E se de repente…
De repente, o maior jogador de basquete do país descobriu um câncer no cérebro. E foi de repente que a força daquela moça se foi e ela caiu. Também de repente aconteceu a mudança drástica na vida do filho baladeiro. De repente, surge uma ventania do acaso e move aquilo que se achava impenetrável.
É só puxar um bocadinho pela memória que todo o mundo consegue citar um exemplo de gente que teve a vida virada de cabeça para baixo em um estalo. Em um dia o fulano era inteirão, no outro ficou todo quebrado. Pela manhã, era uma jovem cheia de boniteza, à noite virou-se do avesso.
Acontecimentos repentinos no cotidiano podem maltratar planos, traz insegurança, agonia e costumam causar grande desconforto inicial. Fazer tudo sempre igual é uma chatice, mas, quando se alteram subitamente hábitos básicos como dormir tranquilo ou levantar-se da cama, o impacto costuma ser melancólico.
Ninguém espera um buraco em uma passarela de nuvens, ninguém quer o amor perfeito sofrendo com uma dor coronária repentina. Mas as intempéries da existência têm-se multiplicado na vida moderna devido à violência, à velocidade descontrolada, às novas enfermidades e às velhas enfermidades em pessoas novas.
A questão não é viver a paranoia de que tudo poderá mudar em um segundo e, por isso, é preciso ser mais precavido, viver em uma bolha, trancar os meninos em casa ou gastar tudo no bilhar. Não é possível levantar barreiras isoladoras contra o acaso.
Muitas vezes, porém, perde-se a oportunidade de promover um exame detalhado nos próprios procedimentos, na própria maneira de olhar os rumos por onde anda diante de experiências alheias.
Rotineiramente, o “serumano” dedica-se apenas ao conforto de comentar, de lamentar, de fartar-se de alívio por não ser consigo a fatalidade ocorrida na esquina. Raramente, alguém se encoraja a tentar fazer algo diferente seja para si, seja para os outros.
O resultado de procedimentos assim é sempre o isolamento e mais sofrimento para as vítimas do “de repente” e menos chances de evolução de valores tão caretas atualmente como fraternidade, solidariedade, atenção despretensiosa.
Em oposição a toda essa ladainha que exponho, há uma frase bastante forte a considerar: “Cada um com seus problemas”. O que se passa com a vida do vizinho é exclusividade dele, mesmo que o impacto seja sentido em minha janela.
O ônus dessas atitudes, a meu ver, é mais preconceito ao desconhecido, mais distanciamento de situações que poderiam agregar valores poderosamente construtivos de caráter.
Faz parte dos mistérios da existência o poder incontrolável do acaso de mudar tudo do dia para a noite. Ele mexe com as mãos firmes de um médico, dispara o gatilho mesmo diante da não reação, altera o cromossomo, provoca um curto-circuito na mente sadia, arranja príncipe para bruxas.
Quando mais se apostar que insólitos movimentos da vida são para ser acompanhados com resignação e reza para que nunca atinjam o meu quintal, e apenas isso, menos se construirão meios de pavimentar com rapidez realidades que foram alteradas e mais vulnerável se ficará ao medo de deixar de fazer tudo sempre igual.
É amigo.
Eu sou aquela deficiente que não aparenta ser. Isso é que me deixa cabreira.
Muitas vezes sou tratada como fingisse e me olham com raiva, por parar na vaga de deficiente.
Gostei do comentário de soramides, serviu para mim também.
Abração,
Que maravilha ler vc por aqui, querida! Penso o seguinte: se vc tem segurança de que precisa da vaga, use-a. O que revolta é quando alguém que passa por cima dos meus direitos apenas por comodidade.. bjoss
Jairão, estou aqui enrolada no trabalho, lendo uns documentos chatos e de repente eu resolvo espairecer um pouco e entro aqui (fazia tempo que eu não dava um pulinho neste pedaço). Você PHODA, no bom sentido da expressão! Obrigada porque você tornou o meu dia bem melhor. Como é que você faz isso?
Um grande beijo com muita admiração e carinho!
É que eu escrevo com emoçaaaaaaao!!!! 😉
Lindezo, a Foia andou se estranhando comigo e nao me permitiu le-lo nas duas ultimas semanas, mesmo eu jurando e provando que sou assinante do UOL. Ja vi que perdi um bocado de posts, depois faco um apanhado geral. Estou em Portugal e com acesso a internet bastante precario. Quando retornar boto as fofocas em dia. Beijos na galera.
Sempre phino! Aproveite sua viagem!!! Abração
Ótimo texto, deu para refletir sobre o momento pelo qual estou passando e ainda assim continuar cheia de dúvidas, medos e incertezas… Confesso que já fui melhor, quero minha ousadia de volta!
Bjoo Jairo, arrasou como sempre.
Uuuuuia…. acho que querer já é um bom caminho para fazer!!! bjos
Não é fácil passar de uma para outra situação de repente. Conheço muitos cadeirantes que, de repente ficaram paraplégicos ou tetraplégicos ou mães de pc que deram à luz a uma criança que deveria nascer normal, mas que no parto ficam sem oxigenação no cérebro. Além dos canceres que pegam a gente, sem aviso nenhum. A vida é cheia de de repentes. E tem gente que morre sem mais nem menos com uma bala na cabeça ou queimado por bandidos. E de repente está morto. Também há aqueles que sofrem de infarto fulminante. É, Jairo, a vida está mesmo cheia de de repentes. A vida muda de repente, por isto devemos vivê-la com dignidade e com valores que cremos serem boas para o mundo e principalmente para nós. É o que tenho a dizer. Outra coisa é que gostei de seu texto. Bjs.
Beijos, Su!
Pois é.. se o acaso faz a “parte dele”, porque a sociedade como um todo parece ter dificuldade de fazer a dela? Por que essa dificuldade do “e se fosse eu? ainda bem que nao, vou agradecer á vida fazendo algo por quem nao teve a mesma sorte”? Sei lá..
Boa… abrass
Meu pai sempre diz que: ” Se não for assim, não tem graça!”
Esqueci de algo importante… Assisti a entrevista com o Oscar domingo e acho que a maior das lições ele já sabe: nunca perder o bom humor! Minha filosofia é essa e funciona viu… tudo fica mais leve!!
Essa parte traduz tanta coisa pra mim: “Acontecimentos repentinos no cotidiano podem maltratar planos, traz insegurança, agonia…” Belas palavras Jairex, muito obrigada!
Tava com xodaaaades!!!
Faz tempo que eu não comento, mas estou sempre lendo seu blog mas este me fez pensar como realmente nós às vezes egoisticamente ou por medo nos abstemos do que ocorre com os “outros” sendo que esses outros poderiam ser nós ou alguém das nossas relações. Bem sacado Jairinho, beijo.
As nossas prioriodades são sempre mais importantes e ocupam mais espaço, não é mesmo? Mesmo que seja para dar espaço para uma palavra de atenção.. bjos
Falou direto aos nossos corações! Vivo tentando equilibrar a paranoia de proteger quem amo dessas tempestades, com a consciência de que é impossivel.
“Faz parte dos mistérios da existência o poder incontrolável do acaso de mudar tudo do dia para a noite”, isso é assustador,mas ao mesmo tempo, cria (pelo menos em mim) a certeza que o raio não cai só na casa do vizinho e alguma lição temos que tirar disso,ao invés de só ficar rezando.
Eu adoro a autocrítica que vc vive se fazendo… a análise dos caminhos óbvios e mais suaves… acho isso revolucionário, sério mesmo!
Comigo foi assim. Acordei surda uma manhã. Sem qualquer aviso, anuncio, oráculo que previsse. Fazer o que? Tinha que ser assim.
O resto da história você conhece. Porque acompanhou, porque ajudou a escrever.
Mas é engraçado que, algumas vezes, quando as pessoas tentam argumentar de algo que aconteceu com elas e, na cabeça delas, tem que ser regra e eu evoco essa situação, dizendo “imagine se eu tentasse precaver as pessoas de que elas podem acordar surdas amanhã, só porque aconteceu comigo” não posso usar esse argumento, porque “esse tipo de coisa é muito rara e não acontece”. Ué, nem toda pessoa com deficiência acordou assim, mas toda pessoa com deficiência adquirida não era deficiente até que passou a ser…
Não existe uma fórmula mágica pra impedir o destino, concordo.
A gente continua vivendo. E não custa nada estender uma mãozinha à dor do próximo. Quem sabe a história dele, né?
Beijinhos sonoros
E não custa, também, revermos posturas, ideias, conceitos sobre o “de repente” dos outros. Um beijão!
Oi querido!!Bom,eu sou vítima desse de repente,mas o pior de tudo isso, é o pânico que se cria em volta dos de repente.Toda hora a gente conhece alguém bem perto da gente vítima do a caso,isso me deixa nervosa,sei que inevitável.Eu por exemplo tive uma LM e logo em seguida um Ceratocone,pqp,já não chega não caminhar?E a gente tem que parar com esse medo,tanto quando da vida da gente ,quanto a dos que amamos,só sei que não é fácil viver com o medo do de repente…bjsss
O medo faz a gente ficar imóvel em vez de tentar evoluir, não é mesmo? Claro que é difícil botar os acontecimentos em seus devidos lugares, mas, sem isso, a gente fica eternamente vítima… bjo
Jairo dá sempre conta de falar direto ao coração e, com certeza, conscientizar e mudar a vida de vários de seus leitores. Sou seu fã, sempre!
Muito obrigado, Tom! Grande abraço
Força pro Oscar e para todos os seres vivos que passam por momentos de aflição…seja por doença, seja por acidente, seja por serem vítimas de criminosos. Grande Jairo, sempre nos fazendo refletir sobre a condição humana.