleta de escadas e tuneizinhos. Mas nesse caso, não há muito o que fazer.
Adorei as duas histórias!
Laís, é bem importante que a gente tenha muita informação sobre o que é possível e o que não é durante a visita em uma cidade histórica, não é?! Bjos