Derrapagens nada acessíveis

Jairo Marques

De tanto as pessoas com deficiência ficarem latindo aos quatro ventos em busca de acessibilidade, de condições iguais, os poderes públicos, sobretudo, resolvem acordar do berço esplêndido e tomar algumas atitudes.

Isso é “maraviwonderful”, mas, mesmo assim, é preciso ficar de olho. “Causo de que cê fala, tio”?

Atualmente, governos estaduais e o federal têm aberto linhas de financiamento específicas para que as administrações municipais promovam acesso, promovam inclusão, façam algo pelas diferenças.

Já há prefeitos espertões, de norte a sul, que vão lá, pegam o dimdim e aplicam…. no próprio bolso! Aêêêêê…. 😯

Os sujeitos pegam parte da verba, colocam umas rampinhas mequetrefes em QUALQUER LUGAR, sem a menor técnica, sem saber a demanda, sem saber se o lugar é adequado, superfaturam a obra e pronto, tá feito.

Regularmente, tem chegado a mim imagens e mais imagens de “acessibilidade pública” feita nas coxas, de forma porca e com cheiro de corrupção.

Era só o que faltava, “zimininos”, usar uma causa justa e que o povo tá penando para levar em frente, em fonte de roubalheira de dinheiro público.

O negócio é ficar de olho. Quando alguém vir alguma bobagem feita em nome da inclusão, com recursos do povo, é preciso tirar satisfação, é preciso denunciar ao Ministério Público e cobrar providências.

Vejam bem (os cegões, que me leiam bem 😆 ) o que fez a Prefeitura de Baía Formosa, pertinho de Natal, no Rio Grande do Norte: 

Meu povo, CERCARAM um poste véio com piso tátil????? Serve para quê? Para o prejudicado das vistas ficar dando voltas em torno do treco?

Pisos assim custam um pouco mais caro do que o tradicional e servem como orientação dos cegos, que vão sentindo as indicações do relevo e vão caminhando.

Eles não são enfeites, não são adornos no solo, nem “antiderrapantes”. Sinalizam, por exemplo, pontos de travessia, fim de uma quadra, cruzamentos etc

Não estou dizendo, nem insinuando, muito menos tenho elementos para isso, que a prefeitura norte-rio-grandense afanou grana em prol da acessibilidade, mas, no mínimo, houve uma má gestão aí. O dinheiro foi gasto de uma forma sem planejamento.

Outro ponto importante é que na praça onde fizeram isso, há uma placa informando que “obraram” com dinheiro do governo federal….

O flagrante foi feito pela leitora Virgínia Carneiro Velloso, de São Paulo, que foi passear lá pelos Nordeste tudo.

“Infelizmente falta educação para o povo todo. O prefeito atual cortou as poucas árvores que tinham ali (inclusive um pau-brasil) para fazer essa praça árida e cheia de concreto, árida também para as pessoas.

É uma tristeza, ter o material certo na mão e não utilizá-lo corretamente. Não adianta só exigir que usem o piso, deve-se ensinar como usar corretamente. E seria bom não destruir a natureza também”, escreveu a Vivi.

 E tem mais, meu povo, saquem a outra imagem: cercaram a jardineira com piso tátil… a jardineira!!!! Será que pensaram assim: “Já que as rosas não falam, vai ver que elas não enxergam também!” … e tasca lá o precioso piso. 

Circulando a jardineira, o piso tátil, todo bonitinho e sem função nenhuma

 A Virgínia me disse que a cidade tem um número significativo de pessoas que possuem uma síndrome que deixa as pernas finiiinhas, retorcidas, com pés tortos e, algumas, sem os membros inferiores. Isso sem falar dos idosos. Ou seja, é uma galera precisando de acessibilidade pra valer.

É ou não é de sentar pelado no asfalto quente e chorar uma semana sem parar? E é também de ficar de olho… de combater essas lambanças em nome de um mundo mais plural…

Comentários

  1. E o pior é que o projeto da praça previa a construção de um palco fixo, mas a mesma foi inaugurada sem esse palco. pra onde foi o dinheiro?? sempre que há festa a prefeitura contrata palco, torrando o dinheiro da nação. VERGONHA!!

  2. Tiiiiiooooooo é só o Puder Público tentar fazer algo e vc critica…..aquilo é pra se fazer exercícios entende???? vai andando em círculos e/ou dando a volta nas rosas pra esmagrecer e ficar fortim…para de recramá çó purque eles tivero uma boa idéia….kkkk

  3. Quando eu precisava trabalhar para viver (sorry, periferia!), meu ofício era basicamente fiscalizar a aplicação de dinheiro público. Belezildo, você não faz idéia do que a prefeitada e outros gestores públicos de maior ou menor envergadura aprontam. O que você me diz de um tomógrafo figurar na lista de materiais utilizados na construção – mais especificamente na fundação – de um prédio público? Estive há menos de um mês em Penha/SC (levei o moleque pra conhecer o Beto Carrero) e perto do hotel tem uma praça toda ladeada de piso táctil, coisa linda de se ver. O problema é que o piso leva o serumano direto para os postes. Tirei algumas fotos mas, infelizmente, acho que estava tão indignado que sairam todas tremidas e não percebi na hora. Deletei, né?
    Você tem razão: o caminho é o Ministério Público. A Lei de Responsabilidade Fiscal é bem abrangente e não se ocupa somente de evitar superfaturamento e outras formas de corrupção, mas também garantir a boa aplicação das verbas públicas. Só que nós temos que ser agentes de sua aplicação. Se deixarmos somente nas mãs das raposas, o galinheiro vai sempre correr perigo.
    Bom fim de semana a todos.

  4. Que coincidencia ler isto hoje.. vi ha pouco uma foto de uma praia de Fortaleza ( nao lembro qual, que memória horrível) onde, num estacionamento com rampas,elevaram parte da calçada e puseram uns “pinos” pro povo nao estacionar na rampa.Nao sei explicar direito, mas é de chorar de raiva.Ou nosso dinheiro vai prum bolso sujo ou é mal usado.Até quando?

  5. Primeiro, precisa corrigir a chamada “teto tatil”, segundo, deveriam fazer “cabra cega” nesses prefeitos para aprenderem o que e’ ser deficiente visual, depois, amarra’-los numa cadeira de rodas e faze-los transitar nas calcadas mal construidas e mal conservadas…

  6. Um absurdo mesmo! Sou de Natal Rn e isso que aparece na matéria não é um caso exclusivo da cidade de Baía Formosa, é muito comum ver esse tipo de coisa nas praças públicas de todo o estado.

  7. A manchete do fato narrado chamou-em a atenção… Mas, a indignação tomou a frente do meu riso. Desde quando, senhor jornalista, tem o direito de referir às pessoas com algum grau de dificuldade como se fossem CÃES DE RUA?
    DEIXO BEM CLARO: gosto de animais, mas a sua colocação “De tanto as pessoas com deficiência ficarem latindo aos quatro ventos em busca de acessibilidade, de condições iguais, os poderes públicos…” é inadmissível, pejorativo, desumano, e acrescento VERGONHOSO.

  8. Meu Deus, quando pensamos que já vimos de tudo neste país. Isso é a maior burrice que eu já vi na minha vida!! Será que o povo desta cidade não sabe que pode protestar e inclusive denunciar essa loucura. Se nada for feito, este prefeito pode acabar comprando cadeiras de rodas para usar como assentos desta mesma praça. O Brasil está precisando de uma revolução urgente.

  9. Estou com soninho, quase dormindo…
    Mas tentei ver outras notícias na pag. inicial da Uol e vi que, a chamada para o blog é:
    “Jairo Marques Em Natal, cercaram
    um poste com teto tátil. Serve para quê?”
    Putz! e eu escrevendo sobre piso, não sobre teto!!! Desculpe minha falha!!!!
    Há um tempo atrás tinha um lugar onde poderíamos comunicar erros. Não achei!
    Fui!
    Bons sonhos!

  10. Deixando a acessibilidade de lado, por enquanto, aqui, em Atibaia, há +-2 anos a prefeitura (PV!!) reformou a praça da matriz, cercada por construções antigas, colocou o bendito blokret (creio q é esse o nome desse piso drenante vinho/cinza – ótimo, por sinal, desde que SAIBAM COMO USAR-), tirou um monte de árvores e deixou a praça árida.
    Ainda bem que não se ligaram na “acessibilidade”, senão teríamos MAIS GRANA jogada fora com o piso podo tátil contornando os postes antigos, como na foto.
    Acho que, ao invés de só comentarmos aqui, devemos, também, divulgar nos sites de turismo e outros, ENVIANDO CÓPIA para o site da cidade.
    O único que achei, oficial, é http://www.baiaformosa.rn.gov.br/
    Costumo fazer isso a cada coisa que me deixa indignada.
    Quanto ao comentário da Bete:
    -Cê acha que um engenheiro acompanhou a obra?

  11. Jairo, adorei o post! Só uma coisa, seria legal se o blog tentasse entrar em contato com a prefeitura local pra ouvir alguma explicação. Embora eu acredito que ouvirias uma desculpa esfarrada, acho que seria o melhor modo de mostrar que a mídia está de olho! No mais, parabéns pelo trabalho!

  12. Em tempo: apenas cheguei à sua matéria para entender o título publicado na página principal do UOL: “Em Natal, cercaram um poste com teto tátil. Serve para quê?”
    Lamentável…

  13. Prezado Sr. Jairo,

    ainda que eu não seja especialista no assunto, gostaria de observar que o piso tátil tem por função advertir ao deficiente visual sobre um eminente obstáculo, como um poste ou um canteiro, isso se o piso for com bolinhas em relevo, como é o caso nas fotos publicadas. Há ainda o frisado, que faz o encaminhamento do usuário de forma segura. Considero que esses materiais não foram aplicados de forma decorativa, ainda que possa haver alguma inadequação técnica nos casos ilustrados.
    Mas o que me leva a deixar meu comentário não são suas observações equivocadas, mas sim o tom debochado e desgradável, ofensivo até, procurando ser engraçado. Deficientes não latem, reinvidicam; e sorte a dos “cegões” que não podem lê-lo, pois sua matéria não só faz ridicularizar os deficientes, como critica aqueles que tentam atendê-los. O mais espantoso disso tudo é que o senhor dê ao seu texto o tom de denúnica social.
    Cordialmente.

  14. Prezado jornalista,
    existem dois tipos de pisos tatéis. Um é o DIRECIONAL que orienta o caminho e outro é o ALERTA que avisa obstáculos. No caso do poste esta correta a utilização ,pois avisa que tem um poste no caminho.
    No caso dos canteiros esta quase certo , pois deveria estar 30 cm afastado da mureta e não encostado. mas mesmo assim ajuda, pois o deficiente brasileiro já sabe da falta de informação generalizada. Inclusive a sua, como jornalista você deveria pesquisar mais antes de opinar.

  15. Pararam pra pensar ,principalmente você autor da mensagem… que se um cego caminhando nessa praça ou calçda(com poste) ao pisar no piso que indica obstáculo a frente vai evitar uma boa trombada ou”queda” para ser mais específico. Falta assunto pra comentar neh, estäo vendo erro até onde näo existe.

  16. É preciso ficar de olho aqui em Sampa também. A prefeitura está multando gente que tem as calçadas esburacadas, mas não dão informações certas do jeito em que as calçadas sejam feitas de maneira certa, ou sejs, acessíveis. Fiquei sabendo através de pessoas que foram multadas e falaram para o SP TV. Caramba! A prefeitura poderia enviar um engenheiro para instruir o povo, que está mais perdido do que cego em tiroteio! E eles tem a Silvana para tal, né?
    bjs Suely

  17. estive em Baia Formosa em Fevereiro e o guia disse, o unico restaurante ali é do Prefeito, a melhor casa ali é do Prefeito , ali esta sendo construindo um conjunto de chale a beira da Praia que é do Prefeito, então esse Cidadão é Prefeito ou DONO do lugar todo? …..
    Coisas de Brasil

  18. Ai,ai,ai Jairinho até parece que você não conhece nossos dirigentes. Você acha que eles estão preocupados com acessibilidade? Direitos do cidadão? Eu tenho observado as rampas nas esquinas que eles tem feito recentemente, muitas delas são um serviço PORQUÍSSIMO, termo que uso para ser elegante.

  19. Em São Paulo também temos alguns absurdos; perto do M’Boi Mirim tem uma sinalização de direção para pessoas com deficiência visual que termina no muro que separa a calçada de um terreno. Os engenheiros podem até desconhecerem o piso podotátil de alerta ou direcional, mas aí é falta de bom senso, para não dizer mau-caratismo. É muito bom Jairo você abordar isso. Abraços

  20. Triste mesmo é que quando se quer fazer direito não há verbas, mas para esses absurdos elas sempre sobram para alguém.
    E o mais preocupante é que quando os engenheiros emitem as ARTs, eles atestam que essas obras atendem ao decreto de acessibilidade.

  21. Que absurdo. Usar piso podotatil como adorno é demais. Mas a culpa é dos engenheiros que orientam errado e parece nem se preocuparem em procurar as normas tecnicas. Exemplo maior disso sao os famosos sanitarios com fendas. Quem foi que disse que isso é o certo?
    Buscar informacoes deveria ser obrigacao de todos. Abaixo o desperdicio!

    1. Prezada Bete,
      Não é adorno. O piso Alerta em volta de um poste colocado em uma área aberta avisa o deficiente que haverá uma barreira a frente. Esta correta a utilização no local.
      sou especialista em acessibilidade e posso garantir isso.

      1. Jose, se toda a praça tivesse orientação tátil eu estaria em acordo com vc… como o piso foi colocado isoladamente, o sentido dele fica totalmente deslocado.

    2. Oi Bete, sou engenheiro e esse tipo de trabalho é destinado a arquitetos, mas duvido que um arquiteto tenha sequer sido consultado.

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