Para ler na escola
Fico imaginando o quanto deve doer o “Coração de Estudante” do Milton Nascimento ao ser bombardeado com imagens de professores com suas caras arroxeadas que não param de aparecer na televisão, nos jornais, nas “internets” e nos hospitais.
Professor pega gripe de menino catarrento que dá bom-dia com beijo, faz curativo no atentado que se rasgou na hora do recreio, é o psicólogo preferido do adolescente meio “revolts” e o defensor-mor da igualdade no reino das diferenças que imperam em uma escola.
Agora, porém, o respeito, a consideração e a admiração ao mestre, valores intocáveis e inquestionáveis, parecem que estão sucumbindo a qualquer mimo, a qualquer charme, a quaisquer garotões ou garotonas bobos que se acham, mas que, no fundo, estão bem perdidos.
Professor é o cara que entrega para a gente, em alguns casos, quase de graça, uma chave universal que destranca portas ao longo de toda a trajetória de vida. Mesmo assim, a tranca da ignorância de quem acha que ensinar é algo ultrapassado parece estar ganhando adeptos com velocidade.
Quero ver o Google inspirar a pensar que, talvez, o segundo resultado de uma pesquisa seja mais íntegro e válido do que o primeiro link apresentado. Duvido que haja jogos on-line mais interessantes do que um bom debate sobre a danada da Capitu.
De nada valem aplicativos geniais e vídeos engraçados no YouTube se alguém não ensina o que é a ironia, o que são os efeitos da trigonometria, a importância do porto de Alexandria, a razão por que tantos buscam isonomia e os relevos da geografia.
Passou da hora de a galera do fundão reagir criando uma marchinha de agrado ao professor. E também é momento de os nerds fazerem uma campanha no ciberespaço de valorização do conhecimento.
As bonitas poderiam ajudar a dar um up no make caído que fazem para o “prô”. A galera da timidez poderia preparar um grito bem gritado de “cheeeega”, de cale-se e preste atenção, que é meu futuro o que está no gramado. Aos puxa-sacos caberia fazer redondilhas cheias de xodó.
Quando a violência não é mais um tema da rua e de ambientes hostis, em que a gente tem sempre um político safado a quem impor a responsabilidade, e começa a ser fotografada dentro do palco maior de aprendizado, a escola, parece que o futuro está avisando, com calafrios, que ficará doente.
Este texto não é para ser lido na escola porque vai cair na Fuvest nem trata de um tema modernoso, que não para de ser discutido nos mundos acadêmicos. Ele também não tem palavrão caprichado e escracho sujão para se morrer de achar bom, compartilhar com os amigos.
Ele só serve para lembrar e reafirmar que escola e professor são fundamentos que instigam acordar para fazer melhor, para ganhar mais uma dose de estímulo para ir além. Não é a história de um fulano em uma caverna distante que é afetada quando um mestre apanha de um aluno. É a história que você está construindo para seus filhos e para si mesmo.
Que as caras manchadas dos prófis sejam de tanto rir de conquistas daqueles a quem se doaram ou pela maquilagem escorrida de tanto chorar de orgulho por aqueles a quem se dedicaram. E desculpe-me do tom professoral.
Tio vc é demais. Acertou em cheio com o que eu vinha pensando há tempos. Sou formada em Geografia, mas na primeira tentativa de dar aulas, me frustrei; por ser tímida e pelos alunos não estarem nem aí com os “relevos”.
Esse “quero ver o google inspirar a pensar” pegou na veia.
Você é “o cara” !
Bjs
Vc é tímida, Fabi?!?! uuuuia…. ahahhaha… xodades de vc.. bjos
Cara, muito bom ler isso. Eu estava desabafando com alunos do CEJA (Centro de Ensino de Jovens e Adultos) ontem, sobre como é difícil ser professor. Parabéns!
Tamujunto, José! Abrass
Texto lindo! Parabéns! Compartilhei no meu facebook .
Oi Jairo! Li seu texto e, comecei a ter vontade de bancar o “advogado do diabo”. Hoje em dia, pelo que sei, há professores muito incompetentes, mas muito mesmo! Sorte a minha que peguei um só na graduação de comunicação social, que está bem explicada em meu livro. A sorte minha também está em que peguei professores competentissimos no antigo primário. Afinal, passei dos 50 anos. Os meus professores do primário “pastaram” para me ensinar a escrever e a ler as minhas letras nas provas. Foram elas que me ensinaram a refletir. Claro que ai tem também os ensinamentos dos meus pais, que é muito importante para a formação de qualquer ser humano, e a convivência com meus amiguinhos de rua. Fico com você, no que diz respeito a professores (as) competentes, que não fogem dos desafios que encontram pela frente. Quanto a propagação de violência nas escolas, esta está triste, queria que não houvesse, que pais não se pusessem do lado do aluno violento.
Desculpe-me por por ter sido a “advogada do diabo”, mas precisava mostrar o outro lado. Bjs
Su, dessa vez eu não vou concordar contigo. Achar que é o professor a causa do problema, para mim, é totalmente equivocado. Ter um professor sem qualidade acontece desde os tempos remotos. Isso se muda, se conserta… enfim.. bjos
Oi Jairo!Eu tb. não disse que o prof. é a causa de todos os problemas, mas acontece que a “inclusão escolar” não acontece pq não há profs a fins de topar com desafios. Mas tudo bem, a gente pode mudar este quadro, mas vai ser difiiiiciilll. bjs
Essa prosa me fez lembrar Rui Barbosa que: “Sinto vergonha de mim, por ter sido educador de parte deste povo, por ter batalhado sempre pela justiça, por compactuar com a honestidade, por primar pela verdade, e por ver este povo já chamado varonil, enveredar pelo caminho da desonra.
Sinto vergonha de mim, por ter feito parte de uma era que lutou pela democracia, pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos, simples e abominavelmente a derrota das virtudes pelos vícios, a ausência da sensatez no julgamento da verdade, a negligência com a família, célula-mater da sociedade, a demasiada preocupação com o ‘eu’ feliz a qualquer custo, buscando a tal ‘felicidade’ em caminhos eivados de desrespeito para com o seu próximo.
Tenho vergonha de mim pela passividade em ouvir, sem despejar meu verbo a tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade, a tanta falta de humildade para reconhecer um erro cometido, a tantos ‘floreios’ para justificar atos criminosos, a tanta relutância em esquecer a antiga posição de sempre ‘contestar’, voltar atrás e mudar o futuro.
Tenho vergonha de mim, pois faço parte de um povo que não reconheço, enveredando por caminhos que não quero percorrer…
Tenho vergonha da minha impotência, da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço. Não tenho para onde ir, pois amo este meu chão, vibro ao ouvir o meu Hino e jamais usei a minha Bandeira para enxugar o meu suor, ou enrolar o meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade.
Ao lado da vergonha de mim, tenho tanta pena de ti, povo deste mundo!
‘De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude. A rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto’.”
Amei! ♥
Aff, Jairo veio em boa hora seu texto. Eu é que ganhei o dia, vc e a professora Odete me emocinaram. Penso que nosso presente já está doente, cabe-nos agir para curá-lo e assim prevenir o futuro. Quantas chaves….
Obrigada.
😉
Fui professora por muitos anos, suas palavras traduzem meus sentimentos de uma vida inteira dedicada á educação, sinto arrepios ao lembrar de quantas chaves eu pude entregar, mas sei que muitas ficaram no ar…, que bom ser lembrado e valorizado!!
Ganhei meu dia, Odete!
Ótimo texto Jairo. Acho que o que falta é rédea curta pra esses jovens que acham que pode tudo. A pouco tempo no face fizemos um grupo de ex alunos de uma escola que frequentei durante 8 anos, entre muitas boas lembranças que estamos trocando, a que mais gostamos de recordar são dos professores. Como eram respeitados, e hoje a gente consegue ver o valor que tiveram na vida da gente. Tomei a liberdade e compartilhei seu texto com eles. bjs
Eu tb tenho lembranças fortes de vários professores… de vários! Bjos
Texto ótimo e oportuno,vou mostra-lo à minha mãe ( ela nao é afeita ás internets e pcs da vida), que é profe aposentada.Segundo ela,o maior problema nao está nos alunos, mas nos PAIS deles.Os pais que nunca vao á reunião, ao menos UMA vezinha,os pais que nunca olham nem de relance se o filho tem tema, os pais cujos filhos nunca os veem lendo nem ao menos uma embalagem de barrinha de cereal,os pais que passam o ano sem ter noção de como andam seus filhos e ainda cobram do professor o porque das notas baixas.. os filhos nada mais são do que o reflexo e resultado do comportamento de seus pais.
É uma corrente forte a de pessoas que pensam assim, Thiagão… Faz sentido, mas será que não existem outros elementos? Abraço
A leitura do seu texto me trouxe hoje uma sensação de “ufa, mais alguém enxergou o que acontece dentro de uma sala de aula”…o que me intriga é que ao ler os 4 pilares da educação em um tal relatório da Unesco, “aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver com os outros, aprender a ser”, é que acredito que quem escreveu este relatório e seus pilares teóricos, não pensou que para alguém aprender qualquer coisa, é preciso estar DISPOSTO…e grande parte, quiçá a maioria dos alunos hoje não está DISPOSTO a aprender nada! Essa falta de disposição é que nos custa a saúde, a paciência e o amor pela profissão…porque hoje o professor entra na sala de aula e todos os dias, a cada 45 minutos, precisa brigar para trabalhar, brigar para tentar ensinar…isso é inadmissível! Quem precisa aprender não está disposto! Realmente, “…parece que o futuro está avisando (…) que ficará doente”…sábias palavras suas, meu caro colega! O que nos resta, eu não sei…e prefiro não imaginar! Um grande abraço e valeu pelo “ufa” de hoje!
Grande abraço, Ana… bela reflexão… bjo
A Educação mudou a minha vida uma garota deficiente que encontrou a chance de superar seus limites e de se socializar amo tanto esse ambiente que serei professora graças a Deus.
amei o texto abraços
Fico me perguntando, em que momento esse respeito que tínhamos ao professor se perdeu, onde foi o gatilho para isso….fico sem respostas.
Deve haver tese acadêmica sobre isso, Ana… se a conclusão nos convence, é que eu não sei… bjos
ADOOOOOOOOOOOOOREI! *-*
Essa infelizmente é a realidadade vivida e presenciada hoje em dia: o desrespeito aos professores! Já foi do tipo que aluno(a) que não está “nem aí” pra nada, mas hoje estou fazendo meu 3º ano do ensino médio, hora de colocar a cabeça nos livros e estudar, né? Só hoje depois de amadurecer um pouquinho e desejar fazer minha faculdade que percebo o valor de um professor, eles são anjos em nossas vidas e merecem todo o respeito, admiração e compreensão simplesmente pelo fato de desejarem acrescentar algo em nossas vidas.
Jéssica, e essa sensação de importância vai só aumentar ao longo do tempo, garanto a você! bjo
Parabens em dias que existem tantas outras coisas sendo tomadas como prioridade, tratar de um assunto que realmente importa Educação…
Obrigado!
Bem dito Jairo! Afinal todas as violências praticadas contras- os mestres do saber tendem a se naturalizar! Continue conclamando a sociedade em defesa desses “profetas da esperança” segundo nosso Paulo Freire!!!!
Deixa comigo, Maria Adiléa!
“De nada valem aplicativos geniais e vídeos engraçados no YouTube se alguém não ensina o que é a ironia, o que são os efeitos da trigonometria, a importância do porto de Alexandria, a razão por que tantos buscam isonomia e os relevos da geografia.” Hum Prof…tá inspirado heim…..Concordo com vc, apesar de detestar isso….kkkkkk. A única dúvida é que TODAS as graves de professores sequer mencionam as péssimas condições de trabalho, sequer mencionam a falta de segurança ou a falta de material adequado para o exercício da profissão, só mencionam e reivindicam o aumento de sálario JUSTÍSSIMO, mas inficiente per si. Afinal se for só salário (que convenhamos um moooonte de professores não merece ganhar por absoluta incopetência) o professor vai ganhar um aumento e com ele terá que comprar tudo o que falta (giz, apagador, cadeiras mesas, etc) e pagar segurança particular pra não apanhar dos alunos revolts. Seria bom que a greve não fosse política e sim reivindicativa.
Queridão, nesta última, vi no roll de pedidos “mais segurança”…. abraço!
Parabéns!!!! Concordo com tudo o que vc postou, tanto que não vou nem postar mais rsrsrsrs
Uia!
Há professores e professores como também alunos e alunos. Alguns alunos por dominar a tecnologia e muitos professores que ficaram no tempo passado, esses alunos se acham o tal enquanto professores que so sabem erguer bandeira de altos salários, perdem seu TIROCINIO diante destes.
Excelente reflexão, diante da realidade que enfrentamos e acima de tudo ainda encontramos muita motivação para continuar em frente. Grata pelas suas colocações.
Tamujunto, Rita!
Muito relevante essa “defesa” em nome do professor, parabéns. Ontem a jornalista Sonia Abraão em seu programa, crucificou um professor, e pediu punição alegando que ele não separou uma briga entre duas adolescentes. Isso minimiza o problema da violência da sociedade, da qual a escola faz parte e encontra um culpado pro sistema. O professor é apenas mais um elemento nessa imensidão…
Obrigado, Luciene!
Só quem vivencia a rotina de uma escola, pública ou privada, em nosso país pode se dar conta da diversidade de problemas que nela circula.
Diversidade é algo salutar ao ambiente escolar, mas quando organizada e trabalhada como tal. Permitir somente o acesso à escola, sem, antes, prepará-la para tal, não é o caminho mais sábio.
Enquanto isso, fazemos da escola palco para as piores barbáries.
É triste, mas como uma insistente cidadã, que escolheu o magistério como meio de construir um país melhor, prefiro acreditar que passamos por um processo de transição. E que mudanças virão, mas para melhor…
Emocionante, Érika…. parabéns!
Na adolescência eu fui bagunceiro na escola, apesar de sempre tirar boas notas. Reconheço que muitas vezes minhas brincadeiras iam de encontro ao direito do professor de ensinar e ser respeitado. Hoje percebo que não raro extrapolava com minha irreverência e o que imaginava ser uma brincadeira era na realidade uma agressão, não que fosse essa a intenção, mas no fim das contas eu estava menosprezando os professores. Como não posso mudar o passado, tento evitar que volte a ocorrer. Converso muito com meu filho e a sobrinhada sobre isso e dia desses soltei o bom e velho chavão: se hoje você consegue ler esse livro, agradeça aos seus professores.
Acho que você não teve a intenção, mas ao dizer “(…) De nada valem aplicativos geniais e vídeos engraçados no YouTube se alguém não ensina o que é a ironia(…)”, me fez lembrar as críticas meio bobocas contidas em alguns comentários do post anterior, feitas por pessoas que não cheguei a considerar analfabetas funcionais, mas que se mostraram incapazes de se situar no contexto e ler nas entrelinhas, preferindo a fórmula fácil da interpretação literal. Reclamaram dos latidos e acabaram rosnando, deixando claro que ao longo da vida perderam oportunidades como “um bom debate sobre a danada da Capitu.”
A propósito, tenho 52 anos, na minha época fui alfabetizado aos sete, pois acho que não havia pré-escola, e até hoje lembro o nome da professora responsável por eu ser um escriba, ainda que meia boca: Dona Nilda, magrinha, elétrica e linda (pelo menos eu a via assim).
Negão, sabe que eu acho que o bom professor sabe, inclusive, nos dar liberdade para brincar, para fazer alguma piada, para nos expressar? Isso porque acho que o professor respeita o talento. Como vc bem disse, vira e mexe a criança se perde no tempo dessa brincadeira, mas aí também entra o poder da educação de mostrar limites…. enfim… Vou dizer isso até o fim das minhas escritas (que sejam longas!!!), você me orgulha demais como leitor. Vc repara cada palavra, busca o sentido mais amplo, busca referências, busca razões das construções… Sem dúvidas, vc seria um excelente professor. Meu grande abraço de sempre
Sou sua leitora e espero seu texto toda semana.É como se você fosse representante daquilo que penso.
Obrigada!
Puxa vida, Maria Helena, que responsabilidade. Digo a você, aqui no pé do ouvido, que meus textos são paridos com um certo sofrimento. Sempre me castigo pensando se as linhas postas no papel são dignas de chegar à casa das pessoas. Acertar com vc, é para mim um grandioso presente… Beijosss
Ele deveria ser remunerado,como: advogado,juiz,medico.Ele é que deveria sê chamado de doutor.os que hoje determinam o quanto eles valem,esquecem que só estão,aí por que ,passaram por suas maos.
Ele deveria ser remunerado,como: advogado,juiz,medico.Ele é que deveria sê chamado de doutor.os que hoje determinam o qunto eles valem,esquecem que só estão,aí por que ,passaram por suas maos.
Bravo, Jairo Marques! Agora admiro você um pouco mais e não sou professor. É preciso que mais gente pense dessa forma. A tecnologia e as novas formas de aprendizagem e conhecimento, devem servir para agregar e nunca desmerecer ou diminuir a importância da escola e professor.
Attilio, comungo com seu pensamento integralmente. Máquinas são para serem dominadas, para ajudar em nosso dia a dia, para nos ajudar a ir além… Deixar que elas passem à frente da educação é de uma bobagem sem tamanho… Grande abraço
É isso aí, Jairo! Como mãe de adolescentes me vejo cada dia mais surpresa com a falta de respeito em sala de aula, e que, infelizmente, muitas vezes acaba em violência. Infelizmente isso é só um reflexo da educação e da falta de limites da família e sociedada…. O q fazer? Eis a dúvida de uma mãe e cidadã preocupada. Para nosso terror, sabe o que é mais grave nisso tudo? Respondo: a conivência dos pais, muitas vezes, ao “passar a mão na cabeça” de filhos que aprontam na escola, ao invés de repreender, explicar o certo, e castigar sim! Vai ficando mais fácil não fazer nada e está dando nisso….
Adriana, importantíssima a sua reflexão. Penso eu, que agir dentro dos limites de casa é muito importante nesse processo. Talvez não seja o suficiente, uma vez que há vários ambientes na vida de um jovem, mas quando mais boas referências, melhor, não é mesmo? Bjo