Às vidas na UTI
É comum ouvir por aqui e por acolá: “Fulano está nas últimas. Foi parar até na UTI, coitado”. É como se o destino de quem precisasse da unidade de emergência máxima de um hospital já estivesse selado e o calcanhar do cidadão já começasse a afundar na cova. Parar ali seria como se apresentar na antessala de são Pedro.
Essa aberrante história da médica do Paraná que, ao que tudo indica, dormia fora da casinha e adotava procedimentos heterodoxos na unidade que chefiava, pelo menos pode servir para chamar mais a atenção para aqueles que precisam, em algum momento, ficar em um local de tratamentos intensivos.
Como ex-hóspede de UTIs por três vezes (após serviços de funilaria na coluna e nas pernas tortas), penso que as unidades não devem jamais ser vistas como o pavilhão da morte, como a porta de entrada do além.
Os locais são, sim, as esferas máximas da ciência e da inteligência humana em prol da vida, em prol da recuperação da carcaça abatida, da mente desgastada, de ajuste após uma pane no sistema de controle de poder acordar e fazer tudo igual ou não.
É na unidade de terapia intensiva que os médicos mais profundamente agarrados aos valores humanos deveriam trabalhar. Para eles, fazer diferenciação no modo de tratar os que ali estão seria impensável, impraticável e impossível.
No sangue desses profissionais só correria garra de fazer mais, os batimentos cardíacos só gritariam “para a frente, para a frente” e suas pressões arteriais, equilibradíssimas, empurrariam para caminhos de esperança, de novas possibilidades.
Na UTI, só deveriam entrar aqueles capacitados para serem incansáveis em acreditar na recuperação dos outros, aqueles mais sensíveis para entender que, para cada um dos internos de sua unidade, há uma família aflita por esperança e por boas-novas.
Quando alguém entra em um serviço de tratamento intensivo, fica do lado de fora um caminhão de dúvidas: quantas vezes vão escovar seus dentes e cuidar dos cabelos? Quem fará os movimentos do seu corpo enquanto a mente estiver descansando? O clima lá dentro é de esperança ou é insosso?
Já ouvi relatos de barbaridades ditas por profissionais que atuam com pessoas que supostamente estavam “para lá de Bagdá”, entubadas, aparelhadas, sedadas ao máximo, mas, em alguns casos, conscientes.
Mais uma vez, aqui, penso que essa área hospitalar teria de, permanentemente, relembrar entre a equipe suas funções, suas missões, suas obrigações médicas, morais e de humanidade.
Ir “parar na UTI” deveria ser entendido como o momento em que tudo será feito para que você tenha uma nova chance de seguir adiante. E quem é bem acolhido em uma situação dessas, quem resgata a existência após uma experiência dessas, tende a ser agraciado com pacotes imensos de esperança a ser distribuída.
Há vidas nas UTIs. Há pessoas agarradas à fé de que a evolução do homem é tão maravilhosa que é capaz de resgatar qualquer um de seu suposto ponto final. Xô aos incrédulos que querem abreviar o caminho de quem brecou em uma curva, mas que ainda tem muita estrada adiante!
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Que texto lindo… Não tinha lido ainda!
Sabe que a UTI é uma parte importante da minha vida. A Vivi passou nela os quarenta dias de sua curta vida, a Sofia ficou, no total, dois meses e meio e depois delas entrei numa ONG que dá apoioàs mães com filhos em tratamento intensivo -UTI ou Home Care. Depois disso, foi a vez de enfrentar a UTI com minha mãe, por seis meses, e ainda hoje vou a hospitais visitar mães que acompanham seus filhos ou dar palestras.
Nesse universo, conheci profissionais e famílias de todo o tipo. Mas posso dizer que o predominante é um esforço imenso pela vida; uma dedicação de quem vive no limite, para quem todos os esforços são necessários.
Quantos e quantos profissionais maravilhosos eu conheci. Há os menos profissionais? Claro que há, e também há a direção de hospitais, muitas vezes pressionando por corte de custos e esquecendo as pessoas que estão ali, conscientes ou não ainda são pessoas, com famílias, com possibilidades.
Mas eu sempre ressalto que UTI é lugar de vida. Vida no limite, emoções no limite, tensões, riscos, mas de um esforço conjunto pela vida, na maioria das vezes.
De qualquer forma, acho saudável que o caso de Curitiba seja divulgado para discutir questões que nem sempre são colocadas.
Ótimo texto, como sempre. Vou partilhar na fanpage do Abrace!
Ótimo é esse testemunho. Grande mãe, grande filha, grande mulher… Beijosss
Por incrível que pareça, eu estava montando um texto sobre o mesmo assunto para ser publicado aqui no jornal da minha cidade, quando me deram a dica desta leitura!!! São exatamente todas as palavras que têm que ser ditas sobre uma UTI! Passei por problemas graves com minha avó que ficou internada na UTI por 10 dias e passou por um tratamento que nem cachorro possui!! Péssimo! Mas valeu muito a pena, Jairo, ler seu artigo e poder refletir sobre o mesmo assunto pensado! Grande abraço e parabéns!!!
Outro grande abraço pra vc, Roberto!
Minha malacabadinha entrou em crise convulsiva repentinamente, como de costume. Só que, contrariando o costume, daquela vez não voltou à consciência após ser medicada. Seu quadro de repente piorou, ela entrou em estado pré-comatoso e foi encaminhada à UTI. A mãe dela estava no RJ, a poucas horas de embarcar para a Grécia. Ainda consegui contatá-la e ela conseguiu um voo que chegou à noitinha. Fomos direto ao hospital e, numa especial deferência, o médico responsável pela UTI entendeu nossa situação e permitiu nossa entrada naquela ambiente restrito. Foi a última vez que a vimos viva – apesar de inconsciente – e guardo um sentimento de gratidão pela concessão excepcional. Acredito que aquela maluca do Paraná é exceção, porque minha filha esteve algumas vezes na UTI e sempre encontrei profissionais comprometidos e envolvidos com seus pacientes de uma maneira tocante e exemplar. Brilhante e oportuna matéria, meu rei.
Coments emotivo demais da conta.. lindo… abração
Jairo, esqueci de contar no coments do texto anterior, que ainda não existe o tipo de coisa que há na Europa e USA para as mulheres, tanto q nós brincamos q deveria ter sim, porque não?
Oi Jairo! Seu texto é muito lindo! Muitos médicos intensivistas são realmente dedicados, mas ha alguns que são como a médica do Parana:uma louca desvairada, sem consciência, sem ética etc. Meu pai tb esteve em U.T.I., quando ele fez uma cirurgia de aneurisma na aorta abdominal. Ele foi bem tratado, monitoraram tudo direitinho e ele tem agora quase 90 anos. Acho que ele tinha uns 78 anos quando fez a cirurgia.Há um outro caso, em que a esposa de um primo do meu pai foi parar na U.T.I. porque estorou o pncreas dela. Ela tirou tudos os fios dos aparelhos e saiu da U.T.I. Na 1ª vez, os médicos e enfermeiros puseram tudo novamente, e ela os retirou-os tudo novamente. O médico que estava acompanhando o caso dela disse para a filha dela que ela poderia levar a mãe para casa, pois ela não iria sobreviver muito tempo mais e disse tb, que ela poderia ir para casa e lá morrer tranquilamente. Foi o que aconteceu: ela morreu sentada numa cadeira, apreciando o seu jardim. Bjs
Obrigado pelo texto Jairo. Para nós que estamos dentro do olho do furacão, aqui no hospital Evangélico, agradecemos. Os fatos denunciados e alardeados pela imprensa, decorridos no interior da UTI Geral do HUEC (a uti que recebia pacientes graves vítimas de politraumas e da violência urbana – Tiros, facadas, acidentes de trânsito, uma das 4 UTIs do HUEC) proporcionou um ódio e descrença da população em toda a classe médica curitibana. São frequentes os comentários que ouvimos de nossos pacientes, atacando o hospital e os profissionais que lá trabalham. Seu texto deveria ser sim distribuído para toda a população. Assim, quem sabe, possamos ter novamente o respeito que merecemos.
Fernando, qdo comecei a desenhar esse texto na cabeça, pensei exatamente nos médicos honestos, trabalhadores e que estão sofrendo com essa maluquice toda. Vc tem total razão em cobrar que os fatos sejam separados e que haja bom senso nas publicações, infestigações, enfim. Meu fraterno abraço
Tio eu te conheço há bem pouco tempo, né? Continuo adorando seus textos e impossível não ouvir você falando as palavras digitadas com indignação. Continuo sua fã.
Bjs e tb acho que esse texto deveria ser estudado nas faculdades de medicina e afixado nas uti’s afora
Imagina que chique!@@ 😉
Oi, Jairo, minha mãe está com 88 anos e foi internada há tres semanas, no Hospital S Luis-Itaim, com infecção generalizada. Ficou tres dias na UTI e foi mimada até, tanto que quando teve alta para ir para um quarto, ela perguntou se não seria melhor ficar na UTI mais um pouco. A atenção e o carinho com que foi cuidada, a atenção da médica responsável, Dra Andréa, nas explicações que me dava sobre o tratamento foram um alívio, pois despertaram esperança e confiança.
Mas, infelizmente, existem médicos-monstros, que, por certo, são exceções.
Beijos
Por certo, Eliane, por certo… bjosss
Perfeito. Uma tragédia que muitos médicos de UTI não tenham também esses valores. Um texto como esse deveria ser afixado em todas as UTIs.
Abraço, Vitor!
Existem sim, situações em que os esforços devem ser suspensos em um paciente na UTI.
Isso é uma questão de ética e de saber quais são os limites da boa prática médica em cada caso….
Não por acaso hoje os médicos com especialização em Cuidados Paliativos estão trazendo conforto a milhares de pacientes terminais no mundo todo… que antes sofriam desnecessariamente até a morte…
Obviamente que o caso da médica desvairada do Paraná transcende a todas as barreiras do bom censo e da ética médica e infelizmente este caso trará prejuízo aos milhares de médicos que procuram aliar a ciência e a humanização trazendo conforto aos seletos casos terminais e esperança a todos os demais…
Seu texto me fez derramar muitas lágrimas… Lágrimas essas de tristeza por já ter presenciado coisas horríveis dentro de UTI’S e lágrimas de felicidades, por saber que muitos se dedicam ao máximo, se doam, passam a se sentir da família… Sou fisioterapeuta e escolhi ser intensivista, daqui a alguns dias começa minha batalha como residente dentro de UTI’s e só o que eu quero e o que penso é em dar o meu máximo para aquele paciente que precisa de mim mais do que qualquer outra pessoa precisaria, ele vê sua vida em minhas mãos, vê seu futuro a cada movimento que consigo ganhar dele, vê sua melhora a cada sedestação beira leito, vê que a hora de sair está próxima quando conseguimos retirar aquele tubo, aquele aparelho fazendo “PI pi” toda hora, que mais parece para eles o anúncio do fim chegando! Amo minha profissão, amo amar o que todos aqueles médicos, enfermeiros, dentistas, psicólogos, nutricionistas e fisioterapeutas fazem, tenho orgulho da equipe e minha fé aumenta ainda mais quando vejo um paciente recebendo alta… E toda vez que vejo alguém partindo para um lugar que nunca mais poderei vê-lo a vontade de estudar mais e mais pra poder ajudar mais e mais é o que prevalece e cresce! Somos abençoados por Deus para dar um novo início ao “fim”. Também precisamos confortar os familiares e servir de ombro amigo aquele tão amado paciente, porque é esse sentimento que temos por eles, um amor que faz de tudo para lhe dar vida, quando esse é o desejo de Deus! Obrigada Senhor por ter me dado esse dom tão lindo e pelo mandamento que sigo com fé… “Amai o próximo como a ti mesmo.” Obrigada Jairo Marques por ter me despertado tantas emoções.
Loren, quem tem de agradecer sou eu a você, por um depoimento tão intenso, tão profundo e tão emotivo. Um abraço fraterno e o desejo de muito sucesso em sua carreira
lindo, pra variar !!!! E muito emocionante. Voces que passam por lá e nos que acompanhamos de fora enquanto um pedaço nosso esta lá dentro, sabemos o quanto depositamos ali nossas esperanças. Aqueles médicos e enfermeiros são para nos os representantes de Deus e muitos realmente agem assim, a eles nossos eternos agradecimentos. Também encaro a UTI como prenuncio de vida e nao sinal de que tudo esta perdido. E lá que a vida recomeça, de uma forma ou de outra…
Beijos meu querido e me desculpe o sumiço, estamos preparando nossa bailarina para continuar o espetáculo da vida, recauchutada e de coluna nova.
Rita, esse final do seu comentário, deixaria a mim satisfeito por sua ausência durante um ano… beijos, querida… e força!
Fiquei váários meses ( praticamente 1 ano todo) no hospital,anos atrás.. e várias vezes na UTI.Verdade que pra UTI vão os casos mais graves,mas isso não significa que estejam com o pé na cova,e sim que precisam de cuidados mais intensos e intensivos.No mais,concordo com a Carlena em tudo..com o tempo vamos conhecendo aos médicos,enfermeiros,auxiliares de enfermagem..no final da minha jornada eu ja era conhecido de meio mundo..dos médicos às faxineiras passando pelo pessoal da cozinha e recepção.Perdi o contato com varios deles,com o passar dos anos,com outros ainda consigo manter,mas a lembrança de ter sido bem tratado sempre ainda continua.Mas de fato,depois dessa nao ha como nao pensar q eu poderia ser uma daquelas vítimas.
Abração!
Que lindo … Falar de um assunto tão difiícil com tanta clareza e sensibilidade. Nossa família tem a sorte de conhecer e se tratar com médicos e outros profissionais da saúde super humanos e sensíveis, além de muitos competentes , como Dr. Jean Ciporkin (geriatra), Dra. Carolina ortopedista, Dra. Heloisa (dermato), Dr. Adilson Casemiro e Dr. Hélio Castelo, cardiologistas, Meire, Marta enfermeiras; Marcel, fisioterapeuta; Alice Fonoaudióloga e tantos outros que cruzaram nossas vidas e pelos quais temos grande admiração e afeição. Que Deus lhes dê vida longa e saúde para continuarem sua bela missão. Família LIMA
Tio, quando vi a matéria sobre a dra. que está sendo acusada, lembrei dos 8 meses que estive em uma UTI e agradeci por ñ ter cruzado com um médico que pudesse pensar e agir como ela. Morei em uma UTI e virei fã do trabalho de todos profissionais responsáveis por este espaço. Mta gente pensa que posso ñ gostar de lembrar da minha fase “intensiva”, estão mto enganados!! Os heróis da minha existência continuam lá acreditando, buscando, pesquisando, consolando… E sempre me dá um nó na garganta quando tento agradecer por todo carinho que recebi quando o que parecia o fim terminou como desafio para o recomeço. Beijo tio, lindo texto!
Lindo foi esse coments… perfeito! bjoss
Verdade, lindo comentário!
Se não fosse pelo empenho dos excelentes profissionais que me atenderam na UTI do Hospital Nipo Brasileiro, não estaria aqui pra contar historia. Não sai com a carcaça como entrei, mas agradeço a Deus por ter tido essa nova chance. No meu aniversário permitiram que meu filho de 4 anos fosse me visitar, fazia 3 meses que eu não o via, ele foi vestido de Batmam, foi os 15 minutos mais valioso da minha vida. Tenho até hoje todos os bilhetinhos, cartinhas que recebi de amigos, sobrinhos e desenhos do meu filho, que meu marido colava na parede da UTI. Quem dera todos tivessem a mesma sorte que eu tive, porque ao contrario daquela maluca do Paraná, existem médicos que são verdadeiros anjos que amam e honram a profissão de salvar vidas…
Caramba, Inês… essa deu nó na guela… beijos, querida
Inês meu pai deu entrada no Nipo há 3 anos com um aneurisma de aorta roto com 15 cm, hemorragia interna intensa. O pronto atendimento do médico de plantão, o cirurgião vascular e a UTI desse hospital salvaram a vida dele. Agora, o lugar mais triste que existe pra mim não é a UTI, e sim a sala de espera para a entrada… Lá a gente acaba se apegando aos outros parentes e dividindo de tudo, alegrias com as melhoras, a tristeza das perdas inevitáveis e principalmente a esperança da alta. Foram 3 dias apenas naquela UTI, mais 6 dias em outras UTI´s, nas cirurgias subsequentes, mas sempre sabendo que ele não estava entrando na antessala de São Pedro, mas sim num lugar onde gente séria e competente faz de tudo pra amenizar sofrimentos, dar esperança e cuidar de quem nem conhece, mas que é o tesouro da vida de outros.
Que bonitooooo
Perdi minha irmã depois de 30 dias de UTI…nos 15 minutos de visita conversava com ela, mesmo que estivesse inconsciente. olhava os aparelhos e recebia a cada dia um resumo do médico de plantão. A gente fica muito dependente dos médicos e é triste demais quando notícias aberrantes nos deixam cheios de dúvidas. Mas prefiro acreditar na justiça e na ética dos bons médicos e torcer para que tudo corra bem para os que estão em UTIs.
Sinceramente, tb prefiro, Sô…. bjos
Simplesmente fantástico o texto – ajuda a fazer com que as pessoas encarem a UTI de forma positiva, bem como a “Unção dos Enfermos” na Religião Católica não significa que o doente já esteja com o “pé na cova”. Reanima! Parabéns
Obrigado, Camilo!
Excelente artigo. De fato, quem fica do lado de fora espera q nas UTIs estejam os profissionais mais dedicados e ‘teimosos’. Mas, a realidade de muitos hospitais não é essa. E os internos em UTIs estão, no mais das vezes, totalmente indefesos. Cabe aos hospitais fiscalizar o q ocorre nessas unidades, apoiar os q nelas trabalham e dar acesso aos familiares e amigos dos pacientes.
Vc escreve muito bem. Obrigada.
Obrigado, Mara… um abraço